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Daniela

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14 de Junho de 2012, 21:00 , por Daniela - | No one following this article yet.

SIP e os cartéis midiáticos

18 de Outubro de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Sob o pretexto de defender a liberdade de imprensa no continente americano, a 68ª Assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) reuniu em São Paulo, no início desta semana, a mais alta cúpula da grande imprensa das Américas, pessoas que nada ou muito pouco tem a ver com a defesa da liberdade e da democracia.
Escolhendo como alvo de suas críticas os governos da Venezuela e da Argentina, aos quais acusa de tentar controlar os meios de comunicação e de restringir a liberdade de expressão com leis de controle de conteúdo e “manipulação da publicidade oficial”, a SIP deixa claro quais os interesses que pretende salvaguardar.
Cúmplice do golpe midiático desferido contra o presidente Hugo Chávez, em 2002, e crítico contumaz de quaisquer iniciativas de regulamentação e de democratização da mídia empreendidas no continente, o órgão não tem como disfarçar o seu caráter reacionário, alinhado aos interesses de grandes grupos financeiros, cujos representantes sempre estiveram entre os seus dirigentes.
Não é possível esconder sua íntima relação com a mídia conservadora da América Latina, guardiã do neoliberalismo e apoiadora das ditaduras que cobriram o continente de atentados aos direitos humanos.
Refletindo o desejo dos grandes monopólios de mídia do continente de atuar sem qualquer tipo de controle e sem qualquer limite às suas concentrações de meios, a SIP esconde que a existência de marco regulatório é regra na maioria dos países desenvolvidos do mundo.
Ao tentar vincular legislações específicas constituídas em conjunto com a sociedade, como a Ley de Medios argentina, à censura, apenas ratifica que está a favor não do interesse público, mas do das grandes corporações de comunicação, que querem, a qualquer custo, manter seus monopólios de edição e distribuição, sem restrições.
Esquece-se a SIP de mencionar que o Clarín, cujos representantes prestigiaram de bom grado a reunião, recusa-se a cumprir as exigências da nova lei, que limita a concentração de mercado, resistindo às decisões judiciais e passando por cima da agência reguladora do setor.
O grupo, que forma o maior conglomerado de mídia da Argentina, tem sete vezes mais licenças que o estabelecido, controlando 47% do mercado argentino através de suas subsidiárias.
Apenas para constar, a lei de meios argentina foi apontada pelo relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Liberdade de Opinião e de Expressão, Frank La Rue, como modelo, por promover os princípios da diversidade de meios de comunicação e do pluralismo de ideias que, segundo La Rue, são fundamentais para garantir a liberdade de expressão.
Ao divulgar, durante a assembleia, pesquisa indicando que 63% dos diretores de veículos de comunicação da América Latina se sentem pressionados pelos governos, considerando-os as maiores fontes de ameaça à liberdade de imprensa, a SIP pretende subverter a razão e colocar no papel de vilões aqueles que têm assumido o seu papel legítimo e responsável de avançar na democratização dos meios de comunicação.
Novamente tentando demonizar o governo da Venezuela, em relatório apresentado pelo editor do jornal El Regional del Zulia, Gilberto Urdaneta, a SIP afirma que "o que se vive no país em consequência da alta polarização política é atentatório para o livre exercício jornalístico” e que “a intolerância chega a níveis extremos".
No entanto, nada diz sobre a parcialidade com que os jornais privados cobrem os assuntos políticos e a forma como se engajam na mobilização anti-Chávez.
De acordo com levantamento realizado pelo Centro de Análises e Estudos Estratégicos Aluvión, daquele país, citado pelo site Opera Mundi, dados relativos aos cinco principais jornais privados venezuelanos, coletados entre 24 e 30 de setembro (pouco antes das eleições de 7 de outubro) mostram que o número de termos negativos para Chávez foi de 99% do total das referências feitas, enquanto que para o candidato da oposição, Henrique Capriles, ocorreu o inverso: 87% de termos utilizados foram positivos e 13% negativos.
Os participantes da SIP aproveitaram o momento também para fazer a defesa do direito à privacidade, embora apenas da classe artística e não de todos os cidadãos, conforme garante a Constituição.
Porém, não se ativeram a questões como o direito de reposta e de imagem, tão desrespeitados no Brasil, onde são raras as punições com aplicação de multas ou concessões de direitos de resposta, exatamente por não haver uma regulamentação que os assegure.
Também não se pronunciaram sobre grave episódio de violação de privacidade, praticado e confessado, por jornalista da revista Veja, considerada uma das maiores publicações semanais brasileiras.
A assembleia da SIP apenas criou circunstância de deixar patente a sua verdadeira vocação: a de defender os cartéis midiáticos controlados por aqueles que ela representa e reforçar que se julgam “intocáveis”, acima do bem e do mal.
Ou seja, que seguirão rotulando como atentado à liberdade de expressão qualquer tentativa de propiciar maior diversidade e pluralidade no setor de comunicação.
Felizmente, os ventos de mudança sopram na América Latina, com políticas de democratização e regulamentação de mídia levadas a cabo por diversos governos progressistas.
Aqui no Brasil, onde esses ventos tardam a chegar, é preciso avançar nesta questão e deixar claro, de uma vez por todas, que o que temos não é uma imprensa livre, mas sim uma imprensa cujos proprietários dos meios têm liberdade para agir como querem e atingir quem quiserem, alheios ao bem da democracia e ao direito fundamental do cidadão à informação de qualidade.
José Dirceu



