"Revelações" e Eleições
September 19, 2012 21:00 - no comments yetEstamos entrando na hora decisiva do julgamento. É agora que a suposição da PGR sobre o pretenso esquema de compra de votos de parlamentares começa a ser discutida. Desde a CPI, essa é a parte mais fantasiosa e frágil das denúncias
O mais rumoroso evento político da semana passada, a publicação pela revista Veja de uma matéria contendo algumas declarações de Marcos Valério e muitas ilações a respeito do que ainda teria a dizer sobre o "mensalão", deve ser compreendido em função do momento que vivemos.
No front jurídico imediato, não tem significado. Quem entende do processo que corre no Supremo Tribunal Federal afirma que os votos dos ministros estão escritos e não mudariam porque um dos réus disse isso ou aquilo.
Nem se a questão fosse suscitada por um veículo com credibilidade. Não é o caso dessa revista, que se dedica apenas ao combate ideológico e que se desobriga, por essa razão, de honrar as regras do jornalismo. Para ela, vale tudo.
Não cabe especular sobre o que teria motivado Valério a falar — o que quer que tenha dito. Desinformado é que não está, considerando a qualidade dos advogados com que conta. Ele sabe que, a essa altura do processo, lançar suspeitas sobre Lula ou outras pessoas só aprofunda seus problemas.
Estamos entrando na hora decisiva do julgamento, quando a "fatia" política será avaliada pelos ministros. É agora que a suposição da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o pretenso esquema de compra de votos de parlamentares — que teria existido entre 2004 e 2005, para aprovar medidas de interesse do governo — começará a ser discutida.
Desde a CPI, essa é a parte mais fantasiosa e frágil das denúncias. Por mais que alguns deputados oposicionistas tivessem tentado ligar pagamentos recebidos por partidos e parlamentares a votações específicas, nenhuma foi identificada com clareza. A completa falta de sentido de o governo pagar integrantes de sua bancada mais fiel para que votassem assim ou assado apenas ressalta a insipiência da hipótese.
Quanto à PGR, ela não conseguiu avançar um milímetro na demonstração dessa vinculação. Que benefício teria agora Valério estabelecendo-a, ainda que somente com base em declarações não substanciadas? Justo quando serão julgados os políticos acusados? O que ganharia confessando ser parte de uma quadrilha que cometeu um crime grave? Boicotar o trabalho da defesa? E a revista? O que ganha publicando a "entrevista" agora?
No tocante ao julgamento, nada. O ambiente de pressão sobre os juízes está construído e a matéria não aumenta o risco que correm de ser achincalhados se votarem em desacordo com o que ela deseja.
Isso, eles já entenderam.
Ou seja: para Valério e a revista, dentro da história do julgamento do "mensalão", ela é inútil (o que não quer dizer que não possa ter relevância nas guerras de longo prazo em que estão engajados — ele, tentando reduzir as provações que o aguardam, ela, na luta contra o "lulopetismo".
A matéria tem outra razão de ser.
Quem mora fora de São Paulo não entende a importância que a eleição de prefeito assume para quem faz política na cidade. Acham que é fundamental para o Brasil. Quem não é "serrista" não compreende a dor de ver seu preferido prestes a sofrer uma derrota humilhante. Se agarrando à tênue hipótese de derrotar Fernando Haddad e receber o voto petista para enfrentar Celso Russomano.
Chance remota? Pouca possibilidade? Não importa. O que puderem fazer para que ele ultrapasse Haddad farão. Não é difícil ver as ligações. José Serra traz o mensalão para sua propaganda eleitoral, na hora em que falham os velhos argumentos ("o mais preparado", "o líder nas pesquisas" etc.).
Na semana seguinte, a revista faz matéria bombástica, com capa pronta para a televisão. Que coincidência feliz. Que acaso extraordinário!
Vai dar certo? Pouco provável. Mas é o que têm.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox PopuliGlobo censura seu próprio colunista
September 18, 2012 21:00 - no comments yetArtigo de Felipe Patury, colunista da revista Época (Globo), foi retirado do ar após informar que Haddad teria ultrapassado o ultrapassado Serra na disputa pela prefeitura de São Paulo.
Confira o que o blog Amigos do Presidente Lula havia informado:
Globo joga a toalha: Haddad passou Serra no tracking do PSDB, diz colunista
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http://colunas.revistaepoca.globo.com/felipepatury/2012/09/19/haddad-passa-serra-em-tracking-do-psdb/ |
O tracking telefônico diário feito pelo PSDB mostrou ontem à noite que o candidato do PT, Fernando Haddad (foto), ultrapassou o tucano José Serra. De acordo com o levantamento, Haddad está um ponto na frente de Serra, o que, na verdade, configura empate técnico. Ainda assim, representa uma grande alteração no quadro. É a primeira vez os trackings do PSDB mostram o petista na dianteira de seu próprio candidato. Segundo a sondagem, o candidato do PRB, Celso Russomanno, segue estável em primeiro lugar.
