Coreia do Norte promete novos passos rumo à desnuclearização, mas especialistas expressam ceticismo quanto a mudanças reais que esses compromissos poderão trazer e indicam que eles podem ser apenas manobra.
Por Redação, com DW – de Seul
O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, desenrolou o tapete vermelho para o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e reforçou seu compromisso com a desnuclearização da Península Coreana em novo encontro nesta quarta-feira, em Pyongyang, mas analistas se mostraram desconfiados em relação ao aparente progresso nas negociações.
Líder norte-coreano Kim Jong-un (e.) e Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul (d.), em PyongyangOs sinais positivos não afastam a desconfiança de que Kim, no fim das contas, tem a intenção de manter o programa nuclear de Pyongyang como instrumento de dissuasão militar, já que a sobrevivência do seu regime depende dele. Além disso, transformar a Coreia do Norte numa potência nuclear demandou muito tempo e dinheiro.
– Claro que ainda estamos preocupados – disse à agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW ) a professora de relações internacionais Ahn Yinhay, da Universidade da Coreia do Sul. “Moon investiu muito tempo e esforços na cooperação econômica com o Norte e também em temas humanitários, mas os Estados Unidos estão insistindo em saber tudo sobre as armas nucleares do Norte, incluindo o que eles têm e onde está armazenado”, continuou.
Os contatos de Ahn nos Estados Unidos disseram a ela que não importa o que o Norte prometa fazer com suas armas nucleares: as sanções continuarão até que Washington estar convencido de que Pyongyang se livrou delas.
– Ninguém no Sul quer guerra, mas eu diria que isso permanece uma possibilidade, pois 80% das pessoas aqui não acreditam que Kim vá se submeter à completa, verificável e irreversível eliminação de suas armas nucleares – constatou. “Talvez queiram acreditar, mas não acreditam.”
O professor de relações internacionais Garren Mulloy, da Universidade Daito Bunka, no Japão, concorda que Kim tem muito a perder para simplesmente entregar seu elemento dissuasor. “O único propósito de Kim é sobreviver – ele nem precisa que o país prospere, basta que seu regime sobreviva”, avaliou Mulloy.
Fomentar a discórdia entre seus inimigos é uma parcela fundamental da estratégia de Kim Jong-un, que poderia continuar diluindo as sanções que isolam a Coreia do Norte, diz o analista.
– O único caminho concebível para Kim considerar a possibilidade de abrir mão dessas armas seria em troca de uma garantia de segurança para a sua liderança – acrescentou Mulloy, afirmando que é improvável, no entanto, que Kim confie em qualquer promessa nesse sentido.
– Como o presidente dos EUA muda a cada cinco anos, qualquer promessa feita por um governo não será necessariamente mantida pelo seguinte – afirmou. “Kim sabe disso, e até uma garantia que fosse apoiada pelas Nações Unidas e pela China provavelmente não seria suficiente para convencê-lo. É por isso que estou tão pessimista sobre as chances de desnuclearização”, concluiu Mulloy.
Outro cenário possível, segundo Ahn, é que a melhora nas relações entre Coreia do Norte e do Sul poderia criar uma fissura entre Seul e Washington, com consequências potencialmente desastrosas. “A Coreia do Sul e os Estados Unidos parecem estar caminhando para direções diferentes, e minha intuição é que Kim não abrirá mão dessas armas nucleares, e isso vai colocar muita pressão sobre a aliança de Seul com Washington”, explicou.
– Temo que, se os dois governos chegarem ao ponto de se ignorarem mutuamente, e os EUA decidirem que a única maneira de forçar Kim a abandonar suas armas é por meio de uma solução militar, os americanos não informarão a Coreia do Sul por medo de que a informação vaze para o Norte – detalhou.
– No passado, falamos na falta de confiança entre a Coreia do Norte e o resto do mundo, mas eu diria que o maior perigo, agora, é a falta de confiança entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos – acrescentou Ahn.