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O povo que não é consultado

6 de Maio de 2016, 15:57 , por Jornal Correio do Brasil - | No one following this article yet.
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Como respeito mínimo ao povo, aos eleitores, aos cidadãos, caberia a consulta, o plebiscito

Por Maria Fernanda Arruda – do Rio de Janeiro:

Não há condição para projeções mais firmes. A política de Brasília é feita nos gabinetes, nos corredores, nas confabulações dos escolhidos dos deuses. É que a esquerda vem se esquecendo de como dialogar com o povo; e à direita não interessa o que não compete senão às elites. Nem Lula escapou a isso: para lutar contra as tramoias dos que estão empenhados no golpe de Estado, ele optou por se fechar em suíte de um hotel de Brasília, para acertar ponteiros com gente que não usa empenho de palavra e nem relógio. Nunca antes o grande líder foi tão humilhantemente derrotado.

Maria Fernanda Arruda

Maria Fernanda Arruda

Surgem agora suposições: para solução de um impasse inédito, antecipem-se as eleições e que se façam gerais, para todos os cargos de Executivo e de Legislativo. Conversa que renderá pouco, se admitido o bom-senso: a proposta vem chegando extemporânea, posto que os golpistas já se sentem os grandes vencedores. Renunciariam a uma vitória tão desejada, apenas pelo Bem Público? Mas, posto isso a parte, e para que a conversa possa continuar, admitamos que todos concordem, os futuros vencedores e os futuros vencidos. Que todos renunciem aos seus mandatos: Presidente, Senadores, Deputados (federais e estaduais), Governadores, Prefeitos e Vereadores. E que se façam, o quanto antes, novas eleições, mantendo-se todas as regras do jogo, os mesmos partidos políticos, todas os procedimentos eleitorais e todos os atores. Não haveria tempo útil para fazer-se diferente: uma reforma completa, como seria necessário, do sistema político, exigiria o trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte (o que se negou ao Brasil até mesmo em 1985).

Como respeito mínimo ao povo, aos eleitores, aos cidadãos, caberia a consulta, o plebiscito. Uma negociação, proposta e concertada pelas elites, ainda que revestida de roupagens menos grosseiras, seria da mesma forma o rompimento da ordem constitucional, acertado entre semelhantes. Situação e Oposição, as gentes de Brasília, de longa data afastadas do Brasil. Seria o golpe combinado entre todos, unindo no mesmo intento Ronaldo Caiado e Lindbergh Farias.Para que isso fique muito claro: quais seriam os candidatos? Representando que partidos políticos?

Liderado pelo PMDB, a quem seguem o PSDB e uma plêiade de agremiações, aceitas com benevolência como partidos políticos, há o objetivo de tomada do poder em benefício das elites, compondo-se um governo arqui-conservador, disposto a concluir a rapina iniciada nos anos de FHC. O pato amarelo da FIESP é a súmula perfeita de uma proposta de governo que, posta no papel, passa a ser “a ponte para o futuro”. As classes médias, futuras vítimas de uma travessia que fará de seu apoio um ato de inconsequência irônica, serão punidas severamente pela heresia de adoração do bezerro de ouro.

O pretendido novo Presidente, já figura frágil em si, e mais ainda enfraquecido pelo que se tornou evidente, a prática do crime de sedução, da traição aberta, governaria com nomes afamados, figuras que participaram do projeto para construção do “Brasil Pigmeu”. Teria contra si, em oposição cada vez maior e melhor organizada, jovens, homens e mulheres, trabalhadores e estudantes, da CUT, do MST, da OAB e da CNBB, e mais a condenação internacional. Não se sustentará por um tempo maior. Se não bastasse essa rejeição da sociedade, ele será minado pelo banditismo dos que estão alinhados em torno da bandeira do golpe, sem exceções, gente vil.

