Hackers manipulam urna eletrônica durante eleições americanas
November 5, 2012 22:00 - no comments yet![]() |
Responsável por mostrar falha de segurança em urna eletrônica mostra como poderia modificar votos |
Cientistas conseguiram alterar os resultados de uma urna eletrônica de forma a conseguir trapacear e mudar a intenção expressa pelos eleitores. A experiência, realizada em uma máquina como aquelas utilizadas nas eleições dos Estados Unidos, permite o controle da votação computada pelo dispositivo e apresenta um alerta à segurança eleitoral. As informações são do site da revista Popular Science.
Com a instalação de um microprocessador - ou algum outro dispositivo eletrônico - na urna eletrônica, os responsáveis pela fraude conseguiram interferir na transmissão do voto às autoridades eleitorais, caso o aparelho estivesse em funcionamento oficial. A tática empregada, conhecida como ataque man-in-the-middle, é um clássico em casos semelhantes. Através do processo, os americanos do Argonne National Laboratory foram capazes de ver a informação sendo trocada dentro do aparelho e também modificá-la.
O anúncio, feito nesta segunda-feira, levanta preocupações quanto à confidencialidade e segurança do sistema eleitoral americano em plenas eleições presidenciais entre o democrata Barack Obama, que busca a reeleição, e o seu adversário republicano, o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney. De acordo com os responsáveis pelo "hack", a maior parte das máquinas de votação não é encriptada; então, segundo eles, é fácil descobrir as informações que estão sendo trocadas.
Por que entrei na Veja. E por que saí
November 5, 2012 22:00 - no comments yet![]() |
(Brenda Starr, repórter da HQ de Dale Messick) |
No final de 1997, após minha aventura espanhola – economizei um dinheirinho e fui estudar Literatura Espanhola e Hispanoamericana em Madri –, voltei ao Brasil para morar em São Paulo. Desempregada, fui convidada por uma grande amiga a fazer um frila para a revista Marie Claire, onde ela era editora: uma entrevista com o pré-candidato a presidente Ciro Gomes que acabou sendo um dos mais marcantes trabalhos da minha carreira. Ciro abriu a alma, talvez mais do que gostaria, e a matéria de uma revista feminina surpreendentemente repercutiu em todos os jornais.
O sucesso foi tão grande que aquela entrevista, publicada na edição de janeiro do ano seguinte, foi a responsável por minha reinserção no mercado brasileiro após dois anos fora. Fui sondada por alguns veículos e acabei sendo convidada para voltar à Folha de S.Paulo, onde havia trabalhado na sucursal de Brasília, para ocupar uma vaga na editoria de Cotidiano. Meses depois, mudei para a Ilustrada, que almejava quando fui para a Espanha. (Qualquer hora tiro um tempinho para digitar a entrevista com o Ciro e postar aqui para vocês. É muito divertida.)
Sete anos mais tarde, em maio de 2004, eu estava havia apenas três meses trabalhando no Estadão quando a mesma querida amiga me procurou para fazer um convite: iria assumir a editoria de Brasil da revista Veja e queria que eu fosse para lá fazer coisas bacanas, reportagens especiais, entrevistas. “Quem você gostaria de entrevistar?”, ela perguntou. Respondi que sempre quis entrevistar Diego Maradona sobre política. Até hoje acho que seria uma entrevista e tanto. Ela ficou entusiasmada e eu também. Mas e hard news?, perguntei. Este nunca foi meu forte. “Ah, você vai ter que fazer, mas ocasionalmente”. Pensei uns dias e topei. Lembro que até comprei, num sebo de São Paulo, um livro de Oriana Falacci, a grande entrevistadora italiana, para me inspirar…
Costumo dizer que existem dois tipos de repórteres: os que têm boas fontes e apuram muito, mas têm um texto apenas razoável, e os que não têm tantas fontes nem são incríveis apuradores, mas escrevem bem. Eu não tenho fonte nenhuma e apuro o suficiente; o texto é o diferencial. Portanto, o primeiro choque para mim após a estreia na Veja foi que a alentada matéria de capa sobre corrupção que eu e dois colegas apuramos não foi escrita por nós. Eu escrevi o texto inteirinho. E ele foi inteirinho modificado para publicação. Obviamente não recebi aquilo de bom grado, mas uma colega que estava lá há mais tempo me acalmou dizendo que logo eu “pegaria o jeito” para escrever no estilo da revista e não mexeriam tanto no texto.
