Muy amigos
July 21, 2012 21:00 - no comments yetO melhor amigo do homem não é um senador. Muito menos um bicheiro. Demóstenes Torres descobriu isso tarde demais. Aliás, quem descobriu foi a imprensa.
Demóstenes foi cassado, segundo ele, por pressão nossa, da mídia e da sociedade. E por não ter amigos no reino da mentira e da promiscuidade. Era um solitário no Senado, visto como falso, arrogante e prepotente. O rei das grandes frases para os jornalistas.
Ficou mais sozinho nos últimos tempos, um “cão sarnento” em suas palavras. Não dormia nem com remédio. Sua mulher evitava sair com ele para beber vinho. Pelo menos, ainda está casado e só se sente traído por seus pares.
Para a Justiça de Goiás, Demóstenes continua com força na peruca: ele voltou a ser procurador criminal do Ministério Público. Com salário de R$ 24 mil e dois assessores. O decoro perde assim para a decoração. A sala tem o nome de Demóstenes na porta. Estão vetados rádios Nextel e geladeiras importadas.
Menos sorte no amor tem o suplente do senador cassado, Wilder Pedro de Morais, um homem bem-sucedido nos negócios. Foi o segundo maior doador da campanha de Demóstenes segundo a Justiça Eleitoral. Deu R$ 700 mil.
Filho de peão, criado na roça e hoje megaempresário em Goiás, Wilder perdeu a mulher bonitona e mãe de seus dois filhos, Andressa, para o “padrinho” Cachoeira, a quem chama na intimidade apenas de Carlinhos. Andressa foi morar na casa do bicheiro em 2010, logo após a separação. Um enredo de novela das 8 com nome de Brasil.
Wilder perdeu a mulher, mas não o humor. Tachado de “o marido traído da CPI” ou coisa mais chula, ele brinca ao confirmar a “sociedade” com o bicheiro. “É lógico que somos sócios. Sou sócio involuntário do Cachoeira na mulher!”
O fingidor Cachoeira teria sondado Wilder: “Quero saber se essa separação é para valer mesmo, sou amigo do casal e estou preocupado”. Wilder teria respondido: “Ô, Cachoeira, larga de ser cínico que eu sei que a Andressa está morando em sua casa”. Cachoeira ainda tentou convencê-lo de sua boa intenção: “Mas ela está lá só como amiga”.
“Olha aqui, Carlinhos”, afirmou Wilder. “Casamento tem dois momentos: o ruim e o bom. O ruim é quando a mulher dá problema. E o bom é quando a gente passa o problema e a mulher para a frente.”
Cachoeira nunca perdeu a chance de lembrar a Wilder que foi ele quem o colocou como suplente e secretário de Infraestrutura no governo de Perillo, do PSDB de Goiás. Está gravado e revelado. Cachoeira também tentou derrubar sua criação. Chamou o afilhado de “bosta” e disse a Demóstenes: “Temos de preparar um nome para substituir o Wilder”.
Pelo conjunto da obra, Cachoeira poderia ter sido inspiração para Jô Soares, que criou a expressão “muy amigo” na boca do argentino Gardelón. O personagem sempre se dava mal com traidores que se passavam por bonzinhos.
Na semana passada, Wilder estava de férias no Nordeste. Voltou ao Senado na sexta-feira 13, mais bronzeado.Terá muito a explicar. Como substituir um senador cassado por suas relações íntimas com Cachoeira?
A ironia perversa é que a cassação de Demóstenes até o ano de 2027 talvez tenha sido ajudada pelo voto secreto no Senado. No escurinho do teatro, quantos beneficiados por “Carlinhos” votaram, na verdade, só para tirar do palanque um arquivo vivo? Tenho curiosidade particular pelos cinco que se abstiveram, envergonhados de si mesmos.
A sessão foi transmitida pela TV Senado, e o resultado foi bom para a moralização política. O contrário teria sido um escândalo – como tantos no passado recente. Mas as expressões de orgulho dos senadores soam hipócritas. “Cabeça erguida.” “Cumprimento da justiça e de nosso papel.” “A imagem da instituição está salva.”
Tudo isso, numa casa onde reinam figuras como Renan Calheiros, que assistiu à votação de pé. Líder do PMDB, antigo alvo da fúria ética de Demóstenes, Renan deu no cachorro morto um leve abraço muy amigo com três tapinhas nas costas.
