Escândalo no Vaticano: a culpa é dos jornalistas e... do diabo
18 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda![]() |
O diabo veste prada |
Cardeal Tarcisio Bertone nega divisões na Igreja Católica
O Vaticano parece já ter encontrado os culpados do escândalo sobre a divulgação de documentos que alegam corrupção e divisões no seio da Igreja Católica. Segundo o secretário de Estado Tarcisio Bertone, os responsáveis são os jornalistas e... o diabo.
"Muitos jornalistas estão a tentar imitar o Dan Brown. Eles continuam a inventar histórias e a repetir lendas", afirmou o número 2 do Vaticano, referindo-se ao escritor de "O Código Da Vinci" e "Anjos e Demônios", livros sobre, precisamente, escândalos e lutas de poder na Igreja Católica.
Numa entrevista à revista católica italiana "Famiglia Cristiana", que estará nas bancas na quinta-feira, o cardeal critica a "veemência" com que os jornais italianos pretendem criar polêmicas entre o Papa e os seus colaboradores. "A verdade é que há uma tentativa de criar uma divisão que vem do diabo", acrescentou.
Este é o primeiro sinal de que o Vaticano passou ao ataque em relação ao caso dos documentos confidenciais tornados públicos. E não é por acaso que é Tarcisio Bertone, o principal alvo de um livro recentemente divulgado, o porta-voz da indignação.
"Nenhum de nós quer esconder as sombras e os defeitos da Igreja, mas nunca vi nenhum sinal de cardeais ou personalidades da igreja envolvidos em alguma conquista por um poder fantasma", continuou, alegando que a imprensa viola o direito à privacidade através da divulgação da correspondência do Papa Bento XVI.
Para o secretário de Estado do Vaticano, a imprensa "ignora intencionalmente" as coisas boas que a Igreja faz, numa "tentativa de desestabilizar" a estrutura, com "mesquinhez e mentiras".
O escândalo "VatiLeaks" já fez cair o mordomo de Bento XVI, Paolo Gabriele, que foi preso e acusado roubar documentos confidenciais, descobertos no seu apartamento, e o presidente do banco do Vaticano, Ettore Gotti Tedeschi.
Também o Papa já comentou que as reportagens dos jornais italianos "foram muito além dos fatos, dando uma imagem da Santa Sé que não corresponde à realidade".
Questionado pelos jornalistas sobre a entrevista de Tarcisio Bertone, o porta-voz do Vaticano sublinhou que não quer fazer "condenações generalizadas", mas adiantou que alguma da cobertura jornalística não foi "sustentada na objetividade". "Tenham cuidado com as vossas fontes", avisou Federico Lombardi.
O escândalo começou com uma carta de um arcebispo a queixar-se ao Papa da corrupção no Vaticano. A comissão de cardeais que está a investigar o caso já interrogou 23 pessoas. Recorde-se que a técnica de culpar a imprensa já foi utilizada quando o escândalo de abusos sexuais começou a ser divulgado.
No TVI24
Quem pode e quem não tem moral para discutir a aliança PT-PP em São Paulo
18 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaMuitos se julgam no direito, podem protestar e discordar democraticamente, até mesmo se indignar com a aliança do PT com o PP do deputado Paulo Maluf (SP) para apoiar o nosso candidato a prefeito de São Paulo este ano, o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad.
Menos o candidato do PSDB a prefeito, o ex-governador José Serra e certa imprensa. O postulante tucano à Prefeitura porque em sua campanha para o Planalto em 2010 recebeu muito feliz e sem questionar o apoio do mesmo PP e de Maluf e, não esquecer, o de uma parte do PMDB, a liderada pelo ex-governador Orestes Quércia. A imprensa porque se calou diante disso naquela ocasião. Isso quando não apoiou velada ou ostensivamente a aliança do serrismo com o malufismo e o quercismo.
José, tampouco, poderá atacar a aliança PT-PP porque Maluf apóia e integra o governo de seu companheiro tucano, o governador Geraldo Alckmin, ocupando, inclusive, um alto posto na administração, com o malufista Antônio Carlos do Amaral Filho presidindo a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado (CDHU).
Questionam a coligação PT-PP, mas apoiavam a aliança PP-PSDB
Tem mais: até poucas semanas atrás o PP e seu líder Maluf tinham o silêncio, quando não o apoio dessa mesma mídia enquanto mantinham entendimentos para uma coligação com o PSDB de José, um apoio que só perderam agora. De repente perderam esse apoio. Por quê? Por que será?
