Selminha Sorriso falou e disse: reparações para os negros já!
27 de Abril de 2022, 20:55Empretecer o Pensamento É Ouvir a Voz da Beija-Flor |
Traz de volta o que a História escondeu
Foi-se o açoite e a chibata sucumbiu
Mas você não reconhece o que o negro construiu
Foi-se ao açoite e a chibata sucumbiu
E o meu povo ainda chora pelas balas de fuzil”
Tenho que ser sincero que não assisti por completo os desfiles das escolas de samba do Rio De Janeiro. E o fato que também contribui para não assistir em sua integralidade é que a transmissão da emissora é terrível, monótona e tediosa. Requer bastante paciência para ficar sentado por sete horas a finco. A emissora é aquela que num passado não tão distante promoveu ataques ferozes contra a construção do sambódromo.
O ponto a destacar neste desfile foi a quantidade de escolas de samba que inseriram temas ligados à África. Há escolas que são tradicionais com esses temas (Salgueiro, Vila Isabel e Beija- Flor), outras foram novidades, como a Portela. Em anos anteriores os números de agremiações eram limitadas, mas neste ano os números superam. Todas estão de parabéns.
Trabalhar a história da África se constitui num desafio fora da avenida. Nas escolas, no dia-a-dia, não é o mar de rosas como observar aquelas pessoas se maravilhando com o carnaval. Somos a segunda maior população preta fora da África. Somos próximos e, no entanto, se pedirmos pro brasileiro citar dez países africanos, levante as mãos para o céu se alguém mencionar Angola e pronto.
Somos muitos distantes quando o assunto é a África. Sabemos pouco sobre o passado da África, para alguns de nós, a África aparece a partir do tráfico negreiro. Junta-se às crises políticas, doenças, guerras e feitiçaria.
No passado antes e depois de Cristo, a África era um continente pujante com organizações sociais, culturais e comerciais. Invenções que utilizamos em nosso cotidiano nasceram na África: medicina, filosofia, metalurgia, astronomia e engenharia. Sim, também a engenharia, ou vocês pensaram que as pirâmides foram construídas pelos ETS? O filme Pantera Negra dá a ideia dessa África moderna que um dia existiu. O continente heterogêneo com complexo linguístico, religioso e multi-étnico.
Anteriormente disse que trabalhar o conteúdo de África é um desafio fora da avenida. É pura realidade. Nos estabelecimentos de ensino não encontramos apoio dos diretores, se você for seguidor de religião de matriz africana, então essas chances são quase zero. Outro desafio é intromissão de igrejas cristãs. Há alguns anos tive a desagradável experiência ao ver dez alunos saírem da sala para não assistirem a aula de África, ficamos sabendo depois que essa ordem partia de pastores neo-pentecostais com medo de "ideologização" religiosa dentro da sala de aula, pura mentira . Numa mente comum conservadora, falar em África é mencionar feitiçaria, demônios e guerras. São frutos de Marcos Feliciano.
Feliz foi a Porta-Bandeira da Beija-flor, Selminha Sorriso, que foi firme sem perder a doçura e afirmativa e contundente em falar que o Estado tem que reparar quatro séculos de escravidão e mais: os cumprimentos das leis 10.639 e 11.645. Ambas as leis obrigam os estudos tanto da África e afro-brasileiros e os nativos da terra, os índios.
Não há como negar que houve avanços dos direitos dos negros e indígenas. Atualmente passamos por retrocessos que é capaz de tirar nossas vidas e com olhos beneplácitos do mandatário do país. A política de cota racial foi a nossa vitória, partiu dos movimentos negros essa iniciativa, não foi de esquerda ou direita que quando necessário procuram sempre estar nos calando.
Ficarei feliz em estar numa sala de aula e estar ensinando a história do povo afro brasileiro e indígena. Ver nos olhos dessas crianças, jovens e adultos, que tem motivos reais de serem parte na construção política social do Brasil.
Empretecer a pele não basta, ser preto quando convém é fácil: quero ver estar ao lado, lutando por direitos iguais .
OBS: Este mês completou dez anos do julgamento do STF que deu constitucionalidade à politica de cota racial em universidade.
Religião e política: um prato indigesto
12 de Abril de 2022, 18:46Todas as constituições do Brasil da Era Republicana são enfáticas ao destacar a separação entre a religião e o Estado. No Brasil colônia e império, todos os brasileiros automaticamente já nasciam católicos. Era impensável mudar de religião.
A atual constituição reforça este conceito. Seguir ou não uma religião são conceitos privados. A lei garante a liberdade religiosa. Qualquer um pode seguir ou não uma religião. Eu, você e todos nós podemos acreditar nas divindades ou não.
