PSDB: O Estado-anunciante e a liberdade suja
24 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Curto e grosso, o poder tucano pleiteia a asfixia publicitária - com supressão de publicidade estatal - de qualquer outra forma de imprensa que não se encaixe no tripé que o espelha. A singular concepção de pluralidade afronta boa parte dos sites e blogs alternativos que se reservam o direito de exercer a crítica política da sociedade e do desenvolvimento de uma perspectiva não conservadora. 'São blogs sujos', fuzila a representação tucana, cuja coerência não pode ser subestimada. Há esférica sintonia entre a forma como o PSDB se exprime e o higienismo de uma prática que São Paulo, a 'cidade limpa', tão bem conhece.
O tema da publicidade estatal mereceria um discernimento mais amplo do que o reducionismo estreito do interesse eleitoral tucano. O Estado deve se comunicar com a sociedade. A comunicação deve se pautar pelo interesse público. Campanhas educativas e institucionais não podem ser confundidas com propaganda partidária, nem servir aos seus interesses, sejam eles quais forem. Dito isso, resta o ponto sensível ao PSDB: quem merece veicular tais mensagens de pertinência pública reconhecida?
O tucanato e certos 'especialistas em comunicação' parecem convergir, ainda que por caminhos diversos, a um consenso: a mídia alternativa deve ser alijada dessa tarefa. O 'Estado anunciante', uma corruptela do cacoete neoliberal 'Estado interventor', teria atingido, asseguram, uma hipertrofia perigosa; deslizamos a centímetros do abismo anti-democrático. No país que tem um dispositivo com o poder intromissor da Rede Globo, insinua-se que a principal ameaça à democracia é o Estado impor seu 'monólogo' à sociedade. Afirma-se isso com ares de equidistância acadêmica e engajamento liberal.
Passemos.
Evitar essa derrocada exigiria um veto cabal a toda e qualquer publicidade oriunda da esfera pública? Em termos. Na verdade, não seria exatamente essa essa a malha do coador tucano. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo esclarecedor no 'Estadão', de 3 de junho último, foi ao ponto: “Será que é democrático", disse ele, "deixar que os governos abusem nas verbas publicitárias ou que as empresas estatais, sub-repticiamente, façam coro à mesma publicidade sob pretexto de estarem concorrendo em mercados que, muitas vezes, são quase monopólicos? (...) O efeito deletério desse tipo de propaganda disfarçada não é tão sentido na grande mídia, pois nesta há sempre a concorrência de mercado que a leva a pesar o interesse e mesmo a voz do consumidor e do cidadão eleitor. Mas nas mídias locais e regionais o pensamento único impera sem contraponto.”
É isso. O grão tucano adiciona nuances na investida contra o Estado anunciante. Nas páginas de 'Veja', e sucedâneos, não haveria risco de influencia editorial. Ali a 'voz do consumidor e a concorrência' preservam a 'isenção do jornalismo'. "Mas nas mídias locais e regionais...' Quais? Sobretudo aquelas que incomodam ao engenho e à arte tucana de governar e fazer política.
'Especialistas em comunicação' com passagem pelo governo Lula - experiência descrita sempre como 'traumática, mas de uso conveniente nos salões conservadores - reivindicam, é bem verdade, uma intolerância mais abrangente contra o 'Estado-anunciante'. No limite, advertem, o uso da máquina publicitária instrumentalizaria um poder de coerção de tal forma desproporcional que ameaçaria a própria alternância no poder. A evocação colegial de um ambiente quase-nazista sob o terceiro Reich petista tem, como se sabe, audiência cativa em certos veículos e tertúlias filosóficas de endinheirados. Mas o libelo anti-totalitário tropeça nos seus próprios termos ao não adotar idêntica ênfase na denúncia de uma oligárquica estrutura de propriedade do sistema de comunicação que, esta sim, instituiu um verdadeiro diretório paralelo no país, arvorado em corregedor das urnas, da economia e da ética.
