'O movimento ambiental é imoral', diz Richard Lindzen
junio 28, 2012 21:00 - no comments yetMais conhecido cético do clima, cientista diz que o problema não é o aquecimento global, mas o castastrofismo e o discurso contra o desenvolvimento
Antes um dos mais prestigiados cientistas climáticos do mundo, o americano Richard Lindzen, professor de Meteorologia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), virou ovelha negra depois de "mudar de lado", como ele mesmo diz. Integrante dos primeiros relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), ele passou a criticar os modelos com previsões alarmantes sobre as consequências do aquecimento do planeta e o uso político do discurso ambiental. Para ele, não há provas de que a elevação da temperatura da Terra aumentará o número de desastres climáticos. Sua nova posição angariou numerosos detratores e acabou por prejudicar a divulgação de suas pesquisas, contou ele em entrevista ao Globo, por telefone, de seu laboratório em Cambridge, Massachusetts.
O senhor acredita que o dióxido de carbono é um gás de efeito estufa cuja concentração está aumentando e provoca um processo de aquecimento global?
RICHARD LINDZEN: Para começar, vamos deixar algumas coisas claras. É claro que o CO2 é um gás do efeito estufa, que sua concentração aumentou nos últimos 150 anos, que provoca leve aquecimento do planeta e que o homem tem influência nisso. Tudo isso nunca esteve sob questão, todos os cientistas climáticos sérios acreditam nisso. O que não está claro é se tudo isso terá as implicações alarmantes que vemos apresentadas como fatos científicos. As pessoas não veem que o argumento principal é outro, que isso está sendo usado como razão para dizer que o desastre está a caminho e temos de destruir nosso atual sistema de energia para evitá-lo. O que vemos é a extrapolação de algo que é trivial para uma alegação de que a Terra está em perigo.
Mas a ação humana não está alterando o equilíbrio da Terra?
LINDZEN: A Terra nunca está em equilíbrio. O planeta é um sistema dinâmico que está sempre mudando. Se um dia ela parar de mudar, aí sim saberemos que estamos com problemas. A questão é como estamos lidando com isso. Não há evidências de que há uma grande sensibilidade do clima ao CO2. Não há nada que comprove os modelos climáticos de que a Terra vai se aquecer muito e que isso terá consequências catastróficas.
E quanto aos dados que mostram que na última década tivemos alguns dos anos mais quentes já registrados?
LINDZEN: O que as pessoas não percebem é que os registros não mostram um aquecimento significativo nos últimos 15 anos, como deveria acontecer de acordo com as previsões dos modelos climáticos do IPCC. A temperatura média global subiu um pouco até 1995, mas desde então ela está estacionada nesse nível mais alto e não se moveu. Assim, os modelos têm que ser ajustados para refletir isso. É como um aluno fazendo uma prova já sabendo seu gabarito. Ficar ajustando constantemente os modelos para que eles se conformem à realidade não é ciência, é fraude. Além disso, os registros não são tão longos e nem tão precisos para que possamos afirmar que a Terra está mais quente do que em qualquer momento anterior da História.
Mas esse aquecimento, mesmo leve, não é preocupante?
LINDZEN: A elevação calculada da temperatura média global nos últimos 150 anos, de entre 0,7 e 0,8 grau Celsius, não é nem de longe significativa. Quanto a temperatura varia do dia para a noite no Rio de Janeiro? Aqui em Boston, essa variação supera em muito os 10 graus. Então, estamos falando de uma mudança muito pequena na temperatura média global e é uma loucura dizer que isso é o fim do mundo.
Sua crítica então é quanto ao discurso em torno das mudanças climáticas?
LINDZEN: Exato. O movimento ambientalista é imoral. Com seu discurso, estamos negando a bilhões de pessoas a possibilidade de ter acesso a energia para viver decentemente e, com a política que os ambientalistas querem implementar, elas nunca terão. É claro que todas as pessoas gostam de ter ar e água limpos, um ambiente agradável para se viver. Então, qual o significado de se ter um movimento em torno de questões em que todos concordam? Sua finalidade é empurrar uma agenda política que prevê zero de crescimento populacional, impede o desenvolvimento dos países mais pobres etc. Como podemos dizer para os países da África que eles não podem usar combustíveis fósseis para melhorar a qualidade de vida da sua população? Vamos atrapalhar o crescimento da China, da Índia ou do Brasil porque tememos sua concorrência? Em Paris, os caminhões de lixo são verdes, e os garis vestem roupas verdes. É este o tipo de emprego verde que eles querem criar?