É normal chefes de governos ou de Estado receberem qualquer membro de organizações religiosas. Tantos chefes de governo ou de Estado podem ter ou não uma religião, são direitos garantidos pela constituição. O temeroso será levar este desejo pessoal para a esfera pública, tomar decisões que possam alterar a vida de cada brasileiro.
O momento obscuro que estamos atravessando com o atual governo deixa–nos em alerta. A presença da bancada da Bíblia (religiosos conservadores), em sua grande maioria evangélicos, na qual, constantemente, protagonizam polêmicas ao tentarem misturar assuntos de estado com os dogmas de sua religião, é prova disso. Um desses casos célebres é o da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, a pastora Damares Regina Alves, cujos discursos já provocaram diversas situações embaraçosas para o Planalto.
A justificativa de por Deus em pautas políticas é como colocar um ponto final em uma discussão. A palavra Deus traz a questão do respeito por ser uma entidade divina e poderosa. Não há argumento que contenha premissas lógicas e racionais que possam derrubar uma premissa divina, pois está em um conhecimento religioso, diferente das demais.
Quem se atreve a se opor a (um argumento que use) Deus em uma pauta política em um país como Brasil? Caso isso venha acontecer, saiba que será chamado de forma pejorativa de “Comunista!”, “Chavista!”, “Satanista!” e outros xingamentos.
O fanatismo religioso foi um dos motivos de ter elegido Bolsonaro no poder do Brasil. Usou pautas religiosas para justificar os seus atos. Isso pode lembrar os governos Fascistas e Nazistas da Itália e da Alemanha que de uma certa forma usaram a Igreja para se levantarem e se manterem no poder. Utilizaram o conservadorismo da Igreja para se apoiar em suas “reformas políticas”.
Lembrando que designar a religião como algo “mal” pelos infortúnios causados pela Igreja é um equívoco. Pois, a religião em si não prega as barbáries que a Igreja e quem a usou em nome dela fizeram. Quem matou, dizimou e procurou justificar a escravidão nas Américas e na África foram pessoas que se apropriaram de forma errada da religião para praticarem tais atos.
A política de quem está no poder do Brasil está na contra mão do progresso, com pautas cada vez mais conservadoras, usando, por vezes, Deus em “vão” para se escorar e conseguir apoio para talvez se reeleger. Sempre desconfie de quem usa Deus na política, geralmente esse político não possui plano de governo econômico-social convincente, por isso apela a Deus.
Ucrânia e Rússia: para sairmos do senso comum neste conflito
10 de Março de 2022, 19:30Ouço e vejo tantos especialistas em assuntos políticos darem suas opiniões sob o conflito Ucrânia e Rússia que parece fácil entender o assunto e apontar um vilão. Sabemos que num conflito bélico, não há inocente. O lado pior do ser humano passamos a conhecer nestes momentos. Ao fim de cada comentário dos chamados especialistas, para os leigos fica fácil entender e responsabilizar somente uma nação: a Rússia.
Para os historiadores especializados em Europa, falar da Rússia, dos primórdios do Principado de Kiev (hoje a Ucrânia), seria um deleite, que já não é tão tranquilo assim de estar resumindo a um único texto.
A União Soviética existiu por 69 anos e a Rússia ficaria no seu lugar, fraca e sem peso político e militar. Boris Yeltsin era a cara da acometida Rússia. Homem doente, sem personalidade e que sofria de alcoolismo e andava com a mala do juízo final.
Dentre idas e vindas de uma outra geopolítica no campo europeu ficou acertado que as duas alianças militares, a OTAN e o Pacto de Varsóvia, iriam desaparecer. Não havia mais a necessidade da existência das duas forças militares. Acontece que o acordo foi simbólico e sem assinatura de documentos. O erro foi neste momento em que ambas as partes não registraram nada a mais. A porta do expansionismo ficou aberta para OTAN.
Na década de noventa, a Federação Russa estava obsoleta, perdeu vergonhosamente a guerra contra a Chechênia. Enquanto isso, a OTAN começava a aglutinar os países do leste europeu.
Foi a OTAN que começara a provocação. O Presidente Putin, num olhar aguçado (foi espião pela antiga KGB), já percebia o avanço da OTAN mais ao leste da Europa. O atual diretor da CIA (Serviço Secreto norte americano) William J. Burns, corrobora do mesmo pensamento do presidente Russo há mais de duas décadas sob o avanço da OTAN ao leste da Europa. Segundo Burns, "a hostilidade à expansão inicial da Otan é quase universalmente sentida em todo o espectro político interno aqui" (https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60584900).
Implícito e em dois momentos, William J. Burns advertia ao ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, sob o afrontamento e naquele instante, a Polônia, a Hungria e a República Tcheca davam sinais para entrar na Otan.