A hipocrisia que perpassa esse descuido pertence a mesma matriz ideológica que inspirou agora a representação tucana contra os 'blogs sujos'. Contra ela Brecht resolveu cunhar um dia a metáfora de hígida atualidade: 'O que é assaltar um banco, em comparação com fundar um banco?' Leia neste endereço, a íntegra da sugestiva representação do PSDB que pede, especificamente, a investigação dos blogs de Luis Nassif e Paulo Henrique Amorim.
Saul Leblon
No Blog das FrasesUma imagem fala mais que mil palavras, né Cachoeira?
24 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaNo Maria da Penha Neles!A história de Raí que não nos contaram
24 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaDepois de pendurar as chuteiras, ao contrário de outros famosos, o craque fez e faz muito pelo social. Mas foi lembrado agora só por causa de sua sexualidade
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Hipocrisia da mídia e das redes sociais: Raí tem um belo projeto social com crianças, chamado Gol de Letra (foto abaixo). Mas vira notícia por suposto caso com Zeca Camargo |
Raí com certeza está na galeria dos maiores jogadores da história recente do futebol brasileiro. Não foi um gênio da bola, nem perto do que foi Pelé, Zico ou mesmo de seu contemporâneo Romário ou seu irmão mais velho, Sócrates — aliás o ex-craque do São Paulo foi salvo pela mãe de se chamar Xenofonte: o pai, Raimundo, fã dos gregos clássicos, já havia batizado outros dois filhos como Sófocles e Sóstenes.
No futebol e nas relações pessoais, Raí Souza Vieira de Oliveira sempre primou pela elegância. Jogava o fino da bola nos gramados e era um gentleman fora deles. No fim da carreira, Raí resolveu "curtir a vida": com o amigo e também jogador Leonardo, idealizou e criou em 1998 a Fundação Gol de Letra, que assiste mais de 1,2 mil crianças em suas duas sedes — Vila Albertina, em São Paulo, e no bairro do Caju, no Rio de Janeiro.
A entidade filantrópica foi resultado de sua experiência na França, onde jogou de 1993 a 1998, tornando-se ídolo no Paris Saint-Germain. Lá, percebeu que sua filha estudava na mesma escola que a de sua empregada. Achou aquilo bem justo e bem oposto ao que ocorria e ocorre em sua terra natal. Hoje, a Gol de Letra é considerada uma instituição referência pela Unesco, o braço social da ONU para educação e cultura.
Em 2006, ele novamente saiu à frente de outros colegas famosos do esporte: nasceu a Atletas Pela Cidadania, uma organização sem fins lucrativos que reúne atletas e ex-atletas de diferentes épocas e várias modalidades para usar seu prestígio na mobilização por causas sociais importantes para o Brasil. A entidade apoiou a Lei do Aprendiz e investe seus esforços principalmente em oportunidades para a juventude. Monitorando a execução de políticas públicas, pressiona o governo para o cumprimento de ações concretas em prol do desenvolvimento do País. Preocupa-se com o apoio a pesquisas e debates de relevância para o futuro nacional.
Raí nunca se envolveu em escândalos e farras. Nem como atleta nem como ex-atleta. Foi pai aos 17 anos e avô aos 34 — sua neta, hoje, tem já 13 anos. Casou-se duas vezes, a última com a chef Daniela Dahoui, de quem se separou há dois anos. Tem, ao que parece, uma ótima relação com as ex-mulheres e a família em geral.
Alguns meses atrás, soube-se de um suposto envolvimento entre o jornalista Zeca Camargo e o ex-jogador Raí. Boatos, nada mais do que boatos, como aquele que espalha que Jô Soares é gay, ou o que coloca a cantora Paula Fernandes em casos amoroso com políticos, ou, ainda, o que conta um pacto com o "coisa ruim" feito por Xuxa para chegar ao sucesso. É a vingança daqueles que não chegaram à fama e se incomodam, de alguma forma, com o fato.
No último fim de semana, os boatos sobre um caso entre Raí e Zeca se agravaram e chegaram ao ápice nas redes (de intrigas) sociais durante o "Fantástico", programa do qual o jornalista é apresentador.Dizem que o global é gay. Dizem que ambos têm sido vistos juntos muitas vezes ultimamente. Não sei.

