Autoridades identificam mais de 32 mil extremistas de direita no país, sendo que o total dos dispostos a cometer atos violentos saltou para 13 mil. Ministro aponta ligação com antissemitismo, xenofobia e islamofobia.
Por Redação, com DW – de Berlim
O número de crimes e delitos cometidos por extremistas de direita e de esquerda cresceu na Alemanha em 2019, revelou um relatório do Departamento Federal de Proteção da Constituição apresentado nesta quinta-feira em Berlim pelo presidente desse serviço secreto interno, Thomas Haldenwang, e pelo ministro do Interior, Horst Seehofer.
Protesto contra o extremismo de direita em Berlim em outubro de 2019No ano que passou, o serviço secreto registrou 21.290 crimes com motivações de extrema direita, um aumento de cerca de 10% em relação ao ano anterior. Além disso foram registrados 6.449 crimes cometidos pela extrema esquerda, um aumento de cerca de 40%.
Esses números incluem todo tipo de crime e delito, como propaganda ou destruição de cartazes eleitorais. Os crimes violentos, porém, diminuíram nos dois espectros: entre os extremistas de direita foram 15% menos, entre os extremistas de esquerda, cerca de 10%.
Os crimes violentos
Já os crimes violentos com motivação antissemita aumentaram em 17%, o que, segundo o relatório, mostra mais uma vez os riscos do porte de armas por extremistas de direita, como os Reichsbürger (cidadãos do Reich, que não reconhecem a existência da República Federal da Alemanha).
– Antissemitismo, xenofobia e islamofobia foram também em 2019 focos da agitação de extrema direita – disse Seehofer. Segundo ele, o extremismo de direita, o antissemitismo e o racismo continuam sendo a maior ameaça à segurança interna na Alemanha.
O relatório menciona os atentados de extrema direita que resultaram na morte do prefeito de Kassel, Walter Lübcke, e de duas pessoas num ataque a uma sinagoga em Halle, no leste da Alemanha.
A cena de extrema direita na Alemanha incluía cerca de 32 mil pessoas em 2019, afirma o relatório, das quais 13 mil são considerados dispostos a cometer atos violentos. Isso são 300 a mais do que no ano anterior.
Esta é a primeira vez que o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) é mencionado no relatório, já que a chamada Flügel, uma ala do partido hoje oficialmente extinta, é monitorada pelo serviço secreto. Ela engloba cerca de 7 mil membros da AfD, ou 20% do total.
A inclusão dessas 7 mil pessoas na relação de extremistas de direita é a principal explicação para o número total desses extremistas no país ter passado de 24,1 mil para 32 mil em apenas um ano.
Nazista e antissemita
O Ministério do Interior proibiu em junho a organização de extrema direita Nordadler, acusada de propagar uma ideologia nazista e antissemita. Em janeiro havia sido proibida a Combat 18 Deutschland, e em março foi a vez da Geeinte deutsche Völker und Stämme, uma organização do movimento Reichsbürger.
O número dos extremistas de esquerda também aumentou de 2018 para 2019, passando de 32 mil para 33,5 mil. “Típico da cena de extrema esquerda é a sua pronunciada heterogeneidade”, afirma o relatório.
Isso se aplica também à predisposição à violência. A cena de extrema esquerda se divide em dois grupos, afirma o relatório: um deles é predisposto à violência (cerca de 9,2 mil pessoas), e o outro não.
O serviço secreto afirmou ainda que, apesar de não terem ocorrido mais atentados islamistas na Alemanha, o perigo ainda existe. Nos últimos três anos não aconteceram ataques islamistas no país, o que, segundo o relatório, se deve ao declínio do “Estado Islâmico” na Síria e também à vigilância das autoridades alemãs, que monitoram a cena.