Falha joga a toalha: Com 52% de rejeição, Serra terá dificuldades para virar o jogo

18 de Outubro de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

A vantagem de Haddad (PT) sobre Serra (PSDB) no segundo turno encontra equivalências em eleições anteriores. Diferenças que variam de 16 a 21 pontos percentuais entre os finalistas a dez dias do pleito foram observadas em quatro das cinco eleições definidas em segundo turno na capital. A exceção ocorreu em 2004, quando, no mesmo período, Serra liderava com 10 pontos sobre Marta (PT).
Em todas essas eleições quem estava na frente, nessa mesma época, foi eleito. Maluf (PDS) em 1992 tinha 18 pontos de vantagem sobre Eduardo Suplicy (PT). Pitta (PPB) abriu 21 pontos sobre Erundina (PT) em 1996. Em 2000 Marta conseguia 19 pontos sobre Maluf. E em 2008 Kassab (DEM) alcançava 16 pontos sobre a petista.
Pelos dados, o desafio de Serra não é fácil. Apesar da taxa elevada de indecisos e de um percentual razoável de eleitores que cogitam mudar o voto, o potencial de captação do tucano é reduzido por sua alta rejeição: 52% dos paulistanos dizem que não votariam de jeito nenhum em Serra e 88% querem um governo diferente do de Kassab.
A liderança de Haddad reflete essa reprovação, essa insatisfação do paulistano com sua cidade. Como revelou o projeto DNA paulistano, dos 96 distritos da capital, apenas oito receberam notas maiores do que em 2008.
Quando se cruza a intenção de voto pelo conjunto de bairros que ficam acima ou abaixo da média de satisfação, o resultado explica o cenário eleitoral. Nos bairros de notas mais elevadas, Serra vai a 45% a 38% de Haddad. Nos distritos abaixo da média de satisfação, o petista chega a 56% contra 24% do tucano.
Temas que não atendam às demandas dos bairros pouca influência terão no desfecho da disputa. Os debates e as propagandas oficiais são espaços privilegiados para responder à opinião pública. É atribuição de quem se pretende representante ouvir o que os representados têm a dizer.
Mauro Paulino - Diretor-geral do Datafolha
Alessandro Janoni - Diretor de Pesquisas do Datafolha
No Falha



