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Daniela

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Com texto livre

June 14, 2012 21:00 , by Daniela - | No one following this article yet.

A estranha queda do general da CIA

November 15, 2012 22:00, by Unknown - 0no comments yet

David Petraeus, o general das escaladas no Iraque e no Afeganistão, e “teórico” da contrainsurgência, o militar mais paparicado pela mídia belicista dos EUA, e operador dos ataques com drones, foi sacado da direção da CIA após o FBI grampear seu computador – e o da sua amante – e se tornar público o affair, depois de meses de investigações sigilosas e do encobrimento da questão na véspera da eleição de 6 de novembro.
O episódio é revelador do profundo farisaísmo que impera em Washington: um criminoso de guerra do seu naipe, sacado, não por causa dos massacres que cometeu e dos milhares de civis que assassinou, mas de uma aventura extraconjugal, que serviu de pretexto para sua eliminação do cenário político dos EUA. Logo ele, que tinha sido considerado pela revista “Time” como “a personalidade do ano” em 2007, cantado como “gênio militar” e era visto até como “presidenciável”. Jornalões e tevês dos EUA choraram pelo decaído e lamentaram profundamente sua “tragédia pessoal”.
Formalmente, após ser informado do grampo e das investigações, Petraeus apresentou a sua renúncia a Obama, que pediu 24 horas para “analisar” e no dia seguinte confirmou a demissão. A amante é uma major que cursou West Point, e autora de uma biografia apologética do militar, “All In: the education of general David Petraeus”, inicialmente uma dissertação de doutorado. Vinte anos mais nova, ela havia passado uma temporada no Afeganistão, quando Petraeus comandava as tropas no país invadido, para preparar o livro. “Embedded”, como se diz no jargão dos puxa-sacos dos militares norte-americanos.
Como o FBI não constatou qualquer violação de segurança, não era obrigatória a sua demissão por conta de uma aventura extraconjugal. Mas foi o que Obama fez, o que denota que, ou Petraeus cometeu algum erro grave, ou se colocou como obstáculo a alguma política do presidente. Assim, ao que tudo indica, estão em questão o episódio do ataque ao “consulado” de Benghazi em que foi morto o embaixador Chris Stevens e mais três; a maior operação atual da CIA no planeta, contra a Síria; e a ameaça de guerra ao Irã.
Na reta final da campanha presidencial que acabou reelegendo Obama, republicanos e a Fox News investiram acusando o presidente e a CIA de terem mentido sobre o ataque a Benghazi e, mais grave, de terem abandonado os funcionários dos EUA à própria sorte, negando uma operação de socorro na amplitude necessária. Estava marcado no Congresso depoimento de Petraeus para esta quinta-feira (15).
Analistas denunciaram que o que havia em Benghazi era uma operação de recrutamento de mercenários (“jihadistas”) para as fileiras de mercenários na Síria. Na sua campanha eleitoral, Obama se vangloriou de que “a Líbia foi liberada”, exibindo a imagem de aviões de guerra dos EUA, mas a realidade é que o golpe sofrido em Benghazi em setembro não pode ser oculto e os autores do ataque saíram vitoriosos. Se Petraeus comandou o socorro aos seus homens em Benghazi – e deveria – foi um desastre completo.
Os jornais norte-americanos dão conta da frenética atividade de Petraeus para a intervenção na Síria, no momento a maior operação da CIA no mundo, uma guerra civil por procuração, com bandos de mercenários armados pelos EUA e apoiados pela Turquia, Arábia Saudita e Qatar tentando derrubar o governo legítimo de Bashar Al Assad. Numa manifestação de que as coisas não estão saindo a contento, o Departamento de Estado acaba de desacreditar o até então privilegiado Conselho Nacional Sírio, e pressionou pela formação de uma outra coalizão de mercenários e subordinação do CNS. Teria Petraeus fracassado também ali, ele que já foi um fiasco no Iraque e no Afeganistão?
Afeganistão
Também está sobre a mesa, agora que se decidiu a eleição nos EUA, a questão do Irã, país contra o qual os EUA já movem uma impiedosa guerra econômica, com sanções de aleijar, ao mesmo tempo em que ameaçam com guerra aberta, caso o Irã não se dobre. Não está claro qual a atitude de Petraeus no assunto, mas no caso do Iraque e do Afeganistão ele foi a favor de fazer a guerra com aumento de tropas envolvidas.
Qual foi o fator que decidiu pela derrubada de Petraeus, não é possível apontar no momento, mas se colocando a oportunidade, foi devidamente aproveitada. O que não dá para acreditar é que e-mails da amante Paula Broadwell, para uma suposta rival, Jill Kelley, com títulos como “Larga o meu cara” e “Eu sei o que você fez” teriam o poder, mesmo no país dos grampos e da Lei (In)Patriótica, para levar a uma investigação, nada menos, do chefe da maior agência de espionagem do planeta. As duas são casadas.
A própria nomeação de Petraeus, tirando-o do círculo militar, onde reinava, para ser um estranho no ninho como diretor da CIA, ao mesmo tempo em que o então diretor Leon Panetta era nomeado para dirigir o Pentágono, vista a posteriori, mais parece uma derrubada “para o alto”. A mídia inflou Petraeus, para diminuir o peso da derrota dos EUA no Iraque e no Afeganistão. Mas seu antigo comandante no Estado Maior, o almirante William Falon, o considera “um pedaço de titica de galinha mal cheiroso”.
Antonio Pimenta
Hora do Povo
No Blog do Miro



