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Efeito bumerangue faz Trump recuar

April 13, 2025 16:57 , by Altamiro Borges - | No one following this article yet.
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Editorial do site Vermelho:

O verdadeiro tremor de terra no comércio internacional provocado pelo “tarifaço” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, causou um imediato efeito bumerangue, com reações em larga escala, obrigando o presidente dos Estados Unidos a rever sua atitude de taxar todos os países de acordo com critérios estabelecidos por ele próprio. O recuo é temporário, mas os efeitos das sobretaxas anunciadas tendem a se prolongar.

O passo atrás de Trump ocorre sob forte pressão da oligarquia financeira. Ele foi obrigado a rever suas posições ao sentir que a terra lhe fugia dos pés. Na verdade, ao usar a força Trump jogou luz sobre pontos vulneráveis da economia dos Estados Unidos. Ele fez um movimento para tentar reverter o declínio do seu país, que imediatamente causou instabilidade e incertezas diante da possibilidade de deterioração e desmanche da dinâmica do circuito de produção e das cadeias e de valor, uma ameaça severa de obstrução e desarranjo do comércio internacional, que rapidamente contagiou a esfera financeira.

Um alto executivo do J.P. Morgan, tido como maior banco do ocidente e o quinto do mundo (os quatro maiores são chineses), em entrevista na Fox News, rede porta-voz do trumpismo, sinalizou que a vaca, ou melhor, o touro caminhava para o brejo. Soou como espécie de alerta vermelho de Wall Street. Os outrora ultra seguros títulos do Tesouro, como se fossem batata quente, passavam de mão em mão, desvalorizados, em grandes partidas. Fato que atingiu, também, aquela parte da população estadunidense que realiza sua poupança pessoal nos títulos do Tesouro.

Os impasses de Trump traduzem o acúmulo de contradições no centro do império capitalista. As promessas de reversão do declínio dos Estados Unidos no cenário mundial se mostraram irreais. Instalou-se o clima de perplexidade, uma paralisia de investimentos diante das incertezas, além do impacto geopolítico, principalmente sobre os aliados dos Estados Unidos, uma espécie de fratura de confiança com alianças históricas.

O elo mais atingido foi a China, que, demonstrando solidez, retribuiu com aumento das tarifas sobre todos os produtos estadunidenses de 84% para 125%. Segundo o secretário do Tesouro, Scott Bessent, os países que não adotar retaliação serão recompensados, mas ressaltou que a China está fora das negociações, apesar dos acenos de Trump para o presidente Xi Jinping. A lógica é fazer acordos para isolar a China, rompendo com o comércio que maximiza o consumo e com a política de transferir a produção para o exterior, com custos reduzidos, e obter produtos baratos.

As fantasias evocadas por Trump e sua equipe foram superadas pela realidade também no mercado financeiro, com a crise dos títulos do Tesouro, trocados por liquidez, uma corrida por dinheiro, criando perspectiva de aumento dos juros, o que elevará os custos de empréstimos e financiamentos. As previsões de provável recessão tendem a se estender para o âmbito global.

Faltam elementos estruturais para as promessas protecionistas de Trump. As restrições às importações afetam o consumo e o emprego ao atingir muitas indústrias que dependem de componentes de fora. Restringir importações reduz as exportações, essenciais para a geração de empregos e o comércio global. Construir novas fábricas nos Estados Unidos para substituir as cadeias de suprimentos tem custo elevado, além de ser um processo de vários anos, além da perspectiva de reversão das tarifas por outro governo.

A crise nos Estados Unidos, na verdade, é de outra natureza. Sua economia tem uma dinâmica que perde espaço na corrida tecnológica, como demonstra o tombo de algo em torno de US$ 7 bilhões das “7 magníficas” – como são chamadas as principais big techs – quando houve o anúncio da DeepSeek, empresa chinesa de inteligência artificial. Desde a posse de Trump, em 20 de janeiro de 2025, o mercado acionário dos Estados Unidos perdeu mais de US$ 7 trilhões. As “7 magníficas” perderam mais de US$ de 3 trilhões em valor de mercado.

Os Estados Unidos também ostentam um déficit comercial gigantesco, que em 2024 somou US$ 1,2 trilhões, enquanto a China teve superávit de US$ 1 trilhão. O país convive com os déficits gêmeos (comercial e fiscal) e com uma dívida pública que já supera 100% do Produto Interno Bruto (PIB). É uma combinação de desequilíbrios internos crescentes e redução de seu peso econômico no cenário global.

O planeta está, enfim, enredado num intrincado entrelaçamento de contradições, numa realidade multipolar que vai tomando forma. Mas não só. Trump, com uma borduna em riste, quer impor ao mundo o custo de um plano mirabolante para “tornar a América rica outra vez”.

Acontece que os povos e países não são vassalos, ainda mais de uma superpotência autodeclarada em declínio. Ampliam-se, com tendencia de fortalecimento, alianças, parcerias e blocos em defesa do direito das nações ao desenvolvimento soberano, por relações de ganhos recíprocos, em vez dos “tarifaços” de Trump, ou de retorno do velho colonialismo com o qual ele quer tomar o Panamá, Gaza e a Groelândia.

O governo do presidente Lula, como ficou demonstrado pela aprovação da Lei da Reciprocidade (pela qual o Brasil pode retaliar quem lhe impor tarifas) por unanimidade pelo Congresso Nacional, está diante da oportunidade, sendo assertivo, de unir amplos setores da economia e da política em defesa das empresas, do emprego e da nação.
Source: https://altamiroborges.blogspot.com/2025/04/efeito-bumerangue-faz-trump-recuar.html