O que não se explica — ou, pelo contrário, talvez explique muita coisa — é não darmos pelo menos o mesmo peso às outras facetas da mesma pessoa. No futuro, o que se saberá mais de Raí? O que fez pelas milhares de crianças do Gol de Letra? Ou o que ele supostamente fez — ou não fez, já que ninguém que espalha boatos esteve realmente lá para contar — na cama com mulheres e homens?
O cara salva milhares de crianças de uma vida marginal, mas fica marcado por gostar de alguém do mesmo sexo. Somos mesmo uma raça ruim.
Elder DiasDo Jornal Opção
No OpenSante
Conclusões Apressadas
24 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaApesar de tudo que sabemos a respeito da falta de capacidade preditiva das pesquisas de intenção de voto realizadas a esta altura do processo eleitoral, a cada vez que são publicados resultados - especialmente quando se referem a um conjunto um pouco mais amplo de cidades -, um mesmo cenário se repete.
Entre os candidatos, os líderes se animam, achando que estão fazendo tudo certo. Os outros olham seus assessores com desconfiança, tentando descobrir onde erraram.
Na opinião pública, os que torcem pelos que estão na frente se alegram. Quem prefere um dos demais se angustia.
Os analistas saem em disparada para comentá-las, cada um querendo dar a interpretação definitiva. A imprensa se enche de elucubrações sobre o “recado das urnas” e vaticínios sobre as consequências da eleição – sem que ela tenha sequer começado.
Isso acaba de acontecer a propósito da recente rodada de pesquisas que o Datafolha realizou em sete capitais.
Em nenhuma houve novidades relevantes. Todas repetiram o que já havia sido apontado por levantamentos anteriores.
A razão para isso é simples: embora, oficialmente, as campanhas tenham se iniciado há vinte dias, elas não chegaram à televisão.
Por isso, nada mudou de relevante na informação que atinge a grande maioria do eleitorado. Ela permanece desinteressada e desinformada.
O tempo anda depressa no meio político e devagar para o eleitor. Enquanto os profissionais correm contra o relógio, o cidadão vai passo a passo até a eleição.
Ela começa, de fato, nos 45 dias finais. Só então entra no cotidiano.
Agradeça-se à nossa legislação por isso. Com sua obsessão por controlar a “antecipação” da campanha, o que ela faz é retardá-la para muito depois do que seria recomendável na democracia.
Como se fosse superior a decisão eleitoral tomada em cima da hora!
É inútil querer descobrir quem vai ganhar a eleição de prefeito com base nas pesquisas atuais. Repetindo um chavão pouco inspirado, elas não são mais que fotografias de um momento que pouco tem a ver com o que acontecerá de 21 de agosto em diante, quando começa a propaganda eleitoral gratuita.
Nas cidades com televisão, só ocasionalmente elas conseguem antecipar o resultado.
Quem duvidar, que considere as mesmas sete que entraram nessa rodada nas duas últimas eleições.
Em julho de 2004, apenas no Rio de Janeiro o vencedor já aparecia em primeiro lugar. César Maia (DEM) tinha uma folgada frente sobre os adversários, semelhante à que obteve na urna. Em todas as outras, o campeão na pesquisa perdeu.
Mesmo quem não precisou do segundo turno estava atrás - como Fernando Pimentel (PT), em Belo Horizonte. E candidatos que amargavam o quarto lugar terminaram ganhando - como Luizianne Lins (PT), em Fortaleza.
Em 2008, coisa semelhante. Dos líderes de antes da televisão, só dois acabaram vitoriosos: José Fogaça (PMDB), em Porto Alegre, e Beto Richa (PSDB), em Curitiba. Os restantes se deram mal.
Vários candidatos que estavam em terceiro lugar comemoraram em outubro: Marcio Lacerda (PSB), em Belo Horizonte, Gilberto Kassab (PSD), em São Paulo, Eduardo Paes (PMDB), no Rio de Janeiro, João da Costa (PT), no Recife.
Em outras palavras: de 14 processos eleitorais, somente em três o prognóstico de julho foi confirmado, o que equivale a uma taxa de acerto de 20%. Ou a não acertar em 80% dos casos.
Melhor fariam os comentaristas se evitassem precipitar-se e procurassem apenas entender os resultados de agora.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi.