É possível ser conservador nos costumes e liberal na economia?
28 de Junho de 2021, 10:00 Os termos “sou liberal nos costumes e conservador na economia”, ou “sou conservador nos costumes e liberal na economia”, ou algo dessa maneira, são termos errados. Costumes e economia estão totalmente interligados e um exemplo é o que se pode observar na história.
Voltamos para os anos 1700 e 1800. Vemos a Inglaterra, naquela época seu parlamento era composto em maior parte por conservadores (Aristocratas), donos de grandes propriedades de terras. Eles detinham o monopólio e possuíam a constituição ao seu lado, através das leis dos cereais (Corn Lawrs) – cereais eram considerados o milho e grãos no geral. Essa lei favorecia os grandes latifundiários porque o produto era o único que poderia estar circulando dentro da Inglaterra, pelo motivo de que o governo não queria que o dinheiro/ouro inglês saísse do país, pois se fosse possível comprar cereais de mercado estrangeiros, os donos de terras perderiam o seu monopólio.
As leis dos cereais existiam para que, se um comprador inglês comprasse grãos de outro país, na hora que o navio estrangeiro chegasse com a mercadoria, o imposto que a corte inglesa cobraria desse comprador, sairia por um preço maior do que se ele tivesse comprado no mercado interno, assim o monopólio dos aristocratas estaria mantido pela lei. Também estavam totalmente ligados aos termos como “família tradicional”, sem dar o poder da democracia do direito as mulheres de seu país e outras situações que infringiam a liberdade socioeconômica de outras minorias.
Os liberais como Adam Smith, David Ricardo, Stuart Mill, etc. eram contra essa lei, pois diziam que se pudessem comprar grãos de outros países, o dinheiro inglês iria circular e voltaria com mais poder pelos compradores de mercadorias produzidas pelos capitalistas ingleses. Argumentavam, mais especificamente, Stuart Mill, sobre o direito de as mulheres trabalharem e participarem da política. Com muita luta, a proposta reformista de Mill foi aceita. Contudo, com muitas mulheres ingressando no mercado de trabalho, os preços dos serviços delas eram mais baratos que dos homens, com isso, os homens ficaram desempregados cuidando dos lares e as mulheres iam trabalhar ganhando menos do que os homens ganhavam. Os liberais justificavam que a mão invisível regularia a economia, mas o que houve (e o que ocorre até os dias de hoje), foi um crescente número de migrações às cidades industriais, não havendo uma regulamentação para as questões sociais. O número da população dessas cidades aumentou significativamente e trouxe consequências negativas, como moradias precárias e sem saneamento básico, maior número de doenças, avanço da criminalidade, entre outras questões.
No ano da grande depressão econômica (1929), houve a quebra na bolsa de valores, como resultado, produtos perderam seu valor no mercado, fazendo com que os capitalistas jogassem literalmente fora as suas mercadorias para igualar “oferta e demanda”. Um exemplo foi o leite derramado em grandes quantidades pelas ruas das cidades de Nova York. Outro exemplo foi os fazendeiros que colocaram fogo nas plantações de cana no Brasil.
John Maynard Keynes publicou em 1936 a sua obra Teoria geral do emprego, dos juros e da moeda, explicando que a intervenção do estado na economia é necessária para que não haja esses picos de depressão. Após a segunda guerra mundial (1939-1945), muitos países do primeiro mundo perceberam que era importante utilizar o estado para intervir na economia.
Os socialistas/comunistas buscavam a regulamentação do trabalho assalariado, com foco nas questões sociais, como educação e saúde. Também não concordavam com a mão de obra explorada e oprimida em qualquer fator, sendo contrários nas questões da escravidão que ocorria nas colônias dos países europeus. Com a Revolução Russa (1917-1923) e Vladimir Lenin no poder através da ideologia marxista-leninista, procuraram emancipar a classe dos oprimidos, como aceitar o direito para as mulheres: permitir a voz em sindicatos; direito da legitimação do aborto; direito da separação e o da cobrança de pensão alimentícia. Ao longo do tempo, houve influência do marxismo-leninismo nas lutas pela independência dos países africanos de seus colonizadores europeus, no século XX, como Burkina Faso, Mali, Gana, Angola, Moçambique, Guiné, Benim, Tanzânia, Zâmbia e Senegal.