O mundo então não deve conter as emissões de carbono?
LINDZEN: O CO2 não tem nada a ver com ar limpo. Carbono é do que eu, você, todo mundo é feito, ele não é um poluente. Ao se focarem nisso, as discussões esquecem os verdadeiros poluentes, muito mais perigosos. O CO2 é essencial para a existência da vida, para o crescimento das plantas. Como podemos chamar de poluente algo de que precisamos tanto? Mais uma vez, a questão é explorada politicamente para assustar as pessoas. Recentemente, correu nos EUA a história de abaixo-assinados que pediam o banimento de um perigoso composto químico, o monóxido de dihidrogênio. Várias pessoas assinaram sem perceber que na verdade estavam pedindo o banimento da água! Elas estavam apenas querendo se livrar de uma coisa que dizem que é um problema sem ao menos entendê-lo. É assim que o discurso do aquecimento global está sendo usado. Os ambientalistas dizem que dois e dois são quatro e logo perguntam: "O que fazer sobre isso?"
A influência humana no clima pode então ser negligenciada?
LINDZEN: Acho que provavelmente contribuímos com algo entre 0,25 e 0,5 grau Celsius do aquecimento calculado nos últimos 150 anos e devemos acrescentar mais ou menos o mesmo nos próximos 200. Minha pergunta é: quem disse que isso é um problema? Por que o aquecimento global é tratado como o fim do mundo?
Mas também não estamos vendo um aumento de eventos climáticos extremos?
LINDZEN: Na verdade, não. Eventos extremos sempre ocorrem em algum lugar do mundo todo ano. Os EUA, por exemplo, não veem um grande furacão desde o Katrina (em 2005), o que segundo os modelos alarmistas deveria ser cada vez mais frequente. Mais uma vez, não se percebe que o que alimenta as grandes tempestades é a diferença de temperatura entre os trópicos e os polos e que, com o aquecimento global, essa diferença tende a diminuir. Com isso, teremos menos e não mais tempestades severas. Mas esse discurso não assusta ninguém, enquanto dizer o contrário parece excitante.
Novamente, é um uso político do discurso ambiental?
LINDZEN: Sim. Pode-se usar mal a linguagem, o que é um erro, ou dizer o oposto da verdade, o que é uma mentira deslavada. Temos um mundo que está progredindo, mas achamos uma vergonha o que estamos fazendo. Isso sim que é insano e extremo. O aquecimento global em si não é perigoso, mas as políticas que estão sendo propostas para combatê-lo é que certamente são perigosas. Elas vão manter as pessoas pobres e sem acesso à energia barata. E, mesmo que se acredite nas previsões catastróficas, as políticas propostas não terão efeito nenhum. Para realmente fazer alguma diferença, seria necessário reduzir em 60% a 70% as emissões de gases-estufa, o que para os EUA e a Europa significaria voltar para o início do século XX, enquanto para Brasil, Índia ou China seria parar totalmente de crescer. Precisamos esquecer o clima e nos focar nos problemas reais da Humanidade, como eliminar a malária ou garantir o acesso de todos à água limpa. Tudo isso custaria muito pouco e pode ter um grande efeito na qualidade de vida das pessoas. Combater as mudanças climáticas está tirando recursos que seriam mais bem usados em outras questões mais importantes.
