Em Hamlet, Shakespeare fala de traições, covardia, medo, ganância, cobiça. Por um dever político, assisti ao depoimento de Palocci e, enojado, percebi que os personagens de Hamlet estão todos ali.
O depoimento de Palocci é a repetição de uma farsa já montada pela Lava-Jato para o criminoso Leo Pinheiro. Leo Pinheiro faz um depoimento no qual inocenta Lula, é condenado a 30 anos de cadeia. Leo Pinheiro é estimulado a corrigir seu depoimento, com a promessa de redução de pena para três anos, caso lembre de condenar Lula. Leo Pinheiro corrige seu depoimento e, sem nenhuma prova, acusa Lula e tem mesmo sua pena reduzida. E é este depoimento, construído dessa maneira, a única base para a sentença contra Lula. Como numa refilmagem, em primeiro depoimento, Palocci não envolve ou acusa Lula. É condenado a 12 anos de cadeia. Palocci é aconselhado por aqueles mesmos agentes a modificar seu depoimento com a promessa de redução de pena. Palocci, rastejando, no segundo depoimento incrimina Lula. O faz sem nenhuma prova, sem foto, sem gravação, sem áudio, assumidamente esperando o prêmio da delação. E assim, os depoimentos que acusam Lula são transmitidos amplamente e editados nas suas “melhores” partes.
Não considero Palocci um traidor, sem-vergonha, canalha porque revelou fatos que incriminam Lula, porque estes não existem e não há provas. Na farsa, a traição é de outra natureza, e dupla. Palocci trai o valor da confiança de Lula, por anos construída na luta política. E os agentes do MPF e do Judiciário, que tem o dever de proteger a República, a traem, ao montar farsas e premiar mentiras.
Aliás, aqui se revela o verdadeiro pacto de sangue. O pacto das elites reacionárias contra os direitos do povo, contra a democracia e contra uma verdadeira República. É preciso ter coragem, acreditar e lutar pela verdade.
Por Miguel Rossetto.