Isa Bezerra, professora e paciente oncológica, relata o impacto humano:
"Trabalho sem parcelar minha dedicação, mas meu salário é dividido. Como pagar exames urgentes ou me preparar para um transplante no Recife?"
Na saúde, o descaso se repete. Profissionais de enfermagem aguardam, desde janeiro, o pagamento do piso nacional da categoria, mesmo com recursos carimbados (destinados exclusivamente à área) já liberados. Enquanto isso, a prefeitura anunciou a contratação de cantoras gospel para um evento religioso em março, com orçamento estimado em mais de R$ 200 mil – valor suficiente para quitar meses de salários atrasados.
Sob decreto de emergência por estiagem, Canindé segue promovendo festividades, como o Carnaval, que consumiu milhares de reais em 2024. Para Isa Bezerra, a prioridade é clara:
"Enquanto parcelam nossos direitos, investem em pão e circo. É uma gestão que ignora o colapso na saúde e educação", critica Bezerra.
A postura do Tribunal de Contas do Estado (TCE-SE) também é alvo de críticas. Apesar das denúncias recorrentes sobre desvios de prioridade, não há registro de auditorias recentes sobre os gastos com eventos. Enquanto isso, o Ministério Público também não parece tomar providências quanto as denúncias, diferente do que acontecia em gestões anteriores.
A atual gestão se distancia do legado do ex-prefeito Orlando Porto, o Orlandinho, falecido, que quitou salários mesmo durante a crise. "Ele honrou compromissos com empatia. Hoje, falta humanidade", compara Bezerra.
A crise em Canindé reflete um padrão nacional: a escolha política de privilegiar projetos de visibilidade em detrimento de direitos constitucionais. Enquanto servidores recorrem ao Judiciário, a pergunta persiste: até quando gestores tratarão salários e saúde como custos, não como prioridade?
Isa Bezerra, em apelo final disse: "Não peço esmola. Exijo dignidade. Canindé tem recursos, mas falta vontade política."