Vamos com calma, então, com esse andor. Petistas e aliados, por favor, sem esquecer que o foro mais adequado para debater e buscar a solução dessa questão é a coordenação e a direção politica da aliança e da campanha do Fernando Haddad. Deflagrar um debate em torno disso em público e pela mídia é dar chumbo ao adversário.
E discutir a questão, também, tendo presente que o PP já faz parte da base de partidos do governo federal, como fez da base aliada do governo do ex-presidente Lula, sem que mudássemos nosso programa de governo ou o rumo do Brasil.
O debate não pode se dar em torno da negação de nossa política de alianças e de governo de coalizão, porque aí seria negar nossas vitórias conquistadas graças a alianças em 2002, 2006 e 2010, bem como nossos três governos, os dois do presidente Lula e o 3º agora, da presidenta Dilma Rousseff.
No Blog do Zé
O mico que Lula pagou na foto com Maluf
18 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Maluf já tinha conseguido tudo o que queria do PT: colocar um cupincha do PP no Ministério das Cidades e a garantia de cargos na área de habitação da prefeitura caso Fernando Haddad seja eleito.
Nesta segunda-feira, com tudo acertado para o acordo ser celebrado pelas direções dos dois partidos num almoço em sua latifundiária mansão da rua Costa Rica, no Jardim América, o criador do malufismo resolveu tripudiar: exigiu a presença do ex-presidente Lula no almoço.
Deu a entender a interlocutores do PT que, sem tirar uma foto com Lula em seus belos jardins, não selaria a aliança. A esta altura, já era certo que o ex-presidente não iria ao casamento, por recomendação dos médicos, que lhe recomendaram distância dos atos políticos por mais alguns dias para poupar a voz.
Pelo mesmo motivo, Lula não participou do ato, na última sexta-feira, em que o PSB oficializou seu apoio ao PT com a indicação da ex-prefeita Luiza Erundina para vice de Haddad. Erundina, que já estava inconformada com esta aliança, ficou magoada, e ameaçou pular do barco.
Nunca se vai saber se Maluf, como é de seu costume, estava apenas blefando ou se levaria até o fim a chantagem. O fato é que Lula não quis pagar para ver e acabou se submetendo a uma cena constrangedora diante da imprensa como se tivesse sido obrigado a fazer uma coisa que não queria. Por conhecê-lo bem e ser seu amigo faz mais de 30 anos, posso imaginar quanto deve ter sido difícil para ele tomar esta decisão.
Sabemos todos que nestes tempos modernos de política pragmática os acordos eleitorais são feitos não mais baseados em programas partidários, mas em tempo de TV, cargos e verbas, que se transformam em votos e decidem vitórias ou derrotas. Não existem santos nem inocentes neste jogo pesado. Mas precisava da foto?
Em eleições, só é feio perder, costumam dizer os marqueteiros e estrategistas nos comitês de campanha. Além de votos, porém, a política também é feita de símbolos e de fatores subjetivos como a esperança, a confiança e a lealdade a certos princípios e valores.
Por longo tempo, desde a sua fundação, em 1980, o PT e Lula, seu principal líder, simbolizavam esta esperança de que a política pudesse ser feita de outro modo, sem que fosse preciso vender a alma ao diabo. Paulo Maluf sempre representou exatamente o oposto. Sou do tempo em que Lula era inimigo de Maluf e vice-versa. Sempre fiquei ao lado de Lula.
A realidade do poder, no entanto, foi maior do que o sonho e, hoje, ao ver esta foto em todos os jornais, muitos eleitores, principalmente os mais jovens, perderam as referências.
O pior de tudo foi ver o sorriso de vitorioso de Paulo Maluf ao passar a mão na cabeça de Fernando Haddad sob o olhar conformado de Lula. As eleições passam, mas esta foto vai ficar na memória como sinal de um tempo - um tempo de descrença na política e nos valores democráticos.
Heródoto Barbeiro me perguntou ontem à noite no Jornal da Record News se este apoio de Maluf vai dar ou tirar votos do PT. Não soube responder, e também não importa. Minha conta não é essa.