Vinicius de Moraes - 99 anos

18 de Outubro de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

 IMPERDÍVEL 



A mais bela derrota da eleição gaúcha

18 de Outubro de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

A política regalou em 2012 mais um superlativo à coleção de máximas de Rio Grande: a mais bela derrota das eleições municipais de 7 de outubro.
O surpreendente revés de Fábio Branco, prefeito candidato à reeleição pelo PMDB, traduz significados mais extraordinários e inspiradores do que a inesperada vitória de seu concorrente, Alexandre Lindenmeyer, do PT. Quando as urnas foram abertas, apenas 3.215 eleitores da cidade haviam votado em branco entre os 116.644 votos válidos. Mas, somando a votação do vitorioso aos dos outros três candidatos nanicos não eleitos, a conta final mostra que 57% do eleitorado decidiu não votar em Branco, o Fábio.
Somados aos 5,67% de votos não válidos (brancos e nulos), mais de 62,5% dos eleitores de Rio Grande rejeitaram o voto em Branco. É sempre bom lembrar que, na base dessa sanção popular, pode estar um filho ilustre e uma figura superlativa da cidade, que sobrevoa como um fantasma a história do país e a biografia do prefeito: o general Golbery do Couto e Silva (1911-1987).
Branco, o prefeito, e Golbery, o general: o branco na história e nas urnas.
Foto: riogrande.rs.gov.br
Um ano antes da eleição, o prefeito ousou usar eleitoralmente a imagem do general que foi figura chave na queda do presidente João Goulart e na conspiração do golpe de 1964, sem considerar a afronta que cometia à memória dos brasileiros — aí incluídos os seus conterrâneos da cidade e do Estado.
rio grande golbery
Prefeito Fabio Branco e major lançam homenagem a Golbery
Foto: Fernanda Miki/Prefeitura de Rio Grande
Era agosto de 2011, o mesmo mês em que o Rio Grande do Sul lembrava com orgulho o cinquentenário da resistência do povo gaúcho na Campanha da Legalidade de 1961, que garantiu a posse de Jango contra o manifesto golpista escrito pelo coronel Golbery e lido pelos ministros militares. Insensível à história dos gaúchos, Branco atravessou descuidado aqueles dias de festa do povo gaúcho para plantar em praça pública um busto em homenagem ao general Golbery que, entre outras façanhas, gerou o SNI, criatura do regime onisciente que ele tardiamente deserdou como “monstro”.
O exagero na terra dos superlativos sepultou precocemente as pretensões eleitorais do prefeito, que tinha a obrigação de honrar a memória de sua gente e de respeitar a história de sua própria cidade. Por alguma razão, Branco desdenhou o que era e ignorou onde estava.
A cidade gaúcha de 200 mil habitantes, a 317 km de Porto Alegre, já tem o segundo porto mais movimentado de cargas do país (atrás de Santos) e é o centro mais rico da empobrecida Metade Sul do Estado. Sua refinaria e o dinamismo do porto, onde escoa boa parte da produção agropecuário da região, dão a Rio Grande o 4º maior PIB estadual, atrás apenas da capital, de Canoas e de Caxias do Sul.
Economia em alta: em março, em Rio Grande, ocorreu a
1ª Feira do Polo Naval do RS, com produtos focados na área
Foto: Claudio Fachel/Palácio Piratini
A situação ainda deve melhorar com a implantação do Polo Naval, que inclui o investimento de R$ 14 bilhões na construção de diques, estaleiros, navios e plataformas marítimas para exploração de petróleo. Trinta empresas estão instaladas na área, sete em construção e outras 22 em projeto, gerando cerca de 40 mil empregos diretos e indiretos até 2017 nos setores de fertilizantes, logística, alimentos, madeira, química e metalurgia.
Só a Petrobrás emprega ali seis mil operários para construir três grandes plataformas — uma delas, a P-55, considerada pela empresa como a maior plataforma semissubmersível já construída no país. Um novo cais de 4.580 metros vai ancorar ali o maior estaleiro naval do continente, capaz de construir quatro plataformas simultaneamente. Tudo isso fará a população dobrar para 450 mil habitantes em 2020 e deve quadruplicar o orçamento anual do município, batendo em R$ 800 milhões.
Rio Grande, com tudo isso, não poderia ficar de fora da bíblia dos superlativos, o livro dos recordes, o Guinness Book, que lhe conferiu a duvidosa glória de ter a mais extensa praia do mundo: Cassino, uma ventosa franja de areia e mar aberto, frio, feio e cinzento que se prolonga por 254 tediosos quilômetros em linha reta até Chuí, o extremo sul do Brasil. Há quem goste.
O nome vem dos tempos feéricos em que o jogo era permitido no Brasil e dava emprego a 40 mil pessoas nos salões de jogos de 70 cassinos espalhados pelo país. Um dos salões estava no antigo hotel Stella Maris, o local mais frequentado do balneário mais antigo do litoral brasileiro, inaugurado em Rio Grande em 1890 e que deu o nome à praia do Cassino, distante apenas 18 km do porto. A decadência do balneário começou em 1946, quando o presidente Eurico Gaspar Dutra assinou o decreto que proibiu as roletas e o jogo.
