Por Jair de Souza
A reflexão que vou tentar esboçar à continuação me veio à mente após ter assistido a um curto vídeo de Mirko Casale de cerca de 3 minutos de duração. Nele, o apresentador abordava as muitas dificuldades que turistas israelenses estão passando ao viajar de férias por vários outros lugares, assim que são reconhecidos pela gente do local.
Por que estaria ocorrendo um rechaço de tanta intensidade a essas pessoas exatamente no momento atual? Para alguns, especialmente na mídia e no governo israelenses, seria tão somente um novo rebrote do eterno ódio aos judeus que, segundo eles, sempre esteve presente entre todos os povos não judaicos do mundo. Porém, para quem se dispuser a estudar a questão sem se deixar levar por preconceitos industrialmente estabelecidos, a conclusão tem tudo para ser bem diferente.
Contudo, é impossível fazer qualquer análise cientificamente fundamentada sem que se tenha uma razoável compreensão do que é o sionismo. Então, antes de avançar rumo a nosso objetivo central, é preciso levar em conta que o sionismo é uma ideologia política cem por cento de origem europeia, e destinada a servir a europeus. Em outras palavras, o sionismo não tem ABSOLUTAMENTE NADA a ver com os povos hebraicos que conviviam com outros povos na Antiguidade, naquelas terras do Oriente Médio mencionadas nos textos bíblicos do Velho Testamento e nos do Novo.
Em suas brigas intestinas, vários grupos europeus foram expulsos, ou se sentiram impelidos a abandonar a Europa, e partiram para outras terras, em outros continentes. Ao chegar a seus novos destinos, a primeira preocupação dos recém-chegados era encontrar meios para livrar-se da população nativa do local por eles invadido. Extermínio e expulsão foram sempre duas medidas que andavam juntas no comportamento dos colonizadores europeus em relação aos povos autóctones. Foi o caso dos puritanos ingleses que, para escapar das perseguições que sofriam de parte de outros ingleses, na Inglaterra, se dirigiram para a América do Norte, onde causaram alguns dos mais hediondos genocídios já registrados ao longo da existência da humanidade.
Esta perseguição de europeus por europeus tem sido uma característica presente desde os primórdios das civilizações ocidentais. E foi neste quadro de intolerância étnico-cultural-nacional que se desenvolveram os acontecimentos que marcaram a primeira metade do século XX. Na Europa desse período, vários grupos humanos foram vítimas de monstruosas campanhas de acosso, expulsão e aniquilamento. Dentre estes, podemos citar os ciganos, que sofreram golpes dos mais violentos, tendo sido praticamente quase que exterminados de boa parte da Europa. Os judeus também se tornaram alvo dessa sanha de exterminação, e tiveram milhões de seus integrantes trucidados no processo de “solução final” elaborado pelos comandantes do nazismo.
Porém, após a estrondosa derrota imposta à máquina da morte nazista pelos golpes desfechados pelo Exército Vermelho da União Soviética, que culminou com o hasteamento da bandeira soviética no Reichstag alemão, em lugar de elaborar uma política para erradicar de vez os preconceitos antijudaicos que haviam sido cultivados na Europa durante séculos, as classes dominantes ocidentais resolveram pôr fim a seu problema judaico, repassando-o a um povo que nunca tinha tido nada a ver com nenhuma das grandes atrocidades infligidas aos judeus europeus. Desta maneira, o establishment europeu decidiu saldar as dívidas de seus crimes contra as comunidades judaicas com o sangue e as terras do povo palestino.
Os maiores interessados na transferência dos sobreviventes judeus dos massacres e dos campos de concentração da Europa para a região da Palestina eram os líderes do Reino Unido e seus aliados do imperialismo ocidental. É que, com um Estado intrinsecamente europeu fincado em pleno coração do centro petroleiro da humanidade naquele tempo, seus ganhos geopolíticos eram bastante apreciáveis. Sendo assim, que se dane as consequências para o povo nativo da Palestina! O importante era garantir que o grande capital imperialista teria campo livre para persistir em sua dominação mundial. E então, desde esse momento, o Estado sionista de Israel recebeu carta branca para fazer o que lhe aprouvesse para solidificar-se como o “porta-aviões do Ocidente capitalista no coração do mundo árabe”.
E, como legítimos herdeiros de todas as tradições colonialistas e imperialistas das elites ocidentais, os sionistas europeus que encabeçam o projeto sionista no Estado de Israel aprenderam desde cedo que sua principal arma para se contrapor às acusações que lhes seriam feitas pelos monstruosos crimes que vêm cometendo contra a população palestina nativa seria a manipulação do sofrimento dos judeus causado pelos nazistas alemães durante o Holocausto. Em consequência, empenharam-se permanentemente em difundir a ideia de que sionismo e judaísmo são exatamente a mesma coisa e que, portanto, condenar os atos criminosos praticados pelos sionistas contra a indefesa população palestina seria tão somente mais uma expressão de um inveterado antissemitismo.
Por isso, há muitas décadas, o trabalho intenso da propaganda elaborada pelos sionistas europeus visa expandir e consolidar no mundo a ideia de que há uma total identidade entre os conceitos de judaísmo e sionismo, as duas palavras seriam quase que sinônimos perfeitos. Portanto, em conformidade com o desejo dos sionistas, ao condenar os mais abomináveis crimes da humanidade que estão sendo covardemente cometidos pelas forças militares do sionista Estado de Israel contra o povo palestino, o que estaríamos fazendo é dando prova de nosso sentimento antissemita, ou seja, uma aversão inata contra os judeus da qual estaríamos dotados.
No entanto, os crimes dos sionistas têm se tornado tão estarrecedores e tão monstruosos que esta identificação vem sendo rejeitada inclusive por inúmeras pessoas das próprias comunidades judaicas. Isto é notório especialmente entre a juventude de extração judaica, nos Estados Unidos e em outros países. Assim que, a cada dia, mais e mais gente vinculada aos grupos judaicos tem se levantado em protesto contra a manipulação feita pelas cúpulas sionistas no intuito de justificar seus diabólicos crimes contra a humanidade. A principal palavra de ordem de quem se considera judeu, mas não sionista é: “Não em nosso nome!”, ou seja, deixem de justificar seus horrendos crimes usando-nos como desculpa.
Tomando o posicionamento desses judeus que acabo de mencionar, gostaria de fazer uma proposta que, com certeza, tenderá a evitar que nenhum israelense que a aceite e ponha em prática volte a sofrer com os dissabores do rechaço público de parte das populações dos locais aonde decidam viajar; basta que, durante seus passeios por outras terras, passem a usar à vista de todos camisetas que digam coisas do tipo: “Sou judeu, mas me oponho ao genocídio do povo palestino”; “Sou judeu, mas sou inimigo do sionismo”; “Sou judeu, mas sou contra o colonialismo na Palestina”, etc.
Posso garantir que aqueles que aderirem a esta proposta não sofrerão mais as visíveis demonstrações de repulsa de parte da gente comum dos lugares que decidam visitar. Por outro lado, evidentemente, não há garantias de que eles fiquem imunes à ira e à agressão de simpatizantes do sionismo, os quais sempre poderão representar um risco para sua tranquilidade física, mental e moral.
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