Os anarquistas (libertários) surgiram como um movimento anticapitalista, promovendo os ideais revolucionários para acabar com a exploração sobre o ser humano. Diferente dos socialistas, eles defendiam a ideia de que as revoluções poderiam ocorrer a qualquer momento pois não se importavam com o desenvolvimento industrial do país. O Estado não seria usado como forma administrativa, mas iriam ser criadas federações e sindicatos para manter a ordem. Há vários anarquismos com seus ideais, sendo os principais pensadores: Piotr Kropotkin, Pierre-Joseph Proudhon, Mikhail Bakunin, Lev Tolstoi, entre outros. Uma revolução anarquista que houve, foi na Ucrânia, durou do início da Revolução Russa até 1919, liderada por Nestor Makhno, com o movimento Machnovista. O seu contingente tomou os grandes latifúndios e realizou uma reforma agrária, dividindo terras, equipamentos, ferramentas e máquinas entre os camponeses, além de todos trabalharem em conjunto, crianças, mulheres e homens. Havia eleições onde os líderes revezavam o poder em cada federação. Houve um plano educacional, em que a metodologia escolar buscava a espontaneidade e a independência dos alunos (sendo eles crianças e adultos). Uma prática que durou até a revolução russa se tornar socialista, e como a Ucrânia pertencia a União Soviética (URSS) na época, o movimento anarquista deixou de existir.
Existe o termo social-democrata, que defende a democracia burguesa, com eleições recorrentes. O capitalismo continua presente, porém há uma preocupação social, como saúde e educação gratuita. Contudo, essa ideologia é usada como exemplo em alguns países de primeiro mundo. Mas as pessoas que defendem essa política, se esquecem que esses países conseguiram se desenvolver através da exploração de suas colônias e/ou através da mão de obra escrava, estando em uma zona política favorável.
Atualmente, esses países fazem o que se conhece por neocolonialismo. O neocolonialismo é “desenvolvido” e não tão abstrato como nos séculos passados. Ele é realizado através das multinacionais que se instalam nos países de terceiro mundo e utilizam a mão de obra local, no qual o salário sendo pago na moeda local, fica mais econômico do que se fosse pago na moeda forte (Dólar, Euro, Libra, etc.) em seu país. Além da flexibilidade das leis (que as vezes não existem) em relação ao meio ambiente e da regulamentação do trabalho. Recebem subsídio, financiamento do governo local com juros baixíssimos. Quando se instala, ocorre uma mudança local socioeconômica (citada acima nesse texto), uma migração, que na maioria dos casos, a cidade local não está preparada para receber. A indústria produz a mercadoria e dificilmente o produto fica no país de origem, sendo vendido para fora, pois, para ficar na localidade, o mercado interno deve comprar pelo mesmo preço da moeda forte, e isso não compensa. Quando ocorre de o lugar não trazer estabilidade para essa multinacional, há a mudança de país, deixando um buraco de desemprego e escassez social no local. Nessa situação a social-democracia estará sendo benéfica para o povo de seu país desenvolvido e não para a população do país neocolonizado. Então a social-democracia pode ser considerada uma política liberal.
Finalizando, essas são algumas posições políticas no mundo atual. Algumas já não são mais utilizados na política de alguns países, porém, que ainda hoje marcaram e marcam a história social do mundo.
(Autor: Gabriel Luiz Campos Dalpiaz, graduando em Filosofia – Licenciatura e Graduado em Educação Física – Licenciatura/Bacharel. Email para contato: gcamposdalpiaz@gmail.com)
Bolsonarismo e os arrependidos e arrependidas
17 de Maio de 2021, 11:51 Durante todo o período pré-eleitoral para ocupar a cadeira da presidência da república, estava ocorrendo a demonização dos partidos de esquerda. A esquerda era o cancro do país e tirá-la do poder, nem se não fosse pelas regras do jogo democrático, era preciso. O Slogan já dizia “tire o PT e o país melhora”. De lá para cá, muitos desses jornalistas, num passe de mágica, descobriram que o governo de JMB não se diferenciava no contexto ético dos demais partidos que governaram o Brasil.
