Na cidade de Paulo Afonso, situada na Bahia dos anos 70, corria pelas ruas de terra batida e pelos becos sombrios uma lenda urbana que arrepiava até os mais corajosos. Dizia-se que, na calada da noite, quando o silêncio era rompido apenas pelo canto dos grilos e o murmúrio distante da Cachoeira, os policiais locais tinham uma solução drástica para os criminosos mais perigosos.
Reza a lenda que, aqueles que repetiam suas ações delituosas ou que a sociedade da época julgava incorrigíveis, enfrentavam um destino sombrio e final. Capturados em operações discretas, esses indivíduos eram trancafiados dentro de sacos, amarrados com embira ásperas e robustas. Os olhos aterrorizados podiam ver apenas a escuridão do saco e ouvir o som crescente das águas abaixo.
Sob a luz fraca de lanternas trêmulas, os policiais carregavam seus fardos até a ponte metálica que se estendia imponente na divisa entre a Bahia e Alagoas, exatamente sobre a imponente Cachoeira de Paulo Afonso. O aço frio da ponte contrastava com a noite abafada, e o rugido ensurdecedor das águas turbinadas abaixo fazia ecoar os gritos sufocados de desespero.
E então, num último ato, os sacos eram lançados do alto da ponte, caindo interminavelmente até serem engolidos pela força brutal da cachoeira. A água turbulenta e implacável apagava qualquer vestígio de existência, silenciando para sempre aqueles considerados incorrigíveis.
A lenda atravessou gerações, sussurrada ao pé do ouvido pelos moradores mais antigos para os mais jovens, sempre com um tom de advertência. A ponte metálica, que durante o dia é apenas uma passagem comum, tornava-se à noite um símbolo de justiça sombria e final. E assim, o mito persistiu por muitos anos, reforçando o medo e a inquietação em Paulo Afonso, um lugar onde as águas levam consigo segredos e histórias de tempos passados.
Por: Dimas Roque.
Por: Dimas Roque.