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Dimas Roque

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A Estrela que não se apaga em Gaza

25 de Dezembro de 2025, 0:01 , por Dimas Roque - | No one following this article yet.
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Um conto de Natal.


Na noite fria de dezembro, quando o mundo cristão acende velas e canta hinos de Natal, uma criança palestina nasce em meio ao som de explosões. O céu, que em Belém há dois milênios se iluminara com uma estrela anunciando paz, agora se tinge de fumaça e fogo. A mãe, envolta em medo e coragem, segura o pequeno corpo contra o peito, tentando abafar o estrondo dos mísseis com o calor da própria pele. O nascimento, que deve ser celebração, torna-se resistência e cada respiração é um ato de sobrevivência contra o caos imposto pela guerra.

As ruas de Gaza estão cobertas de destroços, e ainda assim, vizinhos se reúnem para oferecer pão, água e orações. A criança, envolta em panos gastos, é vista como sinal de esperança. “Ele nasceu quando tudo parece ruir”, murmura um velho, lembrando que a vida insiste em florescer mesmo no solo mais árido. O choro do recém-nascido mistura-se ao som das sirenes, mas também ecoava como canto de vida, lembrando que nenhum bombardeio é capaz de silenciar a força de um povo que insiste em existir.

Enquanto isso, mulheres caminham pelas ruínas com crianças nos braços, tentando encontrar abrigo. O olhar delas carrega tanto dor quanto dignidade. A pequena vida recém-chegada torna-se metáfora de todos os filhos da Palestina, nascer sob o peso da ocupação, crescer entre muros e bloqueios, aprender cedo que brincar pode ser interrompido por tiros. Ainda assim, há poesia nos olhos da mãe, que sussurra versos antigos, como se cada palavra seja um escudo contra a violência. O menino dorme, e no seu sono há uma paz que o mundo parece incapaz de oferecer.

No interior, longe das câmeras, rádios comunitárias transmitem notícias e cânticos natalinos, levando esperança às tendas que ainda insistem em existir. A voz que ecoa nos rádios fala de solidariedade, denuncia o massacre e lembra que a luta pela vida é também luta pela memória. O nascimento da criança é narrado como símbolo, “Uma estrela nasceu em Gaza, e mesmo sob bombas, ela brilha.” O povo escuta, chora e se fortalece, porque a palavra compartilhada é arma contra o esquecimento.

A criança palestina, sem nome ainda, já é marcada pela história. Não receberá indulto, não terá perdão dos que a condenam antes mesmo de nascer. Mas sua existência é resistência. O Natal, que no Ocidente se veste de luzes e consumo, na Palestina é apenas sobrevivência. E, no entanto, é também milagre, pois nascer em meio ao caos é desafiar a lógica da destruição. A mãe, olhando para o filho, disse, “Você é a estrela que não se apaga, mesmo quando tentam apagar o céu.” E assim, entre ruínas e cantos e enquanto houver nascimento, haverá futuro, e enquanto houver futuro, a Palestina não será silenciada.


Fonte: http://www.dimasroque.com.br/2025/12/a-estrela-que-nao-se-apaga-em-gaza.html

Dimas Roque

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