Miruna Genoino: meu pai jamais será vencido

November 15, 2012 22:00, by Unknown - 0no comments yet

 
Se amanhã sentires saudades,
lembra-te da fantasia e
sonha com tua próxima vitória.
Vitória que todas as armas do mundo
jamais conseguirão obter,
porque é uma vitória que surge da paz
e não do ressentimento.
Charles Chaplin

Essa foi uma entre as muitas mensagens tocantes e emocionantes que eu e minha família recebemos em apoio à injustiça que está sendo cometida contra o meu pai. Tentei durante algum tempo responder a tudo o que foi chegando, mas realmente foi impossível… é por isso que gostaria profundamente de agradecer todos os gestos de apoio e carinho recebidos no último mês, de pessoas conhecidas e desconhecidas, que encontraram as mais diversas formas de mostrar que estão ao nosso lado.
Quando escrevi minha carta sobre a condenação de meu pai jamais imaginei que minhas palavras chegariam a tanta gente, de tantas formas diferentes, pois, contrariamente ao que alguns publicaram, aquela não era uma carta aberta ao Brasil, mas sim um texto desabafo dirigido aos amigos, familiares e conhecidos, mas que no fim acabou percorrendo os mais inimagináveis caminhos. Eu realmente agradeço a você que leu e compartilhou minhas palavras, a você que respondeu, mesmo sem saber se eu leria aquelas mensagens, a você que não teve vergonha – nem medo – de publicar aos seus conhecidos o outro lado de toda esta história.
Gostaria de dizer que ao longo do último mês recebemos as mais variadas formas de solidariedade. Visitas à nossa casa foram muitas, de Walmor Chagas, Nelson Jobim, Aloízio Mercadante, Antônio Nóbrega e Marcelo Deda, a tias, amigas, primas e conhecidas – minhas, de meus pais, de meus irmãos, de nossos amigos. Mensagens, inúmeras, de Leonardo Boff, João Moreira Salles e Luis Nassif a amigos de infância, amigos de antes, amigos de ontem, amigos de hoje. Ligações, infinitas, de Marilena Chauí, Jaques Wagner, Abílio Diniz, do presidente do senado, da governadora do Maranhão, de deputados dos mais diversos partidos, a maridos, cunhados, namorados, amigos de amigos, de amigos de outros amigos, de todos nós. Apoios, fiéis, de líderes do PT, do PMDB, de Lula, Rui Falcão e de Dilma, ao apoio de parceiras, companheiros e colegas de trabalho, de bordado, de vida. Neste tempo todo sentimos muitas coisas, das mais diversas, mas se há algo que nós não sentimos, foi solidão e abandono. Se hoje nos mantemos de alguma forma firmes, é por saber que a corrente que nos apóia é maior que toda e qualquer justiça injusta que hoje tenta calar a voz daquele que nunca teve medo de ser ouvido.
Neste momento tão difícil, quando recebemos totalmente por surpresa a dosimetria da condenação de meu pai, 6 anos e 11 meses de cadeia, mais uma multa de um valor que estamos muito longe de possuir, também quero de todo coração, agradecer a você que teve a coragem de enfrentar os comentários contrários, as opiniões maldosas, os artigos mal intencionados, as notas futriqueiras, as informações equivocadas, profanadas das mais diversas formas, nos mais diversos meios. Fosse por meio de supostas respostas à mim, fosse por meio de comentários no facebook, sei que muito provavelmente você leu muita coisa ofensiva à respeito de meu pai e de nossa família e em muitos casos sei que teve a garra de se indignar, de discutir, de mostrar sua opinião e principalmente, de deixar clara a solidariedade em relação ao que estamos vivendo.
Como devem imaginar, para mim é sempre muito duro quando vejo essas manifestações agressivas, principalmente por estarem carregadas de falta de informação e de discursos bastante marcados não por fatos e evidências, já que não existe nada que prove a culpa de meu pai, mas sim por “achismos” e especulações alimentadas sabemos bem por quais fontes. Mas justamente por isso gostaria de compartilhar com vocês, para que quem sabe um dia vocês também compartilhem com estas pessoas, o que desejo a todos os que hoje parecem estar bastante satisfeitos com estes 6 anos e 11 meses que injustamente foram colocados em cima de meu pai.
