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Motta

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Segundo Clichê

27 de Fevereiro de 2017, 15:48 , por Blogoosfero - | 1 person following this article.

Quadrinhos descobrem o universo caipira

31 de Outubro de 2019, 10:31, por segundo clichê

Yuri Garfunkel: modas de viola inspiram história em quadrinhos

O universo das histórias em quadrinho está povoado de personagens que voam, têm poderes sobre-humanos e transitam entre mundos mágicos - os super-heróis, como foram chamados, são hoje quase sinônimo das HQs, tal a quantidade desses seres que saiu da imaginação de roteiristas e desenhistas. 

São poucos os criadores que ousam desafiar ou ir além desse senso comum. E quando surgem, merecem toda a atenção e incentivo, como é o caso do desenhista, músico e educador Yuri Garfunkel, autor de “A Viola Encarnada: Moda de Viola em Quadrinhos", projeto contemplado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC), do Estado de São Paulo, uma HQ baseada em temas sugeridos em mais de 80 canções do riquíssimo repertório caipira.

A obra, que será lançada no dia 9 de novembro na Livraria do Espaço (Rua Augusta, 1475, São Paulo ), tem texto introdutório de Ivan Vilela, violeiro, compositor, arranjador e pesquisador da música caipira, que não poupa elogios ao trabalho de Garfunkel: “Yuri teve a genial ideia de trazer este universo histórico da formação cultural do nosso povo para os quadrinhos. Ele traduziu em belas imagens tais narrativas reproduzindo cenas icônicas de modas e momentos. Além disso, a linguagem dos quadrinhos atinge um público diverso, inclusive mais jovem, e que desconhece essa história e essa música”, diz.

Dividida em dez capítulos, conforme as dez cordas da viola caipira, "A Viola Encarnada: Moda de Viola em Quadrinhos” retrata as aventuras dos amigos Vaqueiro e Violeiro em diversas situações recorrentes do cancioneiro caipira em viagens pelo interior do país. “A narrativa aborda a função social da viola desde suas origens rurais, o trabalho no campo e com o gado, as pescarias, o próprio ofício do violeiro que toca nas festas e nas fazendas. O ponto de partida da trama é o assassinato do Chico Mineiro. A partir daí busquei outras modas que esclarecesse esse mistério”, explica Yuri Garfunkel.

Garfunkel teve seu primeiro contato com a música caipira quando era criança, por causa das canções que suas avós cantavam. Com o passar dos anos, seu interesse pelo gênero aumentou e há cinco anos começou a tocar viola. “Desde então, o roteiro da HQ foi se formando na minha cabeça a partir do repertório que conheci ao longo da vida”, afirma.
Para ele, a música caipira destaca-se por sua sonoridade única. “Ela engloba uma grande variedade de ritmos e a qualidade das composições é impressionante”, diz. 

Garfunkel já possuía o conhecimento do repertório caipira como músico, flautista e violeiro. Para contextualizar o enredo, convidou Ivan Vilela para compartilhar seu conhecimento histórico na introdução do livro. 


Com 172 páginas, a obra conduz o leitor para uma viagem sonora afinada com as características históricas e visuais da flora e da fauna dos Estados brasileiros, fundamentais na formação da cultura caipira, numa jornada que percorre os sertões até chegar na cidade grande. Um dos diferenciais da produção é que os acontecimentos e paisagens descritos nas letras propõem ao leitor um encontro com a imaginação já que estão interligados visualmente, ou seja, sem textos ou balões de fala. Dessa forma, o leitor pode induzir o conteúdo do texto sugerido pelos títulos das canções de referência que são indicadas no rodapé das páginas e dispostas para conferência em uma playlist digital no Canal A Viola Encarnada no Youtube.

Yuri Carlos Garfunkel é desenhista, músico e educador desde 2004, criador do Sopa Art Br, estúdio de artes visuais, ilustração e design, com mais de dez anos de experiência em comunicação visual ligada à cultura. 

Ivan Vilela é violeiro, compositor, arranjador, e pesquisador da música caipira. É professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e também diretor da Orquestra Filarmônica de Violas. 



Lendária banda Bacamarte encerra festival de rock progressivo

24 de Outubro de 2019, 9:00, por segundo clichê


A banda de rock progressivo Bacamarte (foto) comemora seus 45 anos de formação com um show nesta sexta-feira, 25 de outubro, no Teatro Municipal de Niterói, às 20 horas, encerrando o III Carioca Prog Festival. Fundada em 1974 por Mario Neto e Sergio Vilarim, a banda veio a gravar de forma independente o álbum “Depois do Fim”, em 1979. O disco, porém, foi lançado somente em 1983, depois de ter suas músicas entre as mais tocadas pela rádio Fluminense FM.