Jornalistas conceituados, cientistas políticos e os chamados “influencers” digitais aguçaram os limites do imaginário coletivo. Afirmavam com todas as letras, caso o Partido dos Trabalhadores ocupasse de novo a cadeira do Palácio do Planalto, o país seria ingovernável.
Os Partido dos Trabalhadores e seus aliados são passivos de corrupção, no entanto esses partidos respeitaram a regra do jogo democrático. Em treze anos em que estiveram no poder não verberaram em fechar o STF e o Congresso nacional. Fortaleceram a autonomia da polícia federal e aumentaram os recursos para as forças armadas. Manteve boas relações com as instituições armadas, não utilizando militares para fins políticos. Uniu-se aos os países das Américas e foram firmes em dizer que seriam aliados dos EUA e não pária do continente.
No meio midiático, não há inocentes. Os jornalistas são profissionais calejados. Há aqueles que sentiram na pele o poder da opressão e persistiram que JMB é a cara da nova política. Que política?
O jornalismo em geral e se destacando a TV, tem o poder de mudar a política. Uma frase bem colocada no tempo adequado durará igual as frases de Assis Chateaubriand e o Barão de Itararé, ou seja: serão eternizadas. Virarão penas ao serem sopradas para o ar.
Por causa dessas omissões, os cidadãos que apoiavam e votaram no Presidente Jair Messias Bolsonaro, e hoje se arrependem, tem seus motivos para deixá-lo de lado nesse atual contexto social, econômico e de crise sanitária. Vemos o ponto da extrema pobreza aumentar, chegar a mais de 12% da população brasileira vivendo com menos de R$ 246,00 ao mês. O negacionismo em relação a covid-19, que matou mais de 400.000 brasileiros. A enrolação para a compra das vacinas e a promoção do uso de medicamentos para o tratamento precoce da covid-19, o famoso “kit covid” (remédios sem comprovações científicas).
Esse povo que decidiu virar as costas para ele, conseguiu enxergar nesse pequeno momento o que antes já lhes foi avisado, não há um salvador da pátria que profere palavras em base de emoções sem plano para governar um país do tamanho territorial, populacional e econômico como o Brasil.
A pressão que ele sofre, sendo do povo, da oposição e de antigos aliados políticos, é necessariamente uma amostra de seus 27 anos como deputado federal. No qual não conseguiu articular e promover projetos políticos, sendo aceitos apenas dois de 171. O fracasso já estava desenhado.
O momento da CPI da covid está aí, espero que chegue a algum lugar, esperar até 2022 não é o melhor caminho para o Brasil atualmente.
Depois da tragédia feita e não assumida pelos meios de comunicações de terem ajudado na eleição desse desastre político, será preciso esperar cinquenta anos para lermos num editorial um pedido de desculpas desses jornalistas e meios de comunicações?
(Escrito por Fabio Idalino Alves Nogueira, professor de história, e Gabriel Luiz Campos Dalpiaz,
Professor de Educação Física e graduando em Filosofia)
Palestinos e favelados, o inimigo comum: o Estado
11 de Maio de 2021, 9:28(Texto escrito em 2014 por Fábio Nogueira é militante da Educafro, Estudante de história da Universidade Castelo Branco e Celso Sanchez professor da Unirio)
Assistir as cenas de violência na Palestina nos deixa profundamente estarrecidos e sem palavras. Quando hospitais e crianças dormindo em uma creche viram alvo, nos damos conta de que a barbárie se impôs à realidade.
Estamos vendo neste momento uma guerra desigual onde milhares de vítimas, em imensa maioria inocentes, pagam pelo preço de disputas por outros interesses. Israel tem a maior potência militar da região do Oriente Médio, a justificativa ao bombardear escolas, abrigos humanitários e prédios residenciais é que, segundo a inteligência de Israel, grupos radicais usariam estas áreas como escudos humanos. Mas perguntamos, mesmo assim bombardeam? Se crianças morrem são meros “danos colaterais”? Assume-se a ética dos fins justificam os meios? Isso é a inteligência da inteligência?
Como se pode notar, a guerra também é pelo domínio da narrativa, da argumentação assassina e cínica que justifica a morte, o sangue, o ódio e a negação da vida.