Bom, hoje sei que nunca iria “pegar o jeito” de escrever da Veja porque, para começo de conversa, não é o meu. Meus textos em geral têm bastante aspas, adoro colocar frases boas de entrevistados e especialistas para dar um colorido. Na Veja, podem reparar, os textos quase não têm aspas, é tudo assumido pelo redator. Além disso, tem uns clichês do tipo “os números impressionam” que eu não conseguiria incluir num texto meu nem que trabalhasse lá durante 100 anos.
Vi, de cara, que tinha entrado numa enrascada, que só piorou quando me destacaram para cobrir a campanha de Marta Suplicy à reeleição em São Paulo. Não havia ninguém no PT que aceitasse falar com a Veja. As fontes das reportagens tinham que ser pessoas, mesmo dentro do partido, de oposição à prefeita. Eu fazia a apuração possível, mas absolutamente nenhum daqueles textos foi escrito por mim. Àquela altura, eu só pensava num jeito de sair da Veja sem ficar desempregada – afinal, eu acabara de entrar no Estadão quando decidi ir para lá. E tinha um filho para criar, não sou nenhuma filhinha-de-papai para me dar ao luxo de ficar sem trabalhar.
Para driblar as dificuldades, minha amiga e chefe escalou outra repórter para trabalhar em parceria comigo: eu fazia a apuração pelo lado petista a partir de uma pauta sugerida por mim e ela redigia o texto e apurava o lado do PSDB, incluindo os obrigatórios elogios ao tucanato, como na reportagem dos políticos “picolés de chuchu”. Quem acompanha meu trabalho há mais tempo sabe que essa é uma pauta tipicamente minha, para tirar sarro de políticos. Foi transformada por Veja em uma peça de bajulação a Geraldo Alckmin – reparem que a reportagem em questão é assinada em dupla com outra pessoa, assim como várias outras do meu curto período na revista.
Algumas alterações foram menos dramáticas: o perfil do advogado Kakay, apesar de nenhuma frase do texto ter sido escrita por mim, pelo menos manteve-se fiel ao que apurei, não tem nada do que me envergonhe ali. A hilária história do “embargo auricular” foi descoberta minha, e já foi citada em vários perfis dele depois. Mas o único texto integralmente meu, desde o título, é a ótima entrevista que fiz com a namorada do senador Eduardo Suplicy, Mônica Dallari. Um furo. Sou, antes de tudo, uma repórter. E minha maior especialidade (é a segunda vez que volto a elas neste texto) sempre foram as entrevistas. Tenho um belo portfólio, modéstia à parte: escritores, políticos, atletas, cineastas.
Em revista, mais do que em jornal, pode acontecer de o redator-chefe modificar um pouco seu texto, isso não é incomum. Mas o difícil de tolerar em Veja, para mim, além de eles mexerem no texto todo, eram as torcidas de raciocínio. Certa vez, fui convocada a colaborar em uma reportagem sobre educação e me pediram alguém para falar sobre cotas. Lembrei de um antigo colega da faculdade que era do movimento negro, liguei para ele e peguei uma frase favorável às cotas. Qual não foi a minha surpresa quando a autora do texto simplesmente transformou a frase dele em contrária às cotas! Fiquei furiosa e felizmente, neste caso, consegui reverter. Mas o pior estava por vir.
Quando as discussões com minha chefe começaram a desandar em gritaria na redação, decidi que estava na hora de sair. Escrevi um e-mail para ela dizendo que preferia manter sua amizade e me demiti da revista. Ela aceitou, me pediu um mês para arranjar outra pessoa e saiu de férias. Neste meio tempo, me pediram uma matéria sobre as dívidas que Marta Suplicy deixaria a seu sucessor na prefeitura de São Paulo, que não eram mesmo coisa pequena. Mas no texto aconteceu algo pelo qual nunca passei em mais de 20 anos de carreira: foi incluída uma frase, entre aspas, que não apurei.
Em 14 anos de Folha de S.Paulo, entre indas e vindas, como repórter fixa ou colaboradora, jamais modificaram um texto meu desta maneira. Em seis anos de CartaCapital, muito menos. Em nenhum lugar onde trabalhei aconteceu algo nem sequer parecido. Está lá a frase, no primeiro parágrafo da matéria: “Parece a madrasta de Cinderela”. Não sei quem disse isto. Eu não a ouvi de ninguém, mesmo porque não tenho ascendência italiana nem conheço ninguém em Roma. Quando minha chefe chegou de férias, me encontrou arrasada. Tenho certeza que, se ela estivesse ali, a frase não teria aparecido magicamente no texto. Detalhe: não me importaria de fazer uma reportagem crítica ao PT ou a quem quer que fosse, desde que eu a tivesse escrito – e que fosse verdade. Isso se chama profissionalismo.
