Por Altamiro Borges
Na quinta-feira passada (6), a 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Alagoas decidiu, por dois votos a um, que a Globo deverá manter o contrato de afiliação com a TV Gazeta, pertencente ao ex-presidente Fernando Collor de Mello e sua família. Desta forma, o TJ-AL negou um recurso do império global, que questionou na Justiça liminar de primeira instância que determinou a renovação compulsória por cinco anos entre as duas emissoras. A TV Globo já anunciou que recorrerá ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para tentar derrubar a liminar.
Desde dezembro passado, a emissora carioca tenta na Justiça romper com a sua antiga afiliada para se associar a outro grupo de mídia, o Asa Branca, de Caruaru (PE). O rompimento da parceria de 48 anos seria por motivos comerciais e políticos. A Organização Arnon de Mello, dona da TV Tribuna, está em recuperação judicial e afunda em dívidas. Além disso, o sócio majoritário da OAM, o bolsonarista Collor de Mello, sofreu condenação no Supremo Tribunal Federal (STF) porque usou a sua concessão pública de televisão em esquemas de corrupção.
Convidado especial em cerimônia no TJ-AL
A novela do rompimento, porém, ainda não terminou. Ela envolve poderosos atores. Como registrou o site UOL em notinha no final de abril passado, “o ex-presidente Fernando Collor foi convidado especial e se sentou à mesa ao lado de autoridades durante a posse do novo desembargador do TJ-AL, Márcio Roberto Tenório de Albuquerque... Ele foi chamado para compor a mesa da cerimônia e ganhou cadeira de destaque, ao lado do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP). Também estiveram presentes o governador, Paulo Dantas (MDB), e o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL)”.
Mas a situação do clã alagoano é delicada. “A TV Gazeta está em recuperação judicial desde 2019 por conta de dívidas acumuladas ao longo de vários anos. Apesar da aprovação do plano de recuperação, o grupo de Collor está sendo investigado por supostos crimes falimentares... A gestão das empresas foi questionada em vários momentos da recuperação judicial, que renegociou R$ 64 milhões de débitos com credores. Ao longo dos anos, só em ‘empréstimos’ da TV aos sócios (todos da família), foram R$ 125 milhões, que nunca foram pagos, deixando de lado quitação de verbas trabalhistas e fornecedores. O valor é quase o dobro do valor devido aos credores”.
Globo dará trégua ao "caçador de marajás"?
Ainda segundo reportagem de Carlos Madeiro, “o plano de pagamento apresentado pela OAM foi aprovado pelos credores em julho de 2022, mas não foi homologado pela Justiça por questionamentos legais. Credores da área trabalhista denunciaram irregularidades na votação, como uma suposta ‘compra de votos’. Isso levou a Justiça a sugerir a abertura de inquérito policial para investigar eventual crime falimentar. O Ministério Público alegou, em parecer, que as empresas da OAM fizeram novos ‘empréstimos’ aos sócios durante o processo de recuperação – o que é vetado – em um valor total de R$ 6,4 milhões. A Polícia Civil abriu inquérito e investiga o caso”.
Diante de tantos rolos, o poderoso império global não deverá desistir da intenção de romper a antiga parceria com o bolsonarista Fernando Collor de Mello, o seu outrora famoso “caçador de marajás”.
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