Depois dessa notícia a assessoria do tucano emitiu nota para apagar o incêndio, negando serem estes os números. Ah, tá!
E a Globo, para apagar o incêndio, resolveu apagar a notícia. (clique no link acima para confirmar)
Novas caricaturas de Maomé põem França em alerta
September 18, 2012 21:00 - no comments yetOrganizações muçulmanas alertam para aumento da tensão em França depois de um jornal ter publicado uma caricatura de Maomé, representando-o nu e a exibir o traseiro
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O "publisher" do "Charlie Hebdo", conhecido como Charb, exibe uma cópia de edição de hoje do semanário satírico, cujas caricaturas estão a provocar grossa polémica em França Getty Images |
"Gasolina para a fogueira". Foi assim que um imã qualificou a publicação, hoje, pelo semanário satírico "Charlie Hebdo", de novas caricaturas do Profeta Maomé. "No atual contexto é uma provocação e receio incidentes graves, porque há grande tensão nos subúrbios franceses", acrescentou um dirigente de uma associação moderada muçulmana.
Uma das caricaturas mais polémicas representa o profeta nu a exibir as nádegas e a dizer: "E do meu cu, gostas dele, do meu cu?". O primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, já manifestou preocupação e apela ao sentido de responsabilidade. Pelo seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, denunciou, durante uma visita ao Cairo, no Egito, "uma provocação" do semanário.
Mas, apesar de também condenar a publicação das caricaturas, Jean-Marc Ayrault defende a liberdade de imprensa. E Laurent Fabius disse estar inquieto com "a segurança dos franceses em certos países".
Manifestação islâmica proibida
A tensão aumentou em França depois de ter sido organizada uma manifestação não autorizada, no sábado passado, de alegados fundamentalistas islâmicos, junto à embaixada norte-americana, perto da praça da Concórdia, em Paris. Os jovens - cerca de 250, dos quais 150 foram detidos - protestavam contra o filme islamofóbico americano "Innocence of Muslins".
Jean-Marc Ayrault confirmou entretanto que foi proibida uma nova manifestação para sábado, igualmente em Paris.
Nos últimos dias, há notícias de movimentações nos meios islâmicos mais radicais dos subúrbios franceses, onde foram incendiados, nas duas últimas noites, mais carros do que habitualmente.
A sede do semanário satírico foi incendiada em novembro do ano passado, depois de o jornal ter publicado uma edição denunciando a Charia. "Só vê uma provocação quem quer, não podemos ceder às pressões, porque se cedermos abrimos a porta a todo o tipo de pressões, o limite da liberdade de imprensa é a lei que o define e não são as religiões que o impõem", explicou a direção do "Charlie Hebdo".
Entretanto, a meio da manhã de hoje, as autoridades francesas mandaram reforçar a segurança nas embaixadas francesas em todo o mundo.
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Uma das caricaturas mais polémicas representa o profeta nu, a exibir as nádegas, e a dizer: "E do meu cu, gostas dele, do meu cu?". |
Cachoeira e suas digitais em Sampa
September 18, 2012 21:00 - no comments yetOs técnicos da CPI do Cachoeira acabam de concluir um levantamento completo de todos os contratos firmados em São Paulo, governo estadual e prefeitura da capital, com a Delta Construções, ligada ao esquema criminoso comandado pelo bicheiro. É coisa de 1,2 bilhão de reais. O resultado, além de revelador sobre as relações dos governos do PSDB com a empresa-mãe da quadrilha de Cachoeira, trouxe à tona uma suspeita sobre os bastidores dos negócios milionários fechados na gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD), sob a influência do senador cassado Demóstenes Torres, do DEM de Goiás.
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Personas. A Delta está na urbanização de Paraisópolis, na gestão Kassab. E aparece o infatigável Paulo Preto. Foto: Jonne Roriz/AE |
Uma interceptação telefônica realizada pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo captou um diálogo entre Cachoeira e Cláudio Abreu, diretor da Delta na Região Centro-Oeste, onde ambos discutem contratos da empreiteira com a prefeitura de São Paulo. No grampo, de 31 de janeiro deste ano, o bicheiro pergunta a Abreu o resultado de uma conversa do ex-presidente da Delta Fernando Cavendish com Kassab sobre um contrato ainda não identificado. O diretor da construtora faz uma revelação: em consideração ao então senador Demóstenes Torres, o prefeito de São Paulo teria triplicado os valores do tal contrato. A conversa é a seguinte, retirado do áudio ao qual CartaCapital teve acesso:
Carlinhos Cachoeira: Outra coisa, Cláudio, você falou pro Fernando (Cavendish) do negócio lá do Kassab?Cláudio Abreu: Ih, cara… Eu vou encontrar com ele mais tarde, eu vou voltar lá pra dar um retorno pra ele. Mas fala aí, o que é o negócio lá? Do contrato, né? Ele fez as coisas lá, né? Até pelo professor (Demóstenes Torres), né?Cachoeira: Ele (Kassab) falou que triplicou o contrato por ele (Demóstenes).
