O presidente da República cansou de defender e justificar a indiferença diante da morte de um número menor de infectados pelo coronavírus para que viva um número maior de pessoas ameaçadas de serem privadas, pela paradeira da economia, dos recursos necessários à própria sobrevivência e de suas famílias.
Celso Lungaretti, editor do blog Náufrago da Utopia:
Negacionismo de Bolsonaro causa mortes por atacadoOu seja, a questão era e é colocada por ele como uma mera comparação numérica: se a quarentena (por causar fome, miséria, outras doenças, etc.) vai indiretamente matar mais cidadãos do que a pandemia diretamente, então que se deixe a agricultura, comércio, indústria e serviços desenvolverem suas atividade à vontade e causarem quantas contaminações causarem. Depois, enterrem-se os mortos e os sobreviventes que sigam adiante.
Isto se chama consequencialismo: jogam-se no lixo a ética, a moral, a compaixão, etc., e se leva em conta apenas as resultantes objetivas dos atitudes (ou seja, o valor moral de um ato é determinado exclusivamente por suas consequências).
No caso do consequencialismo tosco do Bolsonaro, podemos presumir que, se ele tiver de optar pela morte tranquila, durante o sono, de 101 pessoas ou a morte horrível, sob lancinantes torturas, de 100 pobres coitados, salvará uma pessoa a mais e condenará uma centena a suplícios inenarráveis…
Hélio Schwartsman fez um artigo demonstrando a monstruosidade implícita nesse posicionamento de Jair Bolsonaro de uma forma inusitada: provou que, se ele morrer de Covid-19, o ganho quantitativo de vidas será imenso, já que seu negacionismo, disseminando a confusão e servindo como exemplo que cidadãos ignorantes e influenciáveis imitam, é causa de óbitos por atacado.