Por Bepe Damasco, em seu blog:
O resultado em si do primeiro turno das eleições municipais para o PT ficou mais ou menos dentro do esperado. Não podemos esquecer da tática do partido de apoiar aliados e não lançar candidatos na maioria das capitais e outras cidades importantes.
Em relação ao número de prefeituras conquistadas pelo partido, houve um avanço de 39%, passando de 179 municípios em 2020 para 248 agora. O PT vai disputar o segundo turno em quatro capitais e mais nove cidades com mais de 200 mil eleitores. Houve crescimento também na quantidade de vereadores eleitos na eleição de domingo passado: foram 3.118 petistas, mais 550 do que há quatro anos.
Quero repetir aqui algo que chamei a atenção em artigo recente: eleições municipais têm pouca influência nos pleitos presidenciais, seja porque a definição de voto em âmbito municipal se dá a partir de parâmetros específicos, ou pelo desencanto provocado pelos dois primeiros anos de mandato de boa parte dos prefeitos.
Contudo, já era esperada a insistência da imprensa comercial em vincular uma eleição à outra, ainda mais porque o resultado favoreceu a direita e a extrema-direita. Mas, se esta régua fosse válida, o PT não teria vencido nenhuma eleição presidencial, já que nas municipais que as antecederam o partido nunca chegou na frente em termos de prefeitos eleitos.
Mas, cabe destacar que ficou bem aquém do esperado o impulsionamento de candidaturas a partir de sua identificação com Lula e com o governo federal. Em geral, trouxe pouco retorno eleitoral ser do "time do Lula". Os motivos para que isso tenha ocorrido são variados e já são tema de artigos e debates por parte de militantes e dirigentes da esquerda brasileira e certamente darão "pano para manga."
Aqui quero focar em um ponto para a discussão: a tímida participação de Lula no primeiro turno. Antes, é importante fazer duas ressalvas: 1) Lula tem uma agenda pesada como presidente da República que efetivamente trabalha muito, ao contrário de seu antecessor. 2) Sem maioria no Congresso Nacional e dependente de uma aliança frágil com partidos conservadores para ter um mínimo de governabilidade, Lula se cerca de cuidados para não ferir susceptibilidades políticas entre os aliados, trazendo consequências negativas para seu governo.
Isto posto, ainda assim o excesso de cautela na política nem sempre é a melhor estratégia. Alguma dose de ousadia muitas vezes é bem-vinda. O receio de associar o nome do presidente e do governo a candidaturas eventualmente derrotadas, como defende gente do círculo mais próximo do presidente, é um temor que faz pouco sentido.
Ganhar ou perder eleição deve ser visto com naturalidade. O mundo não acaba se o partido do mandatário sai derrotado. Faz parte do jogo.
Na Europa e nos EUA, presidentes e primeiros-ministros pedem votos para seus partidos em eleições em meio de mandato, mesmo diante da ameaça de não vencer. Como exemplo caseiro, podemos citar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que colou em Ricardo Nunes desde o início de campanha, assumindo riscos.
Claro que Lula não deve virar cabo eleitoral 24 horas por dia, como nos seus tempos de dirigente do PT e nem embarcar em canoa irremediavelmente furada, mas é muito importante para o campo progressista que o freio de mão puxado do primeiro turno não se repita no segundo turno.
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