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Religião, política e politiqueria

May 20, 2025 22:18 , par Altamiro Borges - | No one following this article yet.
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Por Jair de Souza

No presente texto, uma vez mais, vou me aventurar a tratar de questões vinculadas à religião. Porém, se eu mesmo entendo que a religiosidade é um sentimento caracteristicamente pessoal que, por isso, deveria ser considerado como algo estritamente de foro íntimo, cabe perguntar: por que voltar a abordar este tipo de tema em um artigo declaradamente relacionado com a política?

Para começar a esboçar uma resposta à indagação formulada, é importante que tenhamos clareza de um aspecto poucas vezes ressaltado: o que é, ou deveria ser, único e exclusivo de cada ser humano é a vinculação espiritual que se tem, ou julga-se ter, com o mundo espiritual. No entanto, as organizações ou correntes religiosas são todas, sem nenhuma exceção, intrinsicamente políticas, posto que todos os relacionamentos entre os seres humanos são, sempre e inevitavelmente, políticos, uma vez que não existe sociedade humana sem política.

Acontece que, por desconhecimento de alguns e por má fé por parte de outros, tem crescido a tendência de classificar como política tão somente as atividades de cunho partidário. Muitas vezes isto é feito conscientemente com o propósito de impedir ou dificultar que as maiorias populares tenham compreensão do que está por trás das condições de vida imperantes na sociedade em que se vive.

Primeiramente, para que não paire nenhuma dúvida de que não pretendo iludir ninguém sobre meu posicionamento, quero deixar patente que não sou seguidor de nenhuma religião. De nenhuma mesmo! Não acredito em outra vida, posterior à terrenal em que nos encontramos.

Em segundo lugar, tenho plena convicção de que, caso eu esteja equivocado e após meu falecimento venha a ser surpreendido com a continuidade de nossa existência em um plano espiritual, o fato de eu haver nutrido ou não uma crença religiosa não deverá ter absolutamente nenhuma relevância para determinar o tipo de futuro que terei nessa outra condição.

As razões para que eu pense assim são várias. Para começar, só me passa pela mente a certeza de que, para ser respeitado, amado e seguido, Deus deveria obrigatoriamente ser a expressão máxima da bondade, da justiça e da solidariedade. Portanto, esse Deus jamais, de modo algum, se guiaria por princípios eivados de egoísmo e exclusivismo. Um ser inerentemente bondoso não poderia nunca julgar, condenar ou salvar a suas criaturas com base unicamente, ou principalmente, em uma fé e subserviência cega. Não tenho nenhum receio em dizer que o papel de um Deus digno só poderia ser o de induzir a seus seguidores a praticarem sempre o bem.

No entanto, como instrumentos de política que são, as organizações ou correntes religiosas refletem as aspirações dos grupos humanos que as hegemonizam. Assim, de igual maneira que o fazem os próprios partidos políticos, essas instituições religiosas têm por intuito fazer com que os interesses dos grupos sociais que elas se esmeram por defender sejam tomados pelo restante da sociedade como sendo também os da maioria da população. É por isso que os partidos políticos de direita e extrema direita nunca podem explicitar ao público que eles se propõem a resguardar os privilégios da minoria exploradora. Ocorre o mesmo com as igrejas e correntes religiosas neofascistas, como as atuais vinculadas ao neopentecostalismo.

Por falar em igrejas neopentecostais, não há nada que possa ser mais contrário ao simbolismo do Jesus encontrado nos textos dos Evangelhos do que as pregações e as proposições defendidas por essas verdadeiras empresas de comercialização da fé. Se Jesus tinha como sua preocupação máxima a luta pelos direitos dos mais humildes e necessitados, os capitalistas donos das igrejas neopentecostais colocam suas instituições a operar inteiramente a favor dos setores mais ricos e exploradores de nossa sociedade.

Como consequência do que acabamos de mencionar, temos que, em lugar de agir como o Jesus dos Evangelhos e dedicar-se prioritariamente a servir aos pobres e procurar livrá-los das injustiças que padecem sob o jugo dos exploradores, as prioridades dos proprietários dessas empresas-igrejas é garantir que os ricos e poderosos possam continuar se locupletando às custas das maiorias carentes.

Tudo isso faz parte da política. Só que, nesse caso, estamos nos referindo à política em seu sentido mais deplorável imaginário, ou seja, a politiqueria, que nada mais é do que utilizar ferramentas políticas com o propósito de enganar as vítimas do significado real daquilo que está sendo pregado e praticado.

Sou de opinião que a melhor e mais eficaz maneira de derrotar às máfias neofascistas que comandam as igrejas neopentecostais é recorrendo ao nome a aos ensinamentos do próprio Jesus. E aqui, não é preciso sair do campo da vida social real e extrapolar para o campo do espiritual. Basta tomar em conta os exemplos constantes nos Evangelhos de como o próprio Jesus enfrentava os desafios e as agressões que se faziam ao povo com o qual ele estava totalmente identificado. E, evidentemente, estes eram sempre os mais necessitados e desprotegidos.

Portanto, para estar de verdade comprometido com as causas de Jesus ninguém precisa nem deve obedecer passivamente a ninguém que manipule seu nome com o objetivo de atingir metas bem diferentes daquelas nas quais ele estava engajado. Estará com Jesus todos aqueles que se empenhem por alcançar o mundo de justiça pelo qual ele se sacrificou.

É importante que não deixemos de ressaltar que Jesus nunca aceitou a visão racista e hegemonista de que Deus teria um povo escolhido, ao qual ele daria preferência. Esse tipo de comportamento condiria muito mais com o diabo, e não com um Deus que merece ser respeitado e seguido. Em vista disto, é simplesmente monstruoso que certas igrejas que se dizem cristãs estejam apoiando um dos mais horrendos genocídios já praticados na história da humanidade, ou seja, o extermínio do povo palestino pelas forças militares do Estado de Israel, que conta com um dos exércitos mais bem armados do planeta. Quem aceita ou não se incomoda com a matança de tantos seres humanos indefesos, em sua maioria crianças e mulheres, não pode absolutamente ter nenhuma identificação com Jesus.

Jesus também jamais exigiu que seus seguidores demonstrassem ser capazes de cometer nenhuma monstruosidade para dar provas de sua lealdade para com ele. Por isso, nunca vimos Jesus agindo diabolicamente a ponto de exigir de alguém que sacrificasse seu próprio filho para dar mostras de sua adesão. Se Jesus fosse capaz de agir assim, ele não se diferenciaria quase nada do diabo. Felizmente, não existe nenhum relato da sua vida em que tamanha aberração tenha acontecido.

Para resumir o que venho tentando expressar, considero que o simbolismo do legado de Jesus é muito importante e valioso para que continue sendo usado e abusado exatamente por aqueles que mais se identificam com seus perseguidores e responsáveis por sua prisão, tortura e morte na cruz. Não nos esqueçamos de que os algozes de Jesus foram os que comandavam as instituições religiosas do Velho Testamento naqueles tempos, ou seja, os ascendentes dos atuais donos das igrejas que vimos mencionando.
Source : https://altamiroborges.blogspot.com/2025/05/religiao-politica-e-politiqueria.html