No O Globo
Mia Couto e a paz
junio 28, 2012 21:00 - no comments yetUm dos escritores em língua portuguesa mais traduzidos para o mundo fala dos 20 anos de paz em Moçambique, e de como as guerras mexeram com seu país e sua literatura
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Mia Couto deixou o curso de medicina para infiltrar-se nos jornais coloniais (Foto:ULF Andersen/Getty Images) |
Há 20 anos, a guerra civil travada entre o grupo governista Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e as forças rebeldes da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) chegava ao fim. Há 20 anos, o escritor moçambicano Mia Couto lançava seu primeiro romance. Terra Sonâmbula tem o conflito como pano de fundo para a história de um velho e um menino que encontram em um baú perdido cadernos com escritos sobre a desesperança. No livro, o autor mistura numa narrativa saborosa o idioma escrito e a tradição oral africana.
Moçambique enfrentou dez anos de guerra. Primeiro, para se emancipar de Portugal. Com a fundação da República Popular de Moçambique, em 1975, o governo foi entregue à Frelimo, partido único, de orientação socialista. Após a independência, mergulhou em novo conflito, na disputa interna pelo poder, até a assinatura do Acordo Geral de Paz entre os dois grupos, em 1992. Hoje, Frelimo e Renamo são partidos e disputam pacificamente o poder. Antes, a partir de 1986, com a morte do ditador e herói libertador do país, Samora Machel, o governo liderado Joaquim Chissano promoveu aberturas no regime e na economia.
Mia Couto foi membro da Frelimo. Durante a guerra pela libertação, deixou o curso de Medicina para infiltrar-se nos jornais coloniais e trabalhar a serviço do ideais da independência. Não integra mais o partido. No Brasil, teve dez títulos publicados. Durante as três últimas décadas, intensificou a dedicação à atividade de biólogo e pesquisador, criou e dirige uma empresa que faz estudos de impacto ambiental e leciona ecologia na maior universidade de Moçambique. Nesse ínterim, tornou-se um dos escritores de língua portuguesa mais traduzidos no mundo.
Como foram esses 20 anos de paz para o país, politicamente e socialmente?
Quando acontece a conversação de paz, há conciliações em nível profundo, das crenças e das vozes. Houve alguma celebração, sim, mas a grande celebração mesmo foi quando começou a chover, porque naquela altura havia uma grande seca. E a interpretação é que, se chove, os deuses estão compatibilizados com as pessoas. A paz foi um milagre. Eu sou ateu, mas acredito nisso com apreciação. As pessoas entenderam que aquilo que era mais profundo, essa harmonia com entidades divinas, havia sido alcançado. Isso explica por que, de repente, não havia mais tiros, não havia mais violência. Se fosse uma guerra clássica, provavelmente grupos continuariam atuando, mas foi proclamada a paz e não aconteceu mais nada. Nenhum comando militar conseguiria isso sozinho.
O que essas duas décadas significaram para você pessoalmente, como escritor?
Eu já não tinha crença em que íamos conseguir a paz em um golpe só. As cidades viviam situação de cerco absoluto. E este é um país de grandes extensões, temos essa coisa que a África proporciona, essa noção do grande espaço, com horizontes sem limites. Quando houve a confirmação de que realmente havia acabado a violência eu saí com meu irmão de carro. Era manhã cedo e, quando conseguimos passar o cerco, tivemos de parar o carro, porque estávamos em lágrimas. Era uma grande comoção, por causa da saudade desse sentimento do grande espaço. Havia um sentimento de saturação. Havíamos chegado ao limite, as pessoas não tinham o que comer, não tinham motivo para ter esperança, não sabiam o que dariam aos seus filhos no futuro. O sentimento era de um vazio, de modo que quando houve paz a sensação foi de grande euforia, porque a história deste país é muito intensa.
O país só começou a renascer 17 anos depois de sua independência.
Sou mais velho que o país, ajudei seu parto e estou a assistir a seu crescimento. Meus livros, mesmo não tendo uma relação política tão direta, são profundamente contaminados por aquilo que estava a acontecer. Eu escrevi A Varanda do Frangipani logo a seguir à guerra e já como alerta de que essa euforia ia ser surpreendida, porque a herança da guerra era tão presente que íamos tropeçar nela. O Último Voo do Flamingo, por sua vez, foi em cima dessa experiência de construção da paz. Aponta também que precisamos entender melhor as razões profundas da violência interna em Moçambique. No país que se tinha arrumado de uma certa maneira durante a guerra, milhares de pessoas que haviam se descolado de sua terra durante muito tempo depois regressaram. Esse regresso gerou situações socialmente e literariamente muito ricas. Houve uma espécie de nova geografia humana, redesenhada em um espaço muito breve. Os conflitos sociais que emergiram, quando se reocuparam esses sítios antes vazios, foram enormes. Às vezes, pensava que, se eu não entendia a guerra, também não iria entender a paz.