Até o momento o holocausto palestino vitimou mais de 1.500 pessoas, muitas delas crianças que nesta altura dos acontecimentos o governo de Israel as qualificaria como pequenos terroristas. Para justificar o genocídio, na guerra argumentativa, alguns defendem o estupro de mulheres palestinas… Ou até mesmo a morte das mulheres, como disse esta deputada…
Assim como a estratégia nazista do confinamento que segregou a população polonesa no gueto de Varsóvia, a faixa de Gaza é um território intransponível, não se pode entrar nem sair, nem ajuda humanitária…
O deboche era outro traço da narrativa nazista, o mesmo “sorrisinho cínico de lado” estava presente na estúpida entrevista cujo representante do estado de Israel chama o Brasil de “anão diplomático” e diz que vexame não é matar crianças dormindo e sim perder de 7×1…
É a barbárie se repetindo, a despeito de tantos anos lutando e pedindo: “nunca mais”!
O que falariam Hanna Arendt, Theodor Adorno, Walter Benjamin e Edward Said? Teremos outro tribunal de Nuremberg? Ouviremos depois: “mas estávamos só nos defendendo?”. Parafraseando Eichmann: “só cumpria ordens”, e assim matou-se 6 milhões de judeus…
Não é novidade o silêncio das grandes potências mundiais, aliados do estado de Israel diante das atrocidades. O silêncio é uma narrativa de omissão.
Os Estados Unidos, maior aliado político e militar, a todo o momento vêm fazendo vistas grossas e pequenas e inócuas críticas. Os artistas hollywoodianos engajados em causas nobres, para ficarem bem na foto desempenham o mesmo papel das grandes potencias dominantes: silêncio….
Alguns formadores de opinião quando não podem ajudar pioram a situação. O favorito da direita reacionária, Luiz Felipe Ponde, justificou no seu artigo na Folha de São Paulo, que os acontecimentos na Palestina são mero jogo geopolítico. Na sua imensa vontade de fazer sucesso a qualquer custo, permite-se escrever qualquer absurdo.
As prostitutas dos cabarés da França ocupada pelos nazistas tinham mais dignidade diante da falta de respeito aos mortos, às crianças sobretudo. Impossível não lembrar de Voltaire numa hora dessas: “A civilização não suprime a barbárie, aperfeiçoa-a.”
Pessoas como Pondé são capazes de ver o cisco no olho dos outros, e não ver a trave em seu próprio olho. O Brasil, em termos de violência, também tem um quê de faixa de Gaza.
Os números de homicídios, em particular da juventude negra, são compatíveis a qualquer conflito armado. Por ano são mais de 5.000 mil mortos, 150 por dia e mais de 30 mil a cada década. O perfil é o mesmo há mais de três séculos: homens, jovens e negros.
Assim como acontece na Palestina, um dos principais elementos dessa matança é o braço armado do Estado. Desde sua fundação no século 19 como instituição do Estado, a polícia militar foi planejada para proteger a família real e os mais ricos. O alvo principal era os escravos. Nada mudou em dois séculos no principal aparato político-armado e controlador social do Estado. Sugiro tirar o símbolo deles… dá azar! rs
Morrem muitos jovens negros. Enquanto isso… as nossas direitas, centros e esquerdas se fazem de cegas. Os artistas se fazem de mudos, cegos e surdos (salvo exceções). Para ficarem bem na foto, aderem à campanha de mau gosto: “Somos todos macacos”. Não se manifestam dizendo somos todos Claudia, Juan e DG ou Maria, etc. Algo comum entre os três? Todos mortos pelo Estado e por uma sociedade silenciosa.
As semelhanças são bem parecidas entre os lados em conflito. No entanto, o palestino tem o mundo para condenar o opressor. O favelado além do opressor para massacrá-lo conta com a ajuda de toda a classe dominante que quer vê-los bem longe de suas vistas. E, de quebra, ainda conta com as vozes dos oprimidos contra os próprios irmãos.
É impossível diante da realidade que se impõe duramente, não lembrar da seguinte poesia de Bertold Brecht:
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
O que nos resta neste momento é abrir os olhos e perceber que as lágrimas que escorrem do rosto dos oprimidos do mundo se juntam e desaguam no mesmo oceano, a barbárie.
