Com a perda de fatias significativas do mercado internacional, bem como do seu supremacismo geopolítico-tecnológico no mundo, principalmente para a China, com a consequente perda da hegemonia da sua poderosa moeda – o dólar -, o Imperialismo Estadunidense reage e utiliza-se do seu histórico arsenal de malweres powers para tentar recuperar-se e manter-se geopoliticamente hegemônico.
O tarifaço de Trump aos mercados nacionais abalou as economias mundiais, fez desabar os índices das bolsas de valores, desestabilizou a ordem econômico-financeira e criou incertezas profundas no cenário internacional. É uma medida tresloucada e insana, eivada do viés escatológico, sórdido e sádico supremacista yankee, que nunca, historicamente, vislumbrou o desenvolvimento das nações parceiras e sempre revestiu-se de um espectro predatório e explorador para usurpar os recursos naturais estratégicos das nações do Sul Global.
Esse projeto trumpista, que sofre inclusive rejeições internas no próprio país (vide contestação decisória da Câmara de Comércio dos EUA), locupleta-se com os reais interesses geopolíticos e econômicos da extrema-direita mundial e carrega no seu bojo aspectos históricos, passados e atuais, que carecem ser evidenciados nesta conjuntura internacional de caos e desordem econômico-financeira:
1) The Day Libertation, que refere-se ao dia do anúncio do tarifaço e traduz-se, conforme Trump, no início da recuperação afirmativa do supremacismo econômico e geopolítico estadunidense, caracterizar-se-á realmente como o Dia do Ditame da Desordem Internacional, onde, supostamente, as nações afetadas, agora tanto do Norte quanto do Sul Global, se dobrarão de joelhos e sucumbirão ao projeto neoimperialista de Trump?
2) O evento do colapso financeiro de 1929, conhecido como Grande Depressão (agora a quatro anos de fazer um século) deve vir, de relance e à tona, neste ínterim, para ilustrar que, naquela conjuntura construída pelos yankees, quando os mercados nacionais ruíram e levaram países, empresas e cidadãos à bancarrota com a quebra da Bolsa de Nova York e outras pelo mundo afora, o único país que sobressaiu-se hegemônico-economicamente foram os Estados Unidos, mantendo-se unicamente no topo do mercado internacional até o final da primeira década deste século XXI.
3) Considere-se o Acordo de Breton Woods, de 1944, onde os Estados Unidos, no ano véspera do fim da Segunda Grande Guerra, impuseram sua moeda (o dólar) como moeda internacional para que todos os países a adotassem como instrumento financeiro nas suas transações comerciais e agora a veem com potenciais possibilidades de declínio perante, principalmente, o yuan chinês e as de outras nações, que pretendem usar suas próprias moedas nessas transações.
O contexto internacional já não é mais o mesmo daqueles idos e o mundo tende a uma multipolarização. China, Rússia, Índia despontam neste fim de primeira metade da segunda década do século XXI como nações promissoras e de grande potencial econômico-tecnológico. Como o Brasil, outras nações, tanto do Norte quanto do Sul Global, já não veem mais os Estados Unidos da América como parceiro fiel e construtor dos seus projetos soberânicos e desenvolvimentistas, principalmente com a ascensão de lideranças da extrema-direita à presidência desse país-império, como Donald Trump.
Enfatize-se, no entanto, que presidentes democratas e republicanos estadunidenses têm, ao longo da trajetória histórico-geopolítica daquele país, usado como instrumentos impositores diplomáticos de afirmação do império um arsenal infinito de malweres powers: golpes de estado, embargos comerciais, guerras e, como agora, tarifaços (se é que se pode utilizar essa terminologia como referência de instrumentalização diplomática).
O papel dos blocos econômicos intercontinentais, como o BRICS MAIS e a NOVA ROTA DA SEDA é fundamental para a ascensão soberânica e desenvolvimentista de todas as nações, principalmente as do Sul Global que lutam para ter destaque no cenário geopolítico afastando-se do nível de subdesenvolvimento porque historicamente padecem.
Um outro fator a ser considerado é que, afetando e abalando diretamente as economias nacionais, o Tarifaço de Trump prejudica sensivelmente o investimento de políticas públicas em sustentabilidade ambiental nestes tempos de mudanças climáticas capitalocenas. O Império Estadunidense e a extrema-direita mundial – e neoliberal -, no afã do eterno supremacismo geopolítico, de mais lucro, riqueza e patrimônio, nem de longe preocupam-se com a sobrevivência da humanidade.
Como as nações com menor potencial econômico internacional, inclusive as do Norte Global reagirão ao Tarifaço do Império? A resposta mais plausível é pela própria união, por decisão conjunta e consensual, como já o fazem lideranças de países asiáticos e o pretendem os países membros da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos – CELAC -, reunidos em cúpula neste abril de 2025 em Tegucigalpa, capital de Honduras. Imporem-se – e não sucumbirem-se – deve ser o mote de ação dessas nações do Sul Global, inclusive enquanto blocos econômicos continentais e intercontinentais.
Mas, o que realmente quer Trump com suas medidas protecionistas extremadas, apenas desestabilizar as economias de outras nações e provocar o caos financeiro planeta afora? Há outra perspectiva que deve ser levada em consideração quando se trata do declínio de um império: suas lideranças sempre utilizaram-se de quaisquer mecanismos para manterem o supremacismo geopolítico. Daí, não descartar-se a probabilidade de projeção de uma Terceira Grande Guerra sob o argumento de que a China fere os interesses comerciais e imperialistas estadunidenses e os interesses do grande capital internacional.
Veja-se que menos de uma década depois da Grande Depressão (1929) – e há quase um século – o Império Estadunidense, nos anos anteriores a 1938, criou mecanismos na Europa para a construção da Segunda Grande Guerra, que destruiu as nações europeias. A desestabilização econômica naquele período foi o macro estopim para que isso acontecesse. E, agora, o Império contra-ataca e tudo indica que quer repetir o (mal)fei to ou esse instrumento de malwere power.
Nesse contexto de tentativa de reabilitação supremacista do Império Estadunidense e da guerra comercial sino-yankee, outros mecanismos paralelos de malwere power aliam-se no emaranhado geopolítico: a proposição do fim (?) da Guerra Ucrânia-Rússia; o apoio ao Genocídio Palestino e à usurpação do território daquele país por Israel e pelos próprios EUA; os bombardeios ao Líbano e ao Iêmen; as ameaças de guerra à Cuba, à Venezuela, a ameaça de apossamento da Groelândia e o imbróglio militar pelo controle do Canal do Panamá.
O Imperialismo, mais uma vez na história, tenta dar as cartas no jogo supremacista geopolítico. E, em declínio, mostra a face obscura e satânica do seu maior instrumento de sustentação: o neocolonialismo neoliberal/financeirização. E prova, por si próprio, que o modo de produção capitalista exauriu-se e não serve para a reconstrução e o desenvolvimento da humanidade.
Unam-se as nações para que a humanidade sobreviva!
* Ivanildo di Deus Souto é professor e mestrando em Relações Internacionais pela PUC-SP.