"Divulguem a teoria política do Supremo"
October 12, 2012 21:00 - Pas de commentaireDiante de um Legislativo pusilânime, Odoricos Paraguassú sem voto revelam em dialeto de péssimo gosto e falsa cultura a raiva com que se vingam, intérpretes dos que pensam como eles, das sucessivas derrotas democráticas e do sucesso inaugural dos governos enraizados nas populações pobres ou solidárias destes. Usando de dogmática impune, celebram a recém descoberta da integridade de notório negocista, confesso sequestrador de recursos destinados a seu partido, avaliam as coalizões eleitorais ou parlamentares como operações de Fernandinhos Beira-mar, assemelhadas às de outros traficantes e assassinos e suas quadrilhas.
Os quase quarenta milhões de brasileiros arrancados à miséria são, segundo estes analfabetos funcionais em doutrina democrática, filhos da podridão, rebentos do submundo contaminado pelo vírus da tolerância doutrinária e pela insolência de submeter interesses partidariamente sectários ao serviço maior do bem público. Bastardos igualmente os universitários do Pró-Uni, aqueles que pela primeira vez se beneficiaram com os serviços de saúde, as mulheres ora começando a ser abrigadas por instituições de governo para proteção eficaz, os desvalidos que passaram a receber, ademais do retórico manual de pescaria, o anzol, a vara e a isca.
Excomungados os que conheceram luz elétrica pela primeira vez, os empregados e empregadas que aceitaram colocações dignas no mercado formal de trabalho, com carteira assinada e previdência social assegurada. Estigmatizados aqueles que ascenderam na escala de renda, comparsas na distribuição do butim resultante de políticas negociadas por famigerados proxenetas da pobreza.
Degradados, senão drogados, os vitimados pelas doenças, dependentes das drogas medicinais gratuitas distribuídas por bordéis dissimulados em farmácias populares. Pretexto para usurpação de poder como se eleições fossem, maldigam-se as centenas de conferências locais e regionais de que participaram milhões de brasileiros e de brasileiras para discussão da agenda pública por aqueles de cujos problemas juízes anencéfalos sequer conhecem a existência.
O Legislativo está seriamente ameaçado pelo ressentimento senil da aposentadoria alheia. Em óbvia transgressão de competências, decisões penais lunáticas estupram a lógica, abolem o universo da contingência e fabricam novelas de horror para justificar o abuso de impor formas de organização política, violando o que a Constituição assegura aos que sob ela vivem. Declaram criminosa a decisão constituinte que consagra a liberdade de estruturação partidária. Vingam-se da brilhante estratégia política de José Dirceu, seus companheiros de direção partidária e do presidente Lula da Silva, que rompeu o isolamento ideológico-messiânico do Partido dos Trabalhadores e encetou com sucesso a transformação do partido de aristocracias sindicais em foco de atração de todos os segmentos desafortunados do país.
Licitamente derrotados, os conservadores e reacionários encontraram no Supremo Tribunal Federal o aval da revanche. O intérprete, contudo, como é comum em instituições transtornadas, virou o avesso do avesso, experimentou o prazer de supliciar e detonou as barreiras da conveniência. Ou o Legislativo reage ou representará o papel que sempre coube aos judiciários durante ditaduras: acoelhar-se.
Imprensa independente, analistas, professores universitários e blogueiros: comuniquem-se com seus colegas e amigos no Brasil e no exterior, traduzam se necessário e divulguem o discurso do ministro-presidente Carlos Ayres de Britto sobre a política, presidencialismo, coalizões e tudo mais que se considerou autorizado a fazer. Divulguem. Divulguem. Se possível, imprimam e distribuam democráticamente. É a fama que merece.
Wanderley Guilherme dos SantosNo Carta Maior
Seja bem-vindo o vereador Telhada
October 11, 2012 21:00 - Pas de commentaire
Democracia não é para amadores. É preciso sangue-frio com aqueles que pensam e agem diferentemente de nós. Tanto que critiquei a tentativa de impedirem a posse de Tiririca e defendi o direito de Jair Bolsonaro falar as barbaridades que bem entender, desde que no legítimo exercício de seu mandato.
Pois agora faço questão de manter distância daqueles que excomungam o polêmico cidadão que atende pelo codinome de Coronel Telhada, eleito vereador pelo PSDB de São Paulo com expressivos 89 mil votos.
As ideias desse homem são abomináveis, do meu ponto de vista. Sei que não estou sozinho na aversão ao discurso de que “bandido bom é bandido morto”, assim como da sua mais nova versão, imortalizada nas palavras tenebrosas do governador Alckmin: “Quem não reagiu está vivo”.
Todos nós sabemos que muita gente morre nas mãos da polícia mesmo sem reagir. Esse tipo de raciocínio que impera em nossa sociedade há décadas é comprovadamente um retumbante fracasso.
Que o diga a própria corporação da Polícia Militar de São Paulo, hoje acuada pelo crime organizado — e pelas milícias e bandidos fardados que engendra em seu próprio útero.
A onda macabra de assassinatos de policiais a que estamos assistindo, estarrecidos, é apenas uma das decorrências da mentalidade bélica que dá sustentação à guerra civil em que vivemos. Não é o “pessoal dos direitos humanos” que sai por aí dando e levando tiros.
Mas também sei que milhões de paulistas (quem dera fossem apenas milhares) ainda acreditam que é motivo de orgulho ter a polícia mais violenta entre a de todos os países democráticos do mundo.
Não adianta querer calar essa gente. É pior, na verdade, que vivam ocultas, nas sombras, pois pessoas assim se juntam na primeira esquina em que houver um linchamento.
Não há nada mais perigoso que uma horda silenciosa: por natureza, vivem de tocaia, olham de soslaio, ruminam seu ódio e, na primeira oportunidade, não duvidem, se tornam sanguinários.
Melhor que falem, se exponham e, sim, elejam seus parlamentares truculentos. Eliminar os representantes legitimamente eleitos pelos conservadores gentis ou raivosos não vai eliminar seus eleitores. Esses vão continuar por aí, vociferando seus preconceitos ou desejos mais primitivos.
Antes assim, visíveis, disponíveis para as críticas e para um hipotético diálogo. Que falem, e muito. Para que possam ser retrucados, para que seus argumentos se esgotem, para que haja a oportunidade de serem convencidos.
No caso especifico do Telhada, cabe esclarecer as três acusações que o Ministério Público move contra ele. Se a Justiça (e só ela) cassar o mandato dele, bem feito. Caso contrário, vamos aguardar seus pronunciamentos na tribuna da Câmara dos Vereadores. Azar o meu.
Mais grave é o silêncio que paira sobre uma acusação muito, mas muito mais grave, a de que simpatizantes do ex-coronel estariam ameaçando de morte o repórter André Caramante, da Folha de S.Paulo, por conta da reportagem “Ex-chefe da Rota vira político e prega a violência no Facebook”.
Por conta dessas ameaças anônimas, Camarante e sua família se viram obrigados a mudar de país. Eu também teria medo. Não falei que é bem melhor quando nossos inimigos mostram as caras?
No Provocador