Contra ela só um caminho: a educação transformadora e crítica, capaz de não permitir a omissão, nem o silêncio diante de qualquer injustiça.
Pela Paz em Gaza. Paz no Rio.
(*) Fábio Nogueira é militante da Educafro, Estudante de história da Universidade Castelo Branco e Celso Sanchez professor da Unirio .
Isolamento, loucura e solidão: animação explora dramas de um mundo decadente
3 de Maio de 2021, 8:26CHANCE é o título do curta-metragem produzido em animação digital que mostra as consequências da fuga, do isolamento e da possível loucura provocada pela solidão em um indivíduo. O curta inédito, que estreou dia 30 de abril de 2021, vem com a trilha-sonora original de Marcelo D'Amico, que compôs seis músicas exclusivas para a animação e lançou o álbum em 45 plataformas de streaming em 200 países.
O diretor da produção audiovisual, Leandro Ferra, explora o mesmo universo de produções anteriores, onde personagens verossímeis sofrem dramas reais e comuns a todos nós, em meio a uma sociedade que beira à decadência, fazendo da fuga da realidade uma tentativa de sobreviver ao caos aparente.
A animação em curta-metragem, CHANCE, é uma produção da Quadro-Chave Produções Livres com apoio na trilha-sonora da Music Plans, tendo João Paulo Simão nas baterias e produção musical.
Assista ao CHANCE:
Chance - Curta animado - FullHD from Quadro-Chave Produções on Vimeo.
Ficha técnica da animação
Direção e roteiro : Leandro Ferra
Produção: Henrique Barone
Animação: Leandro Ferra
Concept art: Giovane Ferreira e Leandro Ferra
Trilha sonora original: Marcelo D'Amico
Edição e masterização: João Paulo Simão
Edição de Vídeo : Leandro Ferra
Vozes: Pedro Ivo Maia. João Paulo Simão e Marcelo D'Amico.
Ficha técnica da trilha-sonora
Chance - Original Soundtrack From Short Movie Animation
Lançamento: 30/04/2021
Compositor: Marcelo D'Amico
Produzido por Marcelo D'Amico e João Paulo Simão
Gravado por Marcelo D'Amico no Mad Rotten Studio – Salto/SP
Editado, mixado e masterizado por João Paulo Simão na Music Plans – Salto/SP
Arranjos por Marcelo D'Amico.
Participação especial de João Paulo Simão na bateria em todas as faixas e tímpano na faixa 05.
Capa por Leandro Ferra na Quadro-Chave Produções Livres
Gravadora: Music Plans
Formato: Digital
01. Promeni – 03:27
02. Vidi – 03:02
03. Tiri – 03:20
04. Masko – 02:54
05. Timigi – 03:24
06. Chance – 04:18
Trilha-sonora: https://ditto.fm/chance-original-soundtrack-from-short-movie-animation
Quadro-Chave Produções Livres: https://www.quadrochave.com/
Music Plans: Instagram, Twitter, Facebook e TikTok - @musicplansprod
Marcelo D'Amico, artista: http://mad.marcelodamico.com
Cristãos, conservadores, fascistas e fundamentalistas: é preciso distinguir
22 de Abril de 2021, 19:30“Partidos políticos, religiosos, em diversos países, interferem no funcionamento do Estado (que deve ser laico) e buscam benefícios que nada tem a ver com a esfera espiritual”, Jaime Pinsky, Historiador da USP.
Quem de nós não se lembra, nos dias da semana, à noite, aos sábados e domingos, nas ruas de qualquer cidade do Brasil, do crente ou evangélico lotando as igrejas com cantos e louvores que adentram até as madrugadas em cultos especiais? Era e é assim até hoje.
O Brasil é considerado a maior nação católica do mundo, mas que nas últimas quatro décadas vem dividindo espaço com as chamadas Igrejas evangélicas, conhecidas também como pentecostais ou neopentecostais. O aumento desse movimento cristão não passaria despercebido, se não fosse a intromissão desses grupos nas decisões de governamentais. A preocupação que fica no ar é: o que eles farão dentro do governo?
