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Evento online discute acessibilidade cultural

14 de Setembro de 2020, 12:42 , por Adital - | No one following this article yet.
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O mundo precisou se reinventar para seguir produzindo e consumindo arte. Shows se transformaram em lives, exposições e espetáculos de teatro foram transportadas para o ambiente virtual. Existem aqueles, porém, para quem a adaptação já se fazia necessária na hora de consumir e produzir cultura. Em setembro, no mês oficial da inclusão da pessoa com deficiência, o Instituto Moreira Salles (IMS) promove a segunda edição do Fórum de Acessibilidade que vai discutir a importância de garantir acessibilidade de forma plena em espaços culturais.

Para quem vive na pele, ou trabalha com o tema, é clara a percepção de que acessibilidade vai muito além da adaptação dos espaços físicos, o que torna o debate necessário também no campo virtual. “As instituições culturais são, por excelência, espaço de todos. A arte é o exercício de dar forma para questões de diversas ordens. Se você vai dando forma a essas questões você consegue olhar para elas para transformá-las. A acessibilidade não é só dar acesso ao que já existe, mas sim dar acesso, pensar e construir aquilo que a gente deseja que exista”, comenta Daina Leyton, consultora em acessibilidade cultural e uma das convidadas do fórum.
Poeta e ator, o paulista Fábio de Sá nasceu surdo e vive na pele a dificuldade de se ver incluído enquanto artista. “Nunca trabalhei em um local artístico com plena inclusão. É muito importante garantir que os artistas com deficiência, no meu caso dos atores surdos, sejam contratados como profissionais e não somente como mestres de cerimônia. Ter equidade nas oportunidades oferecidas e que entendam que recursos assistivos não deve ser encarado como um gasto, mas sim como um investimento em uma pessoa capaz e que tem muito a mostrar”, comenta.  Poeta e ator, Fábio de Sá é surdo e relata dificuldades para conseguir oportunidades artisticas (Foto: Divulgação/Geraldo Lima)

Fábio conta que, recentemente, com o isolamento, as dificuldades ficaram ainda mais evidentes. “Desde o início da pandemia não pude exercer nenhum trabalho artístico e ficou perceptível a falta de acessibilidade nestes espaços. As pessoas rapidamente se adaptaram a atendimentos remotos, mas a acessibilidade nunca é pensada e por isso esse atraso em se ter melhorias. Aplicativos, salas virtuais e outros não tem uma boa qualidade para acessibilidade, por exemplo em relação a intérpretes de Libras, ficamos impossibilitados de frequentar teatros, cinemas e espaços que promovem a arte”, ressalta ele.
Fotografia dos sons
Para o fotográfo João Maia, que tem baixa visão desde os 28 anos e percebe apenas cores e vultos, sem foco, foi preciso um evento internacional para que o mundo percebesse que era possível   alguém com deficiência visual fotografar.  Antes de se firmar como fotográfo, João foi atleta de arremesso de peso e lançamento de dardo e disco, durante sete anos e foi o esporte que deu a ele visibilidade na arte. “Sempre pesquisei, estudei, investi em equipamento. Em 2004 tive uma inflamação no olho e fui perdendo a visão, mas não deixei de fotografar. Eu era atleta e comecei a fotografar os meus colegas. Quando eu não estava competindo estava fotografando. Quando fui para as paralimpíadas de 2016 o mundo descobriu que uma pessoa com deficiência visual podia fotografar. A minha fotografia é feita através da audição. Eu transformo os sons em imagens”, conta ele, que na volta do evento esportivo criou o projeto Fotografia Cega.

O fotográfo João Maia tem baixa visão desde os 28 anos (Foto: Divulgação/ Fotografia Cega) Hoje, ele diz contar com a ajuda dos avanços tecnológicos  e de amigos parceiros para realizar seu trabalho e espera estar em Tokyo fotografando as próximas paraolimpíadas. “Eu acho que a gente precisa dessa representatividade. As pessoas com deficiência precisam de oportunidades. Se esse é um evento feito para deficientes, porque não ter nos bastidores pessoas com deficiência fazendo essa cobertura”, defende.
Tanto Fábio quanto João estarão no fórum discutindo o tema e acreditam na necessidade de falar de acessibilidade desde o começo de qualquer projeto cultural. “Só assim não virá aquela desculpa de que tornar uma exposição acessível é caro. É caro quando não se pensa. A inclusão não é cara. O que é caro é deixar as pessoas com deficiência à margem, sem acesso a cultura. É esse preço alto que a gente paga por ser deficiente: não ter os mesmos direitos que as pessoas têm”, defende João. “Além da participação e discussão desses assuntos é necessário que realmente se realizem as ações discutidas”, completa Fábio.

Atitude acessivel
Responsável por tornar acessível um dos principais museus do país, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, a consultora em acessibilidade cultural Daina Leyton explica que o processo de tornar os equipamentos acessíveis precisa obedecer a algumas premissas, como a participação direta de pessoas com deficiência, seja como membro direto da equipe ou dando consultoria. É a vivência de quem experimenta na pele as situações  que vai dizer o que é importante adaptar.  Daina Leyton é consultora de acessibilidade cultural (Foto: Divulgação/Eduardo Consonni)

O processo, segundo a especialista, não só inclui as pessoas com deficiência, mas enriquece os equipamentos culturais. “Ainda falta muito, mas já estamos em uma caminhada a passos largos. Apesar de muitas instituições culturais ainda não terem acessibilidade alguma, pelo menos existe a preocupação, coisa que sequer existia há 20 anos. A acessibilidade cria uma revolução porque não dá só aceso à comunidade de pessoas com deficiência, mas também faz com que os espaços culturais passem a ter acesso às culturas e às comunidades das pessoas com deficiência”, ensina.
Ela destaca ainda, que a acessibilidade ultrapassa a implementação de tecnologias e contratação de profissionais especializados como intérpretes de libra, por exemplo. É preciso investir também na atitude social dentro dos equipamentos. “A gente tem as tecnologias de acessibilidade, que são necessárias, que ajudam muito, mas é preciso garantir a acessibilidade atitudinal, para que as equipes desses locais, as pessoas que recebem esse público, entendam os espaços como espaço de todos. Às vezes as pessoas que trabalham nesses locais, por falta de conhecimento, de informação tem algum preconceito, que é também por falta de sensibilização. De entender a real demanda dessas pessoas e realmente tornar os espaços acessíveis”, finaliza.
2º Fórum de Acessibilidade: convergências entre arte, educação e saúde
Quando: 22, 23, 29 e 30 de setembro, das 18h às 19h30
O evento online e gratuito acontecerá na plataforma Zoom
Todos os debates serão transmitidos no mesmo link, que será informado nas plataformas do IMS  www.ims.com.br
Para participar, basta clicar no link na hora do evento.
Todas as atividades contarão com intérprete em Libras e legendas em português.
A capacidade máxima de pessoas por debate, no Zoom, é de 500 pessoas.
Todos os debates serão gravados e disponibilizados, posteriormente, nos canais do IMS.
*Com orientação da editora Ana Cristina Pereira

Fonte: Correio24horas

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