E se o Maluf fechasse o acordo com o Serra, o que você diria?, perguntam-me alguns leitores. Eu não diria nada, até porque seria algo absolutamente normal, dentro do previsível e, portanto, nem daria manchete nos jornais. Boi preto com boi preto não chamam a atenção de ninguém.
A mais antiga história sobre jornalismo é aquela do cachorro que morde o homem e a do homem que morde o cachorro. Notícia é o que foge à normalidade, e esta foto na mansão de Paulo Maluf se enquadra no caso do homem que mordeu o cachorro.
Do ponto de vista puramente eleitoral, para mim não muda muita coisa ter um minuto a mais ou a menos no horário político obrigatório, já que o candidato tucano José Serra, no mesmo dia em que perdeu o apoio de Maluf, correu atrás do tempo de televisão do PTB de Roberto Jefferson, depois de ter vencido o leilão do PR de Valdemar da Costa Neto.
Neste negócio de ganhar ou perder apoios, ninguém vai poder falar nada de ninguém. Quem mais perde, com certeza, é o eleitor, cada vez mais descrente nos rumos da política brasileira. É triste.
Teste de medicamento contra Alzheimer visa à prevenção
18 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaAutoridades dos Estados Unidos anunciaram que um ensaio clínico que pode levar a novos tratamentos para prevenir o Alzheimer em pessoas com propensão genética para desenvolvê-lo – mas que ainda não têm quaisquer sintomas – testará pela primeira vez um medicamento destinado a impedir o aparecimento da doença.
Os especialistas dizem que o estudo será um dos poucos já realizados para testar tratamentos de prevenção de doenças geneticamente predestinadas. No caso da doença de Alzheimer, o estudo é inédito, "o primeiro a se concentrar em pessoas que estão cognitivamente normais, mas que têm um risco muito elevado de desenvolver a doença de Alzheimer", disse o Dr. Francis S. Collins, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde.
A maioria dos participantes virá da família que tem mais membros com Alzheimer do que qualquer outra do mundo, um clã de cinco mil pessoas que vivem em Medellín, na Colômbia, e em aldeias montanhosas remotas fora da cidade. Os membros da família que têm uma mutação genética específica começam a demostrar comprometimento cognitivo aproximadamente aos 45 anos, e demência completa em torno de 51. Isso os debilita nos principais anos em que estariam profissionalmente ativos, à medida que suas lembranças desaparecem e a doença começa a afetar rapidamente a sua capacidade de locomover-se, comer, falar e comunicar-se.
Trezentos membros da família vão participar do ensaio inicial. Os que têm a mutação estarão a anos de distância de apresentar sintomas, alguns ainda com cerca de 30 anos.
"Por causa desse estudo, não nos sentimos tão sozinhos", disse Gladys Betancur, de 39 anos, membro da família. A mãe de Gladys morreu de Alzheimer, três de seus irmãos já têm sintomas e ela se submeteu a uma histerectomia por medo de ter a mutação e passá-la para seus filhos. "Às vezes achamos que a vida está chegando ao fim, mas agora sentimos que as pessoas estão tentando nos ajudar."
O estudo, com financiamento de 100 milhões de dólares, terá duração de cinco anos, mas em dois anos, testes sofisticados poderão indicar se o medicamento ajuda a conter o declínio da memória ou as alterações no cérebro, disse o Dr. Eric M. Reiman, diretor executivo do Instituto Banner de Alzheimer, em Phoenix, e líder do estudo.
Para especialistas em Alzheimer que não estão envolvidos com o estudo, embora apenas uma pequena percentagem de pessoas com Alzheimer tenha a forma genética de início precoce que afeta a família colombiana, a expectativa é de que o teste produza informações que possam ser aplicadas a milhões de pessoas que irão desenvolver o Alzheimer de modo mais convencional ao redor do mundo."Isso traz uma oportunidade extraordinária de responder a um grande número de perguntas, enquanto que ao mesmo tempo oferecemos a essas pessoas alguma ajuda clínica significativa que de outra forma elas nunca teriam tido", disse o Dr. Steven T. DeKosky, pesquisador do Alzheimer e vice-presidente e diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Virginia. DeKosky fez parte de um grande grupo consultado no início do estudo, mas não tem envolvimento com ele.