Desejo aos que dizem que meu pai merece ser condenado, que um dia indaguem um pouco além das manchetes e das frases de efeito, e tentem mesmo encontrar uma prova que indique que José Genoino é culpado. E aos que usam teorias do direito para justificar sua falta de razão em condenar, desejo que leiam o que o próprio autor da teoria declarou, mostrando que sim, para condenar é preciso que existam provas, pois meros indícios nunca poderão ser suficientes para privar alguém de sua liberdade.
E desejo aos que têm por profissão tentar tornar impossível que um cidadão exerça um direito constitucional, o de votar, que em algum momento de suas vidas possam me dizer se foram mesmo capazes de dar risada deste seu humor maligno que parecem tanto acreditar, e aos que buscam, com esta mesma profissão, incentivar o ódio e a reação das pessoas contra meu pai, que um dia estejam em um supermercado de bairro, na porta de uma loja, na entrada de uma padaria e presenciem os comentários carinhosos e emocionados que toda nossa família teve o orgulho de muitas vezes presenciar.
Por fim, desejo com todo sentimento possível e verdadeiro, que as pessoas um dia entendam que por trás da notícia, do fato, da chamada do jornal, da atualização de status ou de um tweet, existem muitas famílias que estão não apenas aqui, agora, vivendo a onda midiática do momento, mas sim que estão há 7 anos sofrendo junto aos seus pais, maridos, tios, irmãos, sogros, cunhados, amigos, a dor da injustiça e a angústia do futuro pleno que nunca chega.
Uma vez mais, a você que nos conhece diretamente e que não nos conhece, gostaria de agradecer a força, o carinho e a atitude de estar ao nosso lado. Cada linha, cada agulha, cada caixa, cada bolo. Cada flor, cada oração, cada livro, cada frase. Cada olhar, cada aperto de mão, cada lágrima, cada riso, cada mensagem espiritual, cada abraço. Meu pai, José Genoino, está de cabeça erguida, preparado como sempre para a luta. Se antes ele já tinha muitos motivos para ir até o fim em sua batalha por justiça, agora encontrou mais motivos ainda para seguir em frente com enorme dignidade: honrar e agradecer a cada pessoa que em meio a tanta mentira, soube encontrar e reconhecer o caminho da verdade.
Contem com nossa eterna gratidão.
Com amor e carinho,
Miruna Kayano Genoino – novembro de 2012



Despejos e suicídios na Espanha

November 15, 2012 22:00, by Unknown - 0no comments yet

Temendo o forte desgaste na sociedade, a Associação de Bancos da Espanha anunciou nesta semana que não promoverá despejos por inadimplência no pagamento de hipotecas pelos próximos dois anos. Segundo o cínico comunicado oficial da entidade, a medida leva em conta “a situação de desamparo de muitas pessoas, devido à crise econômica” e foi adotada por “razões humanitárias e no marco de sua política de responsabilidade social”. Mas os banqueiros informam que ela valerá apenas em casos de “extrema necessidade”.
A iniciativa não tem nada de “humanitária”. Afinal, os bancos são os maiores culpados pela grave crise que atinge a Espanha e outros países da Europa. No reinado neoliberal da desregulamentação financeira, eles sugaram as riquezas da sociedade, especularam com papéis podres e, diante do colapso da anarquia do mercado, foram socorridos com dinheiro público. Agora, eles voltam a exigir mais sacrifícios da população para manter os seus lucros, o que resulta em desemprego, arrocho, miséria e milhares de despejos.
Segundo o jornal El País, que sempre defendeu os rentistas e agora também afunda na crise econômica, 172 mil processos relativos a hipotecas foram executados na Espanha desde 2008 e há outros 178 mil ainda em curso. Desempregados e endividados, milhares de famílias perdem seus imóveis e passam a residir em casas de familiares ou abrigos. Nas ruas de Madri, por exemplo, uma cena que há muito não se via no velho continente – a de moradores de rua, dormindo em barracas ou ao relento.
O quadro ficou ainda mais dramático e desumano com o aumento do número de suicídios no país. Na última semana, duas pessoas se suicidaram por perderem suas casas após inadimplência no pagamento de hipotecas aos bancos. Os casos tiveram forte repercussão e indignaram os espanhóis. Manifestações contra os despejos foram promovidas no país. Os despejados chegaram a acampar diante da sede do Bankia, um banco privado “estatizado” pelo governo neoliberal para salvar os banqueiros e rentistas.
Altamiro Borges