Felizmente, almas boas me ajudaram a sair da Veja logo depois das férias coletivas de final de ano, e em fevereiro eu começaria na revista VIP, onde já havia atuado como colunista, no ano anterior. Passei dois anos e meio na VIP, de onde não tenho nenhuma queixa, pelo contrário. Voltei a ter a coluna, fiz matérias engraçadas e algumas entrevistas bobas com bonitonas da capa, mas também com pessoas interessantíssimas, como o cineasta Hector Babenco, o jogador Zico e o produtor musical Nelson Motta, entre outras. (Com o tempo, postarei elas aqui, na seção vintage do blog.) Ironia: enquanto na Veja o que escrevia era trucidado, na VIP uma coluna minha concorreu ao prêmio Abril de 2006 como melhor texto do ano na categoria artigo.
Uma tarde, na VIP, uma das advogadas da editora Abril entrou em contato comigo para me comunicar que Marta Suplicy estava processando a Veja por conta daquela reportagem, e me perguntou quem foi o “jornalista italiano” que me disse a frase. Perguntei se tinha conhecimento de que as matérias da Veja eram mexidas depois de escritas, e ela me disse que sim. Falei, então, que não fora eu quem apurara aquela história e não tinha falado com jornalista italiano algum. Nunca soube o resultado do processo.
Se você me perguntar: mas isso acontece com todos os jornalistas que trabalham na Veja e eles aceitam, são coniventes com essa prática? Não sei, só posso falar por mim. Não sou o tipo de jornalista que coleciona inimigos. Coleciono amigos, essa é minha natureza. Tenho amigos em todos os lugares em que atuei como repórter, inclusive na Veja. Posso dizer que tem vários jornalistas excelentes na revista, por quem tenho apreço genuíno – minha querida amiga, por exemplo. Mas desprezo o veículo onde trabalham. Tenho razões de sobra para isso. Sinto consideração e carinho por todas as redações por onde passei. Respeito a editora Abril. Veja, não.
E sabem o que é pior disso tudo? Nunca entrevistei Maradona.
Cynara MenezesNo Socialista Morena
Linguística: Preconceito de quem?
November 5, 2012 22:00 - no comments yetA revista Carta Capital publica esta semana matéria sobre Madalena, travesti, negra, eleita para a Câmara de Vereadores de Piracicaba, no interior de S. Paulo. O que deveria ser um texto capaz de mostrar a importância desse fato histórico acabou por se revelar mais uma instância do preconceito linguístico tão fartamente documentado em nossa imprensa. Fui obrigado a escrever uma carta à redação. Aqui vai ela para leitura compartilhada de todos os que se indignam com esse tipo de exploração bisonha das diferenças linguísticas.
Caro professor Bagno, como vai?
Escrevo-lhe apenas para dizer quão triste fico com uma interpretação rasa e apressada do meu texto como a que me chega. Não tenho uma teoria linguística calcada em uma década de pesquisa que precise exemplificar com qualquer excerto que me caia nas mãos, então não vou teorizar sobre suas intenções, como senhor se arvorou o direito de fazer comigo. Só digo, não em minha defesa, mas em defesa da revista em que trabalho (e que não compartilha dos dois pesos e duas medidas da “nossa mídia conservadora e mentirosa") que decidi reproduzir o “linguajar” de Madalena porque é assim que ela falará na Câmara dos Deputados (sic), quando o assumir o inédito cargo com toda sua pompa e glória. Madalena é dessas figuras ímpares, respeitáveis, admiráveis. Não teria eu coragem de “traduzir” ou “normatizar” sua fala. Aplicar uma norma culta a seu modo de fala seria tão grotesco quanto o senhor julga ser o contrário. Madalena não peca por desvios de um plural aqui ou uma concordância ali: fala uma língua sem relação com a escrita, de um jeito todo seu. É belo o jeito que ela fala: e mais, ele reproduz instantaneamente o local onde nasceu e viveu, seu (pouco) acesso à educação, seu total status de não pertencimento à uma sociedade de “elite” à qual invadirá em 1º de janeiro, quando tomar posse, a despeito das ameaças de morte.
Fomos até Madalena para retratar sua vitória pessoal. Após algumas horas de entrevista, de lá saí com uma pequena aula de política brasileira. Mas, acima de tudo, o objetivo era retratar, o mais veridicamente possível, a aura daquela figura que só chegará ao público por meio da imprensa.
