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A loucura sob os olhos de “O alienista” 2

18 de Abril de 2014, 17:52 , por Rafael Pisani Ribeiro - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Licenciado sob CC (by-nc-sa)

Sobre o livro “O alienista” e o tema loucura relacionado a ele foram feitos dois textos.  O primeiro tratou do termo loucura traduzido por Simão Bacamarte pelo sujeito com comportamentos exóticos, fora do normal. Esse vai tratar de outra classificação de loucura dada no texto-a loucura da perfeição moral e termos afins. Ainda assim é preciso repetir o trecho com a definição de loucura e razão dadas pelo doutor, que seguem por todo o livro.  Loucura era “... uma ilha perdida no oceano da razão: começo a suspeitar que é um continente.”[1] e razão “... o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia, e só insânia.”.[2] e dizia que “... a loucura e a razão estão perfeitamente delimitadas. Sabe-se onde uma acaba e onde a outra começa. Para que transpor a cerca?”[3] Partindo disso veremos o que é a loucura da perfeição moral e termos afins.

 

Nesse novo conceito não bastava um dito ou um fato para que alguém fosse recolhido á casa verde, e sim um vasto e longo inquérito do passado e presente do sujeito, levando em alguns casos até 40 dias para o recolhimento ao ponto de que em 5 meses estavam alojadas apenas 18 pessoas. A partir desse método e a nova teoria todos os que foram recolhidos antes foram libertados e foi possível recolher a casa o juiz da cidade e um advogado com características morais e mentais tão aguçadas que era perigoso que ficasse na rua. Pelo método exigir maior pesquisa foi pedido a Bacamarte uma experiência para comprovar o estado de tal advogado, e no fim ele foi colocado à prova, sendo o teste provar que um atestado de herança falso era verdadeiro, e mesmo sabendo disso foi capaz de provar judicialmente que era verdadeiro, por essa razão não foi recolhido a casa verde. Em contra partida o agente que pediu o experimento caiu na classificação original dada ao advogado e foi logo levado á casa verde. Disso partiu uma nova divisão das classes dos loucos.

 

Os modestos, os tolerantes, os verídicos, os símplices, os leais, os magnânimos, os sagazes, os sinceros e etc... O tratamento se dava atacando a qualidade moral predominante de frente, trazendo de forma gradual conforme a idade, posição social e temperamento do enfermo a qualidade oposta, portanto ao tratar-se se um modesto buscava-se a imprudência, no lugar do tolerante a intolerância, dos leais a deslealdade e etc... Houve o caso de um modesto tão grave que foi preciso a ele dar um lugar de importância na sociedade onde recebia o melhor tratamento possível. Ao fim de 5 meses e meio após a entrada dos novos loucos todos já estavam curados.

 

É possível concluir, que na primeira teoria onde loucura era algo fora do comum, um comportamento estranho ou bizarro o normal era quem não tinha características desse tipo marcantes. Nessa segunda teoria a relação já se torna oposta, o sujeito com muito controle moral e mental de uma ou mais características específicas era tratada como um louco, como o caso das classificações novas dadas por ele que mudaram de alucinações diversas, delírios, hábitos extravagantes e monomanias religiosas a características morais, sendo o sujeito dentro do “perfeito equilíbrio de todas as faculdades...” [4]aquele que tinha algum descontrole sobre suas características, havendo portanto, uma inversão entre as duas teorias do que é a loucura e a normalidade. A loucura se tornou a lucidez mental, e a tentativa de ser autêntico e coerente com posturas ideológicas faz o homem se isolar da maioria que vive segundo o parecer, a opinião. [5] Com isso o próprio conceito de razão inicial se inverte para loucura, e seu oposto vira normalidade. Apesar de tudo isso nosso ilustre doutor chegou a uma conclusão totalmente diferente.

 

Suas descobertas, os cérebros que havia curado, ou pensado que havia não foi nada mais que a descoberta que existe um perfeito desequilíbrio do cérebro?  Se assim fosse, a suposta cura dada por ele nada mais foi do que algo latente na existência do cérebro dessas pessoas, mas ainda assim já existiam. É possível então concluir que todo o trabalho feito anteriormente foi inútil, não havia loucos em Itaguaí, nem mesmo um. Ainda assim continuou a pensar e descobriu que de tudo o que estudou, desde a primeira noção de loucura só havia um sujeito a que se enquadrava: ele mesmo. Procurou confirmar isso perguntando as pessoas da cidade e elas confirmaram ele ser um homem extremamente equilibrado.  Entre essas três teorias o que é de fato loucura? O sujeito com comportamentos incomuns? O sujeito com algum controle moral e mental muito aguçada? Ou o sujeito extremamente equilibrado? O normal nessa história é o sujeito sem comportamentos incomuns, com comportamentos incomuns ou o sujeito com um desequilíbrio natural do cérebro? O que se sabe de fato é que esse caso pode ter sido a tentativa de procurar a loucura através de alguém que é louco, e só através desse processo se descobriu dessa forma, e de fato podemos algo é ou não loucura, mas será que não estamos nesse ato condenando e/ou negando nossa própria loucura? Esse foi o dilema que o Dr Simão Bacamarte ficou ao fim do conto, trancando a si mesmo na casa verde durante 17 meses e morrendo ali mesmo, saindo do mesmo jeito que entrou, sendo desde o começo o único louco de Itaguaí.

Lembrem-se de referenciar a fonte caso utilizem algo deste blog. Dúvidas, comentários, complementações? Deixe nos comentários.

Escrito por: Rafael Pisani

Observação: No servidor anterior foi postado no dia 10/03/2014 as 11:55. Nesse servidor houveram as seguintes alterações:

1.      Retirada dos seguintes itens: [1] [2] [3] [4] [5]

Referências:



[1][1] Capítulo IV: Uma teoria nova

[2][2] Capítulo IV: Uma teoria nova

[3][3] Capítulo IV: Uma teoria nova

[4][4] Parte do conteúdo da nota de rodapé número 2.

[5][5] Fonte desde “A loucura se tornou a lucidez...” até esse trecho: http://www.filologia.org.br/soletras/20supl/11.pdf


Fonte: Rafael Pisani Ribeiro

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