Cerca de 5,4 milhões de americanos têm Alzheimer, e os números estão crescendo bastante, à medida que a chamada geração "baby boom" envelhece. A equipe de Reiman está planejando realizar um teste semelhante com pessoas que demonstram um risco elevado de desenvolver Alzheimer tardiamente, de modo convencional, nos Estados Unidos. O estudo anunciado neste mês incluirá um pequeno número de norte-americanos com mutações genéticas que indicam um início precoce de Alzheimer.
O teste do medicamento faz parte do primeiro plano do governo federal nacional para tratar a doença de Alzheimer, anunciado em 15 de maio por Kathleen Sebelius, secretária de saúde e serviços humanos. O governo surpreendeu ao destinar 50 milhões de dólares do orçamento de 2012 dos Institutos Nacionais de Saúde para pesquisas consideradas promissoras demais para serem adiadas, incluindo o teste a ser conduzido na Colômbia e um estudo para saber se a insulina inalada pode amenizar transtornos cognitivos leves, disse Collins. Houve a proposta de destinar outros 100 milhões de dólares principalmente para pesquisas em 2013, mas também para a educação, o apoio a cuidadores e a coleta de dados.
O sucesso do teste que será realizado na Colômbia, claro, não é algo certo. Muitos ensaios falham, e as pesquisas destinadas ao Alzheimer, até agora, não encontraram nenhum tratamento cuja eficácia dure mais do que meses. Porém, especialistas dizem que testar os medicamentos anos antes que os sintomas apareçam pode ter um potencial maior, já que o cérebro ainda não estaria devastado pela doença.
O experimento será financiado com 16 milhões de dólares dos Institutos Nacionais de Saúde, 15 milhões de dólares de doadores privados por meio do Instituto Banner e cerca de 65 milhões de dólares da Genentech, fabricante norte-americana do medicamento.
O medicamento é o Crenezumab, que ataca as placas amiloides no cérebro. Se ele mostrar que pode evitar problemas de memória ou cognitivos, os cientistas saberão que a prevenção ou o retardo são possíveis por meio de uma intervenção no amiloide anos antes da demência se desenvolver. Muitos dos pesquisadores do Alzheimer acreditam que o amiloide é uma causa subjacente da doença de Alzheimer.
Em 2010, o New York Times publicou uma reportagem sobre a prevalência de demência nessa grande família colombiana e as esperanças dos cientistas quanto à realização de testes de medicamentos preventivos. Mas convencer as empresas farmacêuticas a investirem levou meses. Há questões científicas e éticas implicadas em dar medicamentos a pessoas que estão saudáveis e pessoas que vivem em um país em desenvolvimento, algumas das quais têm pouca instrução, renda baixa e superstições antigas sobre a doença que eles chamam de "la bobera" – a loucura.
"A primeira coisa que fiz foi perguntar a mim mesmo: 'Será que estamos nos aproveitando dessas pessoas?'", disse Richard H. Scheller, vice-presidente executivo de pesquisa e desenvolvimento inicial da Genentech. "A resposta, claramente, foi não."
Os riscos, segundo ele, são equilibrados pelo fato de que, se nada for feito, "eles com certeza vão desenvolver essa doença absolutamente terrível".
Os poucos testes de tratamentos preventivos – que envolvem a ginkgo biloba, o tratamento de reposição hormonal em mulheres e os anti-inflamatórios – envolveram pessoas que talvez não desenvolvessem a doença. Essas terapias falharam ou causaram efeitos colaterais adversos.
Testar medicamentos nesse tipo de população demanda "muitos voluntários saudáveis, muito dinheiro e muitos anos", disse Reiman.
A população colombiana é ideal porque ela é grande o suficiente para fornecer resultados sólidos, e facilita identificar quem a doença vai afetar e quando.
O Crenezumab foi escolhido para o teste a ser realizado na Colômbia em parte porque não parece ter efeitos colaterais negativos, ao contrário de outras drogas destinadas à remoção das placas amiloides do cérebro, disse o Dr. Francisco Lopera, neurologista colombiano que já trabalhou com a família há décadas e é líder do estudo. Outros tratamentos contra o amiloide causaram edema nos vasos sanguíneos, um desequilíbrio de fluidos que pode ter consequências graves.
O Crenezumab está sendo administrado em dois ensaios clínicos que envolvem pessoas com sintomas de demência leves a moderados nos Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental. O objetivo é averiguar se o medicamento pode ajudar a reduzir o declínio cognitivo ou o acúmulo de placas amiloides, de acordo com a Genentech.