Em 2013 a onda conservadora começava a surgir nas manifestações de junho. Ao lado de pautas que afligem toda a sociedade e os vulneráveis. Junto a isso, outras pautas que envolvem os direitos civis estavam sendo questionadas. A partir desse ano, setores ultraconservadores começavam a ser organizar, aliando-se a políticos também ultraconservadores do tipo do atual presidente da República, JMB.
O presidente conseguiu nesse setor religioso “cristão” a base perfeita para a campanha de 2018, para a corrida presidencial. Em verdade que esses “cristãos” foram os mesmos que elegeram os últimos presidentes dos partidos dos trabalhadores. Devido à demonização das esquerdas, patrocinada pela mídia conservadora e “ cristã” tele-evangelista, esses cristãos ficaram desiludidos com os desalinhos da esquerda e a opção foi aderir ao discurso do ódio. Nas eleições de 2018, a bancada da bíblia formou o escrutínio fiel ao atual governo. Fora da câmara federal, há o lobby de pastores para pressionar o congresso a votar medidas conservadoras que poderão estar nos levando ao neo-período medieval europeu.
A relação entre a religião e o Estado é delicada. Onde há trocas de favores, se rompe essa separação, e um fica refém do outro. A religião, no texto representado pelas Igrejas neopentecostais (não todas) e outros grupos conservadores da Igreja católica, passa a promover praticas mútuas, onde um cobra do outro e quando há o rompimento desses interesses ... Há países onde a religião tem mais poder do que o Estado de direito, o Irã e a Arábia Saudita que o digam.
A fundação da República brasileira, em 1889, terminou de vez com essa parceria promíscua. O rompimento não impediu, até os dias atuais, que esses grupos neo-evangelistas interfiram nos resultados eleitorais. Nas últimas três eleições presidenciais, o voto cristão foi o fiel da balança eleitoral.
O sociólogo da religião, Ronaldo Almeida, em seu brilhante artigo "Onda quebrada - evangélicos e conservadorismo", faz algumas considerações importantes sobre o conservadorismo e a pauta conservadora dos evangélicos. Destaca que o conservadorismo não é contrário às normas democráticas, portanto é necessário fazer a distinção entre conservadores, fascistas e fundamentalistas. São termos e categorias comumente usados para atacar e acusar carregando muitas vezes imprecisões generalizantes.
O saudoso Antônio Flávio Pierrucci, já na década de 1990, havia observado o crescimento dos evangélicos na política, bem como as pautas conservadoras que orbitavam os debates políticos naquela época. Fato é que não havia naquele momento uma bancada evangélica tão militante como temos agora no Congresso Nacional, e com isso podemos conjeturar que o propalado conservadorismo não é exclusividade dos evangélicos.
Embora o conservadorismo tenha um verniz religioso, levantando a bandeira da defesa da moral e dos bons costumes, bem como da família tradicional, basta uma olhada não muito aprofundada para constatarmos o fato de que o tal conservadorismo visa a atender interesses de classe bem específicos, portanto nada tem a ver com ensinamentos cristãos. Basta vermos a defesa irrefletida que alguns elementos que se intitulam pastores, como Silas Malafaia, fazem a aquele que ocupa o cargo presidencial: diga-se de passagem que o referido pastor é um burguês ávido por exercer poder não só religioso, mas também econômico e político, haja visto possuir 116 empresas e um patrimônio bem volumoso e no campo da política ser bem próximo ao presidente (foi padrinho de casamento deste). Devemos nos lembrar que o mesmo que vocifera impropérios contra a esquerda e o PT, anteriormente fora apoiador de governos petistas.
Falando em PT é um acinte afirmar que esse partido persegue igrejas ou a religião cristã. O próprio Lula, quando presidente, sancionou a lei que garantiu personalidade jurídica às organizações religiosas, a chamada lei de liberdade religiosa. Sem se falar que foi no governo de Dilma Roussef que a música gospel foi considerada patrimônio cultural, podendo usufruir da Lei Rouanet. Como esses governos perseguiram os cristãos? Muito pelo contrário, a aproximação com a liderança fundamentalista evangélica não foi garantia da fidelidade desses, cujos ventos do oportunismo os guiam como folhas secas caída ao chão. Nem a presença de Dilma na inauguração do Templo de Salomão, do charlatão Edir Macedo, foi a prova que esses terrivelmente evangélicos queriam para constatar que o PT comunista não perseguiu igreja alguma.