E para a literatura moçambicana, de um modo geral, qual foi o peso desse conflito?
Do ponto de vista da literatura, a guerra teve consequências gravíssimas. A Renamo, quando atacava uma aldeia, começava pela escola e matava os professores. E a escola deixou de existir em grande parte deste país. E era a escola o único veículo da língua portuguesa e era ela que fazia chegar os livros. Um trabalho imenso poderia ter sido feito para criar familiaridade com a escrita, mas houve um corte. E este é um país da oralidade. Poderíamos ter muitos jovens escrevendo e trazendo novas propostas. Há muito mais dinâmica nas artes plásticas, no teatro, do que na literatura.
Mas há hoje grandes escritores moçambicanos, Ungulani Ba Ka Khosa, Paulínia Chiziane e o senhor, que produziram durante a guerra e se inspiraram na história do país. E seus livros são bem aceitos em diversos países.
Acho esse grupo muito pequeno. A literatura não se faz com cinco ou seis escritores, mesmo que tenham projeção internacional. É um bem maior, inclui leitores, bibliotecas e discussões literárias. Antes de a guerra entrar nas cidades, houve um movimento grande nas associações de escritores, o movimento da Kuphaluxa, de onde saiu Ungulani Ba Ka Khosa e Eduardo White, mas logo isso deixou de existir. Então, quando eu falo do preço que a guerra teve para a literatura, estou a falar do grande contexto. Mas a guerra – é quase criminoso dizer isso, é politicamente incorreto – proporciona motivos únicos. Ela é um espetáculo de horror e ao mesmo tempo é uma oportunidade de perceber alguma coisa que em situações de normalidade não ocorre. Vi atos de heroísmo de gente que eu não esperava, das quais eu nunca esperaria uma entrega, uma generosidade. Eu vi a alma humana em espetáculo, por assim dizer, na sua totalidade, exibindo-se no que é bom e no que é mau. Nós nos sentíamos tão agredidos e vazios que precisávamos inventar, criar, resistir. A escrita se tornou um exercício de resistência contra esse deserto que a guerra criou.
Durantes as guerras – 26 anos entre o início de uma e o fim de outra –, como o senhor diz, a alma humana estava em espetáculo, e os assuntos brotavam do chão. E quando houve a paz?
As duas guerras não são comparáveis. A Guerra de Libertação transportava um anúncio, uma utopia, ainda que essa utopia não se tenha realizado. Era uma guerra de grande mobilização. A poesia era o grande gênero, porque ela canta o futuro. Havia esse lado épico que contagiou a todos os moçambicanos, mesmo os que depois se levantaram contra a Frelimo. Naquele momento, Afonso Dhlakama (líder da Renamo) era membro da Frelimo. Havia um país inteiro com uma só causa. Meu primeiro livro de poemas nasceu disso. A outra guerra, não. Um dos lados dessa contenda, a Renamo, não produziu nenhum escritor, nenhum homem de cultura que pudesse dar voz ao movimento. Essa guerra foi empobrecedora. E se os escritores encontraram motivos foi pela razão que estou a dizer e também porque escritores não são cronistas só, não fazem só o registro do que está a acontecer, eles estão para além da História.
Um brasileiro urbano, como eu, fica impressionado com a componente mágica da cultura moçambicana. Não há uma divisão? O mundo físico e o mundo espiritual coabitam?
Acredito que entre aqui e o Brasil haja uma diferença de grau, não de qualidade. Acho que a mestiçagem no Brasil foi feita no nível mais íntimo, na relação com o divino. Isso se vê na maneira como o brasileiro receia certas coisas e momentos, como quando se diz “vira essa boca pra lá”. Todo brasileiro é um pouco afro-brasileiro. E ainda bem, porque essa combinação tem propensão à felicidade e ao prazer. Mas de fato, no Brasil, são as razões de Estado, da racionalidade, que imperam, e aqui esse universo mágico, o mundo invisível, comanda.
