Por que a voz rouca das ruas não está nem aí para o Mensalão
7 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaGurgel |
Algumas coisas pegam, outras não. Algumas coisas mobilizam a opinião pública, e outras provocam essencialmente indiferença.
Aqui, na Inglaterra. A revelação de que o celular de uma garota sequestrada fora invadido por repórteres do tablóide News of the World, de Rupert Murdoch, gerou entre os ingleses uma raiva tão forte e tão espalhada que em menos de uma semana o jornal, de 168 anos, estava simplesmente fechado.
Na Tunísia, a autoimolação de um vendedor maltratado derrubou, em menos de um mês, uma ditadura de 23 anos.
O caso inverso é o Mensalão, no Brasil. Não vou entrar sequer no mérito da discussão sobre se o Mensalão deveria ter inflamado os brasileiros ou não. Mas o fato indiscutível é que, gostemos ou não, o caso jamais foi relevante para a opinião pública brasileira – a despeito da cobertura enorme e estrepitosa de jornais, revistas e telejornais.
Se a medição do poder de influência da grande mídia se der em torno do que o Mensalão significa para os brasileiros, a conclusão a que se chega é que a sociedade não está ouvindo tanto assim o chamado Quarto Poder. Se estivesse, a voz rouca das ruas estaria gritando palavras de ordem contra Lula, Dirceu etc. O Brasil se transformaria numa Praça Tahrir, o célebre centro de protestos do Egito.
Os ingleses ficaram furiosos ao saber que jornalistas entraram nas mensagens do celular dessa garota sequestrada e morta |
Mas não.
Fora da mídia, a maior revolta parece vir de Roberto Gurgel, o procurador-geral da República. Mas em suas palavras, até aqui, há mais barulho que sentido. Gurgel, ao estilo superlativo do agregado José Dias de Machado de Assis, classificou o Mensalão como a “maior agressão” que a democracia poderia sofrer.
O quê? Como classificar, então, o golpe militar que derrubou em 1964 um governo eleito pelas urnas? Sabemos todos que muitas bobagens antidemocráticas são ditas em nome da democracia, mas Gurgel extrapolou.
Mas ainda uma vez. A opinião pública brasileira parece surda a toda a exaltação retórica de Gurgel, tão repercutida pela grande mídia.
De novo: algumas coisas pegam, outras não.
O Mensalão não pegou.
Paulo NogueiraNo Diário do Centro do Mundo
PMs filmados atirando em adolescente são absolvidos, em Manaus
7 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários ainda Acredite se quiser
Ministério Público do AM irá entrar com recurso para anular decisão do júri.
Familiares dos réus comemoraram a absolvição dos policiais militares.
Julgamento durou cerca de 13 horas nesta terça (7) em Manaus (Foto: Mônica Dias/G1) |
Os dois soldados da Polícia Militar do Amazonas suspeitos de atirar em um adolescente em agosto de 2010 foram absolvidos após julgamento que durou 13 horas nesta terça-feira (7), em Manaus. O Ministério Público anunciou que irá entrar com recurso para reverter a decisão.
Os policiais estavam presos no Batalhão da Polícia Militar há um ano e quatro meses, com os outros três suspeitos do crime. O PM André Luiz Castilhos Campos era acusado de tentativa de homicídio qualificado e coautoria de roubo qualificado. Já o policial Rosivaldo de Souza Ferreira era acusado de comunicação falsa de crime, coautoria de tentativa de homicídio qualificado e coautoria de roubo qualificado.
De acordo com o juiz Mauro Antony, da 3ª Vara do Tribunal do Júri Popular do Estado do Amazonas, os jurados absolveram os réus após responderem três perguntas. Primeiramente pela principal acusação (se houve disparo de arma de fogo contra o adolescente) e, em seguida, das acusações de coautoria de roubo e falsificação de Boletim de Ocorrência.
