A crítica de pirataria moderna não é mero recurso retórico. Historicamente, os Estados Unidos intervieram em países latino-americanos sob pretextos variados, da “guerra às drogas” à “luta contra o comunismo”, mas sempre com interesses econômicos estratégicos em jogo. No caso venezuelano, o petróleo é o alvo evidente. Desde as sanções impostas em 2019, Washington busca enfraquecer Caracas e garantir acesso privilegiado às maiores reservas comprovadas do mundo. Os ataques a barcos, sem julgamento ou transparência, ecoam práticas de corsários de séculos passados, agora travestidas de operações militares de alta tecnologia.
A reação popular não se limita à indignação diplomática. No Brasil, sambistas e compositores já ensaiam um enredo que denuncia a pilhagem contemporânea. A letra, ainda em construção, contrapõe imagens de navios de guerra a velas negras de piratas, transformando drones em símbolos de saque moderno. O refrão fala de mares tingidos de sangue e de riquezas arrancadas de povos latino-americanos, mas também de resistência e solidariedade entre nações irmãs. A comunidade carnavalesca, ao abraçar o tema, resgata a tradição do samba como espaço de crítica social, onde a festa se torna trincheira cultural contra abusos de poder.
A mobilização em torno desse enredo mostra que o carnaval continua sendo palco de memória e denúncia. Oficinas de fantasia e rodas de samba em comunidades periféricas discutem não apenas estética, mas também geopolítica, transformando a indignação em arte coletiva. O desfile promete levar à avenida a imagem de Trump como pirata moderno, cercado de barris de petróleo e moedas douradas, enquanto alas inteiras representam pescadores e trabalhadores do mar, vítimas invisíveis da violência imperial.
Ao final, a denúncia é clara, não se trata de guerra às drogas, mas de pilhagem. O mar, que deveria ser espaço de vida e encontro, virou campo de execuções sumárias. E o petróleo, mais uma vez, aparece como maldição latino-americana, cobiçado por potências que, sob o manto da legalidade, repetem velhas práticas de saque.
