
Democracia não é para amadores. É preciso sangue-frio com aqueles que pensam e agem diferentemente de nós. Tanto que critiquei a tentativa de impedirem a posse de Tiririca e defendi o direito de Jair Bolsonaro falar as barbaridades que bem entender, desde que no legítimo exercício de seu mandato.
Pois agora faço questão de manter distância daqueles que excomungam o polêmico cidadão que atende pelo codinome de Coronel Telhada, eleito vereador pelo PSDB de São Paulo com expressivos 89 mil votos.
As ideias desse homem são abomináveis, do meu ponto de vista. Sei que não estou sozinho na aversão ao discurso de que “bandido bom é bandido morto”, assim como da sua mais nova versão, imortalizada nas palavras tenebrosas do governador Alckmin: “Quem não reagiu está vivo”.
Todos nós sabemos que muita gente morre nas mãos da polícia mesmo sem reagir. Esse tipo de raciocínio que impera em nossa sociedade há décadas é comprovadamente um retumbante fracasso.
Que o diga a própria corporação da Polícia Militar de São Paulo, hoje acuada pelo crime organizado — e pelas milícias e bandidos fardados que engendra em seu próprio útero.
A onda macabra de assassinatos de policiais a que estamos assistindo, estarrecidos, é apenas uma das decorrências da mentalidade bélica que dá sustentação à guerra civil em que vivemos. Não é o “pessoal dos direitos humanos” que sai por aí dando e levando tiros.
Mas também sei que milhões de paulistas (quem dera fossem apenas milhares) ainda acreditam que é motivo de orgulho ter a polícia mais violenta entre a de todos os países democráticos do mundo.
Não adianta querer calar essa gente. É pior, na verdade, que vivam ocultas, nas sombras, pois pessoas assim se juntam na primeira esquina em que houver um linchamento.
Não há nada mais perigoso que uma horda silenciosa: por natureza, vivem de tocaia, olham de soslaio, ruminam seu ódio e, na primeira oportunidade, não duvidem, se tornam sanguinários.
Melhor que falem, se exponham e, sim, elejam seus parlamentares truculentos. Eliminar os representantes legitimamente eleitos pelos conservadores gentis ou raivosos não vai eliminar seus eleitores. Esses vão continuar por aí, vociferando seus preconceitos ou desejos mais primitivos.
Antes assim, visíveis, disponíveis para as críticas e para um hipotético diálogo. Que falem, e muito. Para que possam ser retrucados, para que seus argumentos se esgotem, para que haja a oportunidade de serem convencidos.
No caso especifico do Telhada, cabe esclarecer as três acusações que o Ministério Público move contra ele. Se a Justiça (e só ela) cassar o mandato dele, bem feito. Caso contrário, vamos aguardar seus pronunciamentos na tribuna da Câmara dos Vereadores. Azar o meu.
Mais grave é o silêncio que paira sobre uma acusação muito, mas muito mais grave, a de que simpatizantes do ex-coronel estariam ameaçando de morte o repórter André Caramante, da Folha de S.Paulo, por conta da reportagem “Ex-chefe da Rota vira político e prega a violência no Facebook”.
Por conta dessas ameaças anônimas, Camarante e sua família se viram obrigados a mudar de país. Eu também teria medo. Não falei que é bem melhor quando nossos inimigos mostram as caras?
No Provocador
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