Nesse período de estabilização houve crescimento e algum grau de ocidentalização. O que mudou no imaginário popular? Como essa cultura, que conta com a figura do feiticeiro e do curandeiro e determina que os antepassados convivem com os vivos, foi afetada?
Naturalmente, com a paz, as pessoas têm de se incorporar à economia e às razões de mercado. Nos últimos dez anos, os jovens moçambicanos estão no mundo, com a internet, com a mídia. E os moçambicanos têm grande potência para ser do mundo. O moçambicano é como o ilhéu, sempre à espera de quem vem. Em um momento de crise, ficam agarrados à sua cultura, mas no geral são muito disponíveis. Houve mudanças nas camadas mais jovens. A tradição não é o passado, ela se moderniza. Hoje, vejo feiticeiros dando consultas com celulares. As pessoas foram capazes de incorporar a modernidade, fazendo com que ela fosse apenas uma ferramenta.
Terra Sonâmbula foi publicado em 1992, o ano em que houve o Acordo Geral de Paz. Os “Cadernos de Kindzu”, narrados no livro, podem ser vistos como aquilo que sobrou da guerra. Como foi escrever naquele período?
Foi praticamente ao mesmo tempo. Comecei a escrever dois anos antes. E a escrita dele foi a única que me deu dores de parto. Posso dizer que sofri para escrevê-lo. Os outros não, eu não tenho aquela coisa do grande escritor que diz que sofre muito, eu não sofro nada, tenho grande prazer. Mas aquilo foi uma coisa dolorosa. Acontecia como uma espécie de visitação. Compulsivamente, eu era tirado da cama. O momento foi muito traumático, porque muitas pessoas presentes na minha vida haviam morrido. Até agora, não consigo fazer luto desses amigos e colegas que foram mortos na guerra. Naquele tempo, eu pensava que não se podia fazer um livro sobre a guerra enquanto ela estivesse a acontecer, mas contrariei esse princípio meu, e já havia sinais de que a paz estava sendo negociada. Publiquei o livro um ou dois meses depois do acordo. Hoje, quando olho pra trás, vejo que o livro tem, sem que eu me percebesse à altura em que o escrevi, uma proposta de reconciliação entre a escrita e a oralidade, a grande reconciliação dos mundos em Moçambique. Esse menino, que de repente se apercebe saber ler e escrever e, por isso, lê os cadernos, tem acesso à modernidade. E o avô, que segue com ele ao longo dessa estrada, tem a ligação com a memória, com as histórias, com as lendas, as raízes mais antigas deste país.
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Posso dizer que sofri para escrever Terra Sonâmbula. Os outros não. Não tenho aquela coisa do escritor que diz que sofre muito. Não sofro nada, tenho grande prazer |
Em 1985, 1986, eu era diretor do jornal oficial do país, Jornal Nacional, e pedi para sair. Tinha uma distância enorme entre aquilo que era prática e o que era proclamação. Eu continuava sendo membro da Frelimo, mas interiormente já havia percebido que a coisa não era a verdade. Quando pedi demissão, não aceitaram. Mas quando saí, finalmente, fiquei livre. Eu sou mais capaz de tirar alguma coisa mais que uma visão partidária, que uma força política, qualquer que seja. Eu quero ser eu.
O senhor se desiludiu?
Há aqui um grupo de gente que se chama de desiludido, que se reclama como uma espécie de vítima, que diz que foi iludido por alguém, que deu o melhor da sua vida, sua juventude, por uma mentira. Não faço parte desse grupo. Eu dei o melhor da minha vida e recebi o melhor da minha vida. Nesse período, eu aprendi muito. Só tenho de dizer graças à vida. Não sou amargo, não tenho rancor. Essa ilusão foi minha também. A visão que eu tinha do mundo era muito simplista, muito esquemática, aquela coisa ideológica, de perceber o mundo segundo a luta de classes: os bons e os maus. O mundo é muito mais complexo que isso. Mas o engano foi meu. Não culpo ninguém.