Réus foram considerados inocentes pelo júri
(Foto: Mônica Dias/G1)
O Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE/AM) deverá entrar com recurso para tentar anular a decisão, uma vez que, segundo o promotor do caso, Ednaldo Medeiros, ela vai contra as provas visuais.
Durante o julgamento, apenas familiares e amigos dos réus estavam presentes. Após o anúncio oficial, todos comemoraram a decisão do júri popular.
Em entrevista ao G1, a mãe do PM André Castilho, Marisa Castilho, de 55 anos, disse estar magoada com as acusações feitas contra o filho. "Ele ficou preso 1 ano e 4 meses injustamente. Quero saber quem vai dar a ele agora os momentos perdidos. Meu filho estava excluído da sociedade", disse a comerciante.
Familiares e amigos dos réus comemoraram a decisão do júri popular (Foto: Mônica Dias/G1 AM) |
Relembre o caso
O crime ocorreu em 17 de agosto de 2010. Em um vídeo de uma câmera de segurança particular, sete policiais militares aparecem atirando em um adolescente de 14 anos no bairro Amazonino Mendes, Zona Leste de Manaus. Nas imagens, um dos PMs armado, mais tarde identificado como André Luiz Castilhos Campos, agride, ameaça e atira por cinco vezes no tórax do jovem. A ação acontece na presença de outros policiais militares.
De acordo com o Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE/AM), o adolescente não possuía antecedentes criminais. Na noite do crime, ele teria ido a casa da namorada e a uma lan house, e foi abordado por oficiais quando voltava para casa.
Para o responsável pelo caso na época, promotor de justiça João Bosco Sá Valente, os policiais tinham a intenção de matar o jovem. "Se você atira no calcanhar, isso indica que você não queria matar. Você atira no peito, dá cinco tiros, e não quer matar? É indefensável a história deles. Eles queriam matar", afirmou.
O então secretário de Segurança Pública do Estado na época, Zulmar Pimentel, anunciou o afastamento e a detenção administrativa de seis dos sete policiais envolvidos no batalhão da Polícia Militar, na Zona Centro-Sul da capital. Em março do ano passado, a Justiça decretou a prisão preventiva dos sete policiais.
Decano do jornalismo detona imprensa no mensalão
7 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaPara se chegar à verdade, é preciso admitir quando se dizem versões
Ânimos a flor da pele no jornalismo.
O Brasil assistiu na noite de segunda-feira a uma rara e contundente autocrítica no campo da grande mídia, quase sempre imersa em seu próprio corporativismo.
No programa Roda Viva, da TV Cultura, o jornalista Janio de Freitas detonou a cobertura do mensalão pela imprensa. (assista aqui)
Pela pressão imensa que exerceram às vésperas do julgamento, em prol da condenação, disse ele, os jornais perderam a autoridade moral para fazer uma avaliação justa.
Janio de Freitas tem oitenta anos de idade e há trinta escreve uma das mais prestigiosas colunas do jornalismo político, na Folha de S. Paulo. O recado que deu foi dirigido a todos os grandes jornais, inclusive ao seu.
Do alto de uma experiência de quase seis décadas de profissão, Janio criticou no programa a qualidade da produção dos jornais, a falta de leitura crítica dos colegas e a mesmice das edições que faz com que as publicações se confundam nas bancas.
Mas foi para as notícias sobre o julgamento, que deixou a observação mais severa: “Não é que o jornal não possa ter uma opinião política sobre determinado assunto – explicou o decano do jornalismo. Como empresa privada, tem pleno direito a escolher a linha que quiser, mas jamais suportando o discurso da neutralidade e da imparcialidade”. É inadmissível essa conduta enviesada – completou.
Muito além da longeva experiência, a lucidez de Janio de Freitas por si só é desconcertante.
O ponto destacado é de fato o mais relevante na construção daquilo que se costuma chamar de opinião pública.
Quando o órgão de imprensa assume claramente sua posição, pode participar, mesmo que às vezes de forma agressiva, na formação desta opinião pública.
