Mais uma delação? Outra acusação sem provas? Traidor? Pragmático há muito vendido para o Capital? Talvez algumas destas posições façam sucesso “dentro da bolha”, mas são insuficientes para compreender o momento atual. Palocci não é “mais um.” Por que uma arma de tamanho calibre foi usada agora? Ministro da Fazenda e da Casa Civil, homem forte do núcleo dirigente petista, Palocci provavelmente seria o candidato à Presidente da República em 2010, não fosse o escândalo do caso Francenildo. Respeitado, com imagem de sério e equilibrado, sua fala contra Lula e Dilma é muito forte, capaz de fazer esmorecer boa parte do nosso exército. Na Guerra, pouco importam verdades ou fatos, afetar o psicológico do exército adversário é decisivo para o sucesso da ofensiva. A fala de Palocci, sem dúvida alguma, é uma bomba em nossa tropa. Por que foi usada agora e o que ela indica?
Janot estava visivelmente enfraquecido, atingido pelas “peripécias” de seu ex-braço direito e pela incontinência verbal do quadrilheiro que protegeu. O caso do doleiro envolvendo Moro também arranhou sua imagem. Na defensiva, organizaram um contra-ataque com força total. Duas novas denúncias contra Dilma e Lula em dois dias, mala de Geddel e “Hiroshima com Palocci”. Uma fonte confiável me relatou que Gleise Hoffman deverá ser condenada pelo STF até o fim deste ano. Não seria surpresa se neste momento estiverem planejando a prisão de Lula. “Perderam o time” de prendê-lo na ofensiva anterior durante a derrubada de Dilma, perderão de novo?
É curiosa a análise de grande parte da esquerda. Brada que o Brasil é um país grande, pujante, protagonista no cenário mundial, mas na hora de definir o rumo político age como se disputasse uma birosca. Forças poderosas estão agindo no Brasil. Estamos claramente numa GUERRA ASSIMÉTRICA, contra um inimigo muito mais poderoso, com munição estocada de sobra. Um mínimo movimento de nossas tropas é respondido com uma agressividade impressionante. Encurralados, cada vez mais acuados, o que fazemos? Bradamos na frente do espelho que daremos uma virada heroica(sic), e cada um vai, isolado, construindo seu caminho para o precipício. Alguns chegam de forma ingênua a dizer que acumularão forças para 2022???? Haverá 2022?
Isolados em patriotismos partidários cegos e descolados da correlação de forças real, numa defensiva brutal, seremos todos, caçados e aniquilados. Lula, Ciro, e quem mais aparecer, se estiverem como estão hoje, isolados, serão atropelados pela força da onda conservadora em curso. Não haverá salvação individual. Não haverá país a ser reconstruído. Não haverá a ilusão de novas forças no pós-Lula ou pós qualquer coisa. Seremos empurrados para 15% do eleitorado brasileiro e ficaremos assistindo a direita e a extrema direita disputarem o leme. A FRENTE AMPLA não é mais uma tática, uma das leituras possíveis, uma das estratégias. Precisamos juntar, Estado por Estado, tudo que ainda existe de democrático e popular, numa grande Frente Ampla Pela Democracia e Contra o Arbítrio, uma concertação nacional contra a Reação que, lá na frente, se expresse eleitoralmente através de uma candidatura. Ainda há tempo. Terá a esquerda brasileira compromisso com o país acima de seus interesses particulares e a estatura que o momento exige?
Por Ricardo Capelli.