Hegemonia PT 3.0
Ottobre 20, 2012 21:00 - no comments yetFernando Haddad protagonizou uma das mais espetaculares recuperações numa campanha para prefeito de São Paulo e deve dar ao PT, dizem as pesquisas, o comando da maior cidade do país.
A eleição paulistana é um passo relevante no projeto de hegemonia política do PT. Nenhum partido cresce de maneira orgânica e consistente como o PT a cada disputa municipal. A sigla sempre se sai melhor.
PMDB, PSDB, DEM (o antigo PFL) e outros já tiveram dias de glória, mas acumulam também vários revezes. O PT, não. Só cresce.
Embora já tenha vencido em São Paulo duas vezes (em 1988, com Luiza Erundina, e em 2000, com Marta Suplicy), agora com Fernando Haddad é uma espécie de PT 3.0 que pode chegar ao poder.
Não há outro partido da safra pós-ditadura militar que tenha conseguido fazer essa transição de gerações. O poderio sólido e real que o PT constrói encontra rival de verdade apenas na velha Aliança Renovadora Nacional (Arena), a agremiação criada pelos generais para comandar o Brasil -com a enorme diferença de hoje o país viver em plena democracia.
Alguns dirão que o PMDB mandou muito no final dos anos 80. Mais ou menos. Tratava-se de um aglomerado de políticos filiados a uma mesma sigla. Não havia orientação central.
O PSDB ganhou em 1994 o Planalto e os governos de São Paulo, Rio e Minas Gerais. Muito poder. Só que os tucanos nunca tiveram um "centralismo democrático" (sic) "à la PT".
No dia 28 de outubro, há indícios de que o PT novamente sairá das urnas como o grande vencedor nas cidades com mais de 200 mil eleitores, podendo levar pela terceira vez a joia da coroa, São Paulo.
Ao votar dessa forma, o eleitor protagoniza duas atitudes -e não faço aqui juízo de valor, só constato. Elege seu prefeito e entrega à sigla de Lula um grande voto de confiança para fazer do PT cada vez mais um partido hegemônico no país.
Fernando RodriguesNo Falha
Daqui para a sucessão
Ottobre 20, 2012 21:00 - no comments yetA provável vitória de Fernando Haddad, prenunciada na dianteira de 20% sobre José Serra nos votos válidos, tem vigor bastante para zerar as preocupações do PT com as possíveis e temidas repercussões, sobre o futuro petista, de condenações feitas pelo Supremo Tribunal Federal. As recentes e sigilosas reuniões de Lula com Dilma Rousseff e alguns petistas confirmam os temores e sua intensidade.
As preocupações justificavam-se já pela temeridade da escolha pessoal feita por Lula, impondo um candidato sem experiência eleitoral e pouco conhecido no eleitorado. Condições agravadas pela doença que minimizou a participação de Lula na campanha, pela agenda dada ao mensalão no STF e pela tradicional posição de grande parte dos meios de comunicação. Mas, na hora do enfrentamento, é inegável que muito desses agravantes foi compensado pelo adversário.
José Serra é o homem que não aprende. Mostrou-se, mais uma vez, nas palavras do jargão, grande puxador de votos - para o adversário. Com débito grande no eleitorado, pelo abandono da prefeitura e, ainda por cima, para o reprovado Gilberto Kassab, foi incapaz de reduzi-lo. Foi incapaz da criação de alguma ideia sedutora, de um argumento qualquer que remendasse sua imagem. Preferiu ser apenas o agressor descontrolado de sempre. Deu, porém, uma oportunidade ao eleitorado: a de dobrar-lhe a elevada rejeição e com isso desmentir que os eleitores esquecem tudo e depressa.
A propósito, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, em alta hospitalar por diabetes e problemas renais, afirmou que "o mensalão não foi bandeira de campanha do PSDB". Fica a suspeita: ou trataram a crise errada ou deixaram efeitos colaterais esquisitos.
Agora quem fará reuniões de temor e preocupação é o PSDB. Necessárias a Aécio Neves, porque a provável derrota de Serra não o beneficia, como muitos têm dito e escrito. A vitória fortaleceria o partido como a derrota o descredencia, no eleitorado e entre as forças políticas. O jogo sucessório acelera-se a partir de agora. Com José Serra no partido que fez Kassab criar para uma eventualidade? É melhor não duvidar.