No discurso de defesa e despedida, Demóstenes ameaçou ao citar o refrão de “Cartomante”, de Ivan Lins com Vitor Martins. Cai o rei de espadas/Cai o rei de ouros/Cai o rei de paus/Cai, não fica nada... Eu me pergunto quem será o rei de ouros.
O Senado abusou muito tempo de sua arrogância corporativista. Em 2007, fechou ao público a votação do processo contra Renan Calheiros, absolvido por 40 a 35 votos. Foram seis as representações do Conselho de Ética pela cassação. Contas pagas à amante por um lobista de empreiteira. Notas fiscais frias. Empresas fantasmas. Desvios de dinheiro. Laranjas, vacas. Eram outros tempos. E Renan é do PMDB, amigo do rei.
“O Senado esteve à altura. É difícil, mas aqui não é uma confraria de amigos”, disse o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), autor da representação contra Demóstenes. Pode ser.
É uma confraria de muy amigos.
Ruth de AquinoNo Época
A Força dos Prefeitos
July 21, 2012 21:00 - no comments yetO debate sobre os efeitos da eleição municipal na política nacional tem tomado um rumo mais realista. Velhas ideias equivocadas estão sendo aposentadas.
Ainda existem aqueles que insistem em enxergar a escolha de prefeitos e vereadores como uma preliminar da eleição presidencial. São os que acham que nosso sistema político é igual ao americano e pensam que elas são equivalentes a uma coisa que existe por lá, as midterm elections, que acontecem a meio caminho entre as eleições presidenciais - para renovar parte do Congresso e dois terços dos governos estaduais, e que costumam antecipar os sentimentos do eleitorado em relação à sucessão na Casa Branca.
A analogia não faz sentido e nossa experiência desde a redemocratização o demonstra. A vitória de nenhum de nossos presidentes decorreu do desempenho de seu partido nas eleições locais anteriores.
Isso vale no atacado e no varejo. Ser o campeão na quantidade de prefeitos não quer dizer nada na hora de contar os votos para presidente. Que o diga o PMDB, que conquista esse troféu a todo ano e que, quando resolveu ter candidato próprio, amargou derrotas acachapantes. Consciente de que de pouco adianta ter uma tonelada de prefeitos, desde 2002 se contenta com o papel de coadjuvante, fornecendo o vice a quem imagina que vai vencer (nem sempre acertando, mas com ótimo retorno).
Tampouco é importante, do ponto de vista eleitoral, conquistar as grandes cidades ou a maior de todas. Ganhar ou perder a prefeitura de São Paulo é fundamental para quem lá atua, mas, na política nacional, é puramente simbólico. Quem duvidar que se lembre de 1996: Celso Pitta se sagrou prefeito, Maluf teve uma espetacular vitória e nada mudou na vida política brasileira.
A maioria dos analistas se deu conta que as eleições locais são decisivas por outra razão: nelas, os partidos melhoram ou pioram suas possibilidades de eleger representantes no Legislativo. Muito especialmente, o número de deputados que mandam para a Câmara em Brasília.
O tamanho das bancadas é o primeiro critério que determina o acesso dos partidos aos cargos de comando do Legislativo, desde a Presidência do Senado e da Câmara, à chefia de suas comissões importantes. Parlamentares eleitos por legendas pequenas só chegam aos postos relevantes se tiverem muito prestígio pessoal – e o apoio das maiores.
O mesmo vale nas relações dos partidos com o Executivo. Nas coalizões governistas, os grandes ocupam ministérios “de ponta” – os que têm visibilidade e movimentam dinheiro. Aos menores, só resta indicar seus preferidos para cargos secundários. Foi assim em todos os governos desde Sarney.
Em outras palavras: o poder dos partidos aumenta exponencialmente se tiverem muitos deputados e senadores.
A grande maioria chega ao Parlamento em função de seus vínculos com a política municipal. Ou foram eles mesmos prefeitos - assim obtendo notoriedade e conceito -, ou contam com o apoio de lideranças locais. São raros os que podem prescindir desse ingrediente na conquista de um mandato.
Ter uma boa “prefeitama”, como se diz na linguagem coloquial da política mineira, é quase uma garantia de sucesso eleitoral.
Os prefeitos, vereadores e cabos eleitorais são, para os eleitores, aqueles que orientam e informam um voto difícil. Como escolher, entre as centenas de candidatos a deputado, o melhor para a região, cidade, comunidade ou bairro? Se o cidadão não consegue identificá-lo sozinho, por que não ouvir a indicação de alguém em quem confia?