No estudo a ser conduzido na Colômbia, previsto para começar no próximo ano, 100 membros da família que têm a mutação vão receber a droga a cada duas semanas, tomando uma injeção em um hospital. Outros 100 portadores vão receber um placebo. E como muitas pessoas não querem saber se têm a mutação, os pesquisadores vão incluir 100 não portadores no estudo, que receberão um placebo.
Os pesquisadores desenvolveram uma sofisticada bateria de cinco testes de memória e cognitivos utilizados em outros estudos, nos quais mostraram detectar alterações sutis, que geralmente passam despercebidas, na capacidade de memorização e raciocínio. O Dr. Pierre N. Tariot, diretor do Instituto Banner e líder do estudo, disse que as atividades envolvem a rememoração de palavras e de nomes de objetos, o raciocínio não verbal, a lembrança de épocas e lugares, e testes de desenho que solicitam que o participante copie imagens complexas.
Segundo Tariot, os pesquisadores também pretendem avaliar mudanças no estado emocional das pessoas, tais como "irritabilidade, tristeza, choro, ansiedade e impulsividade – essas são características básicas do aparecimento da doença".
Os cientistas vão fazer medições fisiológicas, incluindo exames de tomografia por emissão de pósitrons (PET) que medem o material amiloide e o modo como a glicose é metabolizada no cérebro, exames de ressonância magnética que medem se o cérebro está encolhendo, e exames de fluido cerebrospinal que medem o amiloide e a tau, proteína presente em células cerebrais degenerescentes.
Se o medicamento for capaz de tratar qualquer um desses indicadores, disse Reiman, os cientistas poderão então cuidar de uma dessas alterações fisiológicas precoces, assim como a pressão alta e o colesterol são tratados para prevenir doenças cardíacas.
Ambos os lados da família de Marcela Agudelo, 17 anos, de Medellín, têm a doença de Alzheimer, porque seus pais são primos distantes. Marcela assistiu a morte da avó materna, e seu pai, de 55 anos, antes um vibrante comerciante de gado, deteriorou-se tanto que não consegue mais andar, falar ou rir.
Com a pesquisa, "temos mais esperança de conseguir uma cura", disse Marcela, "ou pelo menos de ter uma vida melhor".
Portas reabertas para o LSD
18 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaDroga símbolo dos anos 1960, o ácido lisérgico está de volta às pesquisas acadêmicas, com resultados promissores para a cura de problemas como a depressão
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VIAGEM SEM VOLTA Timothy Leary em Millbrook, recanto onde morou com seus seguidores em 1967. Ele dedicou a vida ao LSD (Foto: Alvis Upitis/Getty Images) |
Califórnia, Estados Unidos, 1971. Um detento da prisão de San Luis Obispo sobe até o telhado e, pendurado em cabos de telefonia, atravessa o pátio e pula o muro. Do lado de fora, um carro o aguardava. Dias depois, ele chegou à Argélia, sob os cuidados do grupo revolucionário Panteras Negras. O fugitivo era Timothy Leary, doutor em psicologia formado pela Universidade Berkeley e professor de Harvard. Ou, nas palavras do então presidente dos EUA, Richard Nixon, “o homem mais perigoso da América”. Leary foi o principal ativista dos usos medicinais e recreativos do alucinógeno LSD, na década de 1960. Quando a droga foi proibida pelo governo americano em 1970, até para pesquisas científicas, Leary decidiu seguir sua campanha como um fora da lei. A imagem de Leary se confunde com a do ácido: aceito socialmente nos anos 1950 e 1960, maldito a partir da década de 1970 – e atualmente em processo de redenção. Há cerca de 20 estudos em andamento no mundo sobre LSD, um renascimento do uso terapêutico da droga.