Na 3ª noite de ataques, SC tem prédio e ônibus incendiados

November 15, 2012 22:00, by Unknown - 0no comments yet

Bombeiros apagam fogo em ônibus após novo ataque na região norte da capital catarinense, Florianópolis. Foto: Gilberto Gonçalves/Folha do Norte da Ilha/Divulgação
Bombeiros apagam fogo em ônibus após novo ataque na região norte da capital catarinense, Florianópolis
Foto: Gilberto Gonçalves/Folha do Norte da Ilha/Divulgação
Mais ônibus foram incendiados na noite desta quarta-feira em Santa Catarina. Na terceira noite de ataques violentos no Estado, um prédio onde funcionava uma creche, desativada há três anos, também foi incendiado.
De acordo com as informações do Corpo de Bombeiros, bandidos invadiram um coletivo no bairro dos Ingleses, no norte de Florianópolis, e ordenaram que os passageiros descessem. Em seguida, o grupo incendiou o veículo e conseguiu escapar.
Outros dois carros que passavam pelo local acabaram atingidos pelas chamas, mas ninguém ficou ferido. Outros dois ônibus da empresa Canasvieiras Transportes já foram incendiados na região desde segunda-feira.
Em Tijucas, na região metropolitana, os alvos foram um ônibus escolar e um de transporte de trabalhadores. O veículo escolar pertencia à Prefeitura de Porto Belo. O outro era de propriedade da empresa Julima. A quarta ocorrência de ônibus incendiado foi registrada em Palhoça, às 23h40.
De acordo com a Globo News, a base da guarda municipal de Balneário Camboriú foi atacada a tiros no fim da noite de terça.
Circulação
Após novos atentados ocorridos na noite desta quarta-feira, empresas de ônibus da região metropolitana de Florianópolis suspenderam as atividades por falta de segurança.
Os motoristas paralisaram as atividades por mais de uma hora no centro de Florianópolis. Desde as 22h, várias empresas deixaram de circular, e as que mantiveram o serviço acabaram reduzindo o número de veículos. As empresas que atendem comunidades de áreas "de risco" acabaram escoltadas pela Polícia Militar. Os ônibus que realizam trajetos na região norte da cidade - principal foco dos ataques - acabaram deixando o Terminal Central (Ticen) em grandes comboios escoltados por viaturas.
Violência em SC
A partir do dia 12 novembro, o Estado de Santa Catarina registrou uma série de atentados, com mais de 20 ataques contra ônibus e bases da polícia. Enquanto os coletivos foram alvos somente de incêndio, algumas bases policiais também foram alvejadas. Na região norte de Florianópolis, o carro de um policial civil foi incendiado. Ao todo, a polícia prendeu 27 suspeitos de participação nos crimes, sendo 12 adolescentes.
Na segunda-feira, dia 12, uma funcionária de uma empresa de administração prisional recebeu uma mensagem no celular que avisava sobre os ataques, que seriam uma represália a supostos maus tratos ocorridos dentro da Penitenciária de São Pedro de Alcântara.
O secretário de Segurança Pública de Santa Catarina, César Augusto Grubba, afirmou que os atentados ocorridos em Florianópolis podem ter sido uma imitação dos ataques ocorridos nos últimos dias em São Paulo, onde mais de 90 policiais foram mortos desde o início do ano.