Nem sempre dá certo, mas muitos acreditam que, assim, correm menos risco de errar na hora de votar.
Os atuais deputados e os que pretendem chegar à Câmara em 2014 sabem que, se ajudarem na eleição de prefeitos e vereadores, darão um passo decisivo para seu próprio sucesso daqui a dois anos.
A eleição municipal é quase irrelevante para a sucessão presidencial, mas é fundamental para definir o balanço entre os partidos na legislatura seguinte. Seu impacto eleitoral direto é mínimo, mas tem amplas consequências políticas.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi.PT e as Eleições: elegibilidade e governabilidade vale a pena sem uma militância radical?
July 21, 2012 21:00 - no comments yetSegunda, dia 09 de julho, começou a campanha eleitoral. Na rua, encontrei em esquinas várias pessoas balançando as bandeiras vermelhas com a estrela do PT, e chorei. Nos rostos desses "bandeirolos” não havia emoção, não eram militantes, eram trabalhadores. A militância mudou nesses 32 anos, a política mudou, o PT mudou e mudamos nós militantes e petistas. Chorei de saudade do tempo em que ser militante era sentir pulsar o peito no compasso dos sonhos, da utopia de construir um mundo diferente, um novo país, livre, justo, igualitário, ético, essas coisas que motivaram tantos/as pessoas nos anos 1970/80. Minha primeira experiência de militante foi no dia 19 de maio de 1977, Dia Nacional de Luta contra a Ditadura Militar. Uma multidão de mais de 8 mil estudantes em Salvador, confrontaram-se com o Batalhão de Choque da Polícia Militar, com policiais montados, outros com cachorros e outros com escudos e muita bomba de gás lacrimogêneo. Nesse dia eu realmente confirmei que estava no lugar que tinha que estar, lutando por liberdade e pelo direito de sonhar e fazer a história. Nunca mais parei de procurar o que pode e deve mudar na minha vida e na vida social.
Fiz parte daqueles/as que foram às ruas e subiram em ônibus arrecadando dinheiro para mandar ao comando de greve dos metalúrgicos do ABC, em 1979. Greves que mudaram o Brasil e a esquerda. Como membros de base da Ação Popular no movimento estudantil, confrontamos as lideranças nacionais, muitos ex-exilados e anistiados que não concordavam com a proposta de um partido dos trabalhadores "por que era um partido de massas e não um partido revolucionário”. A proposta do PT não se enquadrava no esquema marxista-leninista clássico e instalou-se um intenso debate sobre teorias revolucionárias, marxismo, leninismo, maoismo, trotskismo, stalinismo, gramicismo, eurocomunismo e muitos ismos. Essa discussão levou a rachas no PC do B e na AP, e os dissidentes se jogaram nas ruas para discutir a proposta desse partido com a população em geral. Em Salvador, fomos às favelas e assim filiamos e legalizamos o PT, criando os Núcleos de Base. Fomos acusados de igrejeiros e de liquidacionistas, pela esquerda ortodoxa, muitos dos quais depois entraram no partido e o transformaram numa "frente de tendências”.
Da legalização para as eleições foi outro percurso difícil. Definir candidatos, fazer doações de nosso bolso para imprimir material de propaganda. Realizar a mínima coisa era experimentado como uma grande vitória: fazer uma camisa, uma faixa, os "santinhos”, cartazes. O comício, então, era uma apoteose, delirávamos de emoção sacudindo as bandeiras e cantando os refrãos. Foi assim até a primeira eleição de Lula. Não sabíamos o quanto nos custaria a elegibilidade e a governabilidade. As negociações e as alianças foram mais compreensíveis para mim do que a cooptação de "companheiros/as” pelos esquemas do velho poder. Inserir-se numa estrutura burocrática e corrompida de gestão privada do espaço público, absorveu muita gente em esquemas e comportamentos que foram naturalizados por uma elite perversa e predatória, sem compromisso cívico, que tinham montado um jeito de governar para manter uma estrutura social excludente e desigual como poucas no mundo.
