Em resposta velada a Trump, chanceler federal alemã diz que seria um erro alienar a Rússia politicamente e, em termos de estratégia, é do melhor interesse da Europa manter as portas do diálogo abertas.
Por Redação, com DW – de Berlim
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, fez um discurso ferrenho em defesa do multilateralismo neste sábado, em Munique, durante uma conferência internacional de segurança.
Merkel durante discurso em MuniqueA uma plateia que incluía o vice-presidente norte-americano, Mike Pence, e Ivanka Trump, filha de Donald Trump, Merkel defendeu as relações alemãs com a Rússia e apelou aos líderes mundiais que trabalhem juntos para enfrentar os problemas globais.
A premiê alemã defendeu, sobretudo, os planos de seguir adiante com a construção de um gasoduto que conectará a Rússia com a Alemanha.
O discurso pode ser interpretado como uma resposta a Trump, que criticou o projeto e disse que o gasoduto deixaria a Alemanha refém de Moscou, devido à sua dependência do gás russo.
– Se, durante a Guerra Fria, nós importamos grandes quantidades de gás russo, não sei por que agora os tempos são tão ruins que não podemos dizer que a Rússia continua um parceiro – argumentou Merkel.
– Nós queremos tornar a Rússia dependente apenas da China? – questionou a líder alemã, que já anunciou que esse será seu último mandato à frente do governo em Berlim. “São esses nossos interesses europeus? Não creio.”
Segundo Merkel, seria um erro alienar a Rússia politicamente e, em termos de estratégia geopolítica, é do melhor interesse da Europa manter as portas do diálogo abertas.
A Alemanha é um dos alvos preferidos de Donald Trump. O presidente norte-americano acusa os alemães, por exemplo, de sustentarem um superávit econômico desleal em relação aos Estados Unidos e ameaçou sobretaxar produtos do poderoso setor automotivo alemão.
– Nós somos orgulhosos de nossos carros e temos motivos para tal – disse Merkel, lembrando, porém, que muitos automóveis alemães são construídos nos EUA e exportados para a China. “Mas se isso é visto como uma ameaça para a segurança norte-americana, é um choque para gente”, complementou, sob aplausos.
Merkel apelou também para uma cooperação global em uma série de temas, desde a questão nuclear iraniana à crise migratória. Ela questionou, por exemplo, se a retirada norte-americana da Síria seria, taticamente, realmente a melhor decisão.
O discurso de Merkel era um dos mais aguardados da Conferência de Segurança de Munique, o maior evento de debates sobre o tema no mundo, que ocorre na capital bávara desde 1963.