Cidade, no extremo oeste baiano, tem pouco mais de 30 mil habitantes. Mais de 10 mil deles saíram às ruas contra a privatização das águas do Rio Arrojado. Mas a história, omitida pela mídia, vai muito além
Insurgência é um filme que proporciona um mergulho de cinco minutos na manifestação do dia 11 de novembro de 2017 em Correntina (BA) contra a omissão do poder público diante da exploração de água pelo agronegócio no oeste baiano.
Em meio às palavras de ordem e cartazes em defesa do Rio Arrojado, do São Francisco e sua bacia e das águas todas, uma grito transborda: “não somos terroristas”. Uma reação à forma como a grande mídia repercutiu o ato da semana anterior que destruiu equipamentos de captação de água e irrigação de duas fazendas na região. Para os manifestantes, não há mais tempo para esperar o Estado agir.
Desde a década de 1970 violações e crimes do agronegócio têm sido denunciados. Em 2000, populares desativaram um canal que pretendia desviar as águas do mesmo rio Arrojado. Manifestações religiosas, como o canto fúnebre das Alimentadeiras de Alma, passaram a ser realizadas para denunciar a morte de nascentes. E romarias com milhares de pessoas vêm sendo feitas em protesto contra a destruição dos Cerrados. Em 2015, um grande ato com seis mil pessoas tentou impedir a outorga de água para as dua fazendas que foram alvo dos protestos recentes. Mas a população foi totalmente ignorada pelo órgão ambiental da Bahia, que autorizou a exploração de 183 mil metros cúbicos/dia.
Este volume de água retirada equivale a mais de 106 milhões de litros diários, suficientes para abastecer por dia mais de 6,6 mil cisternas domésticas de 16.000 litros na região do Semiárido. Agrava-se a situação ao se considerar a crise hídrica do rio São Francisco, quando neste momento a barragem de Sobradinho, considerada o “coração artificial” do Rio, encontra-se com o volume útil de 2,84 %. A água consumida pela população de Correntina aproximadamente 3 milhões de litros por dia, equivale a apenas 2,8% da vazão retirada pela referida fazenda do Rio Arrojado.
Não há ciência no mundo que possa estimar um valor monetário para o Rio Arrojado, e isso o povo de Correntina parece compreender bem e não ficará para história como população conformada ou cúmplice de crimes e violações dessa gravidade.
Por André Monteiro.