Por Altamiro Borges

Em decorrência da prolongada e sistêmica crise do capitalismo, que gera ressentimento e falta de perspectiva na sociedade e abala a confiança nas instituições democráticas-burguesas, a extrema-direita segue crescendo no mundo. Neste domingo (14), o partido neonazista da Alemanha, a AfD, quase triplicou a sua votação na decisiva eleição regional da Renânia do Norte-Vestfália, o estado mais populoso do país – com cerca de 18 milhões de habitantes e 13,7 milhões de eleitores.

Com sua plataforma anti-imigrantes e xenófoba e seus discursos de ódio e violência, a Alternativa para Alemanha (AfD) passou a ser a terceira maior força política na região, um resultado inédito na história da sigla. O pleito definiu 20 mil assentos em conselhos de 396 municípios, prefeitos de grandes cidades, como Colônia, Dusseldorf e Essen, e administradores distritais. Já nas eleições federais de fevereiro passado, a AfD tinha conquistado a segundo maior bancada no parlamento.

Segundo matéria da Folha desta segunda-feira (15), a “Renânia do Norte-Vestfália é liderada pela CDU, partido conservador do primeiro-ministro Friedrich Merz, posto que foi mantido, com 33,3% do total de votos. Os sociais-democratas do SPD ficaram na segunda posição com 22,6% dos votos, dois pontos percentuais a menos do que o obtido no pleito anterior, em 2020. A AfD saltou de 5% para 14,8%, enquanto os Verdes despencaram de 20% para 13,3%”.

Elon Musk virou cabo eleitoral da AfD

“Este resultado deve nos fazer refletir, não nos deixa dormir em paz”, declarou Hendrik Wüst, da CDU, que exerce o cargo equivalente ao de governador. Bärbel Bas, do SPD, ministra do Trabalho na coalizão federal chefiada por Friedrich Merz, também reconheceu os entraves do seu partido. “Precisamos nos perguntar como podemos sair dessa crise”. A pergunta vale para todas as forças políticas – não apenas da Alemanha – que temem o avanço do neofascismo no mundo! Para ela, a esquerda só voltará a ter força se “retornar às políticas que digam respeito aos trabalhadores”.

A região foi o motor do crescimento econômico da Alemanha durante décadas, com as suas minas de carvão e a produção de aço. Nos últimos anos, porém, ela enfrenta grave crise, com acentuada desindustrialização. Como aponta a Folha, a decadência criou “um campo fértil para o discurso de soluções simplistas” da AfD, “o partido classificado como extremista de direita pelos serviços de segurança da Alemanha”, que cresceu devido à “falta de oportunidades para a população jovem e a certo saudosismo do governo comunista que garantia ao menos pleno emprego e habitação”.

Ao festejar a vitória eleitoral da AfD, Tino Chrupalla, colíder da legenda, fez questão de agradecer ao bilionário excêntrico Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), da Tesla (carros elétricos) e da SpaceX (foguetes espaciais), entre outras empresas. Na semana passada, e ex-conselheiro do “imperador” Donald Trump postou que “se a Alemanha não eleger a AfD, será o fim da Alemanha”. De acordo com a Folha, “ainda que seja discutível se o apoio de Musk rende votos, a imprensa alemã discute o papel do X, de sua propriedade, no debate político do país. Jornalistas que fazem reportagens críticas à AfD declaram estarem sendo alvos de ‘shadowbans’, ações deliberadas da plataforma para tirar o alcance do conteúdo”. De fato, a Alemanha serve de alerta às forças antifascistas!