Como nada na História é à toa, William J. Burns escreveu a sua preocupação à ex-Secretária de Estado, Condoleezza Rice: "a entrada da Ucrânia na Otan é a mais brilhante de todas as linhas vermelhas estabelecidas pela elite russa (não apenas Putin). Em mais de dois anos e meio de conversas com os principais atores russos, desde aqueles que se escondem nos recantos sombrios do Kremlin aos críticos liberais mais ferrenhos de Putin, ainda não encontrei ninguém que veja a Ucrânia na Otan como algo além de um desafio direto aos interesses russos" (https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60584900).
Ao chegar à presidência da Federação Russa nos anos dois mil, o presidente Putin iniciava a modernização das forças armadas Russas, valorizava a ciência e investia nas universidades. Faltava adivinhar quando colocaria as cartas na mesa da geopolítica mundial.
O engano das grandes potências foi pensar: quem foi um dia líder deve estar adormecido, numa espécie de hibernação. A Grande Rússia estava ferida e perdida, mas não morta.
Não concordo com a invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Entendo a preocupação de Vladimir Putin de estar sendo cercado por países da OTAN. Não necessariamente, há sempre bases militares da OTAN com mísseis convencionais em países, apontados estrategicamente. Não estou afirmando nada, mas não estranhe caso isso venha acontecer na Ucrânia e países bálticos. Já pensou você sabendo que seus vizinhos estão prestes a afunilá-los, o que você faria? Isso que Putin vem sentindo, sendo desafiado.
Vladimir Putin deve ser responsabilizado e por outro lado, não estou enaltecendo um governo ucraniano que caiu igual a um rato preso, não sabendo o que fazer. Agora vê-se em apuros e está igual a um adolescente pedindo ajuda à OTAN.
Nesse momento, os EUA estão impondo sanções sobre a Rússia como uma forma de penalizar o governo russo em questão da guerra da Ucrânia. De fato, pode-se dizer que a Rússia se preparou para realizar esse movimento militar, pois elevou a sua reserva cambial para a quarta maior do mundo, sendo avaliada em 600 bilhões de dólares e possui um parceiro econômico, a China, que poderá intervir com as demandas de bens de consumo, além da criptomoeda chinesa que poderá ser usada em negociações futuras.
As sanções que o governo norte-americano colocou sobre a Rússia acabou sendo um empecilho a eles mesmos, os EUA, pois não poderão exportar petróleo e outras commodities da Rússia e se veem na obrigação de ter que negociar com a Venezuela. Sim, com a Venezuela, que o próprio governo estadunidense colocou sanções econômicas como uma forma de “punir pela falta de democracia”. Algo bem hipócrita e, talvez sim ou não, o presidente Maduro negocie a retirada dos embargos que os próprios venezuelanos e cubanos sofrem pelos EUA.
A guerra vai muito além do senso comum. Está além do que a mídia coloca como um lado é “bom” e o outro lado é “mal”. Devemos ampliar o nosso senso crítico e analisar o porquê de qual atitude está ocorrendo. Nos questionar o porquê do atual conflito entre Rússia e Ucrânia, mas para isso, deve-se aprofundar ao menos nas questões políticas, sociais, históricas e geográficas.
(Por Fabio Idalino Alves Nogueira, graduando em História pela UVA/RJ e professor de pré-vestibular comunitário; e Gabriel Luiz Campos Dalpiaz, professor de Ed. Física na UEMS e estudante de filosofia.)
Antes, durante e depois de Jair Bolsonaro
18 de Setembro de 2021, 12:03
O ato que houve dia 07 de setembro de 2021, mostrou uma população fanática pelo seu político e que manifestou apoio sem justificativas plausíveis, como as críticas ao STF (Supremo Tribunal Federal) e pedindo o seu fechamento. Porém, um dia após as palavras do presidente da república contra o STF, ele mudou a sua postura, ficando com um tom mais “democrático”.
Outro fato marcante é de que Flávio Bolsonaro possui foro privilegiado de quando ocorreu a “crise Fabrício Queiroz”, para se proteger. Porém, ele e a família Bolsonaro pediam o fim do foro privilegiado, antes desse momento que privilegiou Flávio.
Os “bolsonaristas” (apoiadores do Presidente Jair Messias Bolsonaro) negam as tragédias de seu governo! Como o aumento dos preços de bens de consumo no geral. Alimentos e combustíveis caros, salário mínimo perdendo seu valor pela inflação que só aumenta. Alguns apoiadores de Bolsonaro afirmam, de forma errônea, que o preço elevado dos combustíveis é por culpa dos impostos que os governadores mantêm, como o ICMS (imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação), porém esse imposto sempre esteve presente desde o final do século passado (XX).
