– e a Involuntária Competição de Egocentrismo Moderno.
No mercado de uma sociedade globalizada, onde cada esquina parece abrigar uma disputa feroz, há uma técnica infalível para garantir a confusão eterna: dividir para enfraquecer. O velho truque, outrora usado por impérios ambiciosos, agora anda de terno, com uma prancheta, como consultor da modernidade. Não há necessidade de exércitos ou cavalos de guerra. Hoje, basta um meme malicioso, um comentário inflamado nas redes sociais, e pronto: os ânimos estão acesos.
Mas, convenhamos, há algo de cômico nessa guerra moderna de egos e hashtags. Imagine um debate entre dois grupos: de um lado, aqueles que acham que abacaxi na pizza é um crime gastronômico; do outro, os defensores fervorosos da mistura. O tema é irrelevante, mas o ódio? Ah, esse é real e inflamado como uma pizza recém-saída do forno. Agora, troque "abacaxi na pizza" por questões identitárias e a piada vira um drama de proporções Shakespeareanas.
A questão é que a divisão – seja entre etnias, gêneros, classes ou gostos culinários – é uma ferramenta eficaz. Um povo unido é difícil de manipular. Mas um povo dividido? Esse é um sonho de consumo para qualquer estrategista do caos. E o humor disso tudo? Ele está em como, muitas vezes, compramos a briga sem nem entender a causa. Afinal, quem não já passou horas discutindo com um desconhecido na internet sobre algo que, no dia seguinte, nem se lembrava?
O problema é que, enquanto estamos ocupados disputando quem é mais ou menos oprimido, esquecemos quem está segurando o tabuleiro. O verdadeiro dominador não é quem grita mais alto na rede social. É quem fabrica os megafones.
E é aí que o jogo de dividir para enfraquecer mostra seu lado cruel. Alimentar rivalidades serve a um propósito: distrair-nos do que realmente importa. A união, no fundo, assusta. Uma sociedade que reconhece e respeita suas diferenças – e ainda assim se mantém unida – seria imbatível. Mas, enquanto brigamos entre nós, quem se beneficia ri, empilhando as riquezas de uma polarização bem-sucedida.
No final, talvez a única forma de quebrar esse ciclo seja reconhecer o truque e rir dele. Afinal, nada desarma mais o manipulador do que percebermos o óbvio: não precisamos concordar em tudo para coexistir. Podemos discutir pizza com abacaxi, desde que o façamos na mesa do jantar, acompanhados de risadas – e não em batalhas virtuais.
Que tal fazermos das diferenças não armas, mas temperos? Porque, convenhamos, uma pizza com diversos sabores é sempre mais interessante. E sobre o abacaxi? Bem, isso fica para outro debate.
Por: Luciano Júnior.