Não é possível negar que muita coisa mudou no aparelho estatal e na forma de gestão pública. Mas muito do Estado autoritário e patrimonialista permanece e continua estabelecendo a lógica de governar. A maneira como o governo da Bahia está tratando os professores estaduais em greve é inadmissível, inclusive para um governador que foi líder sindical. E o tratamento do Ministério da Educação a essa greve das federais, ameaçando cortar ponto é pior do que os militares ousaram fazer com a violência da repressão política, porque ameaça a estabilidade da sobrevivência das famílias. A governabilidade coloca em primeiro lugar a estabilidade do Estado e não o interesse da nação. A nação não é o aparelho do Estado e nem as corporações financeiras empresariais, mas é todo o povo que constitui uma nacionalidade. O momento é crucial: o país adquiriu estabilidade política e econômica, estabeleceu as bases para uma distribuição de renda, instituiu marcos legais e políticos para a ampliação da cidadania, agora precisa repensar a relação do Estado com a sociedade civil, não a partir da pressão da mídia e do setor econômico, mas da população e das organizações civis.
O exercício do poder nas condições de um Estado que se quer democrático na civilização do capital vai requerer bater de frente ou com o povo ou com as elites. A consciência de cidadania da população avançou e não tem volta, os confrontos estão apenas se anunciando. Ter o consentimento e aprovação das elites para governar e utilizar os seus instrumentos pode ter sido até inevitável para consolidar outro projeto de governo, mas a conjuntura mudou. Pagar militantes para fazer uma campanha não pode substituir a participação de uma militância motivada por paixão, emoção e desejo de construir o sonho de um mundo melhor. Pode ter sido necessário sujar as mãos, abdicar de alguns sonhos, eu reconheço certa grandeza nessa opção, necessária em circunstâncias vividas, embora eu não me disponha a isso, prefiro estar do lado de cá, criando utopias e percebendo as outras possibilidades que a realidade pode ter. Aprendi que não basta saber ou viver o que a realidade é, mas é preciso perceber como ela poderia ser. Ser realista não pode substituir ser radical, por que ser radical não é ser irrealista, mas ir até a raiz do limite do que pode ser transformado.
Que venham as eleições sem destruir nossos sonhos e nossa ética revolucionária, sem elas ficaremos cada vez mais distantes do tempo da militância convicta. Nada paga a emoção de realizar juntos os sonhos sonhados. Pois como cantou Raul: "sonho que se sonha junto é realidade”.
Maria Dolores de Brito Mota, professora Associada da Universidade Federal do Ceará. Instituto de Cultura e ArteAdital
Chamar o oponente de nazista e fascista pode causar impacto, mas desrespeita o eleitor
July 21, 2012 21:00 - no comments yetPolítica eleitoral é retórica. Usar adjetivos fortes para desqualificar o oponente, mobilizar corações e mentes e mostrar que está do lado do bem, faz parte do jogo. Mas é possível fazer isso sem exageros, como os que se verificaram nesta semana em mais um confronto entre petistas e tucanos. Alguém aí acredita, sinceramente, que o PSDB é um partido fascista? Ou que os militantes do PT defendam ideias nazistas? No sentido estrito?
Ao comentar, a pedido do Estado, as trocas de acusações entre os dois partidos, a historiadora Maria Aparecida de Aquino, professora da USP e estudiosa de regimes autoritários, observou o seguinte: “Além de historicamente datadas, fascista e nazista são expressões extremamente fortes, que se referem à total supressão das liberdades do indivíduo, o domínio absoluto. A filósofa Hannah Arendt disse que o nazismo impede o indivíduo de se relacionar com os outros e até com ele mesmo. Ele se despersonaliza.”

Para a historiadora, não há nada no atual cenário político brasileiro que se aproxime das expressões fascista e nazista. “É extremamente temerário e abusivo que o partido – seja o PSDB, o PT, o PMDB, qualquer um - utilize tais expressões. Quem faz isso extrapola, comete um erro brutal.”
Toda ameaça à liberdade de expressão e todo autoritarismo devem ser sempre denunciados, segundo Maria Aparecida. É possível fazer isto, porém, sem atropelar a história nem desrespeitar os eleitores.
O cientista político Rubens Figueiredo também comentou a troca de farpas entre PT e PSDB. “Eles usam as expressões fascista e nazista mais pelo impacto que elas causam do que pela associação com o conceito. Fascistas e nazistas pregavam factóides, pregavam a solução final. Depois que assumiram o poder não houve mais eleições, contraditório, possibilidade de opinião divergente. Não é o caso do Brasil, onde temos eleições e debates”, afirmou.

Figueiredo acredita que os políticos exageram quando querem denunciar algo que cerceia a liberdade do outro. “Deveriam falar de maneira clara em cerceamento da liberdade, sem falsear conceitos.”
Governos fascistas, sem possibilidade de contraditório, segundo o cientista, sobrevivem no Irã, na Coréia do Norte, na Venezuela…(sic)
No PT DZ Penha