Mas quando a esconde nas entrelinhas, nas mensagens subliminares ou nos títulos provocativos, busca simplesmente fazer da sua, a opinião do público. É a versão se travestindo em verdade.
Essa falsa neutralidade agride não apenas quando mascara a posição, mas, sobretudo, quando se distingue daqueles que a assumem.
Arroga-se uma credibilidade ancorada justamente na linha divisória de quem não tem preferências, e por isso mesmo, não carregaria suspeições.
A “conduta enviesada”, assim, não é apenas omissa, mas ensimesmada e excludente.
A questão pode ser vista mais claramente na forma como se acolhem as partes em um julgamento criminal.
Tomar a acusação como referência imparcial e a defesa como suspeita, por exemplo, é o erro mais frequente de quem supõe expressar um juízo isento – e, infelizmente, não ocorre apenas na imprensa.
Fazer do acusador uma espécie de juiz afronta a ideia central do processo penal democrático e reedita os tempos negros do chamado, não à toa, sistema inquisitorial.
Para se chegar à verdade, é preciso admitir quando se dizem versões.
Marcelo SemerNo Sem Juízo
Trate seu jornalista com mais carinho. Ele merece
7 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaRecebi um telefonema no meio da tarde de um amigo-jornalista que queria desabafar. O chefe havia pedido para o rapaz tirar a declaração de uma fonte que não “combinava” com o restante da matéria. Bem, para bom entendedor… Quando atendi, desandou a reclamar da vida, xingou Deus e o mundo, disse que um dia largava tudo e abria um bar até que, mais tranquilo, voltou ao texto para matar a fonte que não cabia. Avisei que aquilo ia virar post, mas não se importou. Considerou como meu pagamento pela terapia.
Isso me lembrou de que já tinha feito um “Amar é…” sobre esses pequenos calvários do profissional de imprensa. Então, atualizo, reúno tudo e trago abaixo. Cada uma das linhas brotou de uma história que ocorreu em alguma redação espalhada pelo país, da progressista à conservadora, da grande à pequena. Nomes? Ah, pra quê? Já perguntava Shakespeare: “O que há num simples nome? O que chamamos rosa com outro nome não teria igual perfume?”
Não, não aconteceu nada comigo e não estou fazendo isso em resposta à nada. Trabalhando na internet, nunca tive problema com nenhum veículo, pelo contrário: não sei como me aguentam. Ocorreu-me apenas de lembrar aos colegas da imprensa que ninguém está sozinho.
É preciso aprender a conviver com limites, reconhecer as imperfeições e consertar o que não está bom. Como também é fundamental ir, sempre, atrás da velha e boa coerência – que teima em fugir de nós, do berço à sepultura – sobre isso, sugiro o provocador debate trazido pelo jornalista Jânio de Freitas nesta segunda (6), no Roda Viva, da TV Cultura. Ela trouxe muitas coisas para pensar e discutir. Apontar os problemas dos outros sim, mas reconhecer em nós as mesmas falhas é importante.
Afinal, se alguma dessas situações já aconteceu com você, primeiro relaxe, depois vá à luta. E seja bem vindo à condição do jornalismo, a melhor profissão do mundo, como bem disse Gabriel García Márquez.
Jornalismo legal é:
- Não ligar para redação xingando jornalista por matéria sobre o chabú no metrô
- Não demitir por telefone o pobre repórter que discordou educadamente da linha editorial do veículo
- Não usar nunca a frase “coloca isso na capa porque quem manda aqui sou eu”
- Ter a certeza de que a denúncia contra aquele anunciante vai sair mesmo
- Saber que a apuração virá da reportagem e não da sala da chefia
- Não ser demitido porque o usineiro amigo do dono do jornal se sentiu ofendido com a verdade
- Não sofrer preconceito dos colegas da imprensa por trabalhar em um veículo de esquerda ou de direita
- Ter reunião de pauta em que participe mais gente do que apenas o diretor de redação, sua mãe e seu poodle
- Não ser delicadamente removido para setorista de rodoviária porque reclamou de censura prévia
- Não ver seu texto com conteúdo tão alterado a ponto de ter que pedir para tirar seu nome dele
- Não se sentir oprimido ou com pavor de dar uma opinião contrária na reunião de pauta
- Não te entregarem o título pronto da matéria antes de você sair para a apuração (a não ser que o seja sobre o Bebê Diabo. Aí, sim, pode.)
