Daí a sair agredindo o PCdoB, classificá-lo como um “partido traidor” ou aliado de Bolsonaro, ou como uma agremiação trânsfuga, vai uma enorme distância. Simplesmente inaceitável esse tipo de sectarismo.
Por Breno Altman – de São Paulo
Ao apoiar a candidatura de Rodrigo Maia à Presidência da Câmara dos Deputados, a meu juízo, o PCdoB comete um grave erro, cuja conta maior será paga pelo próprio partido, que o desgaste já corre estrada.
Ao longo da História, o PCdoB tem sido um dos pilares de sustentação das forças de esquerda, no paísErra porque prioriza os espaços parlamentares sobre a disputa político-social e a construção de uma frente popular contra Bolsonaro.
Erra porque normaliza o bolsonarismo como fenômeno político, ao objetivamente se aliar com o PSL nessa batalha.
Erra porque se coloca sob a batuta da centro-direita nesse episódio concreto, desconsiderando que esse setor político é hoje um braço do bolsonarismo.
Erra porque abala a aliança histórica com o PT, fortalecendo a via errática e antipetista proposta por Ciro Gomes.
Erra porque ajuda a gerar confusão, desânimo e divisão nas fileiras progressistas, incluindo nas suas próprias fileiras.
Maledicências
Mas daí a sair agredindo o PCdoB, classificá-lo como um “partido traidor” ou aliado de Bolsonaro, ou como uma agremiação trânsfuga, vai uma enorme distância.
Simplesmente inaceitável esse tipo de sectarismo e intolerância diante da posição adotada pelo PCdoB, que continua a ser um dos pilares da resistência popular.
A crítica no seio da esquerda não pode ser substituída pelo ataque desordenado e desrespeitoso, como se a batalha pela Presidência da Camara dos Deputados fosse um divisor de águas irrevogável.
Tampouco essa crítica pode ser alimentada por falsas informações, boatos e maledicências.
Está certo que vários militantes do PCdoB respondem até mesmo a críticas ponderadas com um patriotismo de partido igualmente sectário e destrambelhado, disparando agressões inomináveis até contra históricas figuras como Roberto Requião. Mas considerar adequado esse tom de debate seria um suicídio coletivo.
Esquerda
Muito calma nessa hora. O debate obviamente é bem-vinda, todos têm que aprender a conviver com a crítica. Não podemos perder de vista, porém, que o objetivo central é construir uma frente única de resistência ao bloco bolsonarista, na qual é evidente o papel a ser cumprido pelo PCdoB.
Os militantes do PT, em especial, exatamente por conta da legenda ser a principal força do campo de esquerda, devem ter muita responsabilidade e prudência nesse momento, travando a discussão com cuidado e respeito, que será longa e difícil a travessia do deserto.
Breno Altman é jornalista, editor da revista Samuel.