No entanto, o senhor já disse que acredita nas mesmas coisas...
Eu acredito que é preciso fazer mudanças profundas num mundo que está construído na base da desigualdade, da injustiça, orientado para o mercado, para o lucro, e não para o bem-estar das pessoas. A disposição de brigar por essa mudança está presente mesmo. Eu não fiquei envelhecido, mas não quero transformar isso em uma luta política e partidária. Estou, como escritor, como pessoa, como cidadão, na briga por coisas que são muito concretas para melhorar o mundo.
Em seu livro E Se Obama Fosse Africano? o senhor aponta problemas da democracia na África. Quais são suas expectativas em relação à situação política de Moçambique?
A democracia é valida enquanto dinâmica de confrontos, com forças que controlam umas às outras e impedem excessos e uma partidarização da sociedade. Isso em Moçambique não nasceu; é incipiente, e não só porque alguém abafa e sufoca isso, mas acho que é uma coisa da própria sociedade moçambicana. Eu darei toda minha contribuição para que nasçam mais forças políticas que sejam fortes e tenham a admiração do país. Infelizmente, a Renamo não se converteu nisso. Ela nem sequer é oposição, ela é o Afoisos Dhlakama (líder do partido), com uma vontade enorme de ganância e de poder e de fazer exatamente o que se está a fazer agora. O que Moçambique precisa não é de uma mudança de turno, nesse ponto de vista, de quem o está dirigindo. Não é essa briga de elite que vai salvar o país, mas o aparecimento de forças novas, de gente nova, que tenha um discurso inovador, capaz de produzir alternativas. Eu sou multipartidário nesse sentido. Farei o que puder para fortalecer todos os partidos alternativos sem nunca pertencer a nenhum deles, esse é o serviço que posso prestar à democracia moçambicana. Não me apetece estar a criticar partidos ou pessoas. Quando eu critico a corrupção ou a falta de transparência, critico fenômenos ou tendências sociais, não exatamente alguma coisa que pudesse ser usada como bandeira partidária.
Estevan Muniz No Revista do Brasil
Mia Couto é sócio correspondente, eleito em 1998, da Academia Brasileira de Letras, sendo sexto ocupante da cadeira 5, que tem por patrono Dom Francisco de Sousa.
Minas Gerais, literalmente, quebrou
junio 28, 2012 21:00 - no comments yetO Estado de Minas Gerais está literalmente quebrado! Os dados foram publicados pela própria Assembleia Legislativa de MG revelam a realidade, mas o governo se recusa em aceitar a situação e age como se o problema não fosse com ele e, muito menos, dele.
A impressão que fica após a sua leitura é que o Choque de Gestão virou Curto-Circuito.
Precisamos ressalvar que temos uma baita crise econômica pela frente. Com um detalhe: ela já nos atingiu em cheio!
Não vou discorrer sobre isso, até porque já está nos jornais. E não adianta tampar o sol com a peneira. Ela já está aí.
Enquanto continuarmos pensando ser Minas uma ilha isolada, desconectada do País e do mundo, com os gravames da composição estrutural negativa da nossa produção, vamos continuar sendo uma economia de 5ª categoria, colonial, periférica e, pior, a reboque.
Minas não tem mais empresas de Minas, tem unidades produtoras aqui instaladas.
O que restou são empresas em Minas, sem nenhuma ou pouca/reduzida capacidade de decisão ou de tomada estratégica. De pouca expressão nacional.
Concluímos e vamos divulgar em breve, o XVI Ranking das Empresas Mineiras, quando analisamos mais de 3000 balanços de empresas estabelecidas aqui.
Percebo que não temos “nenhum projeto econômico de envergadura”, capaz de, pelo menos, provocar o início de uma inversão do status quo econômico com que somos prisioneiros seculares. Se bobearmos, vamos começar a comemorar com galhardia, pompa e circunstância, apenas e daqui pra frente, a inauguração de vários carrinhos de pipoca, de algodão doce etc – como se esses fossem soluções e caminhos gerais para o nosso Estado.