- Não ser proibido um homem usar brinco ou uma mulher ter tatuagem na redação
- Não ter que criar conta falsa de e-mail para dizer ao chefe o que pensa daquela matéria bisonha
- Não ter que fazer hora extra só para salvar o péssimo texto do amigo do chefe que deve entrar amanhã
- Não ser monitorado no Twitter pela empresa jornalística em que trabalha
- Ficar no fechamento até tarde sem medo de que o editor tente levar você para cama. Uma variação é: não ter medo de almoçar com o chefe sem que ele tente te mostrar coisas que você não quer ver
- Não perder uma promoção por conta de posicionamento ideológico
- Ao trabalhar em TV e agência públicas, não ter que prestar serviço de assessoria a político. Ou não ter que alterar o conteúdo da matéria porque o assessor de imprensa do ministério fritou com a denúncia
- Fazer uma entrevista sem ter medo do editor mudar as ideias da fonte depois
- Não ser obrigado a defender igreja caça-níquel e a chamar umbanda de coisa do capeta para não perder o emprego
Jornal falsifica foto para vender cenário de destruição na Síria
7 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaCasal abandona cidade na Síria. Imagem de baixo é a original. |
Esta peguei no Aporrea.org, portal super atuante da Venezuela, que creditou ao sítio tercerainformacion.es, de 06/08/2012. A foto original (a de baixo) é da agência europeia Pressphoto e retrata uma família (um casal com um bebê) escapando de uma cidade da Síria sob ataque, por si só já bastante dramática.
Os editores do “Krone” – como é comumente chamado o diário austríaco Kronen Zeitung, de maior circulação do país, com cerca de 3 milhões de leitores diariamente – resolveram “incrementar” o cenário para vender a imagem de destruição da Síria, resultando na foto de cima, falsificada com o uso do Photoshop. A descoberta da falsificação foi revelada em primeiro lugar no sítio Reddit.com.
Imagine a quanto tipo de enganação estão submetidos os leitores diante de uma mídia quase sempre partidarizada, a grande maioria dos meios de comunicação a serviço do império dos Estados Unidos. Não é à toa que há um livro famoso (ou é uma frase famosa?) chamado “Na guerra, a primeira vítima é a verdade”. De fato, sabemos que a verdade está sendo sacrificada todo santo dia, porque, de fato, vivemos sob guerra permanentemente, inclusive a guerra de quarta geração, através da mídia.
A matéria do Aporrea.org lembra um caso semelhante de propaganda de guerra contida no filme de 1997 Wag the dog (no espanhol teve o título La cortina de humo, A cortina de fumaça), “onde a tecnologia de tela verde foi usada para colocar um ator num estúdio com um gatinho numa zona devastada pela guerra”. É o mesmo filme que no Brasil teve o título Mera coincidência, com Dustin Hoffman e Robert De Niro.
Segue literalmente o final da matéria, traduzindo: “Obviamente estas enganações não estão limitadas ao conflito sírio, elas têm se convertido num pilar nesta época dos meios modernos de comunicação.
Desde o testemunho falso dos bebês nas incubadoras para demonizar Saddam Hussein na primeira Guerra do Golfo, as mentiras sobre as armas de destruição massiva no Iraque em seguida, acontecimentos falsificados para começar a maioria das guerras do século 20, e muito mais: essas mentiras não são fabricadas para enganar os que comprovam os fatos, os críticos, historiadores ou verdadeiros repórteres investigativos, e sim para incitar o público em geral numa onda de histeria assegurando o suficiente apoio para se iniciar uma guerra e tirar proveito da destruição”.
No Fazendo Media