O TSE na TV
сентября 15, 2012 21:00 - no comments yetCertamente com toda a boa vontade do mundo, o Tribunal Superior Eleitoral está veiculando uma campanha sobre “voto limpo” na mídia.
Não é a primeira e não será a última que o Tribunal promove antes de uma eleição. Parece entender que faz parte de sua missão a tarefa de, nessas horas, ensinar o cidadão a votar “certo”.
A atual campanha é de abrangência nacional e está sendo desenvolvida em grande estilo. São 9 filmes de produção caprichada, com veiculação intensa. Difícil que alguém que ouça rádio ou veja televisão não tenha sido exposto a alguma peça.
É daquelas iniciativas em que, aparentemente, todos ganham.
O Tribunal, por cumprir um papel pedagógico contra o qual ninguém se insurgiria. Quem acharia errado que promovesse a educação cívica do povo? Logo o nosso, famoso por sua incapacidade de “votar direito”.
Os veículos de comunicação, porque abatem os impostos que devem ao Fisco, em ressarcimento pelo tempo que são obrigados a destinar à campanha. É um bom negócio para as emissoras, pois cobram o “preço cheio”, sem os descontos e bonificações de volume que concedem aos anunciantes privados.
Também ficam felizes os profissionais e empresas pagos para planejar, criar e produzir os filmes e spots. Sem os orçamentos limitados das campanhas que vendem habitualmente, faturam alto e ainda têm ampla liberdade para trabalhar.
E o eleitor? Ganha alguma coisa com isso?
A primeira peça da campanha mostra um mecânico enquanto tira graxa dos dedos – em alusão óbvia às “mãos limpas”. O texto em off ensina que “existem políticos bem-intencionados” e que é possível encontrá-los pesquisando seu passado e vendo se “suas propostas vão trazer benefícios para nós”.
De truísmo em truísmo, chega ao maior: “Voto não tem preço; voto tem consequência”. Alguém não sabia?
Na segunda, temos um palhaço que tira a maquiagem ouvindo uma locução que conta histórias de escassa base factual. Que o “voto é um direito conquistado depois de muitas lutas (quais?) de nossa sociedade” e que a Lei da Ficha Limpa é seu capítulo mais recente.
Conclui com uma declaração enigmática: “A Lei da Ficha Limpa é o eleitor de cara nova” (seja lá o que isso signifique).
O terceiro é o mais extraordinário. Nele, uma jovem segura um troféu e o texto diz: “Quando a gente vota, a gente coloca o nosso futuro (...) nas mãos de alguém (...) e tudo que ele fizer em nosso beneficio vai tornar nossa vida melhor”. Daí o troféu: “(...) é o prêmio de quem vota limpo”.
Deixando de lado as admoestações triviais e a descabida glorificação da Lei da Ficha Limpa, o que a campanha faz é apresentar o voto de maneira que pode ser tudo, menos consensual.
Como no filme que ensina a mecânica da votação: “Não tem mistério. Você digita cinco números e vota para vereador. Apareceu a foto? É ele? Confirma!”. Para prefeito, fazer o mesmo, e “para votar em branco, use a tecla branca e confirme” (sem mencionar que existe voto nulo).
Tudo parece natural e apenas educativo. Mas não é.
Os responsáveis pela campanha têm uma visão muito particular do que seja o voto, concebendo-o como algo estritamente individual, em que se contrapõem eleitor e candidato sem qualquer mediação.
Onde estão os partidos políticos? Em nenhum momento aparecem, sequer no filme que “ensina” a votar, mas se esquece que existe o voto partidário.
Acreditam que a escolha é ditada pela conveniência, em uma relação de troca: o cidadão vota, o eleito concede “benefícios”. Acham que o voto é instrumental. E querem que todos pensem assim.
Por acaso o voto ideológico ou de convicção seria menos recomendável que o pragmático e utilitário?
No fundo, como ninguém sabe o que é certo ou errado nessa matéria, melhor é não ter a pretensão de querer ensinar. Boas intenções produzem, às vezes, maus resultados.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
A saúde precisa mudar
сентября 15, 2012 21:00 - no comments yetSão Paulo inteira se sensibilizou com a história de José Machado, um caminhoneiro que parou de trabalhar porque tem catarata e está na fila da cirurgia há mais de dois anos.
Com a grande repercussão do relato do Seu José, a prefeitura reagiu da pior forma: violou o sigilo médico do paciente e manipulou informações para expor o caminhoneiro nos jornais, como um mentiroso.
Agora, a história tem outro final. O jornal O Estado de S. Paulo apresentou um laudo médico provando que o Seu José tem de fato catarata. Além de ser vítima da falta de tratamento, ele foi vítima de agressões morais. "O estrago que ele causou na minha vida não tem dinheiro nenhum que apaga", desabafa Seu José.