O marechal mandava no país, mas quem mandava nele era Carmela Teles Leite Dutra, sua mulher. ‘Dona Santinha’, como gostava de ser chamada, era uma rotunda e pia senhora católica, que segundo a lenda mudou a história em 1946, impondo ao marido presidente as leis que tornaram ilegais no país os cassinos e o Partido Comunista Brasileiro, dois pecados mortais que sua fé extremosa não admitia.
Dona Santinha, a patroa, e o presidente Dutra.
Foto: Revista Life
Exatamente meio século depois, surgiu no pano verde do poder em Rio Grande um sobrenome ainda mais superlativo do que o santo apelido da monacal patroa de Dutra: os Branco, a dinastia política mais duradoura da história recente do Rio Grande do Sul. Nos últimos 16 anos, desde 1996, havia sempre um Branco na prefeitura da cidade, a partir da democracia restaurada pela Constituinte de 1988. Nas duas décadas anteriores de ditadura, sob a mão dura do poder verde-oliva do AI-5, o povo foi banido das urnas pelas cartas marcadas dos militares, que transformaram Rio Grande em ‘área de segurança nacional’. Prefeito naqueles tempos, graças ao pretexto do porto superlativo, só era nomeado pelos quartéis.
O primeiro Branco da dinastia riograndina surgiu em 1996, quando 33 mil votos levaram Wilson Mattos Branco à prefeitura. Perdeu a reeleição em 2000, vítima de um AVC no final do mandato. Foi substituído às pressas pelo assessor e sobrinho, um jovem de 29 anos chamado Fábio Branco, eleito com 51 mil votos e o braço amigo de um poderoso padrinho político, o deputado federal Eliseu Padilha. Em 2004, o bastão da família foi repassado para Janir Branco, filho de Wilson e primo de Fábio, eleito prefeito com 83 mil votos. Na eleição seguinte, 2008, Fábio voltou à prefeitura, a bordo de 60 mil votos. Se tivesse sido reeleito, agora em 2012, Fábio completaria duas décadas de Branco na prefeitura da cidade — o tempo de poder que PSDB e PT, em épocas distintas, sonharam viver no Palácio do Planalto.
Alexandre Lindenmeyer: uma vitória descoberta na véspera
Foto: Flickr
O longevo projeto dos Branco foi interrompido pela inesperada vitória do advogado Alexandre Lindenmeyer, ex-vereador e atual deputado estadual pelo PT. Foi uma revanche pessoal, já que Alexandre tinha perdido a prefeitura justamente para Fábio em 2000. A derrota parecia que iria se repetir agora, já que Fábio Branco, além de liderar um guarda-chuva de 15 legendas na sua coligação, vencia em todas as pesquisas com boa folga. Três dias antes da eleição de 7 de outubro, o semanário Folha Gaúcha dava oito pontos de vantagem ao candidato do PMDB contra o do PT: Branco tinha 45,8% da preferência e Lindenmeyer, 37,9%.
Na véspera da eleição, acendeu o sinal amarelo: o jornal Agora publicou pesquisa do Instituto Studio indicando uma virada no eleitorado. Lindenmeyer ultrapassava Branco, com 38,1% contra 36%. Um número elevado de eleitores, 17%, mostrava indecisão na boca da urna, enquanto Branco aparecia com a maior taxa de rejeição, 20,2%.
Devia ser, em parte, alguma vindita do eleitor contra o desdém de Branco à opinião do cidadão comum e à historia como um todo. Negligência que atingiu seu ápice com a desastrada homenagem a Golbery, aliás uma ideia alheia que o jovem prefeito comprou sem reservas. Quem teve a iniciativa foi outro riograndino ilustre, igualmente polêmico: Ronald Levinsohn, dono no Rio de Janeiro do complexo Univercidade, com 35 mil alunos, e hoje próspero fazendeiro no Oeste da Bahia, onde já teve 400 mil hectares. Ficou tristemente famoso em 1983, envolvido num dos mais rumorosos escândalos financeiros do regime militar: a quebra do Grupo Delfin, a maior empresa de poupança privada do país, que tinha três milhões de depositantes espalhados em 83 agências país afora. Sofreu intervenção do Banco Central apesar do braço camarada do amigo e general Walter Pires, então ministro do Exército do Governo Figueiredo.
Levinsohn tinha outro amigo general: Golbery do Couto e Silva, nascido em Rio Grande como ele. Em 2009, dois anos antes do centenário de nascimento do general, Levinsohn ligou para um vereador do PMDB na cidade, Renato Albuquerque, e disparou:
— Renato, tu não acha que tá na hora de fazer uma homenagem para uma pessoa tão importante como o Golbery?
O vereador achou, e o prefeito embarcou na onda. Entre outras benfeitorias, lembraram que Golbery, chefe da Casa Civil de dois presidentes da ditadura (Geisel e Figueiredo), viabilizou os recursos para captar água do canal São Gonçalo, ajudou a federalizar a universidade local e transferiu o 5º Distrito Naval de Florianópolis para Rio Grande.
O chefe de gabinete do prefeito, Edes Cunha, com passagem pela ARENA, a legenda da ditadura, justificou a homenagem: “Golbery entendia a importância estratégica de Rio Grande para o Cone Sul. Dizia que a cidade era a vesícula dos mares”.
Ronald Levinsohn e Renato Albuquerque: a vesícula e o fígado
A homenagem a Golbery era, também, um soco no fígado da história nacional. O benfeitor de Rio Grande, na verdade, era um malfeitor da democracia no Brasil, contra a qual conspirou desde os anos 1950. Depois de lutar contra o nazifascismo em 1944, na FEB enviada ao front italiano, o coronel Golbery virou o fio e começou sua carreira de conspirador. Carrega na sua folha funcional o raro privilégio de ter derrubado João Goulart duas vezes.
