Lira perde a caneta de ouro e vê aliados fugirem do banquete do poder
Ottobre 16, 2025 12:10
, by Dimas Roque
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O reinado de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara dos Deputados,
que parecia inabalável durante quatro anos de presidência, começa a dar sinais
claros de desgaste. Fora do comando da Casa desde fevereiro de 2025, quando
passou o bastão para Hugo Motta (Republicanos-PB), Lira já não dita mais o
ritmo das votações nem controla com a mesma firmeza a tropa do Centrão. A perda
de espaço ficou ainda mais evidente após a recente derrota do bloco na votação
da Medida Provisória que tratava da substituição do aumento do IOF, quando o
governo Lula conseguiu articular uma reação e, em seguida, exonerou indicados
de partidos do Centrão em cargos estratégicos como Caixa, Codevasf, Iphan e
Dnit, preservando apenas alguns nomes ligados diretamente a Lira.
A movimentação do Planalto foi interpretada como um recado
direto para quem não estiver alinhado com o governo não terá espaço na máquina
pública. O gesto atingiu em cheio a base de sustentação de Lira, que sempre se
apoiou na distribuição de cargos e verbas para manter coesão. Sem a presidência
da Câmara e com a tesoura do Executivo cortando indicações, o deputado alagoano
vê sua influência minguar.
O próprio discurso de despedida de Lira, em fevereiro, já
revelava um tom melancólico. Ao exaltar seu “legado” e apoiar a eleição de
Motta, ele tentava mostrar força, mas nos bastidores a avaliação era de que sua
capacidade de articulação havia se esgotado. Desde então, a bancada do Centrão
tem se fragmentado, com líderes regionais buscando aproximação direta com o
Palácio do Planalto, reduzindo a dependência da figura de Lira.
O Centrão, que durante anos foi sinônimo de governabilidade
e barganha, hoje enfrenta um dilema por estar sem o comando centralizado de
Lira, o bloco perde a aura de “dono do Congresso” e se vê obrigado a negociar
em condições menos vantajosas. Deputados que antes seguiam a cartilha do
ex-presidente da Câmara agora se movimentam de forma autônoma, atentos às
eleições de 2026 e às pressões locais.
A fotografia atual mostra um Arthur Lira enfraquecido,
tentando preservar relevância em um cenário em que o governo federal aprendeu a
jogar com as mesmas armas que o consagraram, os cargos, as verbas e articulação
política. A pergunta que ecoa em Brasília é se o Centrão ainda manda no Brasil
ou se, sem seu comandante mais habilidoso, virou apenas um amontoado de
interesses regionais à deriva.