O álbum vendeu milhares de cópias em países como Alemanha, Itália, Rússia e, principalmente, Japão. Em 1999, foi lançado o álbum "Sete Cidades", que também teve sua tiragem esgotada rapidamente.

Em 2009, depois de vários anos desaparecido das prateleiras e tendo se tornado item de colecionador disputado por amantes do gênero no Brasil e no exterior, “Depois do Fim” foi relançado pela Som Livre, em versão remasterizada diretamente da fita master original.

No Teatro Municipal de Niterói, a banda será formada por Mario Neto (guitarra e violão), Marcus Moura (flauta e acordeon), William Murray (contrabaixo), Robério Molinari (piano e teclados) e Alex Curi (bateria), com a participação especial da cantora Jane Duboc. No show serão tocadas músicas dos discos "Depois do Fim", "Sete Cidades" e outras inéditas.

“Depois do Fim” é hoje citado como um dos melhores trabalhos do rock progressivo da década de 1980 e encabeça a lista das grandes obras do gênero produzidas no Brasil, como as do O Terço, Os Mutantes e O Som Nosso de Cada Dia. O reconhecimento internacional desse trabalho é constatável nos rankings dos melhores discos de rock e rock progressivo de todos os tempos.

A partir de 2012, o Bacamarte retornou aos palcos, se apresentando em shows no Teatro Rival – RJ (2012), Circo Voador – RJ (2012), Sesc Belenzinho – SP (2014), Teatro Municipal de São Paulo – SP (2015), Festival Psicodália – SC (2019) e Sesc 24 de Maio – SP (2019). (Foto: Liza Bueno)



Livro esgotado sobre Villa-Lobos ganha nova edição

15 de Outubro de 2019, 9:48, por segundo clichê


Quinze anos depois de uma tiragem reduzida e local,  na época, conseguida por meio do patrocínio da Eletrobras, pela Lei Rouanet, uma obra-prima da literatura musical ganha sua segunda edição, agora com distribuição nacional, revisada e atualizada. O livro “Villa-Lobos e a Música Popular Brasileira, uma Visão sem Preconceitos” (Ed. Tipografia Musical, preço médio R$ 55,00, 207 páginas), da renomada pesquisadora e professora Ermelinda Paz (foto), é fruto de um estudo iniciado há 30 anos, quando a autora ganhou um concurso de monografias com esse tema.

Baseando-se em testemunhos, fotografias, documentos de época, reportagens, Ermelinda reuniu em sua publicação quase tudo que se publicou sobre Villa-Lobos e os discos lançados com suas músicas, que perfazem centenas de obras. Com  um texto fácil e acessível, sem deixar de lado o rigor acadêmico na ampla pesquisa, o livro destrincha a vida do maestro e compositor desde a juventude, na segunda década do século passado, quando muito empobrecido pela morte prematura do pai, decide vender livros raros que herdara para poder financiar o seu sonho de viajar pelo país. 

As dificuldades financeiras também o levaram a trabalhar como músico de operetas e de cinema  -na época, grupos ou solistas animavam as antessalas. A sua contribuição na educação musical juvenil, por meio do canto orfeônico, que reunia milhares de jovens e crianças em estádios, também foi bastante aprofundada pela autora, que ainda ressalta o verdadeiro objetivo do maestro em educar socialmente por intermédio da música, não fazendo dela apenas uma exibição artística ou recreativa. O maestro  levava música para multidões e também foi, provavelmente, o primeiro músico erudito a reconhecer o valor das manifestações populares, compondo inclusive para o violão, um instrumento sem muito prestígio na época.

Filho de um intelectual que gostava de promover saraus musicais em casa, recebendo a nata dos músicos populares, como Pixinguinha, Sinhô, João da Baiana e Donga, Villa-Lobos tinha uma especial relação de amizade e companheirismo com Cartola – por meio de testemunhos, o leitor se surpreenderá com hábitos pouco conhecidos do maestro, como seu interesse especial em prestigiar e vivenciar por tantas horas o Buraco Quente (pé do morro), na Mangueira.

Assim como Pixinguinha e outros músicos da época, Villa-Lobos também tinha o seu mecenas, Carlos Guinle, a quem sempre se preocupava em registrar, em cartas, a devida prestação de contas e o não desperdício – publicadas no livro, muitas dessas cartas revelam também a grande preocupação de Villa-Lobos em cuidar bem de sua obra e de afirmar sua gratidão pelo patrocínio. O livro traz também depoimentos de músicos variados, como Tom Jobim, Wagner Tiso, Edu Lobo, Egberto Gismonti, Elizeth Cardoso, Herivelto Martins, João Pernambuco, Vicente Celestino, Nana e Dorival Caymmi, dentre muitos outros grandes nomes da música brasileira, todos revelando o quanto de Villa-Lobos existe em suas composições.