Leary entrou em contato com o LSD como pesquisador da Universidade Harvard, em 1960. Ele integrou os esforços para explorar o potencial do LSD-25 (25ª variação descoberta do Lysergsäurediethylamid, que em alemão significa “dietilamida do ácido lisérgico”), droga sintetizada pelo cientista suíço Albert Hoffman em 1938. Em 1943, Hoffman ingeriu alguns cristais da substância e descobriu suas propriedades alucinógenas. “Fiquei tonto”, disse. “De olhos fechados, via uma torrente de cores, como um caleidoscópio.” Dono da patente da substância, o laboratório suíço Sandoz distribuiu a droga para pesquisadores, como Leary, em busca de utilidades que motivassem seu comércio. Não havia nada de subversivo nisso. No fim dos anos 1960, mais de 700 pesquisas no mundo avaliavam o emprego de alucinógenos como o LSD em terapias contra esquizofrenia e depressão, além de aumento da criatividade. Só o serviço secreto de inteligência dos Estados Unidos (CIA) conduziu mais de 400 projetos com drogas, a maior parte com LSD, ao custo estimado em US$ 25 milhões, segundo um artigo de 1977 da revista especializada Psicology Today.
Na forma de cápsulas e ampolas, com o nome Delysid, o ácido chegou às farmácias. Como ocorre hoje com remédios como o Rivotril, a exigência de receita médica era mera formalidade. Psicólogos e pacientes estavam ávidos por experimentar o medicamento capaz de abrir as “portas da percepção” – expressão associada ao efeito dos alucinógenos que batizou um livro do escritor Aldous Huxley e inspirou o nome da banda The Doors. Os atores Jack Nicholson e Cary Grant se ofereceram como voluntários das pesquisas. Grant disse que se tornou uma nova pessoa graças ao LSD. “Encontrei quem eu era por trás de todos os disfarces, hipocrisias e vaidades. Me desfiz deles, camada por camada.” Segundo a revista americana Vanity Fair, cerca de 40 mil pessoas no mundo todo experimentaram o LSD entre 1950 e 1965.
Leary tornou-se um apóstolo do LSD depois de uma viagem ao México, em 1960. “Foi a experiência religiosa mais profunda de minha vida”, disse. Ele viu nas drogas o potencial de curar pessoas e a própria sociedade. Pela universidade, pesquisou a droga em detentos de uma colônia penal e num grupo de seminaristas. Os estudos de Leary foram interrompidos em 1963, quando a diretoria de Harvard descobriu que estudantes consumiam o estoque da droga destinado à pesquisa. Leary foi expulso. Fora da academia, passou a defender abertamente o uso recreativo da droga, circulando entre celebridades da contracultura, como os escritores Aldous Huxley, Jack Kerouac e Allen Ginsberg.
A pregação de Leary influenciou os Beatles, que devem algumas canções ao LSD. “‘Day tripper’ é uma delas”, disse Paul McCartney, em 2004. “‘Lucy in the sky’ é outra, obviamente.” Autor de “Lucy in the sky with diamonds” (“Lucy no céu com diamantes”), John Lennon, em vida, negou que o título da música fosse uma referência às iniciais LSD. “Lucy era uma amiga de meu filho Julian”, disse. Mas Lennon não escondia sua intimidade com o ideólogo do ácido. Leary é uma das vozes na gravação do hino pacifista Give peace a chance, de Lennon. O LSD inspirou outras estrelas, como Eric Clapton e Jim Morrison, e desconhecidos que chegariam à fama décadas depois, como o fundador da Apple, Steve Jobs. “Tomar LSD foi uma das duas ou três coisas mais importantes de minha vida”, disse Jobs.
O consumo desmedido de alucinógenos, defendido por Leary, era temerário. Sem limites, mesmo substâncias legalizadas, como bebidas alcoólicas, trazem consequências desastrosas. “O LSD pode danificar o sistema neurológico, se for tomado sem responsabilidade”, diz Amanda Beckley, criadora da fundação Beckley, que apoia pesquisas com drogas alucinógenas. “A dose de LSD era cinco a dez vezes maior que a aplicada hoje.” Não tardou para que relatos de pessoas que pularam de prédios ou desenvolveram algum tipo de psicose começassem a ganhar visibilidade. Em março de 1966, a revista americana Life publicou na capa a reportagem “LSD: a ameaça explosiva da droga que saiu do controle”. Quando Richard Nixou conquistou a Presidência dos Estados Unidos, em 1968, o combate às drogas foi um dos motes de sua campanha vitoriosa. “Espero salvar centenas de milhares de vidas que, expostas ao vício, poderiam ser moral, física e mentalmente destruídas”, afirmou Nixon, em 1969, ao propor ao Congresso americano uma lei mais dura contra os entorpecentes.