NA REALIDADE
Para não faltar com o mensalão. As ministras Rosa Weber e Cármen Lúcia, seguidas pelo revisor Ricardo Lewandowski, recusaram a acusação de "quadrilha" no mensalão, entre outras razões porque, no Código Penal, configura-se como "crime contra a paz pública". Dois professores da Fundação Getulio Vargas/Rio propõem indagações a respeito, em artigo no "Globo": "Onde e como essa paz começaria a ser ameaçada? Pelo tamanho da quadrilha? Pela violência dos crimes?"
Às obscuridades muitos sugestivas para alguns ministros do STF, opõe-se a simples realidade leiga: a paz social é ameaçada quando o grupo tem a posse de armas, visa apropriar-se de bem alheio privado ou público, ou põe em risco a vida, a integridade física ou a propriedade de outrem.
E ainda há mais características exigidas para a definição de quadrilha. Se não para todos os doutores do Direito, por certo para as leis e a realidade. Mas tudo depende de querer julgamentos isentos.
Janio de FreitasNo Falha
A Última Semana
Ottobre 20, 2012 21:00 - no comments yetTermina no próximo domingo a eleição municipal de 2012. Em 50 cidades, os eleitores voltam às urnas para votar em um dos candidatos a prefeito que disputam o segundo turno.
Entre essas, na maior cidade brasileira e outras 16 capitais estaduais.
Foram as eleições mais conturbadas desde a redemocratização. Por decisão sem fundamento técnico, o Supremo Tribunal Federal (STF) resolveu fazer o julgamento do “mensalão” exatamente no meio do período eleitoral.
O ápice dessa “coincidência” ocorre ao longo desta semana, que os ministros consideram adequada para terminá-lo.
Para não atrapalhar a viagem ao exterior do Relator - certamente de importância fundamental para o País -, vão deliberar a respeito das penas aos condenados nas vésperas da eleição. Em tempo de preparar as manchetes dos últimos dias.
E ainda há quem se preocupe em silenciar os carros de som nessa hora, para que não perturbem os eleitores enquanto refletem sobre sua decisão final!
Parece que o Judiciário não se incomoda que o julgamento interfira na eleição. Como disse o Procurador-Geral da República em inacreditável pronunciamento, acha até “salutar”.
Os principais veículos da indústria de comunicação dedicaram ao julgamento uma cobertura privilegiada. Na televisão, no rádio, na internet, nos jornais e revistas, foi, seguramente, maior que aquela que a eleição recebeu.
Só os muito ingênuos acreditariam que a grande imprensa foi movida por objetivos morais, que estava genuinamente preocupada com as questões éticas suscitadas pelo “mensalão”. Basta conhecê-la minimamente, saber quem são seus proprietários, articulistas e comentaristas, para não ter essa ilusão.
E lembrar seu comportamento no passado, quando fatos tão graves quanto os de agora - ou mais - aconteceram sob seu olhar complacente.
Como mostra nossa história moderna - desde o ciclo Vargas aos dias de hoje, passando pelo golpe militar de 1964 e a ditadura -, a grande imprensa brasileira escolhe lado e não hesita em defendê-lo. Tem amigos e adversários.
A uns agrada, aos outros ataca.
No julgamento do “mensalão”, a discussão ética sempre foi, para ela, secundária. O que interessava era seu potencial de utilização política.
Seria engraçado imaginar uma situação inversa, na qual os denunciados não fossem “lulopetistas” e sim representantes dos partidos que hoje estão na oposição. Se o STF fizesse como faz agora, não mereceria o coro de elogios que ouve, não seria tratado como bastião da moralidade.
Seus ministros, ao invés de receber tratamento de heróis, estariam sendo achincalhados.
Especialmente os indicados por Lula e Dilma. Pobres deles! Cada voto que emitissem contra um oposicionista seria suspeito (o que ajuda a entender porque, no caso concreto, exatamente esses se sintam no dever de ser punitivos ao máximo).
Nunca foi tão apropriada a teoria de que a eleição municipal é a ante-sala da presidencial. Não para a maioria do eleitorado, que não pensa assim. Mas para a oposição - nos partidos políticos, na mídia, no Judiciário, na sociedade.
