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Tarifaço de Trump eleva tensões geopolíticas

7 de Abril de 2025, 18:55 , por Altamiro Borges - | No one following this article yet.
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Editorial do site Vermelho:

As manifestações de protesto e apreensão em escala mundial mostram a dimensão dos efeitos do chamado “tarifaço” anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o comércio internacional e agravam tensões e conflitos geopolíticos. O “Dia da Libertação”, conforme garganteou, “tornará a América rica novamente”.

Todavia, a ampla maioria das análises e avaliações de governos, organismos internacionais e economistas pelo mundo afora aponta, para o horizonte próximo, recessão e inflação nos Estados Unidos, desaceleração do crescimento da economia mundial, que já vinha raquítico. Em termos geopolíticos, embora o alvo central seja a China, a imagem que domina é a dos Estados Unidos se chocando e apunhalando a quase totalidade do mundo, inclusive antigos e leais aliados

A ofensiva protecionista atinge principalmente países da Ásia e da União Europeia. As tarifas incluem 34% para a China, 20% para a União Europeia, 46% para o Vietnã, 24% para o Japão e várias taxas para outros países como Coreia do Sul (25%), Índia (26%) e Tailândia (36%). O Brasil, assim como a maioria dos países da América Latina, ficou entre os países atingidos por tarifas de 10%.

A China, o alvo estratégico do “tarifaço”, reagiu, por meio do Ministério do Comércio, dizendo que as tarifas são “baseadas em avaliações subjetivas”, um “bullying unilateral”. Há poucos dias, Washington classificou a China como principal ameaça militar e cibernética e proibiu a exportação de tecnologia para mais de cinquenta empresas chinesas.

O “tarifaço” tem alto potencial de fratura na unidade do “bloco ocidental”, enquanto a China se aproxima de atores importantes na cena mundial, como o diálogo econômico trilateral com Japão e Coreia do Sul, além das visitas a Pequim do ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noel Barrot, e do comissário do Comércio da União Europeia, Maros Sefcovic.

O ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, disse que se o governo dos Estados Unidos “continuar pressionando, e até mesmo chantageando, a China certamente será resoluta em suas contramedidas”. Segundo ele, as relações entre China e Estados Unidos se encontrarem “numa fase crítica da sua evolução”.

O anúncio do “tarifaço” veio acompanhado de mais ameaças aos países que “tratam mal” os Estados Unidos ou que praticam “fraudes”, alvos das tarifas mais elevadas. Seria uma punição ao “comércio triangular”. Ou seja: as exportações de produtos concluídos na China para outros países, onde componentes ou acabamentos são acrescentados, alterando a origem da produção.

O recurso foi adotado após as taxas de 20% sobre as importações chinesas no primeiro mandato de Trump, de 2017 a 2021 (com os 34% de agora, chegam a 54%). O Vietnã, que envia para os Estados Unidos quase 30% de suas exportações, o Camboja e a Tailândia – taxados em 46%, 49% e 36%, respectivamente – foram os países mais punidos.

Na época das taxas de 20% no primeiro governo Trump, a China respondeu com tarifas sobre as exportações dos Estados Unidos, como produtos agrícolas, e agora anuncia que pode incluir restrições ao investimento norte-americano no país e controle de exportação de minerais de terras raras.

O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, disse que os países atingidos vão querer negociar, mas “essas são as mesmas pessoas que nos roubaram por todos esses anos”. Ele citou, além da China, a Índia, o Japão, a Coreia do Sul e os países da União Europeia como exemplos dos que trataram os Estados Unidos “injustamente”.

Na Europa, há manifestações de retaliações no setor de serviços, incluindo grupos como Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse que o “tarifaço” representa um “duro golpe” para a economia mundial e que a União Europeia está pronta para responder. Segundo ela, o sistema de comércio global precisa de adequação, mas recorrer a tarifas como primeira e última ferramenta não é a solução.

Esse cenário revela que a radicalização de Trump representa o acirramento das contradições decorrentes do declínio acentuado dos Estados Unidos, com uma economia dominada pelo parasitismo finaceiro. O país é o maior devedor líquido do mundo e a dívida cresce de forma descontrolada. Mas o maior problema é a dificuldade crescente de financiar os déficits interno e externo, reflexo de uma economia que perdeu dinamismo, marcada por dificuldades estruturais e sistêmicas.

Como resposta, seus monopólios se lançaram, tempos atrás, na busca de matérias-primas e de força de trabalho com custo menor, sobretudo na Ásia. Agora, com o “tarifaço” protecionista, Trump promete levar essa dinâmica de volta para os Estados Unidos. Ele traduz o pensamento de um setor do establisment estadunidense que se identifica com a política da extrema-direita, uma nova estratégia que, mesmo gerando atritos com aliados históricos no mundo, tenta se impor à base de ameaças típicas do ideário fascista.

O Brasil está reagindo de modo cauteloso, mas assertivo . O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca unir o mais amplo campo político e econômico para defender as empresas e o postos de emprego. Exemplo disso é a provação, por unanimidade, nas duas casas do Congresso Nacional, da Lei da Reciprocidade Comercial, autorizando o governo brasileiro a adotar medidas comerciais contra países e blocos que imponham barreiras aos produtos do Brasil. A extrema-direita, subserviente a Trump, chegou a obstruir a votação, mas, isolada, teve de ceder.
Fonte: https://altamiroborges.blogspot.com/2025/04/tarifaco-de-trump-eleva-tensoes.html