
A campanha negativa não funcionou na primeira metade do segundo turno. As tentativas de José Serra (PSDB) de associar o rival Fernando Haddad (PT) ao mensalão e ao “kit gay” não conseguiram diminuir a vantagem do petista. Ao contrário: no Ibope, a diferença aumentou de 11 para 16 pontos no total de votos. E não foi Haddad que cresceu, foi Serra que caiu. Mesmo assim, é improvável que a anticampanha vá diminuir de tom.
Por ora houve um efeito “Malufaia”. Principal aliado de Serra entre os evangélicos, o pastor Silas Malafaia tem repetido ataques a Haddad, dizendo que o ex-ministro da Educação encomendou um kit “para ensinar a ser gay nas escolas” enquanto estava no governo federal. Mas os disparos contra o kit anti-homofobia parecem ter saído pela culatra, como ocorreu com o apoio de Paulo Maluf (PP) a Haddad no primeiro turno.
A principal queda do tucano foi justamente entre os evangélicos, de 37% para 28%, desde a semana passada -segundo a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari. Haddad pouco se beneficiou dessa queda. O petista oscilou de 50% para 52%. O que cresceu nesse segmento do eleitorado foi a parcela que, hoje, votaria em branco ou anularia seu voto: foi de 7% para 13%. Não houve mudança significativa no voto do eleitorado católico.
No centro expandido da cidade, onde o eleitorado é mais rico e escolarizado, o candidato do PT melhorou um pouco a sua taxa de intenção de voto em comparação à semana passada. Esse eleitor costuma votar majoritariamente em candidatos antipetistas e, por isso, é o alvo principal da campanha de Serra. Mas a mira tucana está embaçada. Haddad chegou mais perto de Serra no conjunto dessas regiões – o que é inesperado, pois candidatos petistas costumam não se dar bem nelas.
Tampouco na periferia mais pobre a campanha negativa de Serra contra Haddad surtiu efeito por enquanto. O petista continua liderando com folga nas zonas Leste 2 e Sul 2 e até ampliou um pouco a sua vantagem na região Norte. Nessas áreas o tucano tem um problema grave e que a campanha negativa não vai ajudar a resolver: a imagem de que ele não governa para os pobres.
Segundo Márcia, Haddad passou a liderar em todos o segmentos de escolaridade. O petista ampliou a vantagem entre os eleitores com ensino fundamental, manteve entre os que cursaram até o ensino médio e empatou com Serra entre os que têm nível superior: 42% a 42%. Na semana passada estava 39% a 44%.
Uma das possíveis explicações para o recuou da intenção de voto em Serra é que o eleitor reage mal a campanhas negativas, especialmente quando elas extrapolam o limite tênue entre a crítica legítima e a manipulação. Serra diz que não é ele que trouxe o “kit gay” para a campanha. Ele culpa a imprensa, como de hábito. Mas o que o resultado do Ibope sugere é que o eleitor está debitando a exploração do assunto na sua conta.
O insucesso da campanha negativa até agora não deve mudar a estratégia do tucano. Com rejeição muito alta, Serra não precisa convencer eleitores de que ele é o melhor candidato, mas sim que Haddad é uma alternativa pior. No seu caso, detonar a imagem alheia é menos difícil do que melhorar a própria. Por isso, o “kit gay” deve ceder lugar a outros temas na pauta negativa. Muda o lado, mas continua o mesmo disco na vitrola.
Os marqueteiros do PSDB podem argumentar que não houve tempo para a campanha negativa surtir efeito. Foram só três dias de propaganda obrigatória na TV e no rádio. Não daria para o Ibope captar eventuais desgastes na imagem de Haddad. Mais: mudar a estratégia de campanha por causa das pesquisas implicaria admitir que Serra, ao contrário do que diz, acredita nelas.
A migração do eleitor de Serra para o “limbo” do voto em branco ou nulo desaconselha projeções de que a eleição paulistana já esteja decidida. Esse eleitorado volúvel pode tanto voltar para o ninho tucano quanto ir para Haddad – ou anular mesmo o seu voto. Só a próxima rodada de pesquisas pode mostrar o seu destino definitivo. Cada vez mais eleitores definem seu voto apenas na véspera da eleição.
José Roberto de ToledoNo Estadão
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