Fizeram tudo que podiam para transformar as eleições em uma derrota para Lula e o PT. Imaginaram que os dois sairiam delas menores, derrotados nos principais embates. E que, assim, chegariam à eleição que interessa, a presidencial de 2014, enfraquecidos.
Não foi isso que ocorreu nos confrontos que terminaram no dia 7 de outubro. Pelo contrário. Se as pesquisas de agora forem confirmadas, não é isso que ocorrerá no próximo domingo.
Goste-se ou não do ex-presidente e de seu partido, é um fato. E contra fatos, não há argumentos.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox PopuliO teto da “Ética” tucana ė baixo
Ottobre 20, 2012 21:00 - no comments yetA manipulação da “ética”
As pesquisas e as eleições mostram que a sociedade sabe dos principais problemas do Brasil e não segue o uso político da moralidade.
Lula ganhou a eleição presidencial em 2002. Tinha uma aprovação pessoal grande e a avaliação do governo dele em nível elevado. A oposição não sabia como se opor àquele governo que não naufragou de imediato como ela esperava e torcia. Frustrou-se.
O governo fez o dever de casa. Foi comedido, comportado, conservador. Sacrificou o crescimento econômico pelo superávit primário. Embora tivesse base de apoio no Congresso, capaz de permitir ousadias, conteve-se. O programa Bolsa Família criado em 2003, é uma exceção que confirma a regra.
Em 2005, no entanto, explodiu a denúncia do “mensalão” e despertou na oposição o velho sentimento moralista da extinta UDN. Era a bandeira que faltava para guiar as insatisfações e retomar o poder para os tucanos. Delenda Lula.
Entrou em ação a “banda de música” udenista e com ela o uso político, ou manipulação, do tema corrupção ampliado pelas trombetas da mídia. A ética foi escancaradamente banalizada e alcançou até mesmo a tradicional distribuição de cargos da máquina pública. Antes aceita, passou a ser condenada. Chegou-se à criminalização da política. Alguns índices de abstenção, o primeiro turno das eleições municipais de 2010, ainda em curso, refletem isso.
Apesar disso a propaganda do combate à corrupção não deu certo. Em 2006, Lula foi reeleito e, em 2010, elegeu Dilma. Um ás que tirou da manga.
O que falhou no golpe da oposição? Basicamente, faltou combinar com o eleitor. Chegou-se a achar que o povão, o eleitor pobre, não tinha ética. O povo, porém, como apregoa conhecido refrão, não é bobo. Tinha, na verdade, a informação essencial transmitida pelos benefícios de uma administração que resgatava milhões de marginalizados para incluí-los no processo econômico. A coisa não para aí. Tem mais.
Recentemente, Márcia Cavalari, diretora executiva do Ibope, concluiu um levantamento sobre mudança na agenda dos “principais problemas brasileiros”, segundo o eleitor. Os dados são tirados, essencialmente, das pesquisas daquele instituto. Em 11 anos, de 1989 a 2010, houve alterações significativas nessa agenda.
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Tabela com os principais problemas dos brasileiros, segundo pesquisa Ibope |
Observados os percentuais do levantamento e, claro, principalmente os resultados das urnas nesse período, fica bem visível que o eleitor, embora condene, não vê a corrupção como principal adversário. No período pesquisado, o combate a esse crime baixou do 5º para o 6º lugar no elenco dos problemas a partir de queda de cinco pontos percentuais na escala das indicações.
Curiosidade à margem do tema: caiu radicalmente a preocupação com a inflação, diminui significativamente a preocupação com a habitação e desapareceu a referência à dívida externa. Contrariamente, porém, surgiram as drogas com percentual elevado na lista de apreensões dos brasileiros.
Essa preocupação secundária com o combate à corrupção mostra que os eleitores entregam o voto para candidatos preocupados com a inflação – FHC valeu-se disso, em 2002, para ganhar a eleição montado no Plano Real – com a Saúde, com a Educação, a Segurança Pública e o Desemprego. Por fim, porém não menos importante, a Distribuição de Renda, que elegeu e reelegeu Lula e, em seguida, elegeu Dilma.
O eleitor sabe do que precisa. O moralista que duvidar que atire nele a primeira pedra.
Mauricio DiasNo Conversa Afiada