Ir al contenido

Daniela

Regresar a Com texto livre
Full screen

Breves considerações sobre a pesquisa Datafolha em SP

julio 21, 2012 21:00 , por Desconocido - 0no comments yet | No one following this article yet.
Viewed 43 times
A pesquisa de intenção de voto para a prefeitura de São Paulo divulgada hoje pelo Instituto Datafolha é a primeira desde a oficialização das candidaturas. Traz um empate técnico entre os candidatos José Serra (PSDB) e Celso Russomano (PRB), com 30% e 26% das intenções de voto, respectivamente. Atrás de ambos vêm Soninha Francine, do PPS, e Fernando Haddad, do PT, ambos com 7%, Gabriel Chalita, do PMDB, com 6% e Paulinho da Força, do PDT, com 5%. Importante notar que quando se pergunta ao eleitor para que responda de forma espontânea em quem pretende votar, 61% não sabem apontar qualquer nome.
Apesar do alto desconhecimento dos eleitores em relação aos candidatos, poderíamos lançar duas hipóteses para refletir sobre aqueles que já apontam alguém quando questionados: a primeira seria a de que a liderança de Serra e Russomano, dois personagens bastante conhecidos do grande público, seria apenas reflexo do fato de que o paulistano ainda não estaria muito ligado à eleição e, ao ser instigado a pensar nela, cravaria como opções de voto os nomes que lhe são mais conhecidos. Em outros termos, os resultados apresentados pelas pesquisa de opinião até aqui seriam efeito daquilo que tantos especialistas chamam de recall, ou seja, a lembrança que as pessoas têm de uma marca, de um produto ou, neste caso, de um candidato. A outra hipótese seria a de que o eleitorado de São Paulo é majoritariamente conservador, e, portanto, uma polarização entre dois candidatos mais à direita já estaria surgindo e tenderia a se consolidar daqui para frente, num quadro praticamente irreversível até outubro. Apesar do alto índice de intenção de voto em Serra e da trajetória fortemente ascendente de Russomano desde o final de 2011, tendo a acreditar na primeira hipótese: neste momento o tema eleição, até porque a propaganda eleitoral na TV e no rádio ainda não começou, não está nas ruas, na boca do povo, e o que mais está pesando no até aqui é o efeito recall, para o bem (para os candidatos mais conhecidos do eleitor) e para o mal (para os candidatos mais rejeitados pelo eleitor). Daí porque, inclusive, Serra e Russomano, os líderes da pesquisa hoje, precisam redobrar esforços a fim de manter estes números até outubro e garantir passagem ao 2º turno.
José Serra é o candidato mais conhecido. Pode ostentar o currículo mais vasto entre todos os postulantes, já ocupou diversos cargos importantes e foi candidato à presidência da república em duas oportunidades. Das últimas cinco eleições, seu nome esteve na urna eletrônica em quatro (2002, 2004, 2008 e 2010), e estará novamente este ano. Apesar disto, ou talvez por conta disto, Serra aparece, nesta pesquisa Datafolha, com 37% de rejeição, taxa que vem subindo pesquisa após pesquisa. Qual a razão disto? Seriam tantas disputas eleitorais seguidas? Seria sinal de que o eleitorado anseia por nomes novos? Assim como outros nomes da política paulista com trajetória eleitoral semelhante, o tucano talvez possa estar enfrentando um fenômeno que já atingiu Paulo Maluf e Marta Suplicy em eleições passadas. Serra, tanto quanto Maluf e Marta, é conhecido por praticamente a totalidade do eleitorado, porém ostenta índices de rejeição que podem comprometer suas possibilidades de vitória. Segundo pesquisas do mesmo Datafolha, em junho de 2004, por exemplo, Maluf tinha 24% das intenções de voto, mas contava com 48% de rejeição. Um mês depois nova sondagem do instituto mostrava Marta na liderança da corrida eleitoral, com 38% das intenções de voto, mas com 30% de rejeição. Serra superou a ambos e acabou eleito naquele ano. Em 2008 o fenômeno repetiu-se. Em julho daquele ano, ainda segundo o Datafolha, Marta, novamente candidata, contava com 36% das intenções de voto e 34% de rejeição. A grande intenção de votos a levou ao 2º turno, mas seu alto índice de rejeição acabou sendo determinante para uma nova derrota, desta vez para Gilberto Kassab. O mesmo que hoje, aliado a Serra, pode lhe ser um peso, dada a insatisfação de parcela importante dos paulistanos com a atual gestão municipal. De fato, ainda de acordo com a pesquisa, 72% dos eleitores não votariam num candidato apoiado por Kassab. Como contraponto a este fator negativo, Serra será o candidato com o maior tempo (alguns segundos a mais que Haddad) no horário da propaganda eleitoral.
