Ir para o conteúdo

Correio do Brasil

Voltar a CdB
Tela cheia Sugerir um artigo

Hegel, o materialismo ao alcance da mão

6 de Agosto de 2020, 10:11 , por Correio do Brasil - | No one following this article yet.
Visualizado 13 vezes

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) deu um passo decisivo no rumo da compreensão da história como ciência; ele compreendeu o processo histórico como um movimento cujo objetivo é definido durante seu próprio desenrolar, pela resolução das contradições objetivas que enfrenta.

Por José Carlos Ruy – de São Paulo

Lênin, em seu resumo da “Ciência da Lógica”, registrou que Hegel teve o materialismo ao alcance da mão (Lênin: 1972).

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) deu um passo decisivo no rumo da compreensão da história como ciência; ele compreendeu o processo histórico como um movimento cujo objetivo é definido durante seu próprio desenrolar, pela resolução das contradições objetivas que enfrenta.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel Georg Wilhelm Friedrich Hegel

Desde os escritos de Marx se reconhece que, em Hegel, este processo é mistificado, no qual a consciência (espírito, conceito ou seja lá qual for o nome que se dê) se move a partir de seu próprio impulso, e à margem da experiência humana concreta.

Mas há em Hegel uma oscilação entre a visão providencialista e o núcleo racional (para usar a expressão de Marx) que indica uma concepção de história baseada na ação humana.

No volume 3 da “Enciclopédia das ciências filosóficas”, cujo tema é a filosofia do espírito, Hegel deixou registrada a influência, em seu pensamento, do providencialismo, ao escrever que a história tem “um fim último em si e para si”, que é “o plano da Providência” segundo o qual se há “razão na história, isso deve ser estabelecido para si mesmo, filosoficamente; e assim como necessário em si e para si” (Hegel: 1995).

Como Kant, ele vê a liberdade do indivíduo como determinante, embora encarada de forma mística e abstrata, como autonomia do conceito: na história do espírito o determinante é “a liberdade, isto é, o desenvolvimento determinado pelo conceito do espírito” (Hegel: 1995).

Hegel reconhece que o movimento e seu rumo são intrínsecos ao processo histórico. Mas, diz, e neste ponto há uma abertura ao materialismo, o suporte material desse desenvolvimento é o homem, que é o ser em que a consciência aparece e se manifesta. Os homens constituem o elemento fundamental para a existência desse processo, reconhece Hegel, apesar da forte carga mística que mantém. Em várias passagens de sua “Introdução à filosofia da História Universal” (publicada parcialmente sob o título “A Razão na História”), ele acentuou o papel dos indivíduos, dos povos e dos Estados na história, contra a fé “meramente abstrata, indeterminada, que persiste apenas no enunciado universal de que há uma providência que governa o mundo”. Aqui está a contradição mística de Hegel. Neste ponto, alertou, é preciso “proceder com seriedade”. E, mais adiante, esbarrou no materialismo ao escrever que “o homem aparece após a criação da natureza e constitui a antítese do mundo natural”.

A consciência, diz, abarca dois reinos, o natural e o do espírito. “O reino do espírito é o criado pelo homem”, se realiza no homem e só existe através dele. Isto é, o reino do espírito é secundário, derivado, criado a partir do reino natural. Embora a esfera espiritual seja aquela “que tudo abarca”, ela encerra “em si tudo quanto interessou e ainda interessa ao homem”, no qual “o espírito é ativo” (Hegel: 1995).

Hegel esbarrou no materialismo dialético, como Lênin reconheceu, ao comentar duas frases, uma da “Ciência da Lógica” e outra da “Pequena Lógica” (como também é conhecido o vol. 1 da “Enciclopédia das Ciências Filosóficas em compêndio”, onde Hegel resumiu, para aulas, “A ciência da lógica”). São frases em que Hegel identificou ideia e natureza: “A ideia que se põe como a unidade absoluta do conceito puro e de sua realidade, e assim se reúne na imediação do ser; e ao fazê-lo, como totalidade nessa forma, é natureza” (“Ciência da Lógica”); e, de forma mais direta, “a ideia que tem ser é natureza” (“Pequena Lógica”) (Hegel: 1993 e 1995; Lênin: 1972).

Hegel abriu caminho para a compreensão de que não há plano pré-estabelecido mas objetivos que se definem no desenrolar da história – embora com limites semelhantes aos de Kant, a busca do aumento da liberdade pessoal, considerada de forma jurídica e, portanto, abstrata.

A visão de Hegel abriu as portas para a fundação de uma concepção de história sem teleologia nem planos pré-definidos,

encarando o processo histórico como resultado da resolução das contradições que os homens enfrentam em sua vida, individual e coletiva.

Referências

Hegel, G. W. F. Enciclopédia das Ciências Filosóficas em compêndio (1830) – Vol. 1: A ciência da lógica, Edições Loyola, São Paulo, 1995 (esta obra também é conhecida como A pequena lógica ).

Hegel, G. W. F. Ciência de la Lógica. Buenos Aires, Ediciones Solar, 1993.

Hegel, G. W. F. Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio (1830). Vol. 3: A filosofia do espírito. São Paulo, Edições Loyola, 1995.

Hegel, G. W. F. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis, Vozes, 1992.

Hegel, G. W. F. A Razão na História – Introdução à Filosofia da História Universal. Lisboa, Edições 70, 1995.

Lênin, V. I. Cuadernos Filosóficos. Buenos Aires, Ediciones Estúdio, 1972.

 

José Carlos Ruy, jornalista e historiador, é autor de Biografia da Nação – História e Luta de Classes.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil


Fonte: https://www.correiodobrasil.com.br/hegel-materialismo-alcance-mao/

Rede Correio do Brasil

Mais Notícias