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No Rio, três shows de rock progressivo

9 de Outubro de 2019, 14:12, por segundo clichê


Para aqueles de se esbaldaram com a passagem rápida do King Crimson no Rio, nesta semana a cidade vai receber três shows do gênero que prometem surpreender admiradores em geral. Dentro da programação do III CaRIOca ProgFestival, a banda paulista Dialeto (foto) leva ao palco do Centro Cultural Solar de Botafogo, nesta quinta-feira, dia 10 de outubro, o show “De Blavatsky a Bartók”, com músicas do compositor húngaro Béla Bartók livremente adaptadas pela banda para sua linguagem progrock típica. As composições fazem parte do álbum ‘Bartók In Rock’, lançado em 2017, com participação especial do violinista David Cross, conhecido por haver integrado a banda inglesa King Crimson da década de 70. O show faz uma trajetória na carreira da banda que não toca no Rio de Janeiro, desde 2012, na I Mostra CCBB de Rock Progressivo.

Os cariocas do Arcpelago sobem ao Centro da Música Carioca, na Tijuca, sábado, dia 12 de outubro, às 17 horas, com o show "Interseções”. A musicalidade elaborada e estreitamente vinculada à sonoridade analógica é a espinha dorsal do Arcpelago, que se alastra tanto pela vertente sinfônica, quanto pelo space-rock, hard rock e fusion, sendo notável a intensa preocupação do grupo com timbres e efeitos sonoros. 

Em seguida, no mesmo dia, às 20 horas, será a vez do Caravela Escarlate, formadao em 2011 e integrado por David Paiva, multi-instrumentista e compositor, em parceria com o tecladista e compositor Ronaldo Rodrigues (também integrante do Arcpelago), com o veterano baterista Elcio Cáfaro, dono de extenso currículo na MPB e na música instrumental brasileira, uma das poucas bandas nacionais hoje divulgadas por selo europeu, a Karisma Records, que lançou em vinil o álbum homônimo da banda e relançou o CD, que também teve apoio na produção executiva da Vértice Cultural.

Mais shows até 25 de outubro

Do Rio Grande do Sul, a banda Apocalypse fará dois shows no Centro Cultural Solar de Botafogo, dias 18, sexta-feira, e 19 de outubro, sábado. O grupo iniciou as atividades em 1983 em Caxias do Sul (RS), influenciado por expoentes da década de setenta como Queen, Led Zeppelin, Pink Floyd, Rush, Yes, Kansas, Deep Purple e Journey. Após vencer os festivais Circuito de Rock e Festpop na serra gaúcha, lançou o primeiro LP homônimo em 1991 e assinou contrato com a gravadora francesa Musea. Foi o primeiro grupo brasileiro de classic rock a gravar e lançar CDs no exterior, e já abriu shows de grandes nomes do classic rock mundial como Yes (Araújo Vianna-Porto Alegre), Uriah Heep (Canecão – RJ) e Pendragon (Teatro João Caetano – RJ). Os gaúchos farão o lançamento do álbum ao vivo “The 35th Anniversary Concert”. 

Com cinco discos já lançados, o Fleesh - formado por Celo Oliveira e Gabby Vessoni em 2014 - lança seu álbum “Across the Sea” na terça-feira, dia 22 de outubro, no Centro Cultural Justiça Federal, na Cinelândia, na íntegra junto com outras faixas de seus CDs.

Encerrando com chave de ouro, a lendária Bacamarte celebra seus 45 anos de formação com um show imperdível, dia 25 de outubro, no Teatro Municipal de Niterói. Fundada em 1974 por Mario Neto e Sergio Vilarim, a banda veio a gravar de forma independente o álbum “Depois do Fim”, em 1979, porém só lançado em 1983, quando, após ter suas músicas entre as mais tocadas pela Fluminense FM, foi aclamado por público e crítica como uma verdadeira obra-prima do rock progressivo. O álbum vendeu milhares de cópias em países como Alemanha, Itália, Rússia e, principalmente, Japão. Em 1999, foi lançado o álbum Sete Cidades, que também teve sua tiragem esgotada rapidamente. 

