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Quem mais matou Dona Cláudia?

March 19, 2014 2:14 , von Unbekannt - 0no comments yet | No one following this article yet.
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Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:


A filha de Cláudia Ferreira da Silva, a mulher duas vezes assassinada - a tiros e ao ser arrastada como um farrapo pelo carro da polícia - por policiais militares no Rio , disse que os PMs a “acusaram” de ter dado um copo de café a “um bandido”.

Sejamos honestos: seu brutal assassinato está chamando a atenção do país porque se filmou a queda de seu corpo do carro dos policiais e a cena dantesca de sua segunda morte.

Porque a primeira morte de Cláudia foi ter sido baleada, essencialmente, por ser moradora de uma favela e negra.

Se não era mãe de traficante – como a própria temia fossem confundidos seus filhos – era tia, amiga, prima, parente ou amiga deles.

Devia ser: afinal era negra e favelada. E seus filhos deveriam ser, também eram negros e favelados.

“Todo os dias, eles [ PMs] chegam atirando e depois vão ver quem é. Ela não deixava a gente ficar na rua com medo de acontecer alguma coisa ou de confundirem a gente com traficantes”.

Como a Cláudia, seus filhos, milhares de Cláudias, Cláudios e Claudinhos.

Bandidos ou não, mas sempre, ou quase sempre, negros e favelados.

Quando morava em Santa Teresa, um bairro envolto por favelas nos morros do Rio, conheci um rapaz que sempre estava no ônibus tardio em que eu voltava para casa – o bondinho ainda circulava, mas só até 21 horas – que andava sempre com uma Bíblia na mão.

Um dia, puxei conversa sobre religião e fiquei surpreso de saber que ele não era evangélico.

A Bíblia era só para estabelecer uma mínima dúvida nas muitas ocasiões em que era parado pela PM. para não ser imediatamente tratado como bandido traficante.

Ele, afinal, era também negro e favelado, do Morro dos Prazeres. Logo, também, deveria ser um bandido.

E se em lugar de D. Cláudia, fosse o negrinho da corrente no pescoço quem ficasse pendurado pela roupa, sendo arrastado?

Aí seria “compreensível”, D. Sheherazade?

Escolhi essa foto do enterro de Dona Cláudia pensando em você, Ali Kamel, e no seu “não somos racistas”.

Olhe bem para ela e veja: há apenas um branco, sofrendo do mesmo jeito que os negros.

A dor tem cor? Tem classe? Tem comprovante de renda e endereço?

A dor deles é menor que seria a minha ou a sua, diante da mãe morta?

A barbárie e seu elogio só trazem mais barbárie.

Ou você acha que aqueles policiais se tornaram monstros, já nasceram assim, desprezando a integridade de um ser humano – bandido ou não bandido – ao ponto de o colocarem, mesmo gravemente ferido, baleado, na caçamba de uma caminhonete?

Quem os açulou ao ponto de animalizá-los assim?

Não adianta apenas dizer que eles agiram como monstros – e agiram – sem tocarmos naquilo que os torna monstros – a eles, policiais e aos bandidos .

Quando este Estado teve um governante que não tolerava isso, Kamel, você, a sua Globo, as elites e as Sheherazades de então, vociferaram contra, porque Brizola “não deixava a polícia trabalhar”.

A foto ao lado mostra o que era a PM antes de sua chegada.

Negros e favelados, tratados como convinha tratar negros e favelados, então.

Eu lembro perfeitamente bem como essa história começou: quando dois policiais subiram o Morro do Chapéu Mangueira, no Leme, atirando contra um ladrão de bolsas.

Mataram uma menina de oito anos, sentada à porta de sua casa, no morro, brincando.

Ela, afinal, era negra e favelada.

Boa coisa não ia dar, não é?

O lobo tem as suas razões, sempre.

Quelle: http://altamiroborges.blogspot.com/2014/03/quem-mais-matou-dona-claudia.html

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