Por Bepe Damasco, em seu blog:
Aos fatos: desde 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, entidades ditas beneficentes vêm metendo a mão no dinheiro de aposentados e pensionistas, promovendo descontos à revelia dos segurados em seus contracheques.
Acabo de saber que a minha mãe, uma senhora de 88 anos, é uma das vítimas dessas quadrilhas, descontando, sem sua autorização, R$ 45,00 mensalmente para uma associação 171 chamada AMBEC.
Por óbvio, esses crimes só foram possíveis com a omissão, conivência, incompetência, ou corrupção mesmo, de gente da direção do INSS e da cúpula do Ministério da Previdência.
Mas, com o intuito de transformar o caso em um escândalo da envergadura de um mensalão da vida, a imprensa comercial, para acuar o governo, decidiu esconder que a ação para desbaratar o esquema partiu do próprio governo federal, através da Controladoria-Geral da União (CGU). Foi o ministro da CGU, Vinícius Carvalho, quem acionou a Polícia Federal, que desencadeou, então, a operação "Sem Desconto", no fim de abril.
Também sumiu do noticiário a informação importante de que, nas primeiras horas do dia da operação, Lula foi avisado pessoalmente pelo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Meireles. Além de apoiá-la integralmente, o presidente determinou a imediata demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanuto.
O governo, por determinação de Lula, já bateu o martelo de que o dinheiro será devolvido o mais rápido possível. Contudo, por tratar-se de um problema complexo, o governo não abre mão de sua responsabilidade fiscal e institucional, discutindo o melhor caminho para fazê-lo.
Pronto. Bastou para a mídia corporativa repetir como um mantra que o governo está perdido e paralisado diante do escândalo. Como só pensa em derrotar Lula em 2026, a imprensa poupa Bolsonaro, embora ele não tenha movido uma palha ao longo de quatro anos para coibir a bandalheira com o dinheiro dos aposentados.
Nas contas mesquinhas de Globo, Folha, Estadão e Veja, o temor é que Lula, ao devolver o dinheiro aos aposentados, dê a volta por cima, faça desse limão uma limonada e colha dividendos eleitorais na eleição do ano que vem.
Ouvindo o galo cantar sem saber onde, analistas dos veículos de comunicação espalham o temor de que dinheiro público será usado no ressarcimento. Leio agora que a estratégia a ser adotada pelo governo deve ser a de cobrar das entidades provas documentais de que o aposentado autorizou o desconto. Caso não as apresente, caberá a essas associações devolver em dobro o dinheiro surrupiado.
O episódio joga luz sobre a falência do nosso sistema político, que obriga os governos a buscar respaldo parlamentar, para assegurar a governabilidade, através da entrega de ministérios a partidos, muitas vezes de porteira fechada.
Mas isso é outra história.