Em 2009, após vários anos desaparecido das prateleiras e tendo se tornado item de colecionador disputado por amantes do gênero no Brasil e no exterior, “Depois do Fim” foi relançado pela Som Livre, em versão remasterizada diretamente da fita master original. No Teatro Municipal de Niterói, a banda será formada por Mario Neto (guitarra e violão), Marcus Moura (flauta e acordeon), William Murray (contrabaixo), Robério Molinari (piano e teclados) e Alex Curi (bateria), com a participação especial da cantora Jane Duboc.

Serviço 

10/10 (quinta-feira) – Dialeto (São Paulo)
“De Blavatsky a Bartók”
Local: Centro Cultural Solar de Botafogo
Horário: 21h
Ingressos: R$ 80,00 (inteira) / R$ 40,00 (meia entrada legal)
Rua General Polidoro, 80 – Botafogo
Rio de Janeiro - RJ (21) 2543-5411


12/10 (sábado) – Arcpelago (Rio de Janeiro)
"Interseções”
Local: Centro da Música Carioca (CMC)
Horário: 17h
Ingressos: R$40,00 (inteira) / R$20,00 (meia-entrada)
Rua Conde de Bonfim, 824 - Tijuca
Rio de Janeiro - RJ (21) 3238-3831


12/10 (sábado) – Caravela Escarlate (Rio de Janeiro)
“Show Interseções”
Local: Centro da Música Carioca (CMC)
Horário: 20h
Ingressos: R$40,00 (inteira) / R$20,00 (meia-entrada)
Rua Conde de Bonfim, 824 - Tijuca
Rio de Janeiro - RJ (21) 3238-3831

Para quem assistir aos dois shows, os ingressos passam a ser R$ 60,00/ R$ 30,00  (meia-entrada).



"Lágrimas", um disco que retrata o triste "Brasil Novo"

1 de Outubro de 2019, 11:16, por segundo clichê

Nina Wirtti, Paulo César Feital e Lucas Bueno: em "Lágrimas", o amor pelo Brasil
Carlos Motta

A resistência à ditadura militar legou ao Brasil obras de arte que permanecem entre as mais criativas já produzidas. No campo da música popular surgiram o tropicalismo, a turma do Clube da Esquina, os novos nordestinos e uma geração de sambistas com um pé na tradição e outro na modernidade, só para ficar nos exemplos mais conhecidos. Todos esses criadores, consciente ou inconscientemente, produziram músicas que não só refletiram o terrível momento pelo qual o país passava, mas também ajudaram a sociedade a superar as dores causadas pelos opressores da democracia e da liberdade.

Embora hoje a ditadura não seja escancarada como a daqueles tempos, é mais que óbvio que o país vive sob ataque incessante das forças das trevas, essas que tomaram conta das instituições e assaltam suas riquezas, espoliam seu povo, matam seus jovens e arrebentam seus cérebros.

Felizmente há, em todos os setores, quem não se conforme com essa situação, quem grite contra os usurpadores e lute, com as armas que tem, contra essa legião de facínoras. 

É o caso, voltando à música popular, da dupla Lucas Bueno e Paulo César Feital, que lançou recentemente o álbum "Lágrimas", uma porrada no conformismo, uma bofetada indignada na cara daqueles que ousaram dominar um país que caminhava com passos firmes rumo a um futuro de mais igualdade e prosperidade para todos seus filhos.

Feital é nome consagrado na MPB, parceiro, entre tantos outros, de João Nogueira, Nelson Cavaquinho, Hélio Delmiro, Jorge Aragão, Claudionor Cruz, Guinga, Luiz Eça, Roberto Menescal e Altay Veloso, com obra gravada pela fina flor da nossa música popular e consagrado como um dos mais criativos e importantes letristas brasileiros.

Lucas surge como um dos mais talentosos criadores da nova geração. Pianista, violonista, compositor e cantor, já fez parceria com Ana Terra, Moyseis Marques, Chico Alves, Iara Ferreira, Joana Hime e Maria Vilani, a mãe do cantor e compositor Criolo, com quem ele  assina um grande número de canções. 

"Lágrimas" é resultado de um ano de trabalho dos dois e suas dez músicas são um retrato fiel da realidade social e política deste "Brasil Novo", que provoca pesadelos constantes em qualquer um que tenha um traço sequer de consciência. 

No disco, Lucas e Feital, com a ajuda da ótima cantora Nina Wirtti e contando ainda com as participações de Moyseis Marques, Cláudio Nucci, Soraya Ravenle e Vidal Assis, levam a emoção do ouvinte a níveis altíssimos - pelo menos àqueles que têm empatia com os milhões de compatriotas que apenas sobrevivem neste imenso e infeliz país.