Por que não se fez o mesmo em outros textos da edição? Por que qualquer pessoa com um conhecimento mínimo de jornalismo sabe que diferentes pessoas escrevem diferentes textos. Em Carta Capital, não há padronização acachapante de ideias, nem de narrativa. O texto como publicado foi de responsabilidade inteiramente minha, do início ao fim. Se o senhor de fato tivesse feito a pesquisa que mencionou, constataria que em uma série de outros textos publicados por mim na mesma seção o mesmo procedimento de “tacanha reprodução”, foi realizado. Nem só com pessoas negras, pobres e travestis, devo afirmar. Confesso desconhecer sua tese e, agora, sinto-me pouco disposto a buscá-la. Mas se ela cria pressupostos que sugiram apagar a riqueza da língua em narrativas da imprensa para evitar possíveis mal-entendidos pseudopsicológicos como esse, devo dizer que passará ao largo de minha vida profissional.
FHC, Aécio e o balanço eleitoral
November 4, 2012 22:00 - no comments yet
Neste feriadão de finados, três caciques tucanos publicaram artigos nos jornalões para jurar que o PSDB está vivo e que saiu ainda mais fortalecido das eleições municipais de outubro: o ex-presidente FHC, o cambaleante Aécio Neves e o presidente em exercício da sigla, Alberto Goldman. Pelo jeito, nem os filiados e seguidores da decadente legenda estão convencidos destes “êxitos”. Haja saliva, papel e malabarismos para animar a fauna e para evitar novas bicadas e divisões no ninho tucano.
A estranha contabilidade do mineiro
Em seu artigo na Folha de hoje, o senador mineiro chega a contabilizar como “vitórias” do PSDB a eleição de prefeitos de siglas aliadas da presidenta Dilma. Ele não explica porque os tucanos não lançaram candidatos próprios em vários municípios brasileiros, porque se esconderam atrás de outras legendas. Na maior caradura, Aécio Neves afirma que “os números não se mostram tão favoráveis ao PT”. Que números, cara pálida? Ele agradece os 13,9 milhões de votos do PSDB no primeiro turno e esconde os 17,2 milhões obtidos pelo PT.
Maroto, ele também nada fala sobre a estrondosa derrota da sigla em São Paulo – talvez porque a maior capital do Brasil seja um mero detalhe ou porque o cambaleante presidenciável tucano prefira não cutucar o seu “amigo” José Serra. No final, ele se jacta que “o PSDB reafirmou a sua posição de principal polo de oposição no país”. Será? Muitos tucanos e demos já ameaçam rifar a legenda em 2014. Arthur Virgílio e ACM Neto até já andam dizendo que a melhor opção seria Aécio Neves como vice de Eduardo Campos!
A estratégia de mentor tucano
Na mesma toada, o ex-presidente FHC escreveu no Estadão neste sábado (04). Mais cauteloso, ele afirma que “os resultados eleitorais foram muito dispersos”. Mesmo assim, ele enfatiza a expansão do PSDB no Norte e Nordeste e menospreza a derrota em São Paulo e no restante do Sudeste. Como os números permitem qualquer manobra, ele afirma que seu partido fez mais prefeitos do que o PT – 689 a 636. Só não diz que o PSDB elegeu 789 em 2008 e que o PT elegeu 554. Um subiu e outro desceu! Mero detalhe!
Principal estrategista tucano, FHC aproveita o balanço eleitoral para fazer projeções. Ele indica que o principal movimento da direita no país deve ser o de atrair as forças de centro e centro-esquerda. Daí toda a bajulação para cima do PSB, que “derrotou o lulopetismo no Recife e em Fortaleza. Isso abre margens à especulação sobre suas possibilidades para as eleições presidenciais, com a cisão no bloco que até agora apoia o governo Dilma”. Mas ele mesmo pondera que a manobra não é fácil. Ou seja: admite as dificuldades do PSDB.
O presidente risível do PSDB
Neste sentido é que ele insiste no papel do PSDB como “carro-chefe” da oposição. De forma tímida, FHC volta a falar sobre a urgência de renovação da legenda, mas evitando novos confrontos com o irritadiço José Serra. Ele até fala que a sigla precisa ser “progressista nos costumes”, numa estocada no tucano da Mooca que se aliou ao “pastor” Malafaia e atacou o “kit-gay”. Diz que o PSDB deve superar o estigma de partidos “dos ricos” e dá outras dicas. Ou seja: tarefas difíceis para quem se saiu tão bem na eleição de outubro!
Dos três artigos, o mais risível é o do anódino Alberto Goldman, presidente em exercício do PSDB e ex-vice-governador de São Paulo. Para ele, o PSDB “obteve excelente resultado nas eleições. Avançou muito nas capitais e nas grandes cidades, retomou seu ímpeto no Norte e Nordeste e acumula forças para se contrapor ao projeto de hegemonia do PT”. Na sua cômica avaliação, ele garante que o resultado do pleito “tornou mais distante o sonho lulopetista” de se manter no governo central. Sem comentários!