Celso Russomano, por sua vez, poderá ter grande dificuldade em manter o alto índice de intenção de voto que o Datafolha. Ainda que conte com uma parcela importante do eleitorado evangélico, que lhe deverá ser fiel ao longo da campanha, Russomano foi impedido, por conta da legislação eleitoral, de manter seu programa de televisão numa emissora bastante popular, o que certamente constituiu-se, nos últimos meses, num diferencial em relação a todos os demais candidatos até aqui. Mas mais do que isso, Russomano contará com menos de 1/3 do tempo de TV na propaganda eleitoral que Serra e Haddad, e também com menos tempo que Gabriel Chalita (PMDB), seus principais concorrentes. Sabendo-se que em grande medida eleições hoje no Brasil são decididas não apenas nas ruas ou nos debates, mas também no horário eleitoral, a campanha de Russomano terá de cortar um dobrado para não ver parte das atuais intenções de voto migrarem para outros candidatos.
Os demais candidatos encontram-se num segundo bloco, bastante distante dos dois líderes da pesquisa. Soninha, Haddad, Chalita e Paulinho, estão tecnicamente empatados, entre os 5% e 7% das intenções de voto. Destes, Paulinho e Soninha são os mais conhecidos do eleitorado. Seria de se esperar que tivessem intenções de voto maiores nesta altura da campanha, e se não têm isto talvez indique que não terão maiores possibilidades de crescimento nos próximos meses. Caberá saber que papel jogarão no pouco tempo de TV que terão a sua disponibilidade no horário eleitoral, bem como se colocarão nos debates, especialmente em relação aos demais candidatos.
Já Chalita e Haddad parecem ter um horizonte mais interessante nos próximos meses. Chalita, apesar de ser um dos recordistas de voto para a Câmara dos Deputados em toda a História eleitoral brasileira, ainda não é conhecido por 40% dos eleitores, segundo o Datafolha. E isto pode ser bom para ele, pois se para muita gente Chalita já foi opção de voto, para outros pode surgir como um nome novo numa eleição que tem potencial para ser polarizada entre tucanos e petistas, o que desagrada parcela do eleitorado já cansada da briga particular entre os dois tradicionais partidos paulistas. Chalita tende a cativar parte importante do eleitorado, com seu perfil ponderado e suas habilidades televisivas. Além disso, terá uma parcela de tempo de TV razoável, que lhe garantirá apresentar suas propostas para a cidade.
Fernando Haddad, por sua vez, é o menos conhecido de todos os principais postulantes à Prefeitura de São Paulo (apenas 55% sabem quem é ele, também segundo o Datafolha). Terá consigo o fato de ser jovem, ter experiência na máquina pública e contar com quatro trunfos bastante importantes: será, juntamente com Serra, o candidato com maior tempo no horário de rádio e TV; terá como cabo eleitoral o ex-presidente Lula, que segundo o Datafolha pode influenciar o voto de 60% dos paulistanos; terá a estrutura do PT, cuja militância provavelmente seja a mais ativa entre todos os partidos que disputam esta eleição; e terá, ainda, o apoio da presidente Dilma, que tem boa aceitação em São Paulo, apesar do anti-petismo muito pronunciado que existe na cidade.
Como revezes Haddad terá de lidar com alguns problemas ocorridos quando de sua gestão no Ministério da Educação, especialmente ligados ao ENEM, ou posteriores, como a greve nas universidades federais, e que certamente serão explorados à exaustão pelos seus adversários. E a aliança com Paulo Maluf, mal digerida por parte do tradicional eleitorado petista e um prato cheio para os adversários, ainda que, a bem da verdade, todos os candidatos, e não só Haddad, tenham disputado o apoio do veterano político.
Por fim, dois outros fatos, externos à eleição, poderão influenciar bastante o rumo da campanha daqui até outubro: o julgamento do Mensalão, pelo STF, e os trabalhos da CPI do Cachoeira, no Congresso Nacional. A depender dos resultados de ambos, com uma eventual condenação de alguns cardeais petistas ou com a extensão das investigações do esquema Cachoeira / Delta para as gestões tucanas em São Paulo, Haddad e Serra poderão ser prejudicados, direta ou indiretamente. Uma leitura rápida do que mostra a pesquisa Datafolha poderia apontar para a tendência de polarização entre um candidato consolidado e outro em notável ascensão. No entanto diversos elementos ainda entrarão na equação eleitoral paulistana e o jogo pode estar apenas começando. A ver.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor do Curso de Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. 
No Advivo

Origen: http://contextolivre.blogspot.com/2012/07/breves-consideracoes-sobre-pesquisa.html

0no comments yet

    Publicar un comentario

    The highlighted fields are mandatory.

    Si eres un usario registrado, puedes iniciar sesión y automáticamente ser reconocido.

    Cancelar