"Lágrimas" é certamente um dos lançamentos mais importantes da música popular brasileira dos últimos tempos. E uma conversa com seus dois autores ajuda a entender as razões que os levaram a produzir uma obra tão densa e ao mesmo tempo tão popular:

Como se deu o processo de composição? Foi demorado, como foi a decisão de fazer uma obra totalmente política e "nacionalista"?

Paulo César Feital - O nosso processo de composição acontece pelo apaixonamento, é fácil, quer dizer, não há dificuldade em trazer nossas almas à tona, até porque tenho no meu parceiro um criador fantástico. Não houve decisão por fazer uma obra política, veio naturalmente pelo posicionamento da própria nação, por toda a revolta que nos deu por decisões desastrosas do atual governo, pela exposição vexatória de nosso país a nível internacional. Creio que seja um disco mais social do que político.

Lucas Bueno: Houve três processos de composição distintos na feitura do álbum. Um foi compor a melodia para receber letra do parceiro Feital, outro foi fazer junto, de fato, sentados em volta de uma mesa, um processo extremamente prazeroso, de imenso aprendizado. O último e curioso processo foi com o baião "Pão com Goiabada" e o jongo "Setembrina", duas parcerias póstumas, onde terminei ambas as melodias que já tinham uma primeira parte, letra e melodia, de Feital com o saudoso bamba João Nogueira.

Vocês pretendem continuar nessa linha de composição de forte conotação social e política?

Feital: Jamais abandonei e tampouco abandonarei essa composição de conotação sociopolítica, 70% da minha obra lítero-musical fala do Brasil. A música deve se posicionar na defesa do seu solo, do seu povo, principalmente, que é muito sofrido, torturado.

Lucas: Na minha opinião o papel missionário da arte brasileira é alertar seu povo diante de suas mazelas, denunciar seus algozes, fazer com que o Brasil conheça o Brasil. As “Querelas” proféticas dos craques Aldir e Tapajós ainda ecoam e, infelizmente, “o Brazil tá matando o Brasil”.

Vocês acreditam que a arte, no caso de vocês, a música, é capaz de ajudar, de maneira substancial, na mudança da sociedade?

Feital: Claro que sim, a música sempre esteve na ponta dos questionamentos, vide 64, quando houve uma enorme efervescência cultural protagonizada por quem denunciava e brigava pelo que se instaurou no país.

Lucas: Com toda certeza. A música brasileira é formidável e não sobrevive de saudosismo, os pilares e baluartes influenciaram toda minha geração em demasia, mas também tenho minhas referências contemporâneas, e não são poucas, que podem mudar e munir de conhecimento toda uma sociedade através de sua música. Pena que esses artistas com suas respectivas canções sejam abafados por uma mídia sensacionalista e tendenciosa. A música tupiniquim é cada vez mais surpreendente e esplendorosa, o "mainstream" é inversamente proporcional.

Como vocês veem a relação Estado/cultura? O Estado deve apoiar as manifestações artísticas ou elas devem se abster desse apoio?

Feital: Se a arte promove o país, o Estado deve apoiar. Neste momento a gente vive, na minha opinião, num processo de quase censura ou de censura velada.

Lucas: Nossas maiores riquezas são naturais e culturais, o Estado descaradamente está conseguindo a passos largos ceifar as duas. A primeira pela raiz, literalmente, desmatando o pulmão do mundo sem dó nem piedade, liberando um agrotóxico atrás do outro, entre outras atrocidades. A segunda passa por uma censura velada num país que não é laico faz tempo. Seguiremos resistindo, esperançosos na volta de um presidente que apoie e promova as manifestações artísticas genuinamente brasileiras.

Como está a agenda de trabalho de vocês, quais seus planos?

Feital: Acho que meu relacionamento com o Lucas é para a vida inteira, pretendo continuar minha obra com ele. Um compositor que chegou na minha vida num estado de surpresa, é, sem dúvidas, um dos grandes expoentes da nova música brasileira, um gênio harmônico, melódico e um excelente letrista. Quero sempre tê-lo ao meu lado.

Lucas: Ganhei um novo amigo de infância, um mestre, não largo mais desse parceiro de jeito e maneira. Temos muito que compor, temos muito o que denunciar, o disco “Lágrimas” é só o primeiro capítulo de uma obra que canta o nosso amor por um Brasil que existe e resiste.


Link para audição de "Lágrimas" no youtube:
www.youtube.com/playlist?list=PL5ApX0XCwI9jxXYd8_iAjNKT_5aDVODTS  

Link para audição de "Lágrimas" no Spotify:

open.spotify.com/album/6SuTQ4Q54EPWngbV5SvcGi  



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