Aprovada em 1970, a Comprehensive Drug Abuse Prevention and Control Act enquadrou o LSD e outros alucinógenos na categoria das drogas mais perigosas, proibidas não apenas para consumo, como também para pesquisa. No ano seguinte, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu proibição semelhante, em nível mundial. “Nixon buscou erradicar o consumo de drogas proibindo até a pesquisa e o uso medicinal”, diz Pedro Abramovay, professor de Direito da Faculdade Getulio Vargas. A proibição na ONU acabou por igualar traficantes e cientistas e fechou as torneiras de recursos em países onde ainda era permitido pesquisar. “Depois de 1972, ficou impossível conseguir financiamento para novos estudos”, afirma Richard Doblin, doutor em políticas públicas pela Universidade Harvard e fundador da Associação Multidisciplinar de Estudos Psicodélicos (Maps).
As portas da pesquisa com alucinógenos só foram reabertas na década de 1990, quando a Food and Drug Administration (FDA), autoridade de saúde dos Estados Unidos, igualou a classificação das drogas psicodélicas à de substâncias como ópio e anfetamina, livres para estudo. Os resultados da liberação começam a aparecer. Em 2011, o doutor em psiquiatria Peter Gasser concluiu uma pesquisa de LSD no tratamento para depressão (leia o quadro abaixo). Foi o primeiro estudo completo, após quatro décadas de proibição. “Diante de efeitos benéficos tão evidentes, é intrigante por que terapias com LSD foram tão abertamente ignoradas”, afirmou o neurocientista norueguês Pal-Orjan Johansen, autor de uma pesquisa sobre o uso do LSD no combate ao alcoolismo.
Uma das explicações para a longa proibição do LSD é a influência decisiva das questões morais no curso das descobertas científicas. A história do LSD é um capítulo do histórico conflito entre o racionalismo científico e os dogmas que permeiam o senso comum da sociedade. Quando propôs a proscrição do LSD, Nixon tinha argumentos objetivos a seu favor, como altos índices de violência associada a drogas, mas não escondeu que aquela era, sobretudo, uma cruzada moral. São essas questões que fazem os governos interferir no trabalho dos laboratórios, autorizando e proibindo procedimentos, concedendo e negando recursos. Outro exemplo da influência das questões morais na evolução da ciência é a polêmica na autorização de pesquisas com células-tronco embrionárias. Promissoras no tratamento de doenças hoje incuráveis do sistema nervoso, mas combatidas por religiosos, elas só foram liberadas no Brasil em 2008.
O debate sobre moral e os limites da ciência é necessário, mas traz lentidão e até prejuízos ao desenvolvimento científico. As duas décadas de intervalo entre proibição e liberação das pesquisas com drogas alucinógenas não significaram apenas um atraso no desenvolvimento de novas terapias. Os estudos que poderiam ter ocorrido na década de 1970 jamais serão retomados, uma vez que as patentes dessas substâncias já caíram em domínio público. “Nenhum grande laboratório financia pesquisas sem a perspectiva de monopolizar o mercado”, diz Amanda. “Eles não querem descobrir no LSD um rival para remédios que já têm.”
As novas pesquisas com alucinógenos são financiadas por doadores sem finalidades comerciais, como o cantor Sting ou o fundador do Napster, Sean Parker. Gente de mente e bolsos abertos também bancou os últimos dias de Timothy Leary. Após sua fuga espetacular da prisão, em 1971, ele entrou em acordo com o governo americano, cumpriu pena de três anos e moderou suas ações. Morto em 1996, vítima de câncer, ele durou o bastante para ver a retomada dos estudos com a droga a que dedicou a vida. Após a cremação, 7 gramas de suas cinzas foram embarcados no foguete espacial Pegasus, que ficou em órbita por seis anos até se desintegrar na atmosfera. Timothy e seus cristais de LSD ficaram no céu, como a Lucy da música psicodélica.
A mensagem | ||||||
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Para a sociedade Proibições refletem a época em que foram impostas.Suas razões devem ser repensadas com frequência Para a ciência A interdição de uma pesquisa muda para semprea produção de conhecimento
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(Fotos: Michael Ochs Archives/Getty Images, Vinnie Zuffante/Michael Ochs Archives/Getty Images, Daniel Mordzinski/AP e Murray Garrett/Getty Images)
Marcelo Osakabe e Marcelo Moura
No Época
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