De todos os companheiros e camaradas de outros partidos, os que nos foram mais fiéis e solidários, por longo tempo – e ainda são, foram os do PC do B, ombreados conosco, resistindo e sofrendo as mesmas agressões.
Não reconhecer isso é uma tremenda ingratidão, política e pessoal.
Agora os camaradas resolveram ter candidato(a) próprio e, como sempre, vejo companheiros afoitos nas avaliações políticas e companheiros passionais, ao invés de racionais, mais que discordando, batendo nos comunistas.
Ainda bem que temos Lula, para ir à convenção deles e discursar, mostrando a sensatez dos petistas que pensam e agem com coerência.
A primeira coisa a ser feita, para afastar o sectarismo, é entender atitudes, buscando as motivações, o que as motivou, e a pergunta, óbvia, é: porque os camaradas do PC do B lançaram candidato à presidência da república?
O motivo principal é a necessidade urgente de crescer, sob pena de sumir.
A título de combater a sopa de letrinhas em que se tornou a política brasileira, com quase 40 partidos, a quase totalidade deles siglas de aluguel, verdadeiras offshores políticas, só existindo para receptação de dinheiro sujo, escuso, fatalmente virá a lei de cláusula de barreira, acabando com todos eles.
Aos sensatos isto interessa por uma questão de moralização da política nacional, e aos quadrilheiros que estão no poder, porque está saindo caro, financeiramente, pagar a tantos ladrões, propinar tantos corruptos, comprar tanto votos, com um lucro adicional: por não terem conseguido colocar o PC do B na Lava Jato, os fascistas tentarão usar a Cláusula de Barreira para acabar com o PC do B.
As palavras comunismo e comunista ainda assustam a um povo iletrado e despolitizado, amestrado por uma mídia porta voz da classe dominante e religiões primitivas, acertadamente chamadas de fundamentalistas, o ópio citado por Marx.
Isto faz do PC do B, ou melhor, o mantém, um partido pequeno, no número de comitês, militantes, filiados e simpatizantes, por mais relevante que tenha sido o seu papel na nossa história, seja às claras ou na clandestinidade, na ditadura militar, dando mais que a voz e os votos, mas o próprio sangue.
A Cláusula de Barreira fatalmente o atingirá, cassando-o, jogando-o novamente na clandestinidade, agora jurídica.
E que oportunidade maior de crescimento teria o PC do B que uma campanha eleitoral em âmbito nacional, como é uma campanha presidencial, atraindo sobre si a atenção da massa, criando comitês, fazendo filiados e atraindo simpatizantes?
O segundo motivo, e também os entendo perfeitamente, é a da busca da identidade que, se não perdida, pelo menos arrefecida: o PC do B foi tão íntimo e continuadamente ligado ao PT, que acabou funcionando, pelo menos nas cabeças mais vazias, como uma linha auxiliar do petismo, um “puxadinho”, na linguagem dos políticos conservadores.
É uma necessidade política e histórica deles, comunistas, resgatarem a posição original, de independência.
Por fim, neste artigo, porque há outros, o terceiro motivo: ninguém melhor para fazer uma análise de conjuntura que um comunista, o fazendo de maneira científica, dentro dos princípios dialéticos, do Materialismo Histórico, e o que aponta a conjuntura atual?
A radicalização está crescendo, o ódio aumentando, as contradições se aguçando, um pretenso moralismo, de fachada, se radicalizando, as forças políticas se esfacelando, em todos os partidos, inclusive o PT... O que fatalmente nos levará a uma convulsão social, que culminará num golpe no golpe, numa guerra civil ou numa revolução.
Se até agora PT e PC do B estiveram juntos foi por questão tático-estratégica, no que Lenin qualificou como companheirismo de viagem, o estar no mesmo trem, mas com desembarque previsto para estações diferentes.
O PT, por suas características programáticas e práticas, principalmente quando conduziu o país, é um partido de viés social democrata, de humanização do sistema, sem modificá-lo em sua essência, enquanto o PC do B é marxista, revolucionário, e busca a ditadura do proletariado, o fim da política de mercado.
Em algum momento, mais adiante, derrubada a quadrilha, num quadro de convulsão ou não, seremos adversários, ainda que não obrigatoriamente inimigos.
Por tudo isso, nada mais coerente e necessário que os camaradas lançarem candidato próprio.
Não é traição ao PT, é fidelidade aos próprios princípios.
Não entender isso é primarismo político, mais um repetir de erros a que estamos nos viciando, para felicidade geral da classe dominante.
Por Francisco Costa.