Não conseguimos transbordar mais nossas ideias e opiniões para fora. Não é mais a questão ou impeditivo das alturas geográficas e das nossas várias montanhas, é, em grande parte, a falta de meios de comunicação que não saem de nossas fronteiras e que estão literalmente compromissados pela avalanche das ricas e abundantes verbas publicitárias distribuídas sem critérios, que insitem em permanecer misteriosas, não transparentes. Elas calam Minas, antes de tudo!
Não podemos ignorar Minas como a origem do Mensalão.
Com raras exceções, não temos mais nem geração de novos empresários. São poucos os empresários mineiros que sobreviveram.
O processo de transferência de sedes de empresas mineiras e de outras que foram adquiridas, precisa ser melhor compreendido.
Ainda bem que temos o privilégio de contar, ainda, com alguns valorosos empresários, a exemplo do Murillo Mendes, Salim Mattar, Modesto Araujo, Lúcio Costa, Alair Martins, Rubens Menin, Ricardo Eletro, Ricardo Valadares Gontijo, Luiz Alberto Garcia, Domingos Costa, Modesto Araujo, Robson Andrade, Eduardo Borges, Aguinaldo Diniz, Sérgio Cavalieri e Olavo Machado, Vitorio Medioli, Abílio Gontijo, Flávio Pentagna, Fábio e Francisco Guerra, além de alguns outros poucos que cabem na palma das mãos, que teimam e insistem sobreviver nestes cenários contrários. Eu os louvo, admiro e os homenageio como os Tiradentes dos tempos modernos de Minas!
Minas continua exportadora de minérios e mineiros.
Cabe destacar, no entanto, que hoje, aqui Minérios e Mineiros, só têm valor quando deixam Minas!
Esta realidade precisa ser mudada, urgente.
Enquanto o governo estadual busca condenar a atual estrutura dos royalties dos minérios, calamo-nos vergonhasamente diante da inconstitucional e absurda relação da distribuição dos royalties do petróleo, desfrutados por alguns poucos estados e municípios privilegiados. Este sim, é um grande absurdo e aberração nacional, que Minas deveria liderar, rebelar, não transigir e boicotar.
Não denunciamos e nos acomodamos diante da obsoleta e vergonhosa estrutura tributária, em que se rasga literalmente o Pacto Federativo. Todos os Estados são hoje prisioneiros, reféns da União, que abocanha 2/3 da arrecadação nacional e a sua distribuição vem se constituído numa das maiores benesses à corrupção.
Nem a Coroa Portuguesa, com a Derrama e tudo mais, ousou tanto em decisão e concentrou tanto poder político nesse sentido!
A recente campanha do governo mineiro lançada a favor da busca de um pretenso aumento dos royalties minerários é, na minha opinião, uma visão de curto prazo, ensimesmada, pequena, tacanha e vergonhosa. Está na contramão da nossa história e, ao contrário, outra deveria, isto sim, sugerir e incentivar uma insurreição contra esta verdadeira derrama tributária que se pratica contra a sociedade e os seus meios de produção. E pedir uma melhor e justa redistribuição da arrecadação tributária, atualmente a maior de toda a história, e uma das mais elevadas de todo o mundo. Com um detalhe: com baixíssimo retorno aos contribuintes e à sociedade!
A campanha do governo de Minas ao que parece, assim como aquela que é empreendida pela Assembleia Legislativa de Minas a favor da renegociação da dívida estadual (e que não é de sua competência nem decisão), visa muito mais agradar os meios de comunicação locais – com raríssimas excepcionalidades, com abundantes verbas publicitárias, do que qualquer outra coisa.
Não podemos condenar a mineração. Ao contrário, devemos nos reconciliar com ela, com novas propostas sinergéticas, pontuais, modernas, parceiras e com visão de futuro.
Sem a mineração Minas não justifica nem o seu próprio nome e grandeza! A mineração tem de se tornar a grande parceira do desenvolvimento de Minas, com uma visão mais precisa, consentânea e dinâmica em relação ao futuro.
Deveriamos, sim, gritar contra a vergonhosa e precária situação de nossos aeroportos, portos, estradas, saúde, e, principalmente, contra a revoltante e precária educação, não inclusiva e despropositada em termos de conteúdo e objetivo final.