Na disputa religiosa entre a Igreja Católica e a protestante, essa última assumiu a vanguarda política. A sociedade mudou, portanto a religião segue o fluxo de tais mudanças. Todavia, não podemos perder de vista que a instituição religiosa (me refiro aos cristãos católicos e protestantes) carrega contradições internas. Basta ver as igrejas da periferia onde a realidade diverge das igrejas dos centros urbanos. A vida é organizada de maneira bem diferente nas favelas e/ou comunidades. A esquerda não pode perder isso de vista antes de fazer qualquer crítica.
Por exemplo, ao lembrar da Reforma protestante, muitos citam o nome de Martinho Lutero e João Calvino, mas se esquecem completamente de Thomaz Muntzer. Thomaz era milenarista e acreditava que as benesses do reino de Deus era para o tempo presente, foi um ardoroso militante nas lutas camponesas por terra, ao contrário de Lutero que a princípio se omitia, mas depois passou a esconjurar e amaldiçoar os camponeses. Lembremos também que o referido reformador (Lutero) fora uma das pessoas que Hitler mais admirava ao lado de Richard Vagner. Já Muntzer foi alvo da admiração de alguns importantes nomes do comunismo como Friederick Engels, que dedicou um capítulo inteiro de seu livro As revoluções camponesas do século XVI, e Ernest Bloch lhe dedicou um livro chamado Thomaz Muntzer o teólogo da revolução. É muito incoerente achar que todo cristão é fascista e apoia esse estado de coisas. Não podemos esquecer que Dietrich Bonhoefer era pastor luterano e que aqui no Brasil temos nomes que compõe a esquerda cristã como o Pastor Ariovaldo Ramos e Henrique Vieira.
Há aqueles que são terrivelmente evangélicos como o Doutor Jairinho, que apesar de sua aparência dócil, escondia uma natureza violenta. Mas a fantasia de ovelha no lobo não durou por muito tempo. Um dia o mascarado deixou a máscara em casa. Nesse caso pitoresco, onde uma criança de apenas quatro anos fora vitimada pela violência desse que fora um arauto da moralidade, há alguns fatos que gostaria de destacar.
Primeiro, o nome do indivíduo. Jairinho, diminutivo de Jairo, personagem bíblico que foi até Jesus para que este lhe curasse a filha enferma. Fosse o Jairo da Bíblia, com certeza a sorte do menino assassinado teria sido outra. Se o terrivelmente evangélico parasse para refletir na história de Jesus, ele veria que sempre que as pessoas levavam crianças para que ele as abençoasse, ele não as despedia de sua presença sem receberem um toque carinhoso e abençoador. Ele mesmo repreendeu seus discípulos quando tentaram impedir as crianças de se aproximarem. Jesus, que curou a filha de Jairo, gostava de crianças, que triste ironia.
Em segundo lugar, vemos o nível de alienação ou interesses financeiros de alguns religiosos neste caso em que a cantora Elaine Martins gravou um vídeo pedindo votos para o então candidato. Elaine Martins é ex-integrante da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, do pastor Marcos Pereira, o mesmo que ficou um tempo preso acusado de ter abusado sexualmente de algumas fiéis de sua igreja. Essa cantora, ao pedir votos ao candidato Jairinho, evocou a defesa da família contra a ideologia de gênero ensinada nas escolas. Como garantia, afirmou que ele era seu amigo.
Por último, e acredito que mais chocante, foi o fato da mãe do menino Henry não ter tomado as devidas providências para proteger o filho, haja visto ela ter tido ciência de agressões anteriores. O amor ao dinheiro falou mais alto que o amor de mãe.
À guisa de conclusão, penso que não há nada de errado um cristão se enveredar pela política, mas desde que o mesmo consiga compreender que o estado é laico. Isso não se trata de abrir mão da sua fé, mas de respeitar a fé dos outros.
(Escrito por Fabio Idalino Alves Nogueira, professor de história, e Marcio Roberto Carvalho, historiador)