Há indústrias e empresas estatais que se tornaram (em partes) privadas e cada vez menos o estado pode usufruir dela como um benefício à sua população. Quando isso ocorre, no governo liberal de Jair Messias Bolsonaro, essas grandes corporações vão possuir uma política aberta ao mercado e ser benéfica a quem são seus grandes investidores. Para quem consome, que é a sua população, terá que pagar caro para enriquecer o topo da pirâmide.
Quem assistiu pelas redes sociais, observou um chefe de governo inoperante e sem caráter, desafiando o poder judiciário, admitindo que não obedeceria às ordens dos ministros do SFT. Entre nós: se fôssemos um país sério, um presidente que confrontasse com a maior corte de justiça do país, no dia seguinte teria que prestar contas.
Analisando bem friamente, setores da sociedade cooperaram com a ascensão de Bolsonaro. Sua estrutura começa nas manifestações de junho de 2013 e depois foi se arrastando, passando pelo golpe legislativo da Dilma até a eleição de Bolsonaro em 2018.
Não há desculpas ou fazer de desentendido, o presidente sempre foi assim: belicoso, machista, homofóbico. Vestiu a manta de religioso que mistura cristianismo e judaísmo. No mais, não ficarei escrevendo para afirmar aquilo que já se sabia.
O Brasil está isolado. Estamos cercados de crises que vai da sanitária que matou mais de 585 mil pessoas até a hídrica. Os empresários querem investir num país onde mandatário promete a todo momento que aplicará golpe de Estado.
O Brasil está abatido, a sociedade expõe de vez todo o ódio e divisão nela contida há tempos, e será um trabalho para que o discurso do ódio se torne algo do passado e aprendamos a falar com civilidade e em campos opostos.
Terra abatida, povo com fome, pessoas desalentadas, sociedade raivosa. Estas serão as heranças malditas de Jair Messias Bolsonaro.
(Por Gabriel Luiz Campos, prof. de Educação e graduando em Filosofia, e Fábio Idalino Alves Nogueira, professor de História do Brasil e África)
Um novo Talibã no Afeganistão?
9 de Setembro de 2021, 8:55 Os EUA saem do Afeganistão conforme entraram. Aquela velha promessa dos países democráticos com os EUA à frente: invadir para levar a democracia.
A guerra afegã custou milhares de vidas civis. Os EUA expulsaram o Talibã, mas não o destruíram. O Talibã permanece ativo e organizado. O Talibã venceu os EUA pelo cansaço e está de volta ao poder com tom mais moderado, tipo “Talibã Nutella”.
Não dá para acreditar nas promessas desses extremistas e a população feminina está entregue ao deus-dará.
A posição geopolítica do país acende o sinal amarelo para outros países da região. China e Rússia trataram logo de reconhecer o governo golpista. Os chineses têm inúmeros interesses de estar por perto daquele país. A fronteira física de 70 km não é barreira quando se trata de lítio, principal minério para carros elétricos. E outra preocupação dos chineses são os radicais do Talibã para não inflamarem a população muçulmana da China, da região de Xinjiang. A Rússia eleva sua atenção às antigas repúblicas soviéticas do Uzbequistão e Turcomenistão. São países de maioria islâmica, no entanto, não há o mesmo extremismo religioso que há no Afeganistão. O perigo ocorre se a Rússia perder a influência geopolítica na região. No mais, a sorte está lançada no país da Ásia Central.
Com os chineses e russos a frente de um projeto euroasiático, eles mantêm uma postura de reconhecimento do atual governo do Talibã, pois dessa maneira o governo afegão deverá se submeter as relações internacionais. As novas relações diplomáticas e políticas farão uma nova caminhada econômica do Afeganistão e assim a elevação das classes mais desfavorecidas através de oferta e regulamentação da mão de obra que poderá ocorrer, pela grande influência econômica da China e da Rússia.
Como o professor Elias Khalil Jabbour, Doutor em Geografia Humana, explicou em seu Twitter (@eliasjabbour) no dia 16 de agosto de 2021, “Integrar o Afeganistão à Iniciativa Cinturão e Rota e o Projeto Euroasiático é o primeiro passo que os amantes da paz e dos direitos humanos do povo afegão devem torcer para ocorrer.”.
Não estranhe caso os EUA fechem algum acordo com o Talibã. Não fiquem espantados se os americanos dizerem algo como que o Talibã sempre foi parceiro do governo afegão. O Talibã tirará proveitos da China, Rússia e EUA.
"Os Talibãs nunca foram terroristas ", não fiquem surpreso casos os países democráticos se dirigirem agora aos Talibãs dessa forma.
(Escrito por Gabriel Luiz Campos, professor de Educação e Filósofo, e Fábio Idalino Alves Nogueira, professor de história do Brasil e África.)