De acordo com o levantamento feito pela CPI, a prefeitura de São Paulo tem três contratos com a Delta, firmados entre 2004 e 2012, num valor total de 307,6 milhões de reais. Um da Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb), de 93,7 milhões de reais. Um de urbanização da favela de Paraisópolis, via Secretaria de Habitação, de 15,4 milhões de reais. E um da São Paulo Transporte S.A. (SPTrans), de 12,2 milhões de reais. Pela data do grampo da PF, não é possível detectar exatamente qual dos contratos teria sido triplicado, pois todos abarcam também o ano fiscal de 2012. Segundo Emerson Figueiredo, assessor de imprensa da prefeitura, Kassab “desconhece o diálogo, seus supostos autores e considera improcedente o seu conteúdo”.
As relações entre a Delta e o governo estadual tratam de cifras maiores, cerca de 943 milhões de reais, em valores corrigidos, referentes a contratos firmados durante os governos tucanos de José Serra (765 milhões de reais) e Geraldo Alckmin (178 milhões de reais), entre 2002 e 2012. Os negócios foram firmados a partir de demandas de cinco estatais: Desenvolvimento Rodoviário (Dersa), Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A principal obra contratada pelo governo estadual à Delta, na gestão de Alckmin, é o chamado Consórcio Nova Tietê, de ampliação da avenida marginal ao Rio Tietê, no valor de 149,9 milhões de reais. O contrato valeu de 22 de junho de 2009 a 10 de abril de 2012. Ao analisar a transferência de recursos do consórcio para a conta da Delta, os técnicos da CPI concluíram que as empresas envolvidas na obra não possuem controle de compensação de créditos e débitos. Dessa forma, uma empresa pode ter subcontratado a outra e pago o valor total pelo serviço. Por esse artifício, a diferença de eventual desvio de dinheiro público, por meio de superfaturamento ou pela falsa notificação de entrega real do serviço, é devolvida ao subcontratante, sem fiscalização alguma.
A Delta pode ter acertado um esquema de lavagem de dinheiro por meio de subterfúgios burocráticos. Além disso, segundo a avaliação da CPI, as empresas subcontratadas pela construtora possuem entre si contratos mútuos de diferentes obras, serviços ou negócios (lícitos ou ilícitos) e fazem pagamentos entre si sem compensar valores por meio de controle contábil (oficial ou não).
As informações da CPI a respeito dos contratos estaduais coincidem com um levantamento anterior feito pela repórter Conceição Lemes, do site Viomundo, com base em dados do blog Transparência São Paulo, especializado em análise de contas públicas. A partir dessas informações, foi possível detectar que o contrato da Dersa, referente às obras no Tietê (415 milhões de reais) foi assinado por Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, diretor de Engenharia do órgão até abril de 2010, e pelo presidente da estatal, Delson Amador, que acumulava a superintendência do DER.
Intimamente ligado aos tucanos, Paulo Preto foi apontado como arrecadador de campanha do PSDB e chegou a ser acusado de sumir com 4 milhões de reais supostamente destinados à campanha presidencial de Serra em 2010. Os nomes dele e de Amador aparecem ainda em outra investigação da Polícia Federal, a Operação Castelo de Areia, na qual executivos da construtora Camargo Corrêa foram acusados de comandar um esquema de propinas em obras públicas.
Em 1997, durante a presidência do tucano Andrea Matarazzo, Delson Amador virou diretor da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), depois privatizada. Era responsável pela fiscalização de obras tocadas pela Camargo Corrêa, como a Usina de Porto Primavera e a Ponte Pauliceia, construída sobre o Rio Paraná para ligar os municípios de Pauliceia, em São Paulo, e Brasilândia, em Mato Grosso do Sul. Amador foi chefe de gabinete de Matarazzo na subprefeitura da Sé, na capital paulista.
Uma certidão emitida pela Junta Comercial de São Paulo revela que Heraldo Puccini Neto, diretor da Delta para São Paulo e o Sul do Brasil, aparece como representante legal do Consórcio Nova Tietê. Escutas realizadas pela PF demonstram que Puccini é um dos interlocutores mais próximos de Carlinhos Cachoeira. Documentos da Operação Monte Carlo o apontam como um dos elementos da quadrilha que preparavam editais para ganhar licitações públicas.
Leandro FortesNo CartaCapital