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Trump e o elo mais fraco

July 22, 2025 21:31 , by Altamiro Borges - | No one following this article yet.
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Charge: Gomez
Por Chico Teixeira, no site Brasil-247:


Ainda sob impacto das agressões seguidas do Governo Trump, políticos, militares e acadêmicos brasileiros mergulham em profundo debate sobre as razões – e persistência – da agressão norte-americana.

Os fatores colocados na mesa são principalmente os resultados da atuação da Família Bolsonaro, nos corredores do Departamento de Estado e do Departamento de Defesa dos EUA, junto a Donald Trump. Os Bolsonaro e Trump, com seus arautos da extrema-direita, compartem as mesmas visões antidemocráticas, para além de uma pauta conservadora, do mundo e do fazer política. A comunhão de interesses e métodos, como a tentativa de golpe em Washington em 6 de janeiro de 2021 e o golpe de Brasília em 8 de janeiro de 2023, selaram tal aliança.

O debate sobre qual seria a capacidade dos Bolsonaro de mobilizar as forças mais extremistas do Governo Trump contra a democracia brasileira é, no momento, retórico. Os Bolsonaro deram o sinal, o rumo e os alvos das sanções norte-americanas. Trump anabolizou o ataque. E tem suas razões, e um outro fator deve, necessariamente, ser somado aos esforços do bolsonarismo: o crescimento e a relevância mundial dos Brics.

Desde sua construção, a partir de um chamamento do diplomata russo Yevgeny Primakov, no pós-Guerra Fria, em 1991, a associação Brics tornou-se a maior novidade do pós-Guerra Fria. Ao contrário dos pessimistas de sempre, a associação cresceu e fortificou-se. Outros países relevantes no mundo aderiram, inclusive países populosos e de grandes economias e imensas reservas energéticas, como Irã e Indonésia.

No entanto, um elemento da pauta dos Brics chamou a atenção – e a ira – da Administração Trump. Claramente, a desdolarização do comércio mundial, com formas variadas de uso de moedas alternativas, atingiria o centro de gravidade do império americano. Lembremo-nos de que, por suas dimensões e pelos seus recursos, os países Brics são um elemento decisivo no fluxo mundial de comércio e divisas.

A hegemonia norte-americana funda-se no endividamento colossal de Washington, baseado no uso do dólar funcionando como uma espécie de imposto, ou tributo, pago por todo o planeta ao império. Caso o sistema do dólar – bolsas, bancos, sistema Swift, associações comerciais internacionais – fosse abalado, toda a capacidade de financiar o alto custo do complexo industrial militar e, ainda, da imensa capacidade de consumo interno dos EUA, base do consenso interno, popular, ao "american way" e ao sistema partidário-eleitoral de tipo oligárquico, estariam seriamente ameaçados.

Ou seja, o dólar sustenta o sistema ou é o próprio sistema. Abalar o dólar é abalar a condição hegemônica dos EUA – já fortemente abalada pela emergência da China Popular – e, mesmo, o consenso político interno. Trump entendeu a profundidade da ameaça, seus riscos e a necessidade de uma resposta. No entanto, Washington não mais possui o poder que havia amealhado em 1991.

Nesse sentido, precisa, desesperadamente, quebrar a aliança China-Rússia, obrigar a União Europeia a pagar o preço de sua própria segurança e dos custos "europeus" do império. No seu campo, o chamado hemisfério ocidental, trata-se de reafirmar a hegemonia e usufruir os ganhos daí derivados. Os países mais aliados e amigos, como Canadá e México, devem reconhecer os interesses americanos "first" e aceitar os custos do domínio americano. Talvez até chegando à sugerida anexação, por parte de Washington, do conjunto do Canadá, de toda a Groenlândia e de territórios do Canal do Panamá.

Ou seja, estamos diante de uma nova "onda" imperialista, vigorosa e despudorada. No caso dos Brics, trata-se de neutralizar Moscou – preso numa crise sem fim na Ucrânia e ameaçado na Geórgia e Azerbaijão – com promessas de uma paz favorável e, assim, reforçar a musculatura contra a China, vista como o maior risco geopolítico hoje para os Estados Unidos.

Neste caso, caberia, em coerência com a política de "colocar a casa em ordem" e de "quebrar" os Brics, punir severamente o Brasil. O surgimento, ao sul do continente, de uma democracia vigorosa, uma economia pujante e uma política externa independente são riscos intoleráveis de autonomia num continente visto, desde 1822, como um quintal privado.

De posse da carta "Bolsonaro", conhecido por seu servilismo antipátria, percebe-se, por isso mesmo, o Brasil como o elo mais fraco da corrente "Brics". O país, uma democracia liberal pujante, seria o exemplo mais fácil de como se manifesta a ira de Washington.

A ingenuidade geopolítica de empresários e políticos brasileiros – de que o país iria lucrar no duelo titânico entre Beijing e Washington – deve ser rapidamente abandonada às portas do inferno geopolítico atual.

A maior saída, no momento – concretizando-se as ameaças de Trump – é reforçar a coesão social e política interna, reforçar as parcerias externas, abandonar o credo estrito da austeridade orçamentária em favor do apoio à produção brasileira e à necessária autonomia comercial internacional, inclusive com maiores investimentos no mercado consumidor interno.
Source: https://altamiroborges.blogspot.com/2025/07/trump-e-o-elo-mais-fraco.html