Em 1954, quando Jango era ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, Golbery redigiu o manifesto de 82 coronéis e tenentes-coronéis que protestavam contra o aumento de 100% do salário mínimo. A conspiração levou à queda de Jango. Dez anos depois, em 1964, quando Jango era presidente, Golbery ajudou a montar a conspiração civil-militar que preparou o golpe durante os três anos anteriores, sob a camuflagem do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, o IPES, que ele coordenava mobilizando 320 dos maiores empresários do país, de famílias tradicionais a poderosas corporações estrangeiras, articulados com os grandes grupos de mídia.
O general Golbery, Jango e Brizola: o cassador e a caça.
Golbery perdeu em agosto de 1961, aos 50 anos de idade, quando a resistência do povo gaúcho na Legalidade, sob a liderança do governador Leonel Brizola e o peso do III Exército, prevaleceu sobre o ultimato dos ministros militares, que se opunham à posse do vice João Goulart na vaga aberta pela renúncia inesperada do ébrio Jânio Quadros.
O autor do manifesto golpista dos ministros militares era o ubíquo Golbery. O Rio Grande do Sul ainda festejava o cinquentenário dessa épica vitória democrática quando o desastrado prefeito Fábio Branco embarcou na homenagem intempestiva ao general que afrontou a vontade do povo gaúcho e desrespeitou a Constituição.
No dia 21 de agosto, centenário de nascimento do general, Branco presidiu cerimônia na praça Tamandaré, no centro da cidade, lançando a pedra fundamental de uma placa em homenagem a Golbery. O mimo foi doado pelo amigo e conterrâneo Levinsohn. A lei proposta pelo cordato vereador Renato Albuquerque tinha sido aprovada, sem alarde, pela minoria da Câmara de Vereadores, no ocaso de 2009. Só seis vereadores, menos da metade dos 13 integrantes da Câmara, votaram a favor, com dois votos contra.
Cinco estavam ausentes, entre eles o vereador Lindenmeyer, agora eleito prefeito. A lei nº 6.835 foi assinada na surdina dez dias depois pelo prefeito Fábio Branco, no dia 31 de dezembro, quando a cidade e o país, desatentos, só tinham ouvidos para o espocar das rolhas de champanha e os fogos de artifício da madrugada do réveillon.
Cobrado pela contradição histórica eternizada na praça entre o general de duas faces, simultaneamente benfeitor municipal e malfeitor nacional, o prefeito erigiu um dos mais majestosos monumentos à boçalidade política, dando uma resposta que ficará como marco pétreo à leviandade de todas as épocas:
Fábio Branco: pouca informação sobre o golpe
Foto: Prefeitura de Rio Grande
— Eu não quero fazer juízo sobre a ditadura de 1964. Eu nem era nascido… — respondeu o jovem de 40 anos. Parido no ano da graça de 1971, quando o país padecia sob o tacão de ferro e sangue do general Emílio Garrastazú Médici, seu conterrâneo gaúcho de Bagé, o prefeito Branco afrontava também a memória do próprio partido, o PMDB, herdeiro do MDB velho de guerra e do PTB de Jango e Brizola, as legendas e líderes mais perseguidos pelo regime confabulado por Golbery e seus comparsas durante os 21 anos de arbítrio.
A heresia de Branco, confissão de um crime de lesa-memória, passou em branco pelas lideranças políticas do partido, do Estado e do país. Só não sobreviveu ao julgamento implacável do povo de Rio Grande. Nenhum deputado, nenhum senador do Congresso Nacional, fechado três vezes pelos atos de força do regime do malfeitor Golbery, se sentiu ofendido pela explícita leviandade do prefeito bobinho de Rio Grande. Nenhum líder histórico do velho MDB ou do novo PMDB, todos nascidos e crescidos bem antes das malfeitorias antidemocráticas de Golbery, contestou a frase boboca do prefeito Branco, que também não deve ter nenhum juízo sobre o nazismo e a escravidão, detalhes escabrosos da história ocorridos muito antes de seu nascimento.
É mais prudente ficar com a opinião de um jovem e corajoso historiador de Rio Grande, Chico Cougo, de tenros 25 anos, nascido em 1987, 16 anos depois do prefeito sem juízo, quando o país vivia sob a democracia adolescente da Nova República de José Sarney.
“A urna pune”, escreveu Cougo em seu blog (www.memoriasdochico.com), com o senso histórico que o Branco prefeito de Rio Grande ainda não conseguiu apreender em sua cachola. Foi ele que escancarou na Internet a incrível e desmiolada travessura do prefeito de sua terra, garantindo a ele lugar cativo na crônica política do país. Cougo observou outra coisa muito importante: Renato Albuquerque, o vereador que comprou a evanescente ideia de Levinsohn transformada em lei inconsequente por Branco, não conseguiu se reeleger. Teve míseros 1.152 votos — 717 votos menos do que as 1.869 assinaturas colhidas num manifesto na Internet protestando contra o monumento na praça a Golbery.
O surpreendente resultado das urnas não mostra apenas que Rio Grande não votou em Branco.
A eleição guarda uma lição ainda mais superlativa.
A boçalidade em política não passa em branco pela memória do eleitor.
Luiz Cláudio Cunha, jornalista, nunca vota em branco.
Cunha.luizclaudio@gmail.com
No Sul21