E, se, por um passe de mágica de alguma boa fada-madrinha, o golpe for abortado? Muito menos mal, mas preocupante. O segundo mandato de Dilma veio se desdobrando em erros, equívocos, contradições, em um todo não menos do que lastimável. Juntamente com a vontade de que ele não seja interrompido pela ação criminosa das elites (lembrando o que já foi dito: remédio para um mau governo não é o impedimento, é a rejeição nas urnas), também será preciso que ela, nos tempos que lhe restam faça finalmente o governo pleiteado por 54 milhões de brasileiros.

povo

Como respeito mínimo ao povo, aos eleitores, aos cidadãos, caberia a consulta, o plebiscito

Se abortado o golpe, ganharia mais do que o reconhecimento de sua seriedade e competência. Teria que usar da possibilidade de compor um governo capaz da participação junto ao povo, rompendo com limites menores que a orientaram na composição de um ministério feito para barganhar e não para fazer governo. Barganhou mal, cedeu para não ter retorno, o que ela saberá agora e muito bem. Mas cedeu especialmente ao entregar as rédeas da economia nacional a um mero funcionário de banco particular, um Chicago’s boy, dotado de competência para promover desemprego, inflação, recessão e lucros crescentes para o sistema financeiro.

Dilma Roussef fez um governo de PDSB,e foi alertada. Para justificar agora esse mandato, e já com atraso de mais de ano, o neoliberalismo de Joaquim Levy precisa ser revogado integralmente. Em seu lugar, que se planeje com competência e execute uma política de desenvolvimento econômico e social, orientada pelo Estado, desmistificando-se de vez os dogmas dos economistas do PSDB e da FIESP, que apontam para o modelo de “Estado mínimo” e procuram locupletar-se com o “Estado cartorial”.
Os equívocos do governo também se mostram naquilo que não fez, descumprindo um compromisso que não era apenas seu, mas do Partido dos Trabalhadores. Conservou o modelo agroexportador, baseado no latifúndio, na rapina das terras indígenas, no uso intensivo de agrotóxicos e de transgênicos, fazendo do Brasil um referencial de maldade no Mundo. A sua omissão tornou possível a prática da pistolagem e de massacre de índios e de camponeses.

Ponto alto dos governos Lula, a política externa, associando o estímulo à liberdade dos povos ao desenvolvimento de frentes novas de comércio, tornou-se preocupação secundária, ou mesmo esquecido.

Foram com certeza mantidos os programas que permitiram a Lula vencer a miséria e a pobreza extrema que sufocavam a cidadania de milhões de brasileiros … Sem qualquer aperfeiçoamento dos mecanismos, dos projetos, foi sendo admitida a sua redução a programas sociais de inauguração de conjuntos residenciais, sempre localizados em periferias, moldados pelos interesses da especulação imobiliária. Não tem faltado apenas planejamento, mas também humanismo.

Em 2015, a presidenta falou ao povo nas redes sociais. Um equívoco lastimável, fruto de um assessoramento incompetente. Agora, em 2016, ela foi ao povo em São Paulo e promulgou um conjunto de medidas que, em seus primeiros dias de novo governo, ela pessoalmente se negou a praticar. Arrependimento ou demagogia mal orientada? Redução de carga tributária para os assalariados, mais impostos para os mais ricos? Um esboço de reforma tributária que não foi possível fazer?

Não foi possível a reforma tributária, nem a eleitoral e nem nenhuma outra. Culpa exclusiva de um Congresso reacionário ao extremo e analfabeto? Culpa sim, mas não exclusiva. A equipe de governo mostrou alto grau de incompetência em lidar com essa gente bandida . Graças à sua insensibilidade, Eduardo Cunha foi posto na Presidência do Senado. Em tempos mais recentes, fez negócio com o PMDB do Rio de Janeiro, confundindo Picciani, o Jovem, como aliado e dando a ele ministérios, inclusive o da Saúde.

Sejamos então muito objetivos, claros e diretos: ou Dilma se faz a Presidenta de 54 milhões de brasileiros, pondo de lado a tolice dita e redita, de que “governo para todos os brasileiros”, ou melhor é que se componha, faça novos acordos e encaminhe a proposta de continuísmo: consultar o povo? Para que? Onde? Sobre o que?

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Fonte: http://www.correiodobrasil.com.br/o-povo-que-nao-e-consultado/

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