Nem contra a ridícula situação das pixações de prédios, todo o acervo, e capital social básico, além de outros, somos capazes de mostrar resistência. Há uma visível epidemia social, a do crack, que já contamina todas as principais cidades e áreas metropolitanas.
E, a tudo isso, aceitamos, toleramos, estamos inertes, sem reação. Porque o estado inexiste, o poder público parece desaparecido, inerte, esgotado!
Trata-se, enfim, de um quadro muito ruim, péssimo.
E o constrangimento é que Minas não está melhor e está sonolenta. Nem mais é exemplo e tem muito pouco a declarar ou a exibir! Pouquíssima a mostrar ou a requisitar, a exigir qualquer coisa.
Vamos ficar por aqui.
O diagnóstico mais direto é que Minas já não é mais a mesma.
E entendo que precisa mudar, concisa e rápida, como pioneira de atitudes novas, como as que sempre liderou e inspirou antes, ao futuro da Nação Brasileira.
Mercado Comum que, a partir do próximo mês, inicia o seu 20º ano de circulação, não tolerará nem mais se calará diante desses absurdos. E as nossas edições procurarão despertar a consciência em busca de uma nova sociedade, melhor e justa. Com um novo caminho, sempre buscando a direção do progresso consistente, constante e vigoroso.
Tudo isso, de uma forma independente, isenta e séria, que se constituem a nossa grande identidade.
Conto com vocês.
Vamos acordar Minas e o Brasil!
Peço que repassem esta mensagem a todos que amam Minas e o Brasil, e que acreditam ser possível mudar, para melhor.
Carlos Alberto Teixeira de Oliveira
Presidente/Editor Geral de Mercado Comum- Revista Nacional de Economia e Negócios e da ASSEMG-Associação dos Economistas de Minas Gerais
No 247O Paraguai foi golpeado, o povo está a se organizar.
junio 28, 2012 21:00 - no comments yetTodo o mundo assistiu, o Governo legal ser apeado.O Mundo não admitiu, e o condenou decepcionado.Outra vez atraiçoado, consciente esta a se preparar.O Paraguai foi golpeado, e o Povo faz se organizar.Vão para o lutar novo, com consciência e Cidadania.Estão preparando o Povo, e Conquistar a Democracia.O Povo ficou decepcionado, não fizeram lhe acatar.O Paraguai foi golpeado, e o Povo faz se organizar.O Paraguai foi golpeado, o Povo esta a se organizar.O Congresso é Direitista, fez o patriota decepcionar.Foi no Direito roubado, só fazem é ao povo explorar.O Paraguai foi golpeado, e o Povo faz se organizar.A Terra não é repartida, querem renda e emprego.Toda realidade esta sabida, e o povo não tem medo.O Povo não foi respeitado, então tem de se unificar.O Paraguai foi golpeado, e o Povo faz se organizar.Pro povo foi decepção, ao seu voto não deram valor.Não votar nessa corporação, só votar em Trabalhador.O Povo se viu não amado, não pode assim continuar.O Paraguai foi golpeado, e o Povo faz se organizar.O Povo agora tem tino, e enxerga toda a realidadeSeus amigos são povo latino, que lhes tem igualdade.O Povo não foi acatado, e fazem fácil lhe abandonar.O Paraguai foi golpeado, e o Povo faz se organizar.Todo o Povo despertou, e viu claro a desigualdade.Todo latino solidarizou, Latinos é a nossa irmandade.O Povo não foi contemplado, no fazendeiro a ganhar.O Paraguai foi golpeado, e o Povo faz se organizar.Isso acontece pelo Mundo, e o Mundo esta lutando.Um lutar duro e profundo, que vai ao povo unificando.O Povo tem de estar unificado, pro rico o respeitar.O Paraguai foi golpeado, e o Povo faz se organizar.
Azuir e Turmas: do Social da Unicamp, Campinas, SP, Amigos de Rocha Miranda, Rio de Janeiro, RJ e de Amigos de Mosqueiro, Belém , PA.