Datafolha aponta Fruet 16 pontos à frente de Ratinho

18 de Outubro de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Edição/247: fruet ratinho jr
De acordo com o instituto Datafolha, Gustavo Fruet (PDT) tem 52% das intenções de votos, enquanto Ratinho Júnior (PSC) aparece com 36%; transferência de votos dados ao prefeito Luciano Ducci (PSB) no primeiro turno é maior para Fruet
Após pesquisa do Instituto IRG apontar vantagem de 12 pontos de Gustavo Fruet (PDT) sobre Ratinho Júnior na disputa de segundo turno à Prefeitura de Curitiba, levantamento do Datafolha revela distância ainda maior entre os dois candidatos. De acordo com o instituto, Fruet tem 52% das intenções de votos, enquanto seu adversário aparece com 36%.
Quando se trata de votos válidos, Fruet aparece com 60% e Ratinho, 40%, pois 8% dos entrevistados afirmaram que votarão em branco ou nulo e os indecisos somam 4%. As pesquisas de segundo turno revertem o quadro estabelecido no primeiro turno, quando Fruet ultrapassou o prefeito Luciano Ducci (PSB) na reta final de campanha.
No primeiro turno, Ratinho teve 34,09% dos votos válidos, enquanto Fruet ficou com 27,22% dos votos, uma diferença de menos de um ponto percentual em relação a Ducci (26,77%). A pesquisa destaca que 55% dos eleitores de Ducci pretendem votar em Fruet. Para Ratinho, a transferência de votos do socialista é de 24%.
A pesquisa foi feita nos dias 17 e 18 de outubro e contou com 1.267 entrevistados. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. Encomendado pela Folha e pela RPC TV, o levantamento foi registrado na Justiça Eleitoral com o número 00679/2012.
No 247