Por Jair de Souza
A partir da leitura de um artigo muito interessante publicado por Francisco Fernandes Ladeira, senti-me inspirado a esboçar algumas linhas que pudessem complementar o bom conteúdo presente no citado texto, que aborda a questão de um sentimento que vem sendo constatado em várias sociedades desde tempos muito remotos: o ódio aos mais pobres.
Talvez, por aqui, a única grande inovação que temos para apresentar a respeito deste tema seja a denominação com a qual passamos a nos referir a este fenômeno já bastante antigo: aporofobia.
Por outro lado, a despeito da já bem longeva aversão aos pobres, existe também uma ocorrência paralela, na qual algumas pessoas adotam posturas que, aparentemente, vão em sentido diametralmente oposto ao dos conhecidos aporofóbicos.
Assim, não chega a ser nenhuma raridade depararmo-nos com certas pessoas que glorificam e embelezam as vidas dos pobres, de maneira tão intensa que até parecem querer induzir-nos a crer que a vida em condições de carência absoluta deveria representar uma meta a ser buscada, e não nada de que se deva tentar escapar.
Portanto, num pretensioso intuito de tornar mais evidente a ideia que permeia a reflexão do artigo mencionado no primeiro parágrafo, quero expressar de forma clara e direta que nossa identificação com os mais pobres, absolutamente, não almeja a mantê-los em tal estado de penúria.
Então, meu propósito aberto e declarado é, sim, acabar com os pobres. Meu grande sonho é que, a cada dia, haja menos gente pobre, no Brasil e no mundo. No entanto, eu não desejo alcançar este objetivo através da eliminação física de ninguém, senão que por meio da erradicação das condições de injustiça que possibilitam a existência de seres humanos em situação de carência social. Por isso, podemos dizer que nós amamos aos pobres, mas odiamos a pobreza.
Durante séculos e séculos, boa parte dos responsáveis pela Igreja Católica se dedicaram à tarefa de ensinar às massas populares a se resignarem às enormes privações a que estavam submetidas. A recompensa por aceitar submeter-se a toda essa miséria viria após a morte, no reino de Deus.
Em anos bem mais recentes, ganhou força outra visão religiosa, que tem se mostrado bastante atraente para uma parcela significativa de nossa população. É que, agora, ao invés de ter de esperar para usufruir da riqueza apenas após nossa morte física, a nova interpretação religiosa estipulava que isto se daria aqui na Terra mesmo, neste mesmo momento. Bastaria cumprir à risca aquilo que os “verdadeiros” prepostos de Deus e suas organizações empresariais nos indicassem. Chegamos à era da Teologia da Prosperidade.
Antes de prosseguir, gostaria de ressaltar algo que considero de muitíssima importância. Independentemente da valorização que se faça da tal Teologia da Prosperidade, trata-se de uma doutrina religiosa que não mantém nenhum ponto em comum com aquilo que, nos Evangelhos, se conhece como os ensinamentos de Jesus e seu legado. Para ser mais preciso, não me resta dúvidas de que, quanto mais adepta da tal Teologia da Prosperidade for a pessoa, menos a ver com Jesus ela terá, ainda que viva citando o seu nome o tempo todo.
Bem, o que acaba de ser dito não representa nada que já não tenha sido observado ao longo da história. Como sabemos, os mandantes do suplício e morte de Jesus foram os líderes religiosos que manipulavam os textos do Velho Testamento para se enriquecerem às custas do sacrifício do povo mais humilde. Se compararmos atentamente a maneira de agir daqueles que causaram o sofrimento e a crucificação de Jesus com a dos donos das principais igrejas-empresas que atualmente pregam a filosofia da Teologia da Prosperidade, vamos concluir que há entre eles uma identificação quase que completa.
Agora, voltando ao tema central, é preciso ter em conta que a erradicação da pobreza jamais será algo que se conquiste de modo individual. As aspirações de acúmulo pessoal e individual de riqueza, sem a preocupação com a sorte dos demais, facilita enormemente o trabalho dos grandes exploradores na manutenção de seus privilégios. Ao fomentar a crença de que cada um deve cuidar de si próprio, sem pensar no coletivo, abre-se a porta para que predomine o sentimento de egoísmo. Em consequência, os pobres passam a ver nos outros pobres os inimigos a serem combatidos. Em lugar de se aliarem uns com os outros para lutar juntos para superar e sair da pobreza, cada um é estimulado a pisar na garganta de seu semelhante, se assim achar que é necessário para tornar-se rico.
Só existe pobreza porque existe injustiça social. A injustiça social só pode ser eliminada se houver unidade e consciência da maioria, para que os problemas sejam enfrentados e solucionados em favor de todos. Se os pobres e todos os que não compactuam com os interesses dos exploradores se dispuserem a encarar de forma solidária esta questão, as possibilidades de sucesso, resultando em uma vida melhor e mais digna para todos, serão muito maiores.
Desde sempre e para sempre, continua valendo a máxima que reza: A união faz a força.
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