Editorial do site Vermelho:
A decisão de rearmar a Europa adotada na cúpula extraordinária do Conselho Europeu, que reúne chefes de Estado e de Governo dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE), realizada em Bruxelas, é um enfático sinal de perigo para o mundo. Seria uma resposta à política externa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A decisão abalou seriamente a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), braço armado do imperialismo estadunidense na região e âncora principal da defesa dos países europeus, financiado em mais 60% pelos Estados Unidos.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs o plano, denominado “Rearmar a Europa”, que destina cerca de 800 bilhões de euros – incluindo 150 bilhões em empréstimos aos Estados-membros – para reforçar a defesa do continente. Implica inclusive em aceleração do desmonte do Estado de bem-estar social, uma política de guerra que chega à flexibilização do formato fiscal da União Europeia, tido como sagrado pela “austeridade” do projeto neoliberal.
O texto da declaração conjunta destacou “a necessidade de aumentar substancialmente as despesas com a defesa” para tornar a Europa “mais soberana, mais responsável pela sua própria defesa e mais equipada para agir e lidar autonomamente com desafios e ameaças imediatos e futuros”. Von der Leyen diz que com estes equipamentos “os Estados-membros poderão aumentar substancialmente a sua ajuda à Ucrânia”. Na declaração – que não contou com a assinatura do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, aliado de Trump –, os líderes da UE sublinham que não pode haver negociações sobre a Ucrânia sem a Ucrânia e prometeram continuar a prestar ajuda à guerra.
A decisão reforça a corrida armamentista mundial puxada pelos Estados Unidos, com gastos militares globais que em 2024 chegaram ao recorde de 2.46 trilhões de dólares em 2024, um aumento 7,4%, conforme dados do MIlitary Balance, estudo anual do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.
É importante notar que desde os anos da Segunda Guerra Mundial a chamada Europa Ocidental se transformou em marionete dos interesses imperialistas dos Estados Unidos. Aqueles países, destruídos por duas grandes guerras num curto espaço de tempo, não estavam em condições de se opor à grande capacidade de produção estadunidense, com sua poderosa e inovadora indústria. Na Ásia, o Japão, também destroçado pela guerra, foi ocupado pelos Estados Unidos, que ditaram o rumo da sua reconstrução.
A alegada ameaça russa pela UE na verdade é pretexto diante da crise do capitalismo que atinge fortemente o epicentro do imperialismo, os Estados Unidos, impossibilitados de manter os gastos militares na Europa. Trump se movimenta na direção da restauração do velho colonialismo, a começar pela aposta na posse de recursos minerais da Ucrânia, passando por suas pretensões de tomar posse da Faixa de Gaza e retirar de lá todos os palestinos, tomar a Groelândia – território autônomo do Reino da Dinamarca –, “de um jeito ou de outro”, inclusive com o uso de força militar, e o Canal do Panamá, que já teve mudanças como a venda de portos de propriedades de um empresário de Hong Kong, após Trump declarar que o local está sob controle da China.
É o conceito imperialista de metrópole-colônia, de guerras por interesses econômicos e de amplo desbalanceamento de forças. Trump passa por cima de cláusulas constituintes da Otan para ressuscitar o velho colonialismo com ameaças de rapinagens via guerra comercial, tecnológica e tarifária – e, se preciso, militar –, tornando o mundo mais instável e conturbado, com o falso argumento de que pretende acabar com as guerras.
A UE, portanto, adota uma política errática ao ignorar que a real ameaça vem dessa política trumpista, uma confissão de esperança de mudança de cenário tendo em conta que seus interesses econômicos ainda são fortemente vinculados aos Estados Unidos. Tanto que deixou-se arrastar para a guerra da Ucrânia, puxada pela Otan, que já resultou em mis de cem mil mortos ucranianos e na destruição do país, uma política que penalizou sobretudo as economias da Alemanha e da França, os principais países da UE.
São elementos que aumentam as contradições inter-imperialistas. Seja qual for o resultado dessa contentada, o redesenho da Otan será inevitável. A “nova era” proclamada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, ao defender a guerra na Ucrânia e criticar as tarifas impostas por Trump, comprova essa probabilidade. Segundo ele, a UE tem poder “para rivalizar” com Washington ou Rússia. Macron, em descrédito em seu país, recorre ao velho discurso da guerra para tentar algum tipo de respaldo social.
São fatos que impõem às correntes que lutam pela independência nacional o seu verdadeiro papel na luta contra o imperialismo. Uma luta que abrange a guerra ideológica com esse sistema que semeia vento e colhe tempestades, uma ação entre as forças democráticas e progressistas em todo o mundo.
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