O roteiro da novela "mensalão" e seus próximos capítulos

November 15, 2012 22:00, by Unknown - 0no comments yet

Se há uma linguagem que o brasileiro comum domina e aprecia é a da telenovela. Farta literatura acadêmica aponta a popularidade do principal produto cultural de exportação brasileiro como a razão que lhe confere alta efetividade na construção de consensos hegemônicos. Há exemplos consagrados de produções que inovaram padrões estéticos, alteraram costumes, reforçaram esteriótipos e interferiram no comportamento político da nação. Não por acaso, foi justamente o formato de telenovela o escolhido para dar corpo ao julgamento da ação penal 470, o “mensalão”, que invade os lares dos brasileiros há quase quatro meses, televisionado pela TV Justiça e reverberado em edições do estilo “melhores momentos” pelo noticiário.
Antes mesmo do julgamento ter início, os jornais já apresentavam a sinopse do enredo, a descrição dos personagens. Herói e vilão foram previamente fixados no imaginário coletivo, assim como quem seriam os protagonistas e os coadjuvantes do elenco escalado. A nomeclatura adotada não deixou nada a dever aos cohecidos roteiros da teledramartugia. O processo foi fatiado em “capítulos”. Os réus, agrupados em “núcleos”. Tudo ao melhor estilo “padrão globo de qualidade”.
Embora os resumos dos capítulos estivessem antecipados, diariamente, nos jornalões, a direção geral, assinada pelo relator do processo, Joaquim Barbosa, não economizou em inovar as estratégias para surpreender o público. Com o apoio da maioria dos ministros que se produz diariamente para enfrentar os holofotes, negou a 34 réus o direito constitucional à dupla jurisdição. Inverteu a ordem dos capítulos sugerida no roteiro prévio feito pelo Ministério Público. E a alterou, novamente, quando a audiência dava sinais de cansaço, no atropelado processo de fixação das penas.
Fez merchandising de teoria jurídica estrangeira que até então ainda não havia assegurado espaço no mercado judiciário brasileiro. E o pior: com uma releitura tão tacanha que “obrigou” o alemão Claus Roxin, autor da obra original, a vir ao Brasil desautorizar seu uso indevido. Reagiu rápido e mudou o foco da polêmica ao apenar os protagonistas antes que o enredo desandasse de vez. Atropelou garantias individuais consagradas para manter o cronograma que, como tantas outras novelas globais já o fizeram, intencionava influir nas eleições.
Também enfrentou sérios percalços. Apelou para uma possível militância nas redes sociais para explicar o cenário deserto no entorno do STF, com seguranças trajados ao estilo hollywoodiano sem encontrar o que fazer. Protagonizou embates acirrados quando o ministro-revisor, Ricardo Lewandowski, mesmo isolado no papel de vilão, escancarava as irregularidades do processo. O golpe mais duro, sem sombra de dúvidas, foi não poder gravar a cena dos réus protagonistas, algemados, sendo conduzidos à prisão, a tempo de influenciar o resultado das urnas do pleito municipal deste ano. E os resultados do pleito, obviamente, fugiram ao scprit.
Mas, como ensinam os grandes dramarturgos, a telenovela é uma obra aberta, que interage com as demandas do mercado. O roteiro, sempre que necessário, sofre alterações. E como em qualquer dramalhão que se preze, há várias versões se desenhando para o esperado “capítulo final”. Boatos alardeados pela imprensa de que o ex-ministro alçado ao papel de chefe da quadrilha criminosa já estaria com asilo político acertado em Cuba ou na Venezuela justificariam novo pedido do Ministério Público para a prisão preventiva dele e de outros condenados.
Mas a direção-geral do também protagonista e herói Joaquim Barbosa parece apontar para outro caminho: estender o espetáculo até as vésperas das eleições presidenciais de 2014, quando o grand finale poderia tomar proporções ainda mais épicas. Com a temporada de posses do STF, o longo recesso do judiciário e os prazos regimentais para publicação do ácórdão e ingressos de embargos, é perfeitamente viável. A elasticidade do prazo dá brecha também para novas tentativas de se incluir no elenco um velho e querido personagem do público, que muito incomoda os patrocinadores do espetáculo: o ex-presidente Lula, o favorito nas pesquisas para a eleição presidencial de 2014.
Mas há também uma terceira possibilidade, idealizada não pelos roteiristas, mas por aquela parcela da opinião pública que, ao contrário do que apregoava Adorno, no clássico Indústria Cultural, não assiste passiva à manipulação da audiência. Juristas e intelectuais brasileiros, apoiados por parte do público, já estão preparando uma ação à Corte Interamericana de Direitos Humanos para pedir a anulação do julgamento, marcado desde seu primeiro briffieng por diversas. Os argumentos, certamente, não contemplam os amantes da teledramaturgia. Mas encontram bases sólidas na Constituição brasileira e nos tratados internacionais que versam sobre liberdades individuais e garantias